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31.3.20

COMO DEVEMOS CONVIVER COM O COVID 19?

Viver um dia de cada vez

Por diversas vezes temos tratado da questão dos flagelos no Espiritismo Comentado. Usada por Allan Kardec em sua lei de destruição (O Livro dos Espíritos) a palavra tem muitos sentidos, mas hoje se empregam mais as palavras catástrofe, calamidade e epidemia, como quase sinônimas de flagelo. No passado, falamos do terremoto no Haiti https://espiritismocomentado.blogspot.com/2010/03/entre-o-chile-e-o-haiti.html, do incêndio na casa de shows em Santa Maria-RS https://espiritismocomentado.blogspot.com/2013/01/deja-vu-o-incendio-em-santa-maria-rs.html e do rompimento da barragem de Brumadinho-MG https://espiritismocomentado.blogspot.com/2019/02/como-o-espiritismo-ve-questao-da.html.

Em todas as situações, o que fomos buscar de ajuda em Allan Kardec e no espiritismo foi a questão 741 de O Livro dos Espíritos, que diz que “muitos flagelos resultam da imprevidência do homem” e que é possível preveni-los na medida em que conhecemos suas causas. Uma frase que ainda não citei, mas que talvez lance luz sobre a pandemia de COVID-19 que enfrentamos agora é que muitas vezes o homem agrava os males por sua negligência.

O que há de igual e de diferente entre eventos aparentemente tão distintos? 

De igual é o que podemos chamar de mortes coletivas. A desencarnação de um número grande de pessoas em um período de tempo muito curto, por uma causa comum e de difícil controle. Essa perda inesperada, e, no caso do COVID 19, a iminência da perda, o risco de se perder pessoas próximas e amadas, gera medo e ansiedade.

A diferença principal é que o combate e a prevenção da pandemia do novo vírus não depende exclusivamente de autoridades de Estado ou de empresas. O COVID-19 pode e deve ser “combatido” por todos.

No momento, qual é o nosso papel na prevenção da doença? As pessoas em geral devem isolar-se socialmente para evitar a rápida propagação do vírus e a superlotação do sistema de saúde para que não haja mortes por falta de atendimento. A outra coisa que podemos fazer são as medidas de higiene: lavar as mãos, usar máscara quando resfriado ou gripado, vacinar-se e evitar contato com objetos que possam ter sido expostos a pessoas com a COVID 19.

E como evitar o medo e a ansiedade? Há pessoas que estão mais expostas a estas duas formas de sofrimento psíquico, porque, entre outras coisas, ficam imaginando o que pode acontecer no futuro. Pensam na perda dos entes queridos. Pensam no adoecimento. Pensam na morte. Esses pensamentos vão criando estados emocionais de sofrimento profundo e podem prejudicar o dia-a-dia dessas pessoas, que não dormem, perdem o apetite, preocupam seus afetos mais próximos e chegam até a não conseguir fazer suas atividades diárias.

O que recomendamos, então, é viver um dia de cada vez. Em tempos de guerra, se tenta manter ao máximo a vida que levamos, para que os estados mentais não venham a gerar o pânico e a dissolução social. Temos que mudar nosso dia-a-dia por causa do isolamento social, mas devemos manter ao máximo nossa rotina de trabalho, descanso e lazer. 

Não podemos, talvez, ir ao trabalho, mas podemos manter alguma coisa de nossas atividades laborais ou dedicar parte do tempo que usávamos para o trabalho para treinamento e aperfeiçoamento profissional.

Podemos tentar manter a rotina diária de alimentação, os horários de refeições ou estabelecer uma nova rotina mais adequada às mudanças impostas pelo isolamento social.

Podemos cumprimentar pela manhã todas as pessoas que vivem conosco, com carinho.

Os estudantes devem participar normalmente das atividades propostas por suas escolas, e manter suas leituras e realização de trabalhos acadêmicos.

Não podemos ir ao centro espírita, mas podemos nos reunir com nossos colegas pelas redes sociais nos dias em que normalmente o fazíamos. Na impossibilidade disso, podemos reunir no horário de nossas reuniões em casa, fazer uma prece e ler uma página espírita.

Não podemos sair com a família, mas podemos fazer alguma atividade lúdica juntos, no horário em que dedicávamos ao lazer.

Podemos continuar com nossas leituras e estudos.

Não podemos ir a academias de ginástica, pilates ou qualquer outro lugar de atividade física coletiva, mas podemos separar um tempo para exercitar o corpo.

Podemos ouvir música.

Continuamos tendo que cuidar da saúde, seguir as condutas prescritas pelos médicos, especialmente os doentes crônicos.

Continuamos tendo que adquirir alimentos, e devemos fazê-lo da forma mais objetiva e breve possível, evitando aglomerações de pessoas. Saindo, comprando e voltando direto para casa.

