Mendeleev
Fonte: Blog engenharia química na rede
Aos poucos, a história do espiritismo e do espiritualismo vai saindo de baixo do tapete e tornando-se conhecida no mundo, aceita como relevante para diversas disciplinas acadêmicas.
Encontrei no Periódicos Capes o interessante artigo de Richard Rice, intitulado "Mendeleev's public oposition to spiritualism" (A oposição pública de Mendeleev ao espiritualismo), publicado na revista acadêmica Ambix, em julho de 1998.
Nele o autor mostra o interesse e simpatia pública pelo espiritualismo por Alexander Aksakof e A. M. Butlerov.
Alexander Butlerov
Fonte: European Association for Chemical and Molecular Sciences
Butlerov promoveu conferências e sessões públicas com Daniel Dunglas Home (1871), que atraíram cientistas famosos em seu país, como o matemático P. L. Chebschev. As sessões não foram bem sucedidas, o que deixou um clima de desconfiança em meio a muitos cientistas russos, e Home retornou à Inglaterra. Rice mostrou que o clima na Rússia era de desconfiança e rídículo contra Home e com relação à mediunidade, vista como diversão apenas. Não se sabia que ela era estudada seriamente por cientistas, o que causou surpresa.
Rice mostra que os estudos de Butlerov com o médium francês Camille Brédif fizeram com que a cortina de gelo e ceticismo se quebrasse e outro cientista russo famoso se afirmasse espiritualista: o zoólogo N. P. Vagner. As publicações em jornal em 1875 incomodaram a Mendeleev, que propôs a formação de uma comissão pela Physical Society para investigar fenômenos espiritualistas.
A comissão investigou dois médiuns ingleses, os irmãos Petty, de 17 e 14 anos, trazidos à Rússia por Aksakov. Em condições controladas, os supostos médiuns não apresentaram fenômenos e foram considerados fraudes.
Rice mostra os excertos dos debates públicos na imprensa entre Vagner e Mendeleev. O primeiro acusa a comissão de falta de imparcialidade e o último afirmou que não viu nada do que é ensinado pelos espiritualistas.
Um incidente com a comissão levou ao afastamento dos membros espiritualistas. Eles fizeram sessões com o médium Clayer, já estudado por Crookes na Inglaterra e eles desenvolveram mesas especiais (não se explica no artigo como foram construídas). Clay conseguiu movimentos com as mesas convencionais, mas não com as experimentais, e a comissão havia decidido que só as mesas especiais seriam utilizadas para fins de pesquisa, o que causou a indignação de Butlerov, Vagner e Aksakov e seu afastamento da comissão.
Mendeleev começou um mês depois a fazer conferências nas quais narrava os trabalhos da comissão e dava explicações com base em teorias naturalistas para os fenômenos alegados pelos pesquisadores espiritualistas. Para ele, o estudo espiritualista era uma superstição.
Rice mostra que a ciência russa desejava ser aceita internacionalmente e os céticos russos viam sua posição anti-espiritualista como uma vitória contra o misticismo em seu meio. Dostoievsky não acolheu bem a posição de Mendeleev, e questionava: "Talvez o comitê, neste caso, estivesse influenciado por alguma opinião alemão ou francesa, mas, se tal ocorreu, onde está sua própria experiência?"
Rice encontrou também o que ele considera como uma atitude preconceituosa, ou pré-concebida de Mendeleev em seus diários. "É necessário um professor para falar contra a autoridade de um outro professor." Ele escreveu. Ele se considera vitorioso em "varrer o espiritualismo da Rússia".
O texto de Rice, que tento resumir, é extremamente rico e detalhado, o autor mostra as posições opostas dos pesquisadores espiritualistas e céticos e merece ser melhor lido e conhecido por quem se interessa pela história do espiritualismo e do espiritismo.
Este trabalho lança mais elementos para os adeptos da tese da Conspiração do Silêncio, ou seja, os fenômenos espirituais foram estudados e discutidos amplamente pela inteligentsia européia e norte-americana no século XIX. Por que se conhece tão pouco sobre isso, nos dias de hoje?