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29.12.23

RETROSPECTIVA ESPÍRITA 2023


 

O ano de 2023 foi cheio de realizações na seara espírita. Você gostaria de ler alguma publicação ou assistir a alguma palestra que está no YouTube, feitos pelo autor do Espiritismo Comentado? Aí vão:


RESUMO:


23 PALESTRAS

5 PARTICIPAÇÕES EM EVENTOS

29 PUBLICAÇÕES

24 PROGRAMAS (ESQUINA DO CÉLIA E ESTUDOS ESPÍRITAS)


PUBLICAÇÕES


Espiritismo Comentado (Blog Particular de Assuntos Espíritas)


Sampaio, Jáder. Da leitura dos nossos jovens à agenda cristã. 

Sampaio, Jáder. O espiritismo é uma fé raciocinada?

Sampaio, Jáder. “O espiritismo será científico ou não subsistirá” é uma afirmação de Léon Denis? 

Sampaio, Jáder. Quem é Pedro Camilo?

Sampaio, Jáder. Que tipos de conhecimento compõem a obra de Allan Kardec?

Sampaio, Jáder. Desencarna José Passini

Sampaio, Jáder. O que é intelectualizar a matéria?

Sampaio, Jáder. Projeto concernente ao espiritismo.

Sampaio, Jáder. Messe de luz e outras histórias: uma vida marcada pelo espiritismo e outras boas influências.

Sampaio, Jáder. Duas concepções de Deus na Bíblia: a Torá e Epístola aos Gálatas

Sampaio, Jáder. Por que o livro de Canuto Abreu se chama “O evangelho por fora”?


Revue Spirite: Journal d’Études Psychologiques (Conselho Espírita Internacional)


Sampaio, Jáder “O caráter do conhecimento espírita”. Revue Spirite: Journal d’Études Psychologiques. Lisboa, CEI, jul./set. 2023. (português, francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e esperanto)  https://cei-spiritistcouncil.com/revue-spirite-revista-espirita-n12/   ISSN - 2184-8068

Reformador (Federação Espírita Brasileira)

Sampaio, Jáder. Problemas da análise de versículos isolados. Reformador, Brasília, FEB,  ago 2023, p. 41-46

Dirigente Espírita (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo)


Sampaio, Jáder. Resenha literária do livro “Religião”, de Carlos Imbassahy. Dirigente Espírita. São Paulo, USESP, n. 198, p. 20-22, nov./dez. 2023. 

Sampaio, Jáder. A visão do Jesus histórico de Reimarus ante o Jesus como espírito superior de Allan Kardec. Dirigente Espírita. São Paulo, USESP, ano 33, n. 198, p. 24-27, nov./dez. 2023. https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2023/12/reDE-198-novembro-dezembro-2023.pdf

Sampaio, Jáder. Uma médium de país distante transmite um conselho de Gabriel Delanne aos espíritas. Dirigente Espírita. São Paulo, USESP, ano 33, n. 195, p. 16-17, mai./jun. 2023  

Sampaio, Jáder. O espiritismo, a medicina e a igreja católica: dois momentos na história. Dirigente Espírita. São Paulo, USESP, ano 33, n. 194, p. 29-30, mar./abr. 2023.

Sampaio, Jáder. O que devemos conservar e o que devemos mudar na casa espírita? Dirigente Espírita. São Paulo, USESP, ano 33, n. 193, p. 19-21, mar./abr. 2023.

A Senda (Federação Espírita do Estado do Espírito Santo)

Sampaio, Jáder. Voluntários espíritas. A senda. Vitória-ES: FEEES, ano 100, n. 219, p. 5-6, jan./fev. 2023. 

Conheça Aqui (Associação Espírita Célia Xavier)

Sampaio, Jáder. Voluntários espíritas. Conheça aqui. Belo Horizonte: AECX, n. 420, p. 1-2, 17/02/2023. (Republicação do artigo de A Senda)

Sampaio, Jáder. Novo livro responde: quem eram as médiuns Baudin? Conheça aqui. Belo Horizonte: AECX, n. 459, p. 4, 17/11/2023. 

