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4.9.17

ANTONINA NO DIA DAS MÃES



O dia das mães é uma data-calendário que foi usada por Antonina para falar da família. Após sua exposição, ela perguntou a seus alunos:

- Qual seria a família ideal de vocês?

Ela entregou papéis para que eles pudessem escrever sobre esta família.

Talvez pela primeira vez para muitos dos alunos, eles puderam falar e escrever sobre um tema que se tornou tabu em suas casas.

Antonina surpreendeu-se com as respostas:

- “Eu gostaria que meu pai parasse de fumar, de beber e tivesse saúde. ”

- “Eu gostaria que minha família ficasse rica e que minha mãe e meu pai não fossem separados. Gostaria de ter conhecido meu avozinho. Gostaria de ser cantor sertanejo ou evangélico. Queria mudar muitos pecados na minha vida. Desejo um feliz dia das mães”

- “Queria que minha família fosse boazinha”

- “Eu queria ter conhecido meu “vô” materno, por que nem minha mãe o conheceu. Também queria que minha família fosse rica e o resto “queria que continuasse o resto”.

- “Quem devia estar na minha casa? Meu pai. O que devia mudar na minha casa? Minha mãe voltar com meu pai e minha mãe terminar com (o nome do companheiro, possivelmente). “

De repente, o dia das mães transformou-se no dia da falta dos pais para a maioria das crianças presentes. Famílias dissolvidas, talvez sem a devida preparação das crianças, sem a conversa importante que diz que a dissolução do casamento não é o fim da relação de paternidade e maternidade (ou será para alguns?). O pai, na mente dos pequeninos, é o herói ausente ou doente.

Os avós foram lembrados, e sua morte lamentada. O que significam estes avós que foram levados pela “grande viagem”? Mais um suporte para as famílias, uma pessoa carinhosa, ou apenas alguém cuja lembrança é evocada pela mãe com lágrimas?

O medo de perder o pai também está no discurso de uma das crianças, talvez reproduzindo a reclamação da mãe, que ressoa em vão: - Pare de fumar e de beber! Não apenas como uma implicância, mas como um temor da saúde que se vai, um temor da morte.

Por fim, veio o desejo de riqueza, que falta nas casas. E o anseio de ser cantor, de ser reconhecido, de ser alguém importante em seu meio. Nem sei dizer se é um anseio de uma carreira bem remunerada, apesar do mito do cantor pobre que sai na estrada até tornar-se bem-sucedido e rico.


O mais curioso de tudo, é que na tentativa de evitar uma abordagem que estereotipe a “família ideal”, eis que ela surge no desejo das crianças, articulada às aspirações mais profundas, como falta. Há muito ainda o que conversar com eles, para que não se sintam menores, furtados em seus sonhos pelos acontecimentos da vida. 

25.4.17

ANTONINA LEVA BÍBLIAS PARA A SALA DE AULA


Antonina tinha um novo desafio: a aula prevista era sobre a Bíblia. Ela imaginava que seus alunos tinham contato com o livro, porque viviam em uma região com grande influência dos evangélicos.

Ela separou então, para a aula, diversas Bíblias. Ela queria dizer que não existia apenas uma tradução, mas diversas traduções, e diferenças no texto. Levou uma Bíblia de tradutor católico, do latim, outra de tradutor protestante, do latim, a Bíblia de Jerusalém e a Bíblia do Peregrino, uma das Testemunhas de Jeová, intitulada tradução do Novo Mundo.

Seus alunos estavam indóceis, então ela começou sua aula com um “brainstorming” para verificar o que os alunos conheciam. Ela disse:

- Vocês vão me dizer a primeira coisa que vêm à mente quando eu disser uma palavra, tudo bem?

- Qual palavra, professora?

- A palavra é Bíblia!

Então todos os nove alunos começaram a falar: Mateus! Deuteronômio! Esdras! Apocalipse!

Eles conheciam livros que ela mesma não conhecia... Com certeza não aprenderam na escola. Antonina engoliu seco, mas continuou. Ela foi explicando a composição e a formação da Bíblia, quando mostrou os diversos livros que havia levado.

Eles folhearam, interessados, vendo que havia diferenças.

Um dos alunos falou:

- Na Bíblia das Testemunhas de Jeová, o livro Apocalipse foi traduzido com o nome Revelação, porque a palavra quer dizer isto em português.

Ela mostrou a “Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas”, a Bíblia das Testemunhas de Jeová.

- Deixa eu mostrar para você! Disse o aluno.

Ele localizou rapidamente o último livro da Bíblia e mostrou, triunfante:

- Olha aqui! Revelação!


Com o fim da aula, Antonina ficou pensando, admirada. Eles já conheciam muitas coisas sobre a Bíblia. Como haviam aprendido? Qual seria a extensão do conhecimento? Seria a apreensão das histórias que compõe o livro considerado sagrado? Estas histórias seriam capazes de transmitir os valores cristãos, ou seriam vistas apenas como os filmes de cinema, uma realidade ficcional, distante e sem conexão com as nossas vidas? Eles são, mesmo, capazes de aprender muitas coisas!

8.4.17

A FORMAÇÃO DO EVANGELIZADOR OU EDUCADOR ESPÍRITA DA INFÂNCIA





Muitos colegas dos tempos de juventudes espíritas, agora com os cabelos grisalhos, estão escrevendo sobre suas experiências, vividas no movimento espírita, tentando repassá-las para as novas gerações e as direções de trabalhos.

