Mostrando postagens com marcador prece. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador prece. Mostrar todas as postagens

12.9.17

ESPÍRITAS REZAM?



Chegou até este comentarista uma questão que surgiu em um grupo de estudos do sul da Bahia: os espíritas usam os verbos rezar e orar, com o significado de fazer prece, ou eles são interditos por alguma razão?

Para a língua portuguesa, oração, reza e prece são sinônimos, como se pode ler no Houaiss, por exemplo. Suas origens etimológicas, como nos mostra o dicionarista, no entanto, são diferentes.

A palavra prece vem do latim “prex, precis”, com o significado de “pedido, súplica”.

A palavra oração vem do latim “oratio, orationis”, com o sentido mais amplo, que pode significar “discurso, linguagem, palavra ou prece”.

A palavra rezar vem do latim “recito, recitas”, etc. e significa “ler em voz alta, recitar”

O Houaiss também explica que a palavra reza pode ser usada para significar o gestual da oração católica, de joelhos e mãos postas, e também tem o significado de usar palavras na benzedura (derivação de significado por metonímia).

Todos sabemos que Allan Kardec, seguindo Jesus, enfatizou bastante que a prece, oração ou reza é um ato interior. Talvez por esta razão, e para se evitar confusões e sincretismo, a palavra rezar seja menos utilizada pelos espíritas, já que pode ser mal entendida, mas não há qualquer restrição. Encontrei um texto da Revista Espírita no qual Kardec transcreve o verbo rezar de uma questão feita pelo Padre Félix, no qual ela é usada como sinônimo e evita repetição:

“Com efeito, nada transforma e transfigura o amor que ora sobre um túmulo ou chora nos funerais, como essa devoção à lembrança e ao sofrimento dos mortos. Essa mistura da religião e da dor, da prece e do amor, tem simultaneamente não sei quê de delicado e de enternecedor. A tristeza que chora se torna um auxiliar da piedade que reza. Por sua vez, a piedade se torna, para a tristeza, o mais delicioso aroma. A fé, a esperança e a caridade jamais se conjugam melhor para honrar a Deus consolando os homens e para fazer do alívio aos mortos a consolação dos vivos!” (Allan Kardec, Efeitos da Prece, Revista Espírita, Dez. 1859)

Uma vez esclarecida a questão do significado, fica a questão do uso, que é regional. Pelas Minas Gerais as pessoas geralmente preferem a palavra prece, mas usam também oração e raramente usam rezar, mas já ouvi sendo usada. E em seu centro espírita, qual delas é mais usada?

28.8.17

PRECE DIMINUI ENXAQUECA?




Haleh Tajadini, Phd e colaboradores publicaram um artigo no Journal of Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine um artigo sobre o efeito da prece na intensidade da dor em pessoas com enxaqueca, em 2017.

Trata-se de um ensaio clínico controlado, prospectivo, duplo cego e randomizado. 92 pacientes foram divididos em dois grupos, aleatoriamente, cuja única diferença é que um deles (GE - Grupo Experimental) seria beneficiado com preces e o outro (GC - Grupo Controle) não seria.

Todos os pacientes foram tratados com 40 mg de propanolol de 12 em 12 horas. Foram feitos 45 minutos de prece, semanal, por oito semanas para os membros do grupo experimental.

A doença, comum a todos os participantes do estudo, foi a enxaqueca com e sem aura (uma percepção que alguns pacientes têm que as dores se iniciarão) com os critérios da International Headache Society. Os pacientes foram aleatoriamente lotados nos grupos e não sabiam se receberiam preces ou não. 

As dores foram avaliadas por uma enfermeira especialista que não sabia se o paciente avaliado pertencia a GE ou ao GC. Este procedimento evita que as crenças da enfermeira interferissem nos resultados de sua avaliação.

A distribuição da amostra foi considerada normal (teste Kolmogorov-Smirnof).

Foram estudados 92 pacientes, 82 dos quais eram mulheres com idade média de 32 anos e 75% deles eram casados. Os dois grupos tinham indicadores demográficos semelhantes. 

No início do estudo, mediu-se a dor, e compararam-se os grupos pelo teste t. Os dados são semelhantes entre os grupos, não podendo ser considerados diferentes.

