De Nazareno Tourinho eu conhecia apenas as obras de pesquisa sobre mediunidade, como "Surpresas de uma pesquisa mediúnica", ou os livros que escreveu com o saudoso Carlos Imbassahy. Buscando pela internet, vi que sua obra é mais extensa e envolve também livros de teatro, além de uma honrosa cadeira na Academia Paraense de Letras.
O Mago e o Mendigo chegou como uma cortesia da Lachâtre, em silêncio, acompanhando meu exemplar do Leitura Espírita. Chamou-me a atenção logo de cara, ou ao ler a quarta capa, quando vi a proposta de usar o gênero literário escolhido para fazer uma comparação do pensamento (ou seria melhor dizer, dos escritos?) de Paulo Coelho com o espiritismo.
Li os dois ou três primeiros romances do mago quando foram lançados: "Diário de um mago", "O Alquimista" e "Brida", mas o tempo passou e apesar da impressão inicial, nada ficou em minha memória. Sinto-me um computador 486, daqueles antigos, de HD pequeno, que tem que deletar arquivos antigos para conter os novos.
O livro de Nazareno é instigante. Lembra, como alguém comentou, os escritos de Kardec em forma de diálogo, como em O Que é o Espiritismo, mas traz um enredo bem diferente do usual.
Nele o autor pinçou alguns pontos centrais da proposta supostamente mágico-mística de Paulo Coelho, que aparece nos diálogos e pensamentos de um mago desembarcado na Amazônia paraense, e compara com as ideias de um pretenso mendigo, um personagem franciscano-espírita, se é que posso expressar-me assim. Uma médium gaúcha, estudante de medicina e um "mediador de debates", além da cultura cabocla e mágico-indígena do norte, compõem o rol de embates que acontecerão em quase duzentas páginas.
Nós, pobres leitores do sul, às vezes ficamos à deriva com as referências amazônicas, ricas em frutas, alimentos nativos, mitos, práticas de magia, crenças e outros elementos, às vezes desconhecidos por nós, apesar da brasilidade comum. Deu para sentir saudades do cupuaçu, lembrar do gosto exótico do taperebá, e rir um pouco da tentativa curiosa de encontro entre a cultura cabocla, caracterizada como terra-a-terra mas imensamente atraída pelo diferente, e o misticismo europeu e católico.
Espíritos ou demônios? Mediunidade ou intuição? Amor ou poder? Arrogância ou humildade? Alguns contrapontos ganham corpo nas interações entre os personagens e o autor não esconde sua preferência pelo espiritismo em sua trama.