Tive duas experiências importantes no passado: fui professor de desenvolvimento de recursos humanos e fui coordenador de evangelização infantil para crianças em situação de vulnerabilidade social, em uma unidade nossa próxima de muitas favelas da Belo Horizonte dos anos 80. Desde então, nossa casa tem um problema crônico de formação de pessoas para este tipo de tarefa, não sei dizer o quanto este problema atinge os demais centros espíritas.

Há uma discussão atual sobre o nome a ser dado. Evangelização sugere apenas o ensino do evangelho e tem um pé na prática eclesiástica, então o nome educação espírita parece bem mais amplo e adequado. Contudo, isto não significa abandonar o ensino dos Evangelhos e dos princípios que embasam fortemente a ética espírita. E também, penso que a mudança de nomes não é algo que deva se transformar em “cavalo de batalha”, porque já vi as pessoas discutindo para mudar palavras, sem qualquer preocupação com a alteração da prática. Kardec dizia que “para ideias novas, palavras novas”, então esta mudança deve ser o objeto central das nossas preocupações, e não discutir para usar termos novos para conceitos velhos.

Nossa questão neste texto, contudo, é: como preparar evangelizadores ou educadores espíritas para o exercício de sua prática?

Tenho visto a realização de cursos intensivos para a preparação deles. Contudo, é uma atividade bem complexa, que não se resume a um curso de final de semana. Eles trabalham com a educação de crianças em faixas etárias e condições socioeconômicas muito diferentes. Para formar um professor de educação infantil nas escolas em geral, é necessário o magistério ou a graduação em pedagogia. Nosso trabalho é voluntário e pontual, então não há como exigir esta formação dos interessados, mas é possível realizar uma série de ações complementares para o seu desenvolvimento na tarefa.

No Lar Espírita Esperança, em Belo Horizonte, implementamos nos anos 80 uma série de ações que visavam o desenvolvimento do corpo de educadores espíritas, que foram.

  1. O horário da atividade foi expandido. Evitamos que os voluntários chegassem “correndo”, na hora da aula e saíssem “voando” após a entrega dos alunos aos pais.
  2.  Reuníamos o grupo sessenta minutos antes, não apenas para uma prece e avisos gerais, mas para um pequeno estudo ligado à evangelização. Os temas eram teóricos ou práticos e variados. Podiam tratar de alguma aula bem sucedida, alguma questão psicológica no relacionamento professor-aluno, algum tema pedagógico. Era feito pelo coordenador, mas podia contar com a colaboração de algum convidado ou membro do grupo. Assim o grupo começava a se tornar o que os cientistas sociais chamam de “comunidade de prática”.
  3.  Os novos educadores não iniciavam sua prática em uma sala de aula fixa. No primeiro ano, eles ficavam por dois meses em cada sala de aula (tínhamos turmas divididas por faixas etárias), observando como os educadores planejavam suas aulas, como lidavam com as crianças, e colhiam experiência. Ao final dos dois meses, eles eram responsáveis por uma aula na turma em que "estagiavam". A cada quinze dias, os “estagiários” se reuniam com a coordenação para compartilhar suas experiências e seus problemas. Nesta conversa rápida de trinta minutos, ia ficando mais claro se eles se identificavam com o trabalho, quais suas preferências e suas dúvidas e demandas. Esta conversa poderia gerar temas para a reunião anterior às aulas.
  4. Como os voluntários tinham dificuldade em reunir-se durante a semana para planejar suas aulas, eles se reuniam no dia da tarefa, após a saída dos alunos, para preparar as próximas aulas. Trabalhavam em conjunto, podiam conversar sobre os alunos, seus acertos e erros, seus problemas em sala de aula. Com esta prática, os educadores mais experientes interagiam com os novatos e os “estagiários”. Tinham acesso a todo o material pedagógico (não era muito) disponível na unidade e podiam usar os recursos da mesma para preparar as aulas. Uma hora era mais que suficiente para esta fase do trabalho.
  5.  No meu primeiro ano como evangelizador, meus colegas mais experientes tinham por prática fazer os planos de aula. Eu aprendia a técnica com eles, e a usei muito depois, até mesmo na minha experiência como professor universitário. Da forma que era elaborado, o plano permitia a visualização do tema, dos conteúdos, das estratégias didático-pedagógicas a serem usados, da distribuição das atividades pelo tempo e de como avaliar sua apreensão pelas crianças.
  6.  Como registrávamos os planos em cadernos, eles passaram a ser usados como material de consulta por outros evangelizadores. Infelizmente eu os perdi nas muitas mudanças que fiz ao longo da vida. Por esta razão tenho publicado no Espiritismo Comentado as histórias de Antonina e de outros educadores, mesmo sabendo que ainda não conseguimos atingir o público-alvo: os educadores infantis de espiritismo.
  7. Oferecíamos um curso de curta duração para formação geral pelo menos uma vez por ano. Uma limitação era que visávamos apenas os jovens da casa. Hoje, neste tipo de iniciativa, há uma interação entre casas diferentes na capital de Belo Horizonte, e públicos diferentes, como os frequentadores de grupos de estudo, ESDE e até mesmo reuniões públicas.
  8. Na capital mineira, hoje, há eventos voltados para educadores experientes. Infelizmente, muitos deles não veem a necessidade de participar. É importante que a programação destes eventos deixe claro o que eles irão agregar à sua experiência, para que não reajam com o velho preconceito de que não irão aprender nada, que é “mais do mesmo”.
  9. Montamos grupos de estudo de voluntários para desenvolver material sobre diferentes estratégias de educação. Chamou-se Projeto Evangelizar. Um grupo preparou um trabalho sobre música nas aulas. Outro grupo trabalhou com fantoches, com teatro de sombras e com como preparar material de apoio pedagógico em geral. Um terceiro grupo preparou um trabalho sobre planejamento de ensino. Um quarto grupo ensinou sobre jogos e recreação... Já nem me lembro mais de quantos trabalhos foram feitos. Ao final da elaboração os membros do grupo apresentavam ao corpo de educadores da Associação Espírita Célia Xavier para que o conhecimento circulasse e atingisse seu objetivo.
  10. O Professor Raul Teixeira, de Niteroi – RJ, em sua pós-graduação teve contato com a “elaboração de objetivos de ensino”, de Mager e Pipe (e outros autores), e fez uma oficina com todos os que trabalhavam com educação (infância, juventude e adultos) em nossa casa espírita. Os autores mudavam o foco do planejamento do ensino para o planejamento da aprendizagem, e discutiam a articulação entre objetivos gerais (de planos) e objetivos específicos, técnicas de escrita de objetivos, entre outros.
  11. Observamos que a aprendizagem das crianças em geral, e principalmente das crianças em situação de vulnerabilidade social era baixa. Pensamos à época em fazer uma programação mais voltada à conexão entre o espiritismo e a vida infantil, que uma adaptação do roteiro de ensino do espiritismo para adultos.