Três meses depois a dor foi novamente medida. Os dois grupos tiveram redução de dor, mas a dor do grupo experimental (que recebeu preces) foi significativamente menor. A probabilidade de erro nesta afirmação é menor que 0,001 (um por mil).



Na figura acima se vê que o grupo que recebeu preces teve suas dores de cabeça reduzidas de uma média de 6,5 na escala para 4,2. Observe-se que mesmo considerando os intervalos de confiança, as dores reduziram. O grupo que não recebeu preces teve suas dores de cabeça reduzidas em média de 5,7 para 5,4. Embora o segundo número seja menor, os intervalos de confiança são muito próximos, não se podendo nem afirmar que esta redução é significativa. Chamo a atenção também para a diferença dos intervalos de confiança entre os grupos experimental e controle 3 meses após o início do experimento. Os que receberam preces apresentam média inferior, mesmo considerando os intervalos de confiança.

Apenas como curiosidade, segundo os autores, o Corão Sagrado se baseia na prece (pray), que significa "pedir por alguma coisa", "fazer uma solicitação para uma necessidade" e "procurar ajuda". Os autores também classificam a prece em "prece de conversação, prece meditativa, prece ritual e prece intercessora". 

Na discussão do estudo, os autores lembram que Wachholtz e Pargament (2008) mostraram que a meditação tem um grande efeito no decréscimo da frequência de dores de cabeça em pacientes com enxaqueca, na diminuição da ansiedade, no aumento da tolerância à dor e no bem-estar existencial, entre outros resultados.

TAJADINI, H., ZANGIABADI, N., DIVSALAR, K., SAFIZADEH, H. ESMAILI, Z., RAFIEI, H. Effect of prayer on intensity of migraine headache: a randomized clinical trial. Journal of evidence-based complementary and alternative medicine, v. 22, n,. 1, p. 37-40, 2017.


Assista às palestras do 13o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - ENLIHPE no Youtube, Canal Dubem. São dois vídeos, um contendo as atividades de sábado e outro do domingo pela manhã.  https://www.youtube.com/results?search_query=13+enlihpe

25.8.17

UMA ANÁLISE DE 91 ESTUDOS DE DIFERENTES FORMAS DE TRATAMENTOS ESPIRITUAIS


Therapeutic touching

Roe, Sonnex e Roxburgh (2015) fizeram uma análise de 34 estudos em não humanos e 57 estudos em humanos de diversas técnicas de tratamento espiritual (healing), como cura espiritual, cura à distância, cura noética, prece intercessória, imposição de mãos, toque terapêutico, Johrei e Reiki.

Por estudos em não humanos, entende-se células in vitro, amostras de sangue, sementes, animais e plantas. Estes estudos foram feitos tentando entender mecanismos possíveis de atuação do tratamento espiritual e para evitar o efeito placebo, que seria um mecanismo psicológico de modificação do organismo, desencadeado pelo tratamento espiritual, mas que não é uma consequência direta dele. O efeito placebo é conhecido nos estudos de medicamentos, nos quais se dá aos sujeitos falsos medicamentos sem princípio ativo, sem que eles o saibam, para que se possa comparar efetivamente os resultados do medicamento em análise.

Nos estudos em humanos se identificaram os “ensaios clínicos aleatórios, duplo-cegos controlados”, ou seja, os estudos que compararam os efeitos do tratamento espiritual em dois ou três grupos semelhantes de pacientes, sendo um deles submetido ao tratamento espiritual e os outros a uma simulação de tratamento espiritual e à ausência de tratamento espiritual.

Eles concluem que os sujeitos sob tratamento “exibem uma melhora significante no bem-estar com relação aos sujeitos-controle” independente do placebo e dos chamados “efeitos de expectativa”.

Também mostram que há uma queda dos resultados quando os melhores estudos são selecionados por juízes que analisam a metodologia, mas ainda se mantém a superioridade dos grupos de tratamento espiritual.

Os estudos com plantas tiveram resultados significativamente menores que os estudos com animais e amostras in vitro.

