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11.7.23

QUEM É PEDRO CAMILO?




Jáder Sampaio

Receberemos hoje a visita do expositor espírita Pedro Camilo, que irá lançar em Belo Horizonte o seu romance “A Fraude”, que trata de cartas consoladoras. O tema é bem atual e envolve o direito brasileiro e seus desdobramentos em frente de uma prática que foi popularizada por Chico Xavier e muito divulgada pela televisão e pelo cinema, o que incentivou diversos grupos a tentar realizar esse tipo de reunião mediúnica como forma de caridade com os enlutados.

Graças às pesquisas de Julie Beischel e colaboradores (Among Mediuns - disponível em inglês no Kindle), sabemos que nem todos os médiuns estão aptos a esse tipo de atividade. Há médiuns intuitivos cuja faculdade não lhe faculta perceber identidade de espíritos desencarnados, percebendo apenas estados emocionais, pensamentos esparsos diversos do seu, sem conseguir lograr distinguir aparência, “roupas” ou “ouvir” palavras ditas pelos espíritos. A influência do médium na comunicação é bem mais acentuada e a insegurança faz com que ele cerceie informações percebidas por medo de não serem precisas ou corretas.

A pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde, publicada há alguns meses, mostrou que há muitas informações equivocadas divulgadas por grupos espíritas que se dedicam a esse tipo de prática no Brasil. Por muitos anos vimos trabalhando sem a verificação de informações obtidas, com paciência com os médiuns, aceitando até mesmo o chamado animismo, que seria um fenômeno psicológico, e não mediúnico. O caráter privativo das reuniões, somado à desnecessidade de divulgação ampla das informações obtidas, fez com que algumas pessoas sentissem confiança para divulgar o que lhes vem à mente interpares. Na medida em que a mediunidade é colocada a serviço dos enlutados, é necessário avaliar se a faculdade do médium se presta a tal finalidade e a aceitar que são raríssimos os médiuns que têm mensagens 100% oriundas do espírito comunicante, sem interferências pessoais.

A pesquisadora norte-americana nos mostrou que os médiuns que se prestam a esse tipo de atividade de intercâmbio geralmente acertam muito acima do esperado e fornecem informações que surpreendem aos enlutados, mas podem ter algum ruído na comunicação ou entender mal o que percebem pela via mediúnica, comunicando incorretamente. Cabe afirmar que feita a análise estatística, os resultados são geralmente superiores aos obtidos para outras pessoas, com espírito de mesmo gênero, idade de desencarnação e outras informações objetivas. Na grande maioria dos casos estudados as famílias identificam corretamente que mensagem lhes é direcionada e que mensagem não lhes pertence, apesar das semelhanças.

A estruturação desse tipo de reunião pode vir a atrair pessoas de má fé, que se fazem passar por médiuns e produzem fraudes, realizadas com o auxílio da internet e de outros recursos de acesso à informação, procurando construir uma reputação, obter vantagens financeiras, dar visibilidade à sua pessoa, entre outros interesses ainda mais nefastos. Não agem desinteressadamente, e podem ou infiltrar-se no meio espírita, ou fazer seus próprios grupos, como foi o caso de um suposto médium que cumpre pena, condenado por atos como estupro de vulnerável e violação sexual, respondendo ainda a outras acusações. Ele criou uma instituição que controlava, que mesclava crenças de diversas religiões e que lidava com ele como se fosse pessoa idônea e inimputável, fechando olhos a irregularidades que aconteceram ou aceitando explicações inverossímeis.

Cabe às organizações espíritas precaverem-se contra esse tipo de problema, que atraiu pessoas de má fé às instituições espíritas. 

Além do tema da palestra e do livro, Pedro Camilo é um advogado e professor de nível superior, cursando doutorado na Universidade de Coimbra em Portugal. Dedicou anos aos estudos e divulgação da obra de Yvonne Pereira, dedicando-se depois à pesquisa de novas informações sobre a médium, que conseguiu com a contribuição de diversas pessoas que conviveram com ela, seja da família ou do meio espírita. Quatro livros foram escritos divulgando seus resultados e foram muito bem acolhidos pelo meio espírita.