Alguns dos voluntários desta época continuam na tarefa até hoje, levaram sua experiência para onde foram, para outras casas espíritas, para outras cidades... Creio que hoje há muito o que agregar à experiência de trinta anos atrás. Pedagogia de projetos, construtivismo, novos recursos com a revolução da informática, barateamento de publicações, surgimento de novas editoras espíritas, aumento da formação superior nos meios espíritas...


O mais importante é que a educação espírita infantil não seja um mero improviso, que não seja uma mera exposição ou um esquema padrão de aulas, que ela envolva as crianças e que crie laços entre elas e a casa espírita. Que se pense não em treinamento de educadores, mas no seu desenvolvimento continuado através de ações diversificadas e na construção e reconstrução do conhecimento não formal através das gerações. Não sei se nossa experiência é útil a outras casas, em outros lugares, mas sei que há muito o que ser feito e que precisa ser bem feito.

6.3.17

O PAI NOSSO DE ANTONINA


Uma aula sobre oração? Ficou pensando Antonina com seus botões...

Ela se recordou de uma aula que assistiu quando tinha a idade de seus alunos. Engraçado como estas coisas vêm à cabeça, mesmo passados muitos anos.

Antonina tem poucos alunos, apenas cinco, mas o desafio de facilitar a aprendizagem não é menor. Conceitos abstratos, mesmo para crianças de 11 e 12 anos, que geralmente gostam de ser chamadas de pré-adolescentes, com uma experiência escolar limitada, aprovações forçadas e desempenho grupal baixo, são de difícil apreensão. Uma vez acreditando que não são capazes de aprender, desistem muito facilmente.

A ideia que ela teve foi associar Allan Kardec com Jesus Cristo... Kardec escreve em "O Livro dos Espíritos" que o objetivo da prece pode ser "louvar, pedir ou agradecer". Jesus ensinou aos apóstolos a oração dominical (do latim "dominus", significando senhor) como um exemplo de prece.

Ela imprimiu textos com a oração dominical, um para cada aluno. Imprimiu sete, por segurança. E montou um kit com três canetas marca-texto de cores diferentes. Amarelo para pedir, azul para agradecer e verde para louvar.

Chegado o grande momento, ela explicou a dinâmica da aula. Iriam estudar frase a frase a oração, e iriam identificar se a frase tinha o objetivo de louvar, pedir ou agradecer. Cada um iria marcar a frase com a cor respectiva, depois de conversarem em grupo.

As canetas fizeram um enorme sucesso. Os alunos nunca as tinham visto! Parecia mágica a história de colorir uma palavra para destacá-la...

As discussões foram longe. 

- Santificado seja o vosso nome! 

Depois de discutir, concluiu-se que se tratava de louvar a Deus.

- O pão nosso de cada dia nos dai hoje!

- Antonina! Ele está pedindo! Vamos marcar de amarelo?

Frase a frase foram analisando a oração. No final da tarefa alguém falou:

- Não tem nenhuma frase de azul... Falou Cícero.

- Ele não agradeceu nada? Perguntou Artur.

- Não é preciso usar as três classificações para se fazer uma prece. Como ela sai do coração, vai depender do que estamos sentindo e vivendo na hora. Explicou Antonina. E emendou:

- Vocês sabem de onde vem o Pai Nosso?

Ela mostrou um Novo Testamento.

- Uma Bíblia! Falaram os três meninos...

- Depois de Mateus, vem Marcos! Aqui passa de Mateus para Lucas. Esta Bíblia está errada? Perguntou Cícero.

- Não! Explicou Antonina. Você passou as páginas rápido demais. Explicou.

- Este livro não é a Bíblia inteira, é apenas o Novo Testamento...

Os meninos tinham um contato anterior com a Bíblia, talvez pela grande influência evangélica em sua comunidade.