Nos estudos com pessoas humanas, os resultados obtidos com Johrei e Reiki foram superiores aos do toque terapêutico. Os estudos de oração intercessora apresentaram resultados menores (mas não significativamente menores) que os demais. Outros estudos já haviam apontado este resultado (Astin, 2003) e reflete também alguns resultados de estudos atuais de larga escala que não obtiveram resultados com prece à distância. (Benson et al., 2006)

Os autores fizeram 11 sugestões para melhorar próximos estudos, porque conseguiram distinguir estudos de melhor e pior qualidade, além de dados heterogêneos. Aos interessados em realizar pesquisas, recomendo que considerem o que os autores estão propondo.

Trazendo este trabalho para o contexto espírita, os resultados apontam para uma diferença entre a oração e técnicas semelhantes aos passes (os passes trazem melhores resultados). Isto traz à memória a explicação de Allan Kardec, que distingue fluidos apenas espirituais de fluidos magnéticos (humanos) e mistos. A conclusão destes estudos é favorável a que os centros espíritas mantenham seus serviços de passes e de orações, mas não nos permitem fazer qualquer inferência sobre a técnica dos passes.

Outra questão que os autores levantam, quando estão discutindo metodologia, é sobre a mudança de valores e comportamentos das pessoas que procuram tratamentos espirituais, que envolvem hábitos como “meditação” (ou oração, no nosso contexto), “evitar abuso de álcool e remédios”, e “não realizar sexo promíscuo e arriscado”.  Este comentário é consistente com a recomendação que se faz nos centros espíritas para os que procuram passes ou orientações espirituais para solução de problemas imediatos. Além destas intervenções imediatas, é necessário repensar como se está vivendo.


Roe, C.; Sonnex, C.; Roxburgh, E. C. Two meta-analyses of noncontact healing studies, Explore, v. 11, n. 1, jan./feb. 2015, p. 11-23.


"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/ 

28.7.17

TRATAMENTOS SEMELHANTES AO PASSE E À PRECE: PALAVRAS QUE PERMITEM ACESSAR PESQUISAS CIENTÍFICAS


Johrei: prática de imposição de mãos da Igreja Messiânica

Um artigo considerado clássico fez uma revisão de estudos positivos com relação ao que é denominado healing (cuja tradução para o português seria cura). Foi escrito por dois Phds, Hodges e Scofield (1996), que agruparam uma série de técnicas de cura que vão das orações à imposição de mãos, além de técnicas que envolvem toques na pele, o que não fazemos no movimento espírita.

Os autores classificaram quatro tipos de técnicas (o texto entre aspas é tradução do que escreveram):

Faith healing (cura pela fé): “ela ocorre no contexto religioso, usualmente durante um serviço da igreja ou em forma de grupos de oração pela cura”.

Spiritual healing (cura espiritual): “Na Grã-Bretanha o nome mais comum, usado para cura usando a imposição de mãos, a técnica mais amplamente usada. Este método não requer que o paciente tenha fé. A cura é administrada pela colocação das mãos sobre ou próximas ao corpo do paciente. A variação desta técnica é a cura distante (distant healing) na qual o curador dirige as intenções de cura a um paciente situado em outro lugar qualquer. Há evidências a favor e contra um efeito positivo da cura à distância. A pesquisa sugere que a cura à distância não é baseada em energias eletromagnéticas.”

Terapeutic Touch (toque terapêutico): “Ele é muito semelhante com a cura espiritual, exceto pelo curador encostar na superfície da pele. É a única das poucas técnicas terapêuticas que fez progressos entre as profissões de saúde, particularmente nos Estados Unidos. Foi testada em um número limitado de ensaios (trials) de pesquisa, com alguns resultados positivos significativos.”

Reiki healing (Reiki) “Reiki é um sistema de cura que foi desenvolvido no Japão. Ele usa ambos, a imposição de mãos e as técnicas de cura à distância. Poucos estudos foram feitos com Reiki. Um estudo mostrou mudanças em alguns parâmetros do sangue.”

À época os autores britânicos não conheciam os passes utilizados pelos centros espíritas, mas mais recentemente se tem encontrado a expressão spiritist “passe”, geralmente publicada por pesquisadores brasileiros que estudam esta prática nos centros espíritas.