Em viagem de divulgação por Minas Gerais, pela capital e por cidades da região oeste do Estado, ele autografará seu novo romance na Associação Espírita Célia Xavier, em Belo Horizonte - MG, hoje, dia 11 de julho de 2023. Quem não puder estar presente, mas desejar reservar um livro “A Fraude” pode fazê-lo ligando para a secretaria da AECX, com o compromisso de buscar posteriormente e acertar o valor de venda. O telefone da livraria é 3334-5787.

A palestra pode ser vista pelo YouTube através do link: https://www.youtube.com/live/KF-1sUPmfmQ?feature=share 

18.6.14

HEROÍNA SILENCIOSA




Em viagem de lua de mel, uma amiga querida foi conhecer Dona Yvonne. Era o início dos anos 80, e a grande médium fluminense viveria apenas mais um par de anos em seu corpo físico. Ela acolheu os recém-casados com cordialidade e conversaram muito sobre as atividades nos centros espíritas. Yvonne queixava-se de uma certa transformação dos grupos em clubes recreativos.

Eu já conhecia a obra da médium. O estilo vívido de Tolstoi através das mãos de Yvonne sempre me impressionaram muito. Os detalhes da vida na Rússia dos Czares, da igreja ortodoxa, do campesinato e da nobreza, fluem com vida incomum no texto de Ressurreição e Vida ou em alguns contos de Sublimação.

Esta semana recebi o livro do amigo Pedro Camilo, já publicado desde 2004 e em sua 5ª. edição, chegando aos 11 mil exemplares. Comecei a leitura dentro do CTI, em recuperação de uma pequena cirurgia que havia feito. As palavras se transformavam em imagens muito vivas, e entrei em uma oscilação psíquica que vai da recordação à imaginação ativa. Eu já havia lido quase todos os livros citados por Pedro, alguns diversas vezes, mas o seu texto admirado fez-me recordar. As passagens da vida de Yvonne foram misturadas e reorganizadas em uma linha singular, belíssima, porque a literatura mediúnica desta médium traz uma narrativa de muitas vidas.

Charles, Roberto de Canalejas, Victor Hugo, Denis, Bezerra, e muitos outros homens e mulheres espíritos povoaram meus olhos novamente. Os suicídios e suicidas, tratados como seres humanos e parceiros na via dolorosa da recuperação da alma que atentou contra sua própria vida, vidas a fio, como Camilo Castelo Branco, invadiram a baia de tratamento intensivo, com suas memórias. Yvonne consegue traduzir não apenas a dor, mas as cores, os cheiros, as visões, como se fôssemos todos expectadores, vendo e entendendo à luz do consolador.

Um técnico puxou conversa, no plantão interminável do tratamento intensivo e confessou-me: você não imagina quantas pessoas vêm parar aqui por atentar contra a própria vida, sem sucesso. Jamais havia pensado nisso. O sofrimento dos suicidas e dos familiares dos suicidas que falharam (felizmente) está impregnado naquelas paredes muito limpas e brancas. A dor deles é compartilhada pelos encarnados que cuidam dos corpos mutilados, ainda vivos, não se sabe por quanto tempo.

Os amigos dela também são meus amigos. Eu os conheci pessoalmente ou através do rastro de luz que deixaram no movimento espírita. Chico Xavier, Divaldo Franco, Carlos Imbassahy, Hermínio Miranda, Rizzini, Affonso Soares...

Pedro conta a história de um agricultor do interior do nordeste, perdido na capital por ter dado um passo em falso e vendido todas as suas posses em busca da esperança de um emprego que desse uma existência digna aos filhos e a ele mesmo. Desiludido, abandonado nas ruas, possivelmente atordoado com a fome e o frio dos filhos, veio-lhe à mente à ideia nefasta quando uma senhora de cabelos brancos puxou conversa. Que palavras diríamos a um homem sem futuro, só sofrimento, com uma ideia fixa na mente? Ela soube exatamente o que dizer e reacendeu-lhe a esperança, mais uma vez. Coisa perigosa para quem já chegou à beira do precipício. Ele escreveu, ante sua orientação uma carta nominal a uma diretora do Centro Espírita Yvonne Pereira, em Rio das Flores – RJ, terra natal de Yvonne. Num misto de admiração e espanto, os trabalhadores daquela casa conseguiram que ele voltasse à sua terrinha, espantados que em 1989, uma pessoa morta em 1984 pudesse fazer-se vista, ouvida e identificada em lugar tão remoto, atraída pelo socorro a um candidato ao suicídio de outro plano.