Antes de terminar a aula, houve um apelo:

- Você vai trazer mais estas canetas?

E Antonina, tocada, deixou cada um ficar com um kit. 





19.9.16

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO PSICOLÓGICO NA EVANGELIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE COMUNIDADES




Há muitos anos, na década de 1980, fui evangelizador e depois coordenador da evangelização infantil de nossa casa, na unidade Lar Espírita Esperança. Nesta experiência, muitas vezes fiquei sem chão, porque o que eu achava que fazia bem com os filhos dos frequentadores da sede da Associação, escolarizados, de classe média, quase nunca funcionava bem com os filhos das comunidades locais.

Como exemplo, as aulas expositivas, tão bem construídas, com objetivos de aprendizagem gerais e específicos, não eram apreciadas, e, principalmente, não eram apreendidas em seus conteúdos. Uma vez, a pedido nosso, as turmas de evangelização fizeram uma avaliação somativa do que haviam ensinado ao longo do semestre, e os evangelizadores ficaram muito impressionados com a baixíssima retenção. Vimos que era necessário um novo caminho, uma nova pedagogia, ou pelo menos, uma pedagogia que pudesse se reinventar a partir da constatação de suas limitações.

Um problema que não tínhamos e que pude verificar mais recentemente, era o problema do vínculo. Quando trabalhamos com crianças de comunidade, diferentemente das crianças de classes médias, uma questão muito importante a ser conquistada ao longo do percurso, é a confiança. Uma grande ameaça para o mundo infantil, que se torna maior na medida em que as crianças são menores, é a estabilidade. Crianças que passam por famílias em contínua desagregação, na qual entram e saem pessoas, têm problemas de investimento emocional.

Vi diversas vezes pessoas da geração anterior à minha e da minha geração se queixarem dos namorados/namoradas dos filhos. Em uma época de fluidez nos relacionamentos, eles dizem:

- Não vou me ligar muito aos namorados dos meus filhos. Quando a gente começa a tratá-los como parentes, a acostumar com sua presença, o relacionamento acaba!

Se a quebra de um vínculo frágil, como o do namoro, incomoda a um adulto, já possuidor de uma rede estável de familiares e amigos, imaginem na cabeça de uma criança, muitas vezes sem esta rede de afetos.

Com certeza, não é papel do evangelizador substituir os pais e familiares ausentes, por isso é necessário estabelecer um contrato psicológico com seus alunos. Isto significa um acordo explícito, do tipo: vamos trabalhar juntos ao longo do ano, serei seu evangelizador, meu nome é fulano, e espero que vocês participem das aulas e sejam presentes ao longo do ano, para aproveitar ao máximo o que iremos fazer.

Um evangelizador, em uma comunidade, não vai apenas dar aulas, nem pode se sentir à vontade para faltar, quando outro for responsável pela aula. Ao assumir uma turma, da mesma forma que se exige presença do aluno, é necessário estar presente.

A presença, não apenas física, mas também psicológica (ou seja, em interação contínua, com alguma forma de investimento emocional), demanda dar bom dia, boa tarde, chamar pelo nome os alunos, conversar, cantar junto, rir junto, chamar a atenção (cuidado com isto, tem criança que adora ser chamada a atenção, porque não consegue reconhecimento sendo boazinha), comer junto, fazer bagunça, limpar a bagunça, arrumar a sala junto, desenhar junto, separar a briga com o colega, buscar a criança que tenta pular a janela, guardar o canivete no início da aula e devolver para a mãe ou para a criança no final da aula e todas as muitas interações, imagináveis e inimagináveis, que façam com que a criança não seja um pinto de chocadeira, mas um membro de uma ninhada.

Se o evangelizador, ou o coordenador de mocidades, ou, até mesmo, o dirigente de reuniões, é uma figura ausente, ele ensina pelo exemplo que os membros do grupo também podem ser infrequentes. Se, com suas palavras, um evangelizador pede que as crianças sejam presentes, mas, com suas ações, ele próprio falta muito às aulas, ele está promovendo de forma muito vigorosa a desagregação do grupo.

E sobrevém um círculo vicioso: a criança falta porque o evangelizador falta, e o evangelizador se desmotiva porque são poucas e infrequentes as crianças em sala. Para reverter este círculo, o evangelizador precisa ser ele a figura de referência, a primeira pessoa a estar presente.

Outra coisa importante, não se conquista a confiança de uma criança prontamente, especialmente de uma criança "escaldada", porque em seu mundo a mãe fica poucas horas com ela, entra e sai "pai" todo semestre em casa (e eles podem ser figuras psicológicas negativas), falta e muda professor todo dia na escola, isso quando elas podem se dar ao luxo de serem presentes. Da mesma forma que a namorada fica desconfiada com as promessas de um novo namorado, crianças que passam por experiências de abandono irão demorar um pouco mais e até mesmo pedir "provas de amor" de seu novo evangelizador. Vão fazer "arte" na sala de aula, vão desafiar as regras estabelecidas, vão expressar em voz alta seu descontentamento, mas, na grande maioria, irão aos poucos aceitando as regras do grupo e confiando no evangelizador, na medida em que constatam que ele "veio para ficar" e que está disposto a amá-las (amor exigente, ok?)