Outras palavras que podem ser usadas para pesquisa em periódicos médicos e de saúde, da imposição de mãos ou práticas semelhantes, ou de orações e irradiações, são:

Distance healing (cura à distância)

Noetic healing (cura noética ou pelo pensamento)

Intercessory prayer (prece intercessora)

Laying on of hands (imposição de mãos)

Johrei (Johrei – é uma prática da Igreja Messiânica que usa a imposição de mãos e a oração)

Práticas de cura ou tratamento à distância são diferentes, envolvem tradições culturais e, por isso mesmo, têm suas características próprias. O aplicador do Johrei, segundo entrevista que fiz há muitos anos na Igreja Messiânica de Belo Horizonte, ganha uma espécie de medalhinha que usa durante a prática. No meio espírita, incentiva-se a simplicidade, e evita-se tudo o que possa lembrar ritos, roupas especiais e gestos desnecessários. Contudo a imposição de mãos e o pensamento voltado á recuperação dos paciente (com ou sem preces) são elementos presentes nestas práticas, o que torna os resultados de pesquisa de interesse dos estudiosos dos passes e dos tratamentos espirituais.

Hodges, R. D., Scofield, A. M. Is spiritual healing a valid and effective therapy?, Journal of the Royal Society of Medicine, v. 88, abr. 1995, p. 203-207


"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/ 

7.5.11

POR QUE ORAR PELOS ESPÍRITOS?


Foto 1: Vista de Castelnaudary


Um historiador ou antropólogo que visse espíritas em oração talvez associasse imediatamente esta prática com as religiões antigas e a magia primitiva, que propunham um tipo de vínculo ou comunicação com a(s) divindade(s). Ao mesmo tempo, hoje, dificilmente estes profissionais associariam o ato ritual de lavar as mãos dos cirurgiões com a prática ritual judaica, que se tornou objeto de controvérsias nos Evangelhos.

Hoje se acha incorporada ao senso comum a ideia de micróbios e outros microorganismos, que já foi objeto de ridículo na História da Medicina. Talvez por isso ninguém mais se recorde do tempo em que lavar as mãos era apenas um ato de fé ou um respeito à tradição.

O trabalho de Allan Kardec está repleto de comunicações de espíritos que solicitam aos espíritas franceses que orem por eles, e alguns casos são estudados, mostrando o efeito das preces sobre o psiquismo do desencarnado.

Um dos casos que se acha documentado intitula-se "o espírito de Castelnaudary" e pode ser lido no livro "O Céu e o Inferno". Castelnaudary é uma cidade no sudeste francês, próxima a Tolouse, na qual se encontrava uma casa considerada assombrada e exorcizada em 1848, sem qualquer diminuição dos fenômenos, um dos quais foi uma bofetada de mão materializada na face de um herdeiro do imóvel.

Os membros da Sociedade de Paris evocaram o espírito que habitaria nesta casa em 1859 e tiveram o apoio de São Luís para entender o que se passava.

O espírito evocado explicou tratar-se de um antigo dono, que cometera dois crimes naquela casa, vindo a falecer sem qualquer punição da justiça humana em 1659, com 80 anos. Sua imagem guardava relação com o estado íntimo: uma camisa ensanguentada e um punhal à mão, extremamente perturbado e violento.

Os colegas de Allan Kardec perguntam a São Luís como ficar livres deste tipo de obsessor, ao que o orientador espiritual responde ser necessário orar por eles.

Eles investigam mais a fundo a questão, perguntando se a prece sensibilizaria os espíritos ao mesmo tempo perversos e inteligentes. O mentor esclarece que para aproveitar a prece o espírito precisa arrepender-se do mal que tenha feito, mas que mesmo para este tipo de espírito se deveria orar, para que os pensamentos, mais cedo ou mais tarde, possam sensibilizá-lo e vencer seu cinismo.

Kardec relatou as comunicações deste espírito e de outros envolvidos com ele por dez sessões (duas delas na casa do Sr. F...), e destacou a coerência das informações fornecidas. O leitor consegue acompanhar as mudanças que se operam na consciência dele, as explicações que ele dá sobre os efeitos da prece e a evolução relativamente rápida que sofre, se considerarmos que se encontrava ligado ao local dos crimes por duzentos anos.

Este é apenas um dos casos relatados por Kardec em sua extensa obra. Faz-nos pensar mais sobre o efeito da oração sobre os espíritos e muda bastante a consideração da prece como ato automático ou de auto-punição, tornando-a um meio de comunicação e influência entre as almas.