Programa Estudos Espíritas 
(Transmitido pela TV Célia Xavier, retransmitido pela TV Sintonia Maior)
12 programas
AECX – Média de 104 acessos
SM – Média de 13 acessos


Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Maria Madalena. 75 (8); 35(3)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Análise Minuciosa e Análise Contextual do Evangelho. 54(10); 10(0)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Amália D. Soler e os presidiários.  80 (17); 14 (1)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Voluntários: Satisfação, Desligamento e Sofrimento. Parte 3.  54 (3); 2 (0)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Voluntários: Satisfação, Desligamento e Sofrimento. Parte 2.  
55 (11), 11 (1)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Voluntários: Satisfação, Desligamento e Sofrimento. Parte 1.  59 (10); 10 (2)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Amalia Domingo Soler e “La luz del porvenir”. 86 (9); 10 (0)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Casos e descasos na casa espírita. 43 (6); 

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Amália Domingos Soler e Ramos de Violetas. 440 (18);  8 (0)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Por que fazer o Evangelho no Lar nos nossos dias? Parte 1 82(12)

Vitorino, Débora; Sampaio, Jáder. Por que fazer o Evangelho no Lar nos nossos dias? Parte 2 118 (12)

Programa Esquina do Célia 
12 programas
AECX – Média de 107 acessos
Gostou – Média de 15 assistentes


Sampaio, Jáder. Carlos Imbassahy: vida e obra. 64 (12); 9 (0)

César Perri e Jáder Sampaio. Sobre livros e trabalhos 151 (20); 

Carlos Seth e Jáder Sampaio. Novas descobertas sobre Allan Kardec. 585 (75); 

Alexandre e Elmara Rabelo. A tarefa dos enxovais. 236 (40)

Daniel Salomão e Jáder Sampaio. Mediunidade na idade média. 83 (14)

Paulo Mourinha e Jáder Sampaio. O espiritismo em Portugal – Parte 2. 36 (4)

Paulo Mourinha e Jáder Sampaio. O espiritismo em Portugal – Parte 1. 126 (20)

Luisa Diniz e Jáder Sampaio. Rosaneves. 68 (7)

A. J. Orlando e Jáder Sampaio. Compartilhando experiências. 69 (4)

Adolfo e Jáder Sampaio. Racismo. 255 (36), 7 (0)

Jhon Harley e Jáder Sampaio. Movimento espírita em Pedro Leopoldo. 103 (21)

Plínio Oliveira e Jáder Sampaio. Plínio Oliveira e Chico Xavier. 313 (24)

3.7.23

QUE TIPOS DE CONHECIMENTO COMPÕEM A OBRA DE ALLAN KARDEC?

 


Atendemos ao convite do conhecido Instituto de Cultura Espírita do Brasil, com sede no Rio de Janeiro – RJ, para tratar do artigo publicado no último Enlihpe e intitulado “Allan Kardec entre Comte e Dilthey, ou porque o espiritismo não é apenas Ciência Natural”.

https://www.youtube.com/watch?v=z1UrQai9iag

Nesse artigo buscamos mostrar como Kardec fazia ciência, e que influências pode ter sofrido ao longo de seu trabalho. Comte, apesar de não ser um filósofo reconhecido, foi muito influente na França com o seu positivismo. Hoje o termo perdeu sua precisão e é comum empregá-lo em tom crítico para quem teoriza apenas com induções e observações a partir de dados. Dilthey surgiu depois de Kardec, mas reflete um movimento dos que entenderam que havia ciências com método distinto do geralmente empregado nas ciências naturais (Física, Química, Biologia, principalmente). Comte também propôs que a sociologia fosse uma ciência que emprega as técnicas positivistas, mas não acenou com uma integração às três ciências da natureza, sendo às vezes conhecido como fundador ou precursor da sociologia como ciência.

Dilthey foi o primeiro filósofo reconhecido a propor uma epistemologia (área da filosofia que estuda o conhecimento científico) para o que chamou de ciência do espírito, ciências humanas e de ciências humanas e sociais. a partir do trabalho dele, houve uma fértil disseminação de suas ideias, em conjunto ou isoladas, por áreas do conhecimento como o direito, a sociologia, a história, a antropologia, a psicologia (que já usava métodos de ciências naturais desde Wundt).

Observamos que Kardec propôs técnicas como o “controle universal do ensino dos espíritos” que não fazem parte do rol das técnicas de pesquisa em ciências humanas, mas que tem correspondentes muito semelhantes na na hermenêutica de Schleiemacher, epistemologia de Dilthey, e na Fenomenologia de Edmund Husserl.