Quando coordenei a evangelização do Lar Espírita Esperança, tínhamos dois tipos de pessoas em sala de aula: evangelizadores e estagiários. Os estagiários eram os membros recém admitidos ao grupo, sem experiência com as atividades de evangelização. Nós geralmente os deixávamos por um mês na sala, e os passávamos ao longo do ano por várias salas de aula, para que pudessem descobrir com que idade gostariam de trabalhar, para adquirir experiência com diferentes evangelizadores e para ver se serão capazes de permanecer na equipe por um período maior, se não irão desistir diante da primeira dificuldade. Não havia muito problema com este arranjo, porque era conversado com as crianças.

Então tínhamos dois contratos psicológicos diferentes em sala de aula. O contrato do evangelizador, que é de pelo menos um ano (ou seja, a criança sabe, e deverá confirmar com o tempo, que ele irá ficar com ela por, pelo menos um ano) e o contrato do estagiário, que irá ficar por um mês, e dará ou ajudará a dar uma aula, neste período.

Os vínculos temporários, pressupõem apresentação e despedida. Vocês já viram alguma visita sair de sua casa sem despedir-se, após uma reunião íntima? O que você sentiria se deixasse uma pessoa no sofá de sua casa e logo depois ela sumisse, sem se despedir? Talvez passasse pela sua cabeça que ela se ofendeu com alguma coisa que você disse ou fez, ou que aconteceu algo muito grave que exigiu a saída repentina dela, etc. Agora imagina o que passa na cabeça de uma criança de oito, dez ou doze anos, já "escaldada" de ver pais entrarem por uma porta e saírem por outra em sua vida.

Se você quer ser um evangelizador de crianças de comunidades, tenha em mente que você tem uma responsabilidade e um contrato de um ano. Justifique suas faltas, se possível prepare as crianças para elas. Nunca as deixe com um estranho em sala de aula, nem permita que se juntem turmas sem um motivo grave. Se você sabe que vai ser infrequente ao longo do ano, então não assuma esta tarefa, ajude a equipe de outra forma, preparando material, apoiando a coordenação, servindo lanches, aplicando passes, em um lugar psicológico onde o vínculo não seja essencial.

25.6.16

O QUE CARAMELOS TÊM A VER COM PAULO DE TARSO?



Saulo de Tarso

Jaques foi convidado a falar sobre a vida de Paulo de Tarso para crianças, quase jovens, de 11 e 12 anos de idade. Um dos evangelizadores, Levi, pediu a ele que observasse a letra da música Vaso Escolhido, escrita por Gladston e interpretada por Tim e Vanessa, para que os evangelizandos pudessem entender as frases que remetem à vida do doutor da lei. Encomenda difícil. Os jovens estudam em boas escolas da capital mineira, mas como despertar o interesse por um personagem que está cada dia mais distante do meio escolar e da experiência de quem cada dia menos tem contato com o cristianismo, na escola, na televisão e no círculo de amizades?

Ele pensou em uma apresentação de slides que fizera há alguns anos, para adultos. Teve o bom senso de consultar Levi que lhe respondeu, presto:
- O conteúdo está muito “master level”, né?

Estava. Jaques pesquisou a internet, para conhecer melhor a música do Gladston, e encontrou um material interessante. Um vídeo do “youtube” que tinha imagens recortadas de um desenho animado e como som, a música citada.

Nova consulta, e Levi respondeu:

- É legal para ilustrar, mas você devia usá-lo para introduzir, que é apenas uma animação, para eles não encararem o desenho como “infantil”. Nesta idade eles se queixam muito de não se usar técnicas que consideram infantis.

O que fazer então? E veio a luz.

Jaques separou algumas das principais passagens da vida de Saulo-Paulo, encontradas no livro dos Atos dos Apóstolos. Ainda assim era muita coisa. Selecionou todos os que se encontravam ilustrados no desenho animado. Selecionou também os que eram necessários para explicar a música que seria tocada, por exemplo, por que Paulo é chamado de vaso escolhido?

Na hora de sair para a aula com toda a parafernália, notebook, mapa das viagens de Paulo, etc., Jaques viu o pote cheio de caramelos e o esvaziou. Eles seriam úteis para esta idade.

Iniciada a aula e cantada a música, Jaques começou a aula perguntando aos alunos o que sabiam da vida de Paulo.

- Detesto ensinar “o padre nosso ao senhor vigário”, vocês sabem o que é isto?

- Não, Jaques, o que é? Responderam

- Ensinar coisas que as pessoas já conhecem.

Algumas  informações eles já conheciam. Paulo era apóstolo de Jesus, mudou de nome, estava em um cavalo quando viu uma luz... As respostas foram sendo anotadas no quadro e problematizadas:

- O que é apóstolo?

- Tem os apóstolos e os discípulos, Jaques!

- Mas Paulo não era um dos doze!

E o diálogo começou, cheio de questões sobre as informações que eles já dispunham. O interesse começou a despertar.

Jaques comunicou que iria contar a história de Paulo. Contudo, provocou os alunos a participar da seguinte forma:

- Vou contar a história de Saulo, mas vou parar de tempos em tempos para fazer perguntas. Quem acertar ganha um caramelo, ok? No final, vou passar um desenho animado sobre Paulo, sem as falas. Quem identificar o que está acontecendo, ganha um caramelo também! Não tenho para todos, então alguns ficarão sem. Tudo bem?

Feito o contrato psicológico, a história começou a ser contada, mas interrompida sempre pelos alunos, que tinham uma dúvida, algo a contribuir, um comentário, até mesmo brincadeiras meio fora de hora.