Continuamos tendo nossa rede de amigos, para quem podemos escrever ou conversar à distância, sem perder o contato.

Manter a vida mais próxima o possível da nossa rotina diária, sem quebrar o isolamento social, é a nossa forma, no momento, de combater a doença e manter a cabeça “ventilada”, sem dar guarda a estados emocionais de medo e ansiedade.

Evitemos a exposição excessiva à internet e à televisão, bem como a ruptura de nosso cotidiano usual. Informar-se é importante, mas ficar à deriva dos meios de comunicação não nos ajuda a enfrentar o flagelo que agora nos atinge.

8.2.19

COMO O ESPIRITISMO VÊ A QUESTÃO DA CATÁSTROFE DE BRUMADINHO?





Após a tragédia de Brumadinho, muitos espíritas têm se preocupado em argumentar sobre a questão da justiça divina do sofrimento coletivo. Há em Allan Kardec, contudo, outra questão importante que ele trata na Lei de Destruição (O Livro dos Espíritos), quando pergunta aos Espíritos sobre os flagelos (no sentido de catástrofe, dano coletivos): o progresso dos homens, em especial o progresso da sociedade. 

Por progresso, nesse caso, não entendemos um crescimento a partir de um sofrimento depurador, mas uma mudança de mentalidade, conhecimentos e ações coletivas para evitar no futuro novas catástrofes.

Na questão 741, Allan Kardec pergunta se é possível  ao homem afastar os flagelos e os Espíritos respondem que muitos deles “resultam da imprevidência do homem”. É o que nos parece ter acontecido nos casos de Mariana e Brumadinho-MG. Duas semanas após o rompimento da barragem de rejeitos que gerou a desencarnação violenta de muitas dezenas de pessoas na cidade próxima à capital mineira, os meios de comunicação têm dado voz a especialistas que apontam formas alternativas de lidar com os rejeitos, tecnologias de prevenção da ruptura das barragens, problemas da legislação referente à fiscalização do estado das barragens de contenção, entre outras questões. 

A ruptura da barragem de Mariana foi uma catástrofe que, se tivéssemos, como sociedade e órgãos de Estado, levado à sério, teria o papel de promover avanços capazes de evitar ou minimizar em muito os danos da ruptura da barragem 1, de Brumadinho. Uma questão que não sofreu avanços e tem sido questionada é o próprio sistema de fiscalização das barragens no qual o fiscal é ao mesmo tempo prestador de serviços diretamente contratado pela empresa mineradora, e que poderia ter sido solucionado com uma mera alteração legal.

Os Espíritos dizem a Kardec: “À medida em que adquire conhecimentos e experiência, ele pode afastar, isto é prevenir, se souber pesquisar suas causas.”
Kardec ainda comenta: “... Entretanto, não tem o homem encontrado na Ciência, nas obras de engenharia, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, meios de neutralizar, ou pelo menos de atenuar, tantos desastres? Certas regiões, outrora assoladas por tantos flagelos, não estão hoje livres deles?”

Esperamos que o segundo e mais grave episódio de ruptura de barragens faça acordar a população brasileira, e, em especial, a nós espíritas, para realizarmos o que é necessário: acompanhar as mudanças que evitarão ou pelo menos atenuarão novos incidentes capazes de ceifar vidas, destruir comunidades e deixar consequências no meio ambiente que talvez afetem a um grande número de seres vivos por um grande período de tempo.

29.1.13

DÉJÀ VU: O INCÊNDIO EM SANTA MARIA-RS.



Foto de Santa Maria - RS

Uma casa de eventos cheia, na noite, com um espetáculo. A banda solta fogos no espaço fechado, para criar um visual inesquecível. Os fogos incendiaram o isolamento acústico e se espalharam rapidamente. Correria. Uma única saída. Os funcionários do estabelecimento não permitem a saída dos jovens, que se amontoavam, temendo a falta de pagamento. Fumaça, pânico, pessoas caídas e pisoteadas pela multidão. Sete mortos e trezentos feridos. Sete mortos?

Sim, não estou falando do incêndio na casa de shows em Santa Maria-RS, mas em um acidente semelhante acontecido em novembro de 2001, na capital mineira. O estabelecimento se chamava Canecão Mineiro, estava sem alvará de funcionamento, permitiu o uso de fogos inapropriados para o uso indoor, e passados onze anos, o STF estabeleceu responsabilidade da Prefeitura, há responsáveis pelo evento, mas o mais importante não aconteceu. Apesar da dor e do sofrimento dos envolvidos, o Estado não deu a devida atenção ao evento funesto, e ele se repetiu de forma quase igual, no sul do país.