Eu saí do CTI cheio de vida e de amor à vida. Eu já conhecia a história e as histórias, mas foram contadas de forma tão bela que deu vontade de compartilhar com os leitores do EC.

25.4.13

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO


Foto 1: Pedro Camilo.

A sociedade espírita em que trabalho tem reuniões diárias, de segunda à sábado, que começam em torno das 20 horas. Em uma delas fui convidado a apresentar um estudo no qual abordei o trabalho de Deolindo Amorim, "O espiritismo e as doutrinas espiritualilstas".

Deolindo viveu em uma época de intensos debates no movimento em torno da identidade do espiritismo, e como tivesse conhecimento filosófico e coerência doutrinária, assumia posições contrárias aos sincretismos que os mais entusiasmados propugnavam, e que já haviam gerado diversas cisões no movimento espírita. 

Seu livro foi publicado originalmente pela Federação Espírita do Paraná, e objetiva distinguir o espiritismo das diferentes doutrinas espiritualistas em voga no Brasil. Deolindo era membro da Liga Espírita do Brasil, cuja sede era estabelecida em Niterói-RJ, e que se transformaria da FEERJ, após o Pacto Áureo. Ele somava forças com Herculano Pires e Carlos Imbassahy, dois grandes pensadores daquela época, nos congressos e encontros que organizaram.

Como pensador, sensato que era, em vez de escrever em tom panfletário, o que não lhe era característico, Deolindo analisava, calmamente, mas de forma clara e incisiva, as semelhanças e diferenças entre o espiritismo e: a rosacruz, a cabala, a teosofia, as doutrinas evangélicas, a umbanda, e o movimento espiritualista anglo-saxão. Posteriormente ele publicaria africanismo e espiritismo.

Este tema parece nunca ter fim. É muito comum os neófitos (e mesmo espíritas com muitos e muitos anos de casa) desejarem trazer algo de sua experiência pessoal para as sociedades espíritas. Recentemente ouvi pessoas quererem trazer o reiki para as casas espíritas (talvez pela similitude com os passes), as práticas de medicina chinesa, a cromoterapia, a acupuntura (que hoje é uma especialidade médica em nosso país, portanto, regulamentada), os florais de Bach  e outras práticas/filosofias, nas quais parecem perceber alguma identidade de conceitos, mas que tem suas diferenças. 

Parece haver uma nova onda africanista no movimento, e como se vende de tudo nas livrarias, a leitura de um livro opinativo, ainda que considerado mediúnico, parece ser suficiente para sacramentar sincretismos. Felizmente, há pessoas lúcidas no movimento, como o Pedro Camilo, que muito recentemente publicou um artigo no qual se dirige respeitosamente à umbanda e aos umbandistas, mas reafirma a identidade destas duas práticas, posicionando-se contra as misturas.
Voltando às palestras na Associação Espírita Célia Xavier, em uma delas, uma frequentadora perguntou se eu não considerava os cultos afrobrasileiros e o espiritismo como sendo a mesma coisa. Em outra, um frequentador ficou incomodado com o trabalho do Deolindo e veio me questionar após a palestra. Quando reafirmei o que disse ele desabafou: eu não vou deixar de tomar os meus banhos de flores brancas... 

Creio que na esfera particular, devemos respeitar o livre-arbítrio das pessoas.  A questão maior é quando, querendo reconhecimento social para escolhas individuais, elas resolvem querer implantar suas combinações pessoais nas casas espíritas, como forma de buscar reconhecimento. Se em nome da tolerância os trabalhadores da casa aceitam, em breve não se conseguirá mais  identificar o que é espiritismo e o que não é.

