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1.5.15

A TERRA DA BRUMA



Há alguns meses meu amigo Alexandre Caroli me sugeriu a leitura do livro “A Terra da Bruma”, que acabava de ser publicado em língua portuguesa, depois de um século em inglês e total desconhecimento por parte do público espírita do nosso país. Conan Doyle ainda é conhecido apenas como o “autor de Sherlock Holmes”, personagem que continua estimulando filmes e séries de TV até os nossos dias. Os espíritas conhecem o seu História do Espiritualismo Moderno (traduzido com o nome de História do Espiritismo), e talvez conheçam “A Nova Revelação”, publicado pela Federação Espírita Brasileira.

A Terra da Bruma é uma ficção com raízes profundas na realidade. Ele gira ao redor de dois ou três personagens que vão aos poucos conhecendo o Espiritualismo Moderno inglês e europeu, em princípio, para escrever matérias para um jornal. Céticos, eles vão a diversos espaços onde a mediunidade é praticada.

Não vou falar muito do enredo, para não estragar a leitura de quem ainda não o fez. Apenas antecipo que é diferente do texto de suspense de Doyle. Ele parece ter escolhido instituições e situações que desejava apresentar ao leitor e inseriu no enredo. É um livro para quem deseja conhecer mais do espiritismo e do espiritualismo europeus do século XIX, e não para quem deseja um romance de suspense.

O que mais me chamou a atenção no livro são as diferenças entre o modern spiritualism, a cultura inglesa e o espiritismo brasileiro. Creio que é uma leitura boa para quem já conhece bem nosso movimento espírita e a obra de Allan Kardec. Pode gerar alguma confusão nos iniciantes ou desconhecedores do espiritismo. Vou destacar algumas diferenças:

Mediunidade paga: o autor defende a mediunidade paga, ao contrário de Allan Kardec, como uma forma do médium poder se dedicar ao desenvolvimento de sua faculdade e poder atender a um público maior de consulentes. No próprio livro, Doyle mostra também pessoas que resolvem se fazer passar por médiuns apenas pelo dinheiro e a ação da polícia inglesa, implacável, mesmo com os médiuns honestos. Do pouco que conheço da história, apesar de ficção, está muito próxima do que realmente aconteceu na Inglaterra do início do século XX.

Relação com padres da Igreja Anglicana: A Igreja Católica adotou uma posição de rechaço ao espiritismo de Allan Kardec ainda no século XIX. Conan Doyle tem personagens que são padres, possivelmente anglicanos, e que articulam sua fé cristã à mediunidade. Lembrei-me de pessoas como Dale Owen, Stainton Moses e Haraldur Nielson. Qual terá sido a posição oficial da igreja anglicana, uma vez que o modern spiritualism é visto como uma religião pelos ingleses?

Relações com doutrinas orientais: Doyle apresenta ideias esotéricas e de origem oriental como aceitas pelos espiritualistas. A doutrina das esferas celestes e a doutrina dos sete céus (judaica, hindu e cristã medieval), por exemplo, aparecem na boca de guias e expositores. Eliphas Levi (pseudônimo de Papus), que chegou a ser lido pelos espíritas brasileiros da primeira metade do século XX, é referido como uma influência de parte do movimento inglês. Como se deu a aproximação entre o movimento espírita francês e o movimento espiritualista inglês com o esoterismo, a teosofia e outras doutrinas ocidentais de influência oriental?

Interesse em fenômenos da mediunidade de efeitos físicos: Doyle vive a época posterior às pesquisas de Crookes, mas o Instituto Metapsíquico Internacional, criado por Jean Meyer, está em seu auge. Gustave Geley é um dos personagens que aparecem na trama com  nome trocado, e as reuniões de materializações, transportes, transfigurações, voz direta e outros parecem ser comuns em círculos restritos.

