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15.9.20

SAMUEL MAGALHÃES NO ESQUINA DO CÉLIA: ESPIRITISMO, MEDIUNIDADE E MEMÓRIA

 


“Esquina do Célia” é um programa mensal de “bate-papo” sobre temas doutrinários, que acontece no segundo sábado do mês. Em julho entrevistamos Luciano Klein, historiado, sobre suas pesquisas acerca de Bezerra de Menezes. https://www.youtube.com/watch?v=sUgHTF-0cRg&t=58s

Em agosto entrevistamos Izabel Vitusso, jornalista, sobre os livros e a vida de Dolores Bacelar, que tem seus livros publicados pelo Correio Fraterno. https://www.youtube.com/watch?v=9sGLKpFZWjs&t=41s

Agora em setembro, entrevistamos Samuel Magalhães, contador que trabalha voluntariamente na preservação da memória do movimento espírita. Samuel fala de sua iniciação no espiritismo, que é surpreendente, e da criação dos Centros de Documentação em quatro estados.

Ele dá detalhes da pesquisa e da elaboração de seus livros “Charles Richet: o apóstolo da ciência e o espiritismo”, e “Anna Prado: a mulher que falava com os mortos”. Os dois trabalhos se mostram ligados ao espiritismo no norte do Brasil (Pará e Amazonas), que tinha canal direto com a Europa no século 19, em decorrência das riquezas decorrentes do ciclo da borracha e de sua infraestrutura portuária e de transporte fluvial.

Samuel fala da trajetória da construção do conhecimento, seu encontro com familiares das pessoas estudadas, documentos, mudanças de concepções pré-existentes (Anna Prado é do Amazonas e não do Pará) e novas informações (a desencarnação de Anna Prado). O livro sobre Richet foi considerado por Gabriel Richet a melhor biografia já escrita sobre seu avô, Nobel de medicina, um dos fundadores da metapsíquica, esperantista e estudioso de fenômenos espíritas com Gabriel Delanne. O livro hoje se encontra na biblioteca da Universidade de Paris.

Assista a entrevista no YouTube com o seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=6HEBuEwuaQE

Ou acesse YouTube – TV Célia Xavier – Esquina do Célia e escolha a entrevista




1.5.18

A CRIPTESTESIA DE CHARLES RICHET E A HIPNOSE



Ainda estudando o hipnotismo com Manoel Philomeno de Miranda, o autor espiritual fez um comentário muito breve sobre os estudos de Charles Richet, e resolvi rever os dois livros do autor francês que tenho. Richet, como muitos sabem, foi prêmio Nobel de medicina com seus estudos sobre anafilaxia em 1913.

Tenho dois livros de Richet sobre a ciência que ele denominou como metapsíquica: o “Tratado de metapsíquica” e “O sexto sentido”.

Como sabemos, a Metapsíquica não nasceu do nada. Ela referencia-se nos estudos do magnetismo animal, especialmente do sonambulismo provocado, depois hipnotismo,  dos estudos espíritas e das pesquisas posteriores, como as de Albert de Rochas, embora não tenha a sobrevivência da alma como um de seus princípios.

No Tratado, Richet vai tentar mostrar que existe evidência suficiente para mostrar a existência de um fenômeno que ele denomina de “criptestesia”. O que se percebe, é que influenciado pelo materialismo francês do século XIX, ele tenta se afastar da hipótese espiritualista como explicação dos fenômenos que ele mesmo seleciona de outras pesquisas ou observa.

Por “criptestesia”, Richet se foca nos conhecimentos que se obtêm sem o uso, imediato ou original, dos cinco sentidos. Ele diz tratar-se de “uma sensibilidade oculta, uma percepção das coisas, desconhecida quanto ao mecanismo” (p. 100)

O médico francês parte dos estudos sobre lucidez, faculdade descrita pelos magnetizadores, que afirmam ter visto sonâmbulos descrevendo “objetos encerrados em caixas de construção opaca, ler em livros fechados, fazer viagens em lugares que lhes eram desconhecidos,quando então os descreviam exatamente, adivinhar o pensamento do magnetizador e dos assistentes.” (p. 101)

Ele considera a telepatia como “um caso particular de lucidez, de que é parte inseparável”. (p. 108). A palavra telepatia teria sido criada por Myers e seria empregada futuramente pela parapsicologia, significando a capacidade de percepção de pensamentos alheios sem o uso dos cinco sentidos.