Recordei-me imediatamente de uma matéria antiga que publicamos no EC, sobre o terremoto no Haiti, comparado ao do Chile. (http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2010/03/entre-o-chile-e-o-haiti.html Os espíritos, na metade do século XVIII, disseram:

"...Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os pode afastar, isto é, preveni-los, se souber pesquisar suas causas" (questão 741)

Bem, então, mais importante que encontrar os culpados e puni-los, é aprender  com o ocorrido e tomar medidas concretas para que ele não aconteça mais.  As investigações não estão concluídas, mas parece evidente que nossas normas e ações ainda não foram suficientes para evitar um incêndio  tão funesto. Infelizmente, fomos todos incompetentes em nosso país para aprender com o Canecão Mineiro. Por isso paira na alma mineira essa trágica sensação de déjà-vu.

Obs: Déjà-vu, expressão francesa que pode ser traduzida como o "já visto". O Dicionário Houaiss o define como "forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto (e, por ext., já ter vivido) alguma coisa ou situação de fato desconhecida ou nova para si". 

14.3.10

KARDEC: ENTRE O CHILE E O HAITI

Foto 1: Construções no Chile após o terremoto - não se tornaram túmulos. Fonte: Time.

Os Flagelos em O Livro dos Espíritos

Kardec escreveu sobre flagelos que acontecem na humanidade, especialmente em sua Lei de Destruição, na parte terceira de "O Livro dos Espíritos". A teologia de sua época depositava na vontade de Deus estas ocorrências, mas o mestre francês interroga aos espíritos quais seriam as intenções da divindade ao permitir este tipo de evento no mundo.
Os espíritos dão duas respostas muito originais ao problema. A primeira é uma mudança de perspectiva ante a morte: "Se considerásseis a vida qual ela é, e como é insignificante em relação ao infinito, não lhe daríeis tanta importância. Em outra existência, essas vítimas encontrarão larga compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-lo sem murmurar" (questão 738b)
Os materialistas de plantão certamente criticariam o Espiritismo, classificando-o como uma "ideologia da acomodação", se houvessem lido apenas esta passagem. Não foi esta, contudo a intenção do codificador.
O que cabe então ao homem fazer: apenar resignar-se, como o diriam alguns religiosos medievais? Não, e esta é uma das diferenças do pensamento espírita.
As mentes por detrás de "O Livro dos Espíritos" destacam o papel do homem no mundo, transformando-o para enfrentar melhor os problemas a que está submetido. "...Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os pode afastar, isto é, preveni-los, se souber pesquisar suas causas" (questão 741)

Os Terremotos do Chile e do Haiti
Um exemplo ilustrador da sabedoria dos espíritos foram os dois terremotos que abalaram o Haiti e o Chile. Segundo a revista Time, o terremoto no Chile foi 500 vezes mais violento que o do Haiti, apesar da distância de seu epicentro e da menor profunidade do tremor de terras caribenho. Contudo, no Haiti houve 220 mil mortes, enquanto no Chile houve 770 mortes.
A diferença principal foi a rigorosa lei de construção civil aprovada e defendida pelas autoridades chilenas, fruto de dois terremotos acontecidos nas décadas de 60 e 80, que minimizou os danos. No Haiti apenas dois prédios foram construídos com esta finalidade, e eles não caíram.
Outra questão levantada pela Time aponta para a diferença de corrupção entre governo Chileno e Haitiano, usando os números da "Transparência Internacional". O Haiti tem números muito piores.
A melhor discussão do jornalista é sobre o papel da pobreza como explicação para estas diferenças. Todos nós nos sentimos tentados a dizer que a pobreza do Haiti o levou à corrupção e à fragilidade de suas instituições. Ele afirma o contrário: "o Chile é mais desenvolvido porque está fazendo as coisas certo. O mesmo vale para o Brasil, o Uruguai, a Costa Rica e um punhado de outras nações latino americanas e caribenhas que decidiram no século 21 parar de conduzir suas sociedades como se fossem domínios feudais".
Exageros à parte, ele tem muita razão. E os espíritos também, duzentos anos antes.
Outros Comentários sobre os Flagelos na América Latina

A organização Architecture for Humanity estimou que os efeitos do terremoto no Chile "foram muito menores que no Haiti (...) sem dúvida devido ao estado de preparação do país, incluindo as normas de construção...". "Se um prédio cai durante um terremoto é porque foi fortemente sacudido ou porque foi mal construído", resumiu o professor Roger Bilham. "No Haiti, os prédios eram muito frágeis. Quem os construiu, há 20 ou 30 anos, fez túmulos para seus ocupantes". (Fonte: Correio Brasiliense)
"The Chilean example will encourage donors to make the case that this is an opportunity to do things differently in Haiti — and do them right for a change," says Michael Shifter, vice president at the Inter-American Dialogue in Washington, D.C.
Tradução: O exemplo chileno encorajará os doadores a exigir que seja uma oportunidade de fazer as coisas de forma diferente no Haiti - e de fazê-las corretamente para se conseguir uma mudança, diz Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Inter-Americano, em Washington, capital. (Fonte: Time)