Casas mal-assombradas: como não poderia passar batido, há uma visita a uma casa mal assombrada, coisa que não é muito valorizada hoje por aqui como objeto de discussão pelos espíritas (exceção feita ao livro sobre Poltergeist, escrito por Carlos A. F. Guimarães e Carlos Alberto Tinoco). A relação do espiritualistas ingleses com os espíritos perturbadores é muito curiosa.

Preces: As preces estão presentes nas reuniões públicas, onde se fazia mediunidade pública, ao contrário do que acontece hoje nos centros espíritas brasileiros. O pai nosso aparece como uma referência cristã, mas há preces ditadas pelos espíritos. Não me recordo de haver lido fazerem preces espontâneas, muito comuns em nosso meio.

Maçonaria: Há uma citação da maçonaria na página 90. Parece que havia uma proximidade entre os maçons e os espiritualistas ingleses, assim como com os espíritas brasileiros, na mesma época.

Mediunidade curativa: Há um relato de trabalhos envolvendo médiuns curadores. Não me recordo de menção à homeopatia no livro de Conan Doyle, como acontecia no movimento espírita brasileiro daquela época.

Cientistas pesquisando fenômenos espirituais: Conan Doyle cita em diversos momentos do texto cientistas da época interessados nos fenômenos espirituais. Eles são quase todos conhecidos pelo movimento brasileiro de hoje, embora estejam sendo lidos cada vez menos. Hoje temos um pequeno número de cientistas dedicados ao estudo da mediunidade, reencarnação, entre outros fenômenos, embora haja um grande número de antropólogos de franceses e brasileiros interessados no espiritismo como movimento.

Hábitos da sociedade inglesa e europeia: Alguns hábitos dos espiritualistas ingleses nos causam hoje algum desconforto. Frequentar sala de fumantes, discussões regadas a vinho e agressão física a médiuns farsantes, buscando retratação pública, certamente seriam vistos como inadequados entre nós.

O médium como pessoa, e não como santo: Para concluir, acho a visão que Conan Doyle tem dos médiuns muito próxima à de Kardec. Ele não os endeusa, não os aproxima à imagem dos santos. Os médiuns ingleses são humanos, talvez “demasiado humanos”. Eles não leram “O evangelho segundo o espiritismo”, nem “o livro dos médiuns”, então os personagens não parecem se preocupar com uma transformação moral, embora não sejam devassos. Gostei muito de uma frase que Conan Doyle escreveu, após um personagem se incomodar com um médium: “É preciso separar o homem, da coisa” (pág. 241)

A Terra da Bruma
Arthur Conan Doyle
332 páginas
Zahar
2014
1ª Edição Portuguesa
Encontra-se também em formato de e-book



26.8.07

O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS III

EC: Quais são as diferenças entre o movimento espírita brasileiro e o Norte Americano?

Antônio: Não vejo muita diferença entre o movimento espírita brasileiro e o Norte Americano, até mesmo porque o movimento espírita aqui é formado em sua vasta maioria por grupos que foram fundados e são dirigidos por brasileiros. Enfrentamos aqui os mesmos problemas que enfrentam os grupos espíritas no Brasil. Uma coisa que é um tanto quanto complicada aqui é a participação em caráter mais constante e permanente das pessoas que vão aos centros espíritas. Isto acontece em decorrência do rítimo de vida aqui ser muito agitado. As pessoas trabalham em horários não tão compatíveis com os horários em que funcionam os centros espíritas. Isto dificulta em muito a rotina de trabalho dos centros e o nível de frequência torna-se muito inconstante.