18.11.09

PEDRO CAMILO FARÁ LANÇAMENTO NACIONAL DE SEU NOVO LIVRO EM BH


Fiquei conhecendo o Pedro Camilo no 4o. ENLIHPE. Personalidade marcante, fala vibrante e bem humorada temperada com afirmações profundas e às vezes contundentes. Uma participante emocionou-se e lamentou não ter podido conversar e colher um autógrafo do expositor, porque ele tinha compromissos e teve que ausentar-se.
Articulista, manteve uma coluna sobre mediunidade por anos a fio, enquanto circulava a séria revista "Universo Espírita", que deixou saudade.
Na quinta-feira, 19 de novembro, data significativa para os membros da Associação Espírita Célia Xavier, ele fará uma palestra e lançará o livro, Devassando a Mediunidade, no qual, baseando-se na mediunidade de Yvonne Pereira, ele analisa as muitas faculdades mediúnicas encontradas pela médium.
Yvonne era uma médium notável. Recentemente reli "O Paralítico de Kiev", um dos contos do livro "Ressurreição e Vida" e impressionei-me com os detalhes sobre a Rússia que o espírito Tolstoi vai utilizando para colorir o tema que desenvolve. Penso que é uma ficção, mas um texto de qualidade literária indiscutível. Já fiz palestas ilustradas com o conto (quase um pequeno romance) que dá título ao livro, que também impressiona e emociona pela narrativa psicológica dos personagens.
Após a desencarnação, como costuma acontecer com personalidades proeminentes do movimento, Yvonne foi transformada pela mídia espírita e pelos membros dos centros espíritas que a admiravam em um "espírito superior", cuja presença é anotada aqui e ali.

O trabalho de Pedro, que não se reduz a este livro, uma vez que já publicou dois outros sobre Yvonne, resgata a mulher-médium que teve coragem de publicar suas experiências e vivências mediúnicas em livros inesquecíveis como "Devassando o Invisível" e "Recordações da Mediunidade", trazendo-a de volta ao nosso meio, com suas falas rigorosas mas extremamente compromissadas, sua convivência quase familiar com os espíritos que a acompanharam ao longo dos anos, suas dificuldades no trato com espíritos em estado de sofrimento profundo, alguns deles em sintonia com o passado desta mulher, tão marcado pelo sofrimento dos suicídios repetidos no ciclo das encarnações.

Convido a comunidade belo-horizontina a comparecer em massa e prestigiar o esforço de trazer o Pedro, seguro de que não se desapontarão.

8.12.08

4o. ENLIHPE (Continuação)

Foto1: Pedro Camilo fala de Yvonne Pereira
Na tarde do primeiro dia tivemos a grata surpresa de conhecer o trabalho de Pedro Camilo. Bem humorado, chegando de uma série de compromissos em São Paulo, Pedro apresentou de forma simples e bem embasada, episódios da vida da médium mineira (na verdade, fluminense, como se pode ver no comentário do próprio Pedro) que realçaram sua trajetória de dificuldades e dedicação à prática mediúnica. O expositor baiano é responsável por um trabalho de levantamento de diversos documentos e entrevistas que tratam de Yvonne, pouco conhecidos e divulgados no meio espírita.

Pedro é articulista de Universo Espírita e já publicou dois livros sobre a médium, através da editora Lachâtre:
- Yvonne Pereira: Uma Heroína Silenciosa
- Pelos Caminhos da Mediunidade Serena

Foto 2: Paulo Figueiredo fala de Claude Bernard

Paulo Figueiredo foi o próximo expositor. Ele tinha por proposta inicial apresentar um trabalho em torno do tema "Conspiração do Silêncio", que seria um acordo tácito entre cientistas e filósofos de se calarem quanto aos trabalhos e teses espíritas desenvolvidos nos meios acadêmico e literário no último século.

Uma vez que o tempo disponível para apresentação era curto, Paulo desenvolveu seu trabalho sobre Claude Bernard, que é um dos pais da medicina contemporânea.

Estudioso, Paulo recuperou alguns trabalhos contemporâneos sobre o médico francês e seu pensamento. Uma das comunicações supreendentes, que o editor de Universo Espírita encontrou, foi que Bernard era adepto de uma versão sofisticada do vitalismo e opositor do reducionismo naturalista do homem.

Paulo mostrou uma citação de tese de doutorado (infelizmente defendida na Universidade da qual sou professor) na qual a autora faz uma citação parcial de um texto de Bernard, afirmando exatamente o oposto do que ele defende. Após recuperar o texto original e sua tradução para o português de Portugal, Paulo mostrou claramente que a autora citou apenas partes do trabalho de Bernard e que alterou lamentavelmente o significado do que ele propunha por omissão de frases. Ficou claro também que ela citou da tradução para o português, e não fez uma tradução própria do original. Resta saber se a mesma leu o original.

A tese da Conspiração do Silêncio ganhou novos argumentos corroborativos, e fica no ar se tal conspiração é o fruto de um espírito de época vigoroso o suficiente para calar e ensurdecer-se ante as vozes dissonantes ou se é mesmo um acordo tácito da comunidade científica calcado em uma visão intolerante de ciência e de mundo.