O desafio e a competição natural da idade eram mais motivadores que os doces, mas todos queriam ganhar. A história de Saulo despertou uma série de questões de história e geografia.

- Quem sabe para onde Saulo ia quando viu Jesus?

- Jerusalém! Disse um.

- Roma! Disse outra.

- Damasco! Lembrou uma aluna.

- Damasco é capital da Síria, não é professor?

- Como você sabe?

- Meu pai é professor de geografia!

Depois de algum tempo, os alunos estavam chamando Jaques de professor. E as mãos levantavam sempre, tentando resolver os problemas que eram colocados ou mesmo, apenas, participar. Quase todos gostaram desta forma meio aula, meio brincadeira de ensinar e aprender.

- Você é professor de história? Perguntou um deles.

Os caramelos começaram a ter outra utilidade. Quem ganhou um, não podia ganhar outro, para que eles atingissem o número maior de colegas. Então, na hora de responder, quem já havia respondido certo tinha que ceder a vez para quem ainda não havia ganhado. Jaques pensou que os que haviam ganhado podiam ficar desmotivados, mas isto não aconteceu. Eles continuavam levantando a mão e esperando a resposta dos colegas. Sabiam que se os colegas não respondessem certo, teriam sua vez, mesmo sem ganhar nenhum caramelo. Ninguém se importava.

Apenas três caramelos haviam sobrado para o vídeo, que foi usado como atividade de verificação da aprendizagem. Foi necessário improvisar, e escolher apenas as três cenas mais difíceis para distribuir as balas que sobraram.

Eles continuaram se interessando e participando, de forma disputada.

Estêvão foi facilmente identificado, Ananias também. A fuga de Damasco foi lembrada. E os alunos iam falando, até que sobrou apenas um caramelo.

- Que cena é esta? Perguntou Jaques. Quatro mãos levantaram-se.

- A fala de Estêvão?

- Não, esta cena aconteceu depois das viagens de Paulo.

- Foi quando Paulo estava ensinando e foi apedrejado e jogado no monturo?

- Não, foi depois deste evento. Disse Jaques.

Um dos mais falantes, mas que ainda não havia conseguido ganhar seu doce, pediu a vez.

- Foi quando Paulo foi julgado em Jerusalém e falou que era cidadão romano?

- Acertou! E uma bala voou até sua mão.

A avaliação foi um sucesso, e ninguém achou que se tratava de atividade de criancinha.

- Como Paulo morreu? Alguém perguntou.

Jaques não tinha certeza. Não havia o relato da morte de Paulo nos atos dos apóstolos.

- Como cidadão romano, não deve ter sido crucificado. Talvez executado com a espada. Mas eu não tenho certeza. Vou verificar e o Levi fala com vocês na semana que vem, ok?

Não houve problema. O respeito não diminui com a verdade.

Ao final da aula, um dos alunos falou com Jaques:

- Você volta para dar outra aula?

Não há elogio melhor para um professor que este.

Todos começaram a cantar, acompanhados pelo violão de Levi, que tocava muito bem, e os passistas entraram na sala para aplicar passes em quem desejasse.

A aula terminou, mas a conversa continuou após os passes, até que todos se fossem.


13.4.16

O ERRADO QUE DEU CERTO



Antonina tinha como desafio fazer uma aula sobre a páscoa, para seus quatro alunos. Como fazer uma aula dinâmica, respeitando as diversas designações cristãs, mas apresentando a visão espírita da páscoa?

Ela começou sua aula com um jogo de forca, com a palavra Páscoa. Quase que a turma teve seu bonequinho “enforcado”!

Depois focalizou nos eventos que aconteceram ao redor da crucificação e enterro de Jesus. Como abordar a questão que é interpretada como ressurreição por outras religiões?

Para que não fique apenas uma história contada, em uma sala onde a monotonia possibilita trocas de tapas, ela imprimiu os personagens em preto e branco, conseguiu palitos de picolé e de churrasco e levou um grande isopor, para a história ganhar vida.

Os alunos começaram a colorir os personagens. Como eram muitos, alguns alunos ficaram com preguiça e começaram a rabiscar.

- Tia, o fulano rabiscou Jesus! Que coisa feia!

O tempo foi sendo devorado. Não ia dar tempo de fazer todas as coisas, mas a turma estava assentada e começou a conversar sobre brigas. Antonina falou que eles não podiam brigar em sala de aula e que não era certo bater uns nos outros.

- Mas se você apanha, tem que bater! Redarguiu um deles.

Outro perguntou direto:

- Você nunca apanhou quando era jovem?

Realidade diferente, claro que não da forma que eles o faziam. Violência na escola, violência em casa, violência nas ruas.

- Sim, eu apanhei! Ela respondeu.

- E não bateu de volta?

- Não, eu não podia. Quem me batia era minha irmã menor.

- E você não batia nela?

- Não posso, ela é menor que eu! É covardia!

- Vixe! Disse um dos meninos, meio desolado. Então não vou poder bater em ninguém...

Chegou o passe e Antonina ainda não tinha montado a maquete. Um olhar compreensivo e os passistas ficaram de voltar um pouco depois.

Os personagens foram recortados e sendo fixados na cartolina, enquanto a história corria, rápida.

- Tia, vai ter ovo de páscoa? Perguntaram os meninos no final.

- Não. Nós não comemoramos a páscoa desta forma. Por isso fizemos esta aula! Disse Antonina.