EC: Que problemas vocês têm enfrentado na cidade de Nova York para praticar o Espiritismo?
Antônio: Nova Iorque é uma cidade cosmopolita e para cá vem gente de todos os cantos do mundo. A questão de liberdade de crença aqui é uma coisa levada muito a sério pelo americano. Assim, isto contribui em muito para facilitar o exercício e a prática de qualquer filosfia, religião, seita ou culto, desde que se cumpra com as formalidades exigidas pelas leis locais. Neste particular não se enfrenta mesmo qualquer tipo de ingerência, imposição ou dificuldade. Eu diria que uma dificuldade significante que se encontra aqui é a da questão material, ou seja, tem-se um custo alto para se manter uma sede em funcionamento. Cito como referência o Spiritist Group of New York que já está em atividade desde 2001 e todas as suas atividades são realizadas em salas alugadas por hora. Isto limita e dificulta um pouco o trabalho do grupo, pois a rotatividade dessas salas é grande, em que um grupo se reúne após outro, e as salas tem que serem desocupadas imediatamente.

Figura 1: Centro Libertad del Espiritismo em NY, década de 30 (?).



EC: De uma forma geral, dê aos nossos leitores algumas informações sobre o movimento espírita nos Estados Unidos.
Antônio: De uma maneira geral, o espiritismo ainda é muito pouco conhecido pelo grande público americano. Alguns poucos grupos iniciaram um trabalho pioneiro de disseminação do Espiritismo aqui em Nova Iorque e em outras localidades, antes da aparição de centros espíritas fundados por brasileiros. Esses grupos, em sua maioria formados por espíritas de origem hispano-americana [portoriquenhos, cubanos, etc.] foram em realidade os grandes pioneiros nesta nobre tarefa. Faço referência aqui, mais uma vez, à Spiritist Society of Florida, dirigida pela amiga e confrade Yvonne Limoges. Em verdade, as origens desta casa espírita está ligada ao El Centro Libertad del Espiritismo o qual foi fundado em 1933, pelo casal Luis Perez e senhora Pilar Perez, imigrantes espíritas portoriquenhos que vieram para a cidade de Nova Iorque em 1930.

Foto 2: Membros da Sociedad Libertad del Espiritismo

Edgar Crespo, pai de Yvonne Limoges e que fundou com ela a SSF, participou das atividades daquela casa espírita desde a infância, vindo posteriormente a se transformar num dos médiuns atuantes do centro. Da mesma forma a Yvonne Limoges, nasceu e cresceu em ambiente espirita. Esta casa espírita que tinha por volta de 45 membros participantes ativos, era tão bem estruturada que chegou a adquirir uma sede, um prédio de três andares, e anualmente, durante o verão, promoviam um desfile no centro de Manhattan pela Avenida Madison [Fotos e relato histório em inglês através deste link - A Spiritist Center in New York City]. Alguns dos descendentes desses pioneiros desbravadores, participam hoje de centros espíritas dirigidos pelos irmãos hispano-americanos localizados em New Jersey, Florida e outras localidades. Assim se iniciou a disseminação do Espiritismo por essas plagas.
Foto 3: Desfile na Madison Avenue.