No estudo do ICEB, dividimos o artigo em blocos, e discutimos dois deles com a Dra Nadja, Prof. Dra. em Filosofia e diretora do ICEB que tem feito esforços imensos para dar continuidade à instituição com qualidade. 

Vimos o conteúdo do texto até Comte, e falaremos desse autor na próxima oportunidade.

Gostaria muito que os leitores do Espiritismo Comentado assistissem e comentassem o conteúdo, o que certamente nos despertará para a questão que é muito ampla e complexa. O artigo do estudo está no livro “Coerência doutrinária na pesquisa espírita”, que pode ser adquirido via Kindle (Amazon.com) ou na livraria do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro, para entrega via correios.

https://ccdpe.org.br/produto/coerencia-doutrinaria-na-pesquisa-espirita/

Quem desejar o texto anterior, publicado no livro “O espiritismo, as ciências e a filosofia”, também fruto de um Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que se encontra em promoção no CCDPE-ECM.

https://ccdpe.org.br/produto/o-espiritismo-as-ciencias-e-a-filosofia/


31.8.22

CIÊNCIA NATURAL OU CIÊNCIA DO ESPÍRITO: O QUE É O ESPIRITISMO?

 

Natureza


"A natureza nós explicamos, a vida da alma nós a compreendemos." 

Wilhelm Dilthey


No 17º Enlihpe, apresentamos um trabalho intitulado "Allan Kardec entre Comte e Dilthey, ou porque o espiritismo não é apenas ciência natural". É o segundo capítulo do livro "Coerência doutrinária na pesquisa espírita", publicado pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM) e pela Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) agora em 2022.

Dilthey é um dos autores que entende que há um método próprio para se compreender o espírito humano, visto como um todo de vivências, pensamentos, e talhado com os elementos da cultura, da religião, das leis e da história. Algo que não se explica, mas se compreende, se formos capazes de escutar e viver na nossa mente o que o nosso paciente vivencia. 

O que argumento no capítulo é que foi isso que Allan Kardec fez com os espíritos desencarnados na elaboração do espiritismo: ouviu, compreendeu e analisou. Ele não trabalhou como um astrônomo, um químico ou um médico, no geral, porque quem percebia os espíritos e os interpretava eram os médiuns, não ele. Por consequência, o espiritismo, de forma geral, foi mais construído a partir de técnicas de pesquisa usadas em ciências humanas, que com técnicas de pesquisa usadas em ciências naturais. 



Se puderem, confiram.

O livro está em formato de e-book na amazon.com.br  e em papel na livraria do CCDPE-ECM.



20.4.22

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO: CONCEITOS, ORIGENS E SIGNIFICADOS


BUSTO DE KARDEC


A autora Françoise Parot escreveu um artigo na Revista de História das Ciências (francesa), tomo 57, n.1, p. 33-63, 2004, no qual ela analisa o surgimento do espiritismo na França. 

Uma curiosidade é que Parot afirma que a palavra espiritismo foi dicionarizada na França em 1860, no Dicionário Francês Ilustrado e na Enciclopédia Universal, que penso ser a publicada por Maurice Lachâtre, como conhecemos aqui. 

Outro ponto conhecido que a psicóloga destaca é que o uso do termo espiritualismo era bem difundido à época, como "uma reunião de todos os que desejavam se diferenciar de um materialismo concebido como um apego às coisas materiais e no sentido mais filosófico de convicção na existência única da matéria" (p. 36)

Ela explica que o espiritualismo era um movimento popular na Inglaterra desde 1840 e que criou muitos "clubes, associações, sociedades e congressos". Os espiritualistas procuravam mostrar uma independência dos fenômenos espirituais.

Ela busca "O livro dos Espíritos" que Kardec criou o termo "espiritismo" para substituir o espiritualismo porque além de acreditar em algo além da matéria (espiritualista), os espíritas aceitam também os Espíritos, em seu retorno e manifestação. 

Desta forma, fica clara a afirmação do Prof. Humberto Schubert de que o espiritismo é um ramo do espiritualismo, e que a criação do termo espiritismo, com esse sentido, é obra de Kardec na França.

27.3.21

FÍSICA "QUÂNTICA" E ESPIRITISMO: UMA MISTURA DE ÁGUA E ÓLEO?