No Tratado, Richet classifica a criptestesia em acidental e experimental (que é provocada para estudo). A criptestesia acidental, que acontece em indivíduos conscientes, pode ser denominada de monições:  o conhecimento do passado (monição do passado) ou do presente (monição do presente) e as premonições (do futuro). A criptestesia experimental, segundo o autor, é provocada e encontrada em fenômenos mediúnicos, sonambúlicos ou hipnóticos.

Richet já usa o conceito de transe, possivelmente obtido dos estudos sobre a hipnose, na qual há alteração do estado de consciência, justificada pelos estudiosos desse campo através do “adormecimento” de áreas do córtex cerebral.

Kardec trata da lucidez no contexto do sonambulismo, como na passagem abaixo:

“Se a ação do fluido magnético é hoje um ponto geralmente admitido, o mesmo não se dá em relação às faculdades sonambúlicas, que ainda encontram muitos incrédulos no mundo oficial, sobretudo no que toca às questões médicas. .... O mesmo se dará em breve com a lucidez intuitiva... (Emprego oficial do magnetismo animal. Revista Espírita, outubro de 1858)

Sob a ótica espírita, Richet deu um passo atrás, abandonando, por exemplo, a diferenciação entre mediunidade e hipnotismo, preocupado que estava em colher evidências que mostrassem a existência de conhecimentos não oriundos da aprendizagem, que ele deu o nome de criptestesia, abrangendo uma fenomenologia extensa. Posteriormente, na parapsicologia, Rhine iria fazer algo semelhante, estudando apenas a telepatia, que como vimos, era considerada por Richet como um caso específico dos fenômenos de lucidez.

No final do seu livro “O sexto sentido”, Richet admite que uma “...ciência tem duas fases. A primeira é a constatação de fenômenos. A segunda é a sua teoria explicativa.” (p. 271) e ele admite que avançou apenas até a constatação de fenômenos, e que a teoria explicativa viria depois. Ele admite que diversas explicações poderiam ser válidas como “a telepatia ou ingerência dos espíritos, ou hiperestesia anormal dos sentidos normais” (p. 271).

Sobre a hipnose, ele afirma que ela é capaz de aumentar a obtenção de fenômenos de criptestesia.

Richet parece ter sido relegado à história da parapsicologia nos dias de hoje, e lido apenas pelos espíritas mais estudiosos, capazes de valorizar seu projeto de pesquisa e os resultados que obteve, sem se importarem com a questão da aceitação ou não do pensamento e da teoria espíritas.

Fontes:

Richet, Charles. Tratado de metapsíquica (tomo I). 2 ed. São Paulo: LAKE, 2008.

Richet, Charles. O sexto sentido. São Paulo: Sociedade Metapsíquica de São Paulo, 1940.


3.7.15

O QUE É METAPSÍQUICA?




Uma das vantagens de se usar um leitor eletrônico é o acesso que se tem a livros que não são mais comercializados e só seriam encontrados em sebos, muitas vezes com qualidade duvidosa.

Navegando no Kindle, consegui obter o Tratado de Metapsíquica, um livro publicado em 1922 por Charles Richet, nos quais lança os princípios e fundamentos do que ele desejaria ser um novo ramo das ciências. Richet trabalhou com Gabriel Dellane, mas parece desenvolver seu trabalho numa rota de afastamento das ideias espíritas. O que pude observar até o momento, é que ele reconhece a existência dos fenômenos espirituais, mas põe em dúvida a autoria dos espíritos, neste livro.

Charles Richet propôs o nome metapsíquica, influenciado pela metafísica de Aristóteles, em 1905 à Society for Psychical Research. Ainda no primeiro capítulo ele resume em três palavras os fenômenos que seriam estudados por esta nova ciência:

1o. Criptestesia (chamada até então de lucidez) que significaria "uma faculdade do conhecimento que é diferente das faculdades de conhecimento sensoriais normais"

2o. Telecinesia, que significaria "uma ação mecânica diferente das forças mecânicas conhecidas, que se exerce sem contato, à distância, em condições determinadas, sobre os objetos ou as pessoas"

3o. Ectoplasmia (chamada até então de materialização), significando "a formação de objetos diferentes dos comuns, que parecem sair do corpo humano e tomar a aparência de uma realidade natural (roupas, velas, corpos vivos)"


Richet divide a metapsíquica em metapsíquica subjetiva e metapsíquica objetiva, com base no critério da percepção ou não dos fenômenos pelos órgãos dos sentidos dos observadores. Neste ponto, talvez haja uma forte influência da nomenclatura espírita de Kardec, que classificou os fenômenos espirituais em manifestações físicas e manifestações inteligentes (O livro dos médiuns, capítulos II e III da segunda parte).