Posteriormente, começaram a aparecer os centros espíritas fundados por brasileiros, os quais hoje proliferam por quase todos os estados da federação americana. Conforme podemos verificar na interessantíssima biografia de Marcel Souto Maior - As Vidas de Chico Xavier, o início de tudo foi impulsionado pela visita que Chico Xavier fez aos Estados Unidos em 1965, oportunidade em que, entre outras coisas, foi feita a tradução da sua obra Ideal Espírita, cujo título em inglês ficou como The World of the Spirits, atualmente inteiramente disponível na página do SGNY. A iniciativa seguinte tomada pelo Chico Xavier e sua comitiva de acompanhantes, Waldo Vieira, Maria Aparecida Pimentel e Ireneu Alves, foi a fundação do Christian Spirit Center, cuja presidência ficou a cargo de Salim Salomão Haddad. Inicialmente a sede deste centro foi a residência do casal Salim Salomão Haddad e sua esposa, a senhora Phyllis, os anfitriões do Chico e comitiva na cidade de Washington. O casal tinha conhecido Chixo Xavier em Pedro Leopoldo, em 1956. É interessante notar que Sallim Salomão Haddad era poliglota e fez a tradução de algumas obras espíritas para o inglês. Dentre elas destacamos a mencionada acima, bem como a primeira tradução da primeira obra da série André Luiz - Nosso Lar [The Astral City], da qual existem hoje, se não me falha a memória, quatro traduções. Não tenho visto ultimamente este centro espírita nas listas existentes na internet, bem como não tenho conhecimento se ele ainda está em funcionamento e se a senhora Phyllis estaria ainda entre nós. Não tive o prazer de conhecê-la pessoalmente, mas guardo com carinho uma carta que ela me escreveu em 14 de março de 2000, carinhosamente dando-nos permissão para colocarmos a referida tradução acima na homepage do GEAE, que até hoje lá permanece. Nessa ocasião o Christian Spirit Center era sediado na cidade de Elon College, no Estado da Carolina do Norte. Segundo tenho ouvido em ocasiões diversas, não muito tempo após a visita inicial do Chico Xavier e comitiva, começaram as visitas desse que é mesmo o maior de todos os desbravadores espíritas - Divaldo Pereira Franco, que tem mantido ao longo dos anos um calendário incrível de viagens pelo mundo afora, disseminando a boa nova do espiritismo como o mais arrojado dos bandeirantes. Tenho também ouvido várias vezes que o confrade e professor John Zerio, um dos fundadores e diretor da AKES - Allan Kardec Educational Society, foi o suporte maior do Divaldo nessas suas visitas iniciais a várias localidades de diferentes estados aqui nos Estados Unidos, o que possibilitou a organização de vários grupos espíritas. A partir de então outros grupos espíritas fundados por brasileiros começaram a aparecer e novos grupos continuam a serem fundados. Com o crescimento do movimento espírita a nível internacional, sob a liderança do CEI - Conselho Espírita Internacional, criou-se também aqui nos Estados Unidos o USSC - United States Spiritist Council.


