Jáder Sampaio
André Marinho esteve ontem em
Belo Horizonte, graças aos esforços da Associação Médico Espírita de Minas
Gerais, que nos acolheu no auditório do Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia de Minas Gerais. Quando se fala em seminário, é com a licença da
palavra, porque André preparou para a parte expositiva uma espécie de monólogo
teatral, no qual ele às vezes é ele mesmo e às vezes encarna um personagem que
vai narrando histórias e parábolas do Jesus mais-que-histórico, o Jesus homem,
Jesus de Nazaré.
Como um fenômeno mediúnico ao
contrário, ele nos coloca na pele de Jesus, fazendo-nos ver com seus olhos, temer
seus medos, entender com sua mente e sofrer, sofrer muito suas dores. Ele faz
uma diferença magistral entre o homem Jesus e o Jesus mitificado, tornado
divino, transformado em messias ou, no jargão espírita, o governador terrestre.
Alguém tão acima da condição humana, que torna impossível aos homens alguma
empatia.
Ao mesmo tempo, não sei se fui
apenas eu, ou se muitos passaram pela mesma impressão, ele interpreta o
discurso forte de Jesus contra os que se sentem superiores, os fariseus, os
saduceus, e depois na história, os próprios cristãos, perdidos nos delírios de
superioridade que às vezes um cargo, uma função ou um lugar em uma instituição
nos fazem ter. Senti-me assim, pequeno por me julgar eventualmente superior,
seja pela racionalidade, seja pelas realizações, seja pelo trabalho que
realizei ou as conquistas que empreendi ao longo da vida da qual me recordo. “Ai
de vós fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas e as saudações
nas praças” (Lc 11:43)
Outro momento marcante é a
relação de Jesus com os excluídos. Marinho consegue fazer uma espécie de
passagem no tempo. Em um momento, estamos diante da mulher adúltera, na
Palestina do século I, no outro, estamos diante de um imigrante muçulmano, na
orla do Rio de Janeiro do século XX, e eles não são diferentes. É uma história
que aproxima, que identifica, e não uma história que isola, que distingue
inconciliavelmente as sociedades.
Jesus é o redentor, não porque é
o “cordeiro de Deus” abatido na cruz, um sacrifício humano, bem ao gosto dos
cultos pagãos, mas porque devolve a vida aos leprosos (mortos pela lei),
santifica um centurião romano (impuros pela lei), resgata o pecador na
narrativa do filho pródigo (auto-exilado pela lei), exime da culpa a mulher
adúltera (condenada pela lei). Ele age, atua, desde o tempo em que se
torna homem público. André destaca bem que Jesus sabia do sacrifício, não por
ser espírito puro e superior, mas por ter visto a condenação do Batista, nem por conhecer as profecias do messias, mas por conhecer a insanidade dos
poderosos com sua lei e seu estilo de vida.
Vendo o Jesus nazareno, o Jesus
humano, e o contraponto feito com a dureza dos corações dos fariseus,
entendemos a mensagem do amor, da compaixão, e porque Jesus foi, na palavra de
Allan Kardec, a segunda revelação. Todavia, ao contrário do que pensam alguns,
creio que precisamos das três revelações. Precisamos da justiça, mas não apenas
dela. Precisamos do amor, para tornar felizes os humildes, os que têm fome e
sede de justiça, os pacificadores, os limpos de coração (mas talvez impuros aos
olhos da lei) e para redimir os pecadores (excluídos pela justiça ou por não ter tido o mínimo para ter direito a ela), porque só o amor cobre a multidão
dos pecados (1 Pedro 4:8), mas não só dele, e precisamos da verdade (Jo 8:32),
para obter, por fim, a libertação.
Resta ainda falar do livro “Quem
foi Jesus?”, publicado pela Lachâtre e escrito por ele, que ainda não concluí a
leitura. Não dá para falar pouco dele, porque ele fala muito de muitas coisas
importantes. Então farei como o André em seu monólogo e direi apenas a fala
meio infantil que ele usa para nos fazer voltar à cena. Seu personagem diz, enfático, algo assim: “Mas é tão
legal!!!!!!!!!!!!”