A metapsíquica se institucionalizaria a partir da ação de um espírita francês notável, Jean Meyer, que fundou com seus próprios recursos o Instituto Metapsíquico Internacional (Institut Métapsychique International) em 1919, que estudou considerável número de fenômenos e médiuns (palavra que Richet não adotou, preferindo sensitivos). Meyer criou também, em 1923,a Maison des Spirites, onde parece ter funcionado a União Espírita Francesa. 

Hubert Forestier, discípulo e continuador de Jean Meyer, escreveu um artigo sobre o mestre na Revue Spirite de julho de 1955 onde mostra sua visão acerca das duas obras:

A Maison seria encarregada "da propaganda e do ensino filosófico apoiado em provas experimentais" o IMI faria a "pesquisa das provas científicas da sobrevivência e das conclusões que resultam dela."

O Instituto funciona até hoje, com alguma alteração de suas pesquisas em função da parapsicologia. O que aconteceu com a Maison? Esta é uma informação que gostaria de ter.




30.3.08

Por Que Estudar Esperanto?

Figura 1: A Torre de Babel de Brueguel (1563)

Charles Richet, prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1913, era defensor do Esperanto. Ele dizia:

"Num futuro muito próximo haverá uma língua universal, mas, fique entendido, auxiliar, porque será sacrilégio querer que desaparecessem as belas línguas nacionais. (...)

Quando se fala de uma língua internacional, universal e única, do Esperanto, a gente séria se dana toda - estou empregando a gíria moderna para ficar no nível deles - e fazem uma objeção formidável: Ah! Ah! O Esperanto!

Aí fica toda a força da sua argumentação. (...)

Falemos seriamente, mesmo aos que não são sérios.

1o. - O Esperanto é uma língua muito fácil, que não tem uma única exceção em sua gramática.

2o. - Seu vocabulário é, sobretudo, latino, é o latim democracia, isso quer dizer, vocabulário francês.

3o. - Pode aprender-se a gramática - a gramática toda - em meia hora.

4o. Ao cabo de três meses de estudo (a razão de uma hora por dia) um jovem de 15 anos, de inteligência média, poderá falar corretamente o Esperanto. (Para os japoneses, eslavor, chineses e árabes, por causa da diferença profunda do vocabulário e do alfabeto, seriam necessários seis meses)

Ora, para falar corretamente uma única língua estrangeira (francês, inglês, alemão, espanhol ou italiano), são necessários pelo menos dois anos de longos estudos, à razão de pelo menos duas horas por dia. (...)

E o que será se, em lugar de uma única língua estrangeira, tivermos de aprender duas ou até três? (...)

É evidente que o Esperanto não interessará se ninguém o falar. (...) A utilidade do Esperanto está na proporção do número de pessoas que o falem. (...)

É uma beleza ouvir-se dizer: Ah! Ah! O Esperanto! Este argumento (?) não me persuadirá.

E o que é preciso para que esta suposta quimera se torne realidade?

Primeiramente é preciso uma propaganda pessoal ativa, endiabrada. Essa propaganda será divertida, será, sob zombarias, um dos apostolados que torna a vida digna de ser vivida. Para os homens fortes é uma alegria ser remoque de idiotas. (...)

Se, por um acidente de louca improbabilidade, muito mais quimérico que tudo que escrevi neste livro, eu me tornasse ministro da Instrução Pública, um dos meus primeiros cuidados seria o de propor aos meus colegas estrangeiros, ministros como eu, na Itália, na Inglaterra, na Espanha, na Alemanha, na Holanda, a organização de um ensino obrigatório por três meses, sim, de três meses apenas, para os jovens, rapazes e moças, de dezesseis anos. Ao cabo de três meses, uma comissão internacional percorrendo a Europa, conferiria bons prêmios aos professores e aos alunos que houvessem obtido os melhores resultados.

Seria incentivada uma correspondência afetuosa entre esses jovens esperantistas de todos os países.

Não seria complicado o estabelecimento de reuniões em que brilhasse o espírito internacional, graças à unidade da linguagem."

Extraído de Charles Richet: O Apóstolo da Ciência e do Espiritismo. Samuel Magalhães, FEB, 2007.