Foto 4: Membros da Spiritist Society of Florida


EC: O que aconteceu com os adeptos do "modern spiritualism"? Como é a convivência entre as sociedades espíritas, de base kardequiana e os espiritualistas?
Antônio: Não posso falar muito sobre o movimento organizado do Espiritualismo Moderno aqui, uma vez que não participando dele ativamente fica difícil entender a dinâmica do mesmo. O que posso dizer e conjecturar a respeito do assunto, tem mais uma visão sob o ponto de vista histórico que advém das leituras que habitualmente faço sobre o tema, o qual me fascina sobremaneira. A percepção que tenho é que a exagerada ênfase dada aos fenômenos físicos, especialmente a partir dos produzidos pelas irmãs Fox, em Hydesville, de uma certa forma, já de início transformou-se num obstáculo à convergência de esforços mais direcionados para a instituição de algo mais sólido que viesse efetivamente crescer harmoniosamente, fundado numa base capaz de resistir aos embates que viriam pela frente. Quando vejo a grandiosidade da literatura espiritualista, e aqui me refiro a obras de qualidade inquestionáveis, bem como o volumoso acervo de obras no campo da pesquisa psíquica, produzidas por cientistas de nomeada e pesquisadores das maiores universidades do mundo, não consigo entender como o movimento do Moderno Espiritualismo sequer foi capaz de construir uma doutrina de base sólida em torno desse interminável acúmulo de fenômenos oriundos da "invasão organizada" da espiritualidade, nas palavras mais sábias do grande escritor Arthur Conan Doyle. Ao contrário, estarrece-nos a constatação de que alguns de seus membros mais notáveis, gastaram parte substancial do seu precioso tempo, na tentativa de combater a doutrina nascente do Espiritismo, naquilo que ela tem de mais fundamental, ou seja, a reencarnação. Se o leitor se interessar por maiores informações neste particular, recomendo a leitura do Capítulo 16 [”Luzes e Sombras do Espiritualismo”] do excelente livro de Hermínio C. Miranda, cujo título é Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos. Cabe ainda ressaltar aqui, que até mesmo o maior e mais notável de todos os pioneiros dessa nova era, o profeta da Nova Revelação, Andrew Jackson Davis, que entre outras coisas previu o advento dos fenômenos que desencadeariam o surgimento do movimento do Moderno Espiritualismo, era nessa época visto com reservas pelos próprios espiritualistas, por causa das críticas que o nobre pioneiro fazia em relação a postura de excessiva ênfase e aferrado apego ao aspecto fenomênico das revelações, em prejuízo do lado filosófico e moral das mesmas. A única explicação que encontro no tocante a incapacidade por parte dos espiritualistas na construção de uma doutrina sólida a partir de toda aquela fenomenologia em curso, é que uma já estava sendo esboçada - a Doutrina Espírita, e a espiritualidade superior sabia e sabe que não precisamos de mais de uma. Em outras palavras, em time que está ganhando, não se mexe. Infelizmente, essa tendência de supervalorizar o fenômeno ainda reflete sobremaneira no meio do movimento do Espiritualismo Moderno por aqui, o que é fácil de se constatar pela forma com que a prática da mediunidade ainda é exercida. É uma profissão remunerada como qualquer outra. Não nos cabe aqui fazer julgamentos e muito menos descaracterizar os resultados benéficos que o exercício da mediunidade sadia pode trazer, mesmo nessas circunstâncias, mas convenhamos que a questão material é mesmo um entrave no exercício desta nobre faculdade que nos é dada gratuitamente e como tal deve ser devolvida aos nossos irmãos mais necessitados. Enfim, como diz o ditado popular, “o tempo é um grande remédio”. A reencarnação que não é invenção do espiritismo nem de religião alguma, muito ao contrário é uma lei natural como muitas outras, que alguns ainda resistem em aceitar a sua inexorabilidade, lenta e gradualmente cada vez mais conquista as mentes e os corações das pessoas pelo mundo afora, e o progresso espiritual que também é inexorável segue o seu curso. Assim, esperamos que os irmãos ligados ao movimento do Moderno Espiritualismo também percebam a necessidade de mudanças e se adequem a realidade dos tempos atuais corrigindo os equívocos perpetrados no caminho, para que o distanciamento entre o movimento e os que o mesmo pretende atingir, não se distancie cada vez mais. Em realidade, a convivência entre os movimentos espírita e espiritualista é quase inexistente, e eu entendo ser isto um fator de muita importância na grande convergência que todos esperamos acontença num futuro não tão distante, o que imaginamos ser este o grande desejo dos pioneiros de ambos os movimentos que nos assistem do plano espiritual, o que podemos perceber nas palavras proféticas do codificador, no fragmento da mensagem acima registrado. Foi com muita alegria e esperança que vimos a realização do evento ocorrido em julho de 2005 em Lily Dale, mencionado anteriormente, o qual reuniu pela primeira vez os dois movimentos. Aliás, foi para mim motivo de muita frustração não ter podido participar do mesmo, pelo fato de ter viajado para o Brasil um dia antes do acontecimento. Esperamos que muitos outros eventos aconteçam e o Espiritismo e o Moderno Espiritualismo venham mesmo se fundir nessa grande Filosofia natural que será adotada por todos nós num futuro não tão distante.
EC: Após o episódio das irmãs Fox, você é capaz de nos dar alguns dados históricos da trajetória do Espiritismo em Nova York?
Antônio: A não ser as igrejas espiritualistas das diferentes denominações que se vê por aí, pouco ou quase nada se ouve a respeito do movimento do Moderno Espiritualismo por aqui. Ao conversar com as pessoas em geral, nota-se que o movimento do Espiritualismo Moderno é muito pouco conhecido por aqui. Isto foi algo que nos surpreendeu. Afinal de contas, foi no Estado de Nova Iorque que surgiu a mola propulsora e o ponto de partida, através do episódio das Irmãs Fox, para a instituição e organização do movimento do Espiritualismo Moderno. Além disso e com maior justeza ainda, temos o fato de que há poucas milhas de Nova Iorque, mais precisamente na cidade de Poughkeepsie, viveu por muitos anos aquele que é considerado um verdadeiro apóstolo no âmbito dessa nova era de revelações espirituais em benefício do progresso da humanidade, tanto pelas obras que deixou como pelo exemplo de vida que foi. Isto sem falar obviamente dos grandes pioneiros que aqui viveram e deixaram trabalhos monumentais nesta seara, como é o caso do ilustre Juiz John W. Edmonds com sua famosa obra Spiritualism e o grande cientista Robert Hare com o seu Experimental Investigation of the Spirit Manifestations. Por essas e outras razões, é natural que a gente espere que o movimento fosse muito mais visível através de eventos maiores e da mídia em geral, como acontece com o Espiritismo no Brasil, o qual há poucas décadas atrás ainda era caso de polícia. Felizmente, temos a internet que propicia a todos nós uma gama enorme de material de estudo facilmente acessível nesta área. A grande maioria das obras que formam o acervo da literatura espiritualista clássica e de boa qualidade, está hoje disponível na internet. Obras novas e de boa qualidade também surgem de vez em quando, o que mantém acesa a chama do desejo do conhecimento por parte daqueles que se interessam pelo estudo dessas questões. No caso específico do episódio das irmãs Fox, mencionamos aqui uma obra bem recente de autoria de Barbara Weisberg, Talking to the Dead [Conversando com os Mortos]. Sob o ponto de vista histórico eu recomendo que o leitor interessado visite na internet as páginas de ambas as organizações que representam o Movimento do Moderno Espiritualismo, aqui nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ai encontrarão todas as informações sobre este extraordinário movimento, desde o seu nascimento e posterior desenvolvimento, bem como relatos do sacrifício de muitos pioneiros que tanto nos legaram. São elas: National Spiritualist Association of Churches of the United States and The Spiritualists' National Union.

