Sérgio Paulo, leitor do Boletim GEAE 510 pediu informações sobre como uma livraria funcionaria em um palácio (Palais Royal, Paris). Segue a resposta que enviamos a ele:
Foto 1: Palais Royal (Fonte: Wikipédia)
Quanto às fontes espíritas sobre o assunto temos o próprio Kardec na Revista Espírita, publicada em 1858 (página 31 da edição Edicel), reescrevendo um artigo publicado em revista da época pelo Sr. Du Chalard, que faz a citação "Dentu, Palais Royal."
O conhecido trabalho de Zêus Wantuil, Allan Kardec: Pesquisa Biobibliográfica e Ensaios de Interpretação, publicado pela FEB, traz na página 75 do volume II um fac-simile da capa original de O Livro dos Espíritos na qual se lê: Paris, E. Dentu Librairie, Palais Royal, Galerie D'Orleans 13.
Foto 2: Fac-simile da primeira edição de O Livro dos Espíritos. (Fonte: O Primeiro Livro dos Espíritos, editora Ismael, 1957)
No livro mais recente, "Vida e Obra de Allan Kardec", escrito por Edson Audi (que morava em Paris na época em que fez a fotografia do livro), há a transcrição de uma parte das Obras Póstumas de Kardec na qual ele relata que o Sr. Dufaux tratou com o prefeito de polícia, que o remeteu ao Ministro do Interior para obter uma autorização para o aluguel de uma sala na Galeria de Valois, todas as terças feiras, no Palais Royal. (página 72)
Se você fizer uma pesquisa no Google sobre o Palais Royal vai encontrar textos, como o da Wikipédia, que esclarecem que ele apesar de sua nobre localização à frente do Louvre no 1er arrondissement, "nunca foi um palácio real". Ele foi criado a mando de Richelieu e que por esta razão era chamado de Palais Cardinal, tendo sido deixado para a coroa francesa. Os Orleães instalaram-se no palácio no século XVII. Em 1773, Luis Felipe II, Duque de Orleães mandou recuperar o palácio após um incêndio e abriu seus jardins ao povo (o que lhe valeu a alcunha de Philippe-Egalité). No texto da Wiki você encontra uma explicação sobre os aluguéis de parte do Palácio que eram utilizados com diversos fins:
"Mandou ainda encerrar os jardins com colunatas regulares que foram alinhadas com lojas (numa das quais Charlotte Corday comprou a faca que usou para apunhalar Jean-Paul Marat). Ao longo das galerias permaneciam damas da noite, e nos segundos andares estavam alojados cassinos de jogo. Existia um teatro em cada extremo das galerias; o maior foi a sede da Comédie-Française, a companhia de teatro estatal, a partir do reinado de Napoleão."
Não há dúvida que a "Librairie Dentu" funcionou anos a fio no Palais Royal. Se você pesquisar estas duas expressões no google encontrará uma enormidade de citações bibliográficas em teses, artigos e sites de língua francesa referindo-se a livros de diversos assuntos publicados por Dentu no século XIX.
Mais um detalhe: a segunda edição de O Livro dos Espíritos foi publicada pela Librairie Ledoyen que funcionava onde? No Palais Royal.
Uma livraria em um palácio: coisa de franceses...
(Colaboração de Carolina Jacomini Sampaio)