As atividades foram dimensionadas errado, mas a aula deu certo. Foi possível conversar sobre a violência, de uma forma tão natural, que fez pensar.


Lembrei-me do Prof. Mário Barbosa, que advogava que trabalhássemos ao lado das pessoas em situação de vulnerabilidade social, para que a influência fosse pessoal e profunda. Ele sabia o que falava.

28.3.16

O QUE UM PAPEL KRAFT TEM A VER COM DEUS?




A segunda aula de Antonina foi um desafio. O programa indicava “atributos da divindade” como tema. Como ensinar um tema tão filosófico e tão abstrato a um grupo de meninos que ainda estava no pensamento operacional-concreto?

- Que tal fazermos alguma atividade lúdica e física para abordar o tema? Pensou Antonina.

O planejamento da aula ficou assim: os atributos da divindade foram escritos em fichas, com letras grandes, e as crianças brincariam de “corre-cutia”.

Quem ficasse com o papel, tentava explicar o significado da palavra.

Depois uma atividade igualmente lúdica para ver se haviam apreendido as palavras novas. Um grande caça-palavras, em uma folha de papel Kraft foi feito.

Começou a aula. Os alunos já traziam a ideia repetida nos anos anteriores de que “Deus é nosso pai e Jesus é nosso irmão”, e sabiam que Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas (criador).

Antonina perguntou:

- Vocês conhecem uma brincadeira chamada “corre cutia”?

Um aluno replicou de imediato:

- Ih, tia! Tem um tempão que a gente não brinca disso!

Acendeu o sinal amarelo. Isso podia significar que a brincadeira é de meninos pequenos e que eles não aceitariam fazê-la. Infelizmente, foi isso mesmo que aconteceu. Eles começaram, mas não queriam continuar com o jogo.

Nestes momentos, um pouco de intuição, na falta de um plano B, é muito importante. Em vez de insistir e confrontar, Antonina aceitou o que sinalizou a turma.

- Já que vocês não querem, então vamos sentar e ver uma a uma as fichas que eu trouxe.

Deu certo! Apesar das provocações contínuas, uns com os outros, os alunos se interessaram pelas palavras e seus significados. Não deu, e era esperado, para fazer as demonstrações que Allan Kardec faz em O livro dos espíritos e A gênese. Demandaria lógica e noções de filosofia. Pedir demais para crianças na segunda infância.

Parte final da aula. A evangelizadora abriu um grande papel kraft, contendo todas as palavras estudadas, na vertical e horizontal, ocultas. Cada aluno ganhou um pincel atômico de uma cor, e passaram todos a tentar descobrir no mesmo caça-palavras, os atributos da divindade.

Não havia como consultar as palavras. Eles teriam que pelo menos reconhecer e recordar para conseguir identifica-las. Algumas delas, como onipotente e onisciente eram totalmente desconhecidas antes da aula. De repente, começou uma nova brincadeira, desta vez criada por eles.

Meninos desta idade são competitivos. E eles começaram a disputar quem achava mais palavras. As reações foram interessantíssimas.

- “Nu, véi!” Que palavra grande!

As palavras inteligência suprema ocupavam uma linha inteira do caça-palavras, de um lado a outro.

Os atributos foram sendo desvendados, um a um. A evangelizadora não interferiu, nem ajudou. As palavras eram recordadas, como se fossem objetos preciosos. Aos poucos a disputa ficou entre dois dos alunos. Quem ganharia?
Uma das palavras foi descoberta pelos dois ao mesmo tempo! Antonina virou árbitro. Então ela disse:

- Os dois descobriram ao mesmo tempo. Então a palavra vai ficar com as cores dos dois, ambos a circularão.

A última palavra era como um saci. Escondida! Ninguém achava. Ela poderia empatar ou desempatar a disputa recém criada.

Deu empate. Mas não teve revolta, o resultado foi justo.


Antonina saiu surpresa com a turma. Eles aprenderam novas palavras e eram capazes de dizer quais eram os atributos de Deus.

15.3.16

O QUE UMA BOLA TEM A VER COM O ESPIRITISMO?



Jáder Sampaio

Mais um ano letivo se iniciou para a evangelização em uma das cidades satélite de Belo Horizonte, num bairro de classe média baixa. A jovem professora ia trabalhar pela primeira vez com a turma de alunos de 9 e 10 anos de idade. No primeiro dia, apenas duas crianças na sala, o que fez com que a turma se unisse à de 11 e 12 anos.

As professoras encontraram três crianças assentadas com a cabeça baixa, desviando o olhar em sinal de vergonha.

- Bom dia. Eu me chamo Antonina! Qual é o seu nome?

As respostas eram como um resmungo triste, um sussurro cheio de vergonha.
Preocupada, Antonina tirou sua arma secreta. Uma bola vermelha, meio rosa, de plástico, comprada por dois reais.

Os meninos ergueram o olhar e perguntaram assombrados:

- Mas já??

A monótona organização das aulas geralmente tem formato fixo. Prece, música, exposição dialogada e atividade de fixação. Quanto maior a dificuldade na escola, maior a dificuldade com a exposição, especialmente se não for interativa. Talvez uma história possa chamar a atenção, mas nada pior para uma criança de nove anos que ser confundida com uma de cinco.

O objetivo da aula era fazer uma avaliação diagnóstica das crianças. O que elas eram capazes de fazer? Quem eram? Onde moravam? O que gostavam/não gostavam de fazer? Com estas e muitas outras respostas, poder-se-ia planejar melhor as atividades do futuro.