EC: Quantos centros espíritas você estima existirem na Big Apple?
Antônio: Bem, aqui na cidade de Nova Iorque (a Big Apple) especificamente temos apenas 3 centros espíritas no momento. São eles o Allan Kardec Doctrinal Society; o Allan Kardec Spiritist Center; e o Spiritist Group of New York. Havia um quarto, o Centro de Estudos Espíritas Boa Nova, o qual funcionou por muitos anos e com um trabalho maravilhoso, sob a liderança da Katy Meire, mas saindo um pouco para uma área de maior abrangência, conhecida aqui como tri-state region [que engloba partes dos estados de Nova Iorque, New Jersey e Connecticut], aí o número cresce para mais ou menos uns quinze. Não é um número tão pequeno, pois quando cheguei aqui, há treze anos atrás, havia mais ou menos uns cinco apenas.

EC: De que forma os espíritas brasileiros podem auxiliar os trabalhos dos espíritas novaiorquinos?
Antônio: Imagino que uma das formas seja através deste contato via internet, o que possibilita um permanente entrelaçamento e troca de informações. Eu costumo chamar o "milagre da internet", pois as possibilidades neste novo mundo globalizado são mesmo inesgotáveis. A propósito, saliente-se que graças a ela, a internet, o espiritismo está se propagando pelo mundo com muito mais rapidez do que podíamos ao menos imaginar há pouco tempo atrás. Os grupos espíritas espalhados pelo mundo afora devem mesmo utilizar esta ferramenta maravilhosa e, na medida do possível, procurar se comunicar e trocar informações e experiências com grupos de outras localiddes. Isto é muito salutar e ajuda muitíssimo o grupo em seu propósito de disseminar o espiritsmo em bases harmônicas e sólidas. E, como sabemos, os amigos no Brasil tem muito a nos dar, pois o movimento espírita aí se encontra muito mais bem estruturado e já com muito mais experiência adquirida.