Antonina respondeu:

- Aqui é assim. Viemos para brincar e aprender!

Fizeram uma rodinha, talvez um pentágono, já que eram apenas cinco (três alunos e duas evangelizadoras). Feita uma pergunta, a pessoa que tinha a bola respondia e escolhia outra para responder, para quem a lançava. Atividade simples, mas os olhos brilhavam.

As informações foram surgindo. Primeira descoberta bem verbalizada: eles não gostavam de ficar sentados ouvindo! Sinal amarelo para uma exposição que não fosse dialogada. Moderação com os slides de powerpoint.

Segunda descoberta: eles gostavam de massinha! Achei meio extemporâneo, mas não é hora de psicologia do desenvolvimento, e sim, de valorizar o interesse dos meninos.

A escolha das cores, como eram todos meninos, já estava irremediavelmente associada às camisas dos seus times de futebol preferidos. Quando se falou da família, outra vergonha apareceu; alguém morava com os avós. Avós, irmãos mais velhos, apenas mãe e irmãos, não ter mãe e pai faz com que se considerem pessoas menores. Sinal amarelo para as aulas comemorativas da família, baseadas apenas na família nuclear. Talvez seja preciso fazer um poema da gratidão, semelhante ao de Amélia Rodrigues, para se valorizar que eles tenham um avô ou avó, um irmão mais velho que cuida, até um vizinho.

As mais de quinze perguntas foram se esgotando rapidamente, e veio a pergunta que não queria calar: podemos brincar com a bola?

Assim terminou a história, ou quase. Na outra semana, quando Antonina chegou, os meninos perguntaram:

- Hoje vai ter bola?

Bola não teve, mas teve massinha. Esta história eu conto depois.

28.5.15

UMA ANIMAÇÃO COM AS IRMÃS FOX E COM ALLAN KARDEC







Chrystiann Lavarini escreveu-me da Escócia, indicando um vídeo de animação de cerca de quatro minutos.

É uma delícia de se assistir. Trata dos eventos das irmãs Fox nos Estados Unidos e de uma rápida biografia de Allan Kardec, toda ilustrada sob a forma de animação acelerada.

Pensei como seria útil em aulas de evangelização infantil, em cursos de introdução ao espiritismo, como apoio didático-pedagógico. Já imaginei as crianças conversando sobre a animação, perguntando, opinando, desenhando...

O trabalho foi desenvolvido pela TV Mundial de Espiritismo - Associação Mundo Espírita. Eu não a conheço mas espero que tenha mais trabalhos com esta qualidade e utilidade.

Clique no link abaixo para assistir.

11.4.14

UM NOVO DESAFIO PARA A EVANGELIZAÇÃO INFANTIL





Vinícius, autor importante do espiritismo brasileiro, gostava muito de uma expressão latina: “res, non verba”, que significaria “coisas, e não, palavras”. Trazendo para o contexto da evangelização da infância e da juventude, vejo como desafio importante e inadiável a forma como organizamos nossas aulas.

Na universidade em que trabalhei, o conceito de disciplina foi transformado em “atividade acadêmica”. Na prática, mais que o nome, esta mudança permitiu que diversas atividades de formação dos alunos que antes não eram computadas, passassem a ser consideradas importantes e reconhecidas para o seu percurso. Participação em grupos de estudo, ser membro de projetos de pesquisa, estágios, vivências profissionais, participação em congressos e eventos técnicos; isto e muito mais passou a ser passível de reconhecimento, cômputo e registro para o histórico escolar e a formação de um aluno, porque a aprendizagem não se dá apenas no espaço da sala de aula, com exposições e provas.

Penso que é necessária uma expansão do conceito de evangelização infantil para que se possa construir um novo conceito, no qual o aluno se envolve mais com as atividades propostas. Desde a metade do século 20, a literatura especializada de evangelização infantil tem sido muito voltada a uma lógica de aula de evangelização que envolve a seguinte estrutura: abertura, exposição (explicação de conceitos) ou história, atividade de fixação, encerramento. Algumas aulas sequer contam com atividades de fixação, algumas vezes realizando atividades desligadas do conteúdo da aula (um desenho para colorir, por exemplo, para crianças menores).

Quando pensamos nas crianças de classe média em geral, elas têm uma vivência escolar e um acesso à informação diferenciado do que tínhamos na nossa infância. Desde jovens aprendem a buscar a informação na internet, gostam de jogos computadorizados, têm acesso à televisão de uma forma mais ativa (podem escolher programas em uma grade imensa das televisões pagas, podem baixar filmes e programas da internet, etc.) estão expostos a metodologias de ensino de pedagogia de projetos e construtivistas, embora ainda tenham a velha e boa aula expositiva, dialogada ou não.  Nas escolas, usam-se filmes, reportagens televisivas, visitas a museus e outras formas de apoio à educação.


Já passou da hora de diversificarmos os métodos de aprendizagem, repassando às turmas um papel mais ativo e interessante de acesso ao conhecimento espírita. 

Eu gostaria de abrir um espaço no Espiritismo Comentado para que os evangelizadores possam repassar suas experiências bem sucedidas de situação dos alunos, crianças e jovens, na condição de atores ativos na construção do seu próprio conhecimento. Os interessados podem escrever suas histórias para espiritismocomentado@gmail.com, e, se possível, com uma fotografia que a ilustre.