 

Uma amiga me enviou recentemente um vídeo de uma física tratando de uma associação completamente indevida entre ideias supostamente espíritas e ideias supostamente oriundas da física quântica.

Acho que minha única diferença da autora do vídeo diz respeito ao conceito de ciência. Ela emprega o conceito como sinônimo de Física-Química-Biologia, ou seja, um conhecimento com base na observação e experimentação, com associações de variáveis preferencialmente matemáticas, em busca de leis ou regularidades, diretas ou probabilísticas. Se ciência for definida assim, o espiritismo não é ciência, porque não temos como medir fenômenos espirituais (exceto os fenômenos de efeitos físicos, o que não tem sido realizado pela grande maioria dos espíritas no Brasil). Se ciência for um conceito mais amplo, em que se situam áreas como o direito, a antropologia cultural e certas escolas de pensamento psicológico, como a Gestalt, a  psicanálise e outras, a literatura e as letras em geral, a hermenêutica filosófica, e mesmo a hermenêutica religiosa, a fenomenologia de Husserl e a filosofia em geral, então o espiritismo pode ser situado nesse grupo. Uma visão muito restrita de ciência acaba se confundindo com o positivismo, que é uma escola filosófica materialista e não aceita o espírito como hipótese explicativa de nada. O espiritismo, na filosofia, seria uma escola dentro do espiritualismo, com abertura para interlocução com as ciências naturais.

Todavia, a grande contribuição da autora do blog, é mostrar que algumas pessoas, com a intenção de fazer, talvez, metáforas ou comparações, acabam empregando conceitos e teorias de forma totalmente equivocada. Ela mostra que o jornalista que fez um programa, associando física quântica e espiritismo, cometeu diversos equívocos, alguns bem grosseiros, na área dela. Então comparam uma “física imaginária”, entendida de forma claramente incorreta, com um “espiritismo imaginário”, também percebido de forma incorreta. Ou seja, presta um desserviço tanto à física, quanto ao espiritismo.

Para que a matéria não fique grande, um último comentário. Há espíritas tentando fazer essas analogias, sem o devido conhecimento, que acabam criando grandes “fantasias quânticas” no meio espírita. Uma analogia ou uma afirmação com base na física (que estuda a matéria) para a explicação de fenômenos espirituais, deve se assegurar, pelo menos, que emprega corretamente os conceitos físicos. Em uma área de conhecimento, pode haver teorias divergentes, hipóteses por serem testadas, e outras incertezas, mas há afirmações claramente erradas. O mesmo acontece com o espiritismo. Como filosofia, Kardec fez afirmações defendidas logicamente, às vezes empiricamente, cuja negação gera contradições. Afirmar que ele disse o que não disse, é um erro do ponto de vista doutrinário.

Recomendo ao leitor ouvir com atenção o vídeo e dar um “desconto” à irritação da nossa amiga física. Ela não o faz por mal. Se você ouvisse alguém falando bobagens sobre o espiritismo, ao qual você dedicou décadas de estudos, com certeza, mesmo sendo cristão, lá no fundo da alma teria algumas emoções fortes, mesmo que não as manifestasse. Outra coisa, a irritação dela não é conosco, mas com os que divulgam conceitos errados da física.


14.1.21

PRINCÍPIOS DO ESPIRITISMO



Ainda na entrevista da PUC Minas, a entrevistadora perguntou:  Quais são os princípios do espiritismo? 

O espiritismo baseia-se na existência e sobrevivência da alma, cujas manifestações se dão através de uma faculdade denominada mediunidade, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados (não apenas na Terra reencarnam espíritos) e na existência de Deus, com base no axioma “um efeito inteligente (ser humano) há de ter uma causa inteligente”.



Traduzimos da New World Encyclopedia, o seguinte verbete: https://www.newworldencyclopedia.org/

"Princípio em filosofia e matemática significa um pressuposto ou lei fundamental. A palavra "princípio" é derivada do latim "principium" (começo), traduzida por Cícero do grego "arché" (ἀρχή); o começo, o primeiro princípio. 

Um princípio é fundamental, no sentido que ele geralmente não pode ser derivado de outros."

"Principle in philosophy and mathematics means a fundamental law or assumption. The word "principle" is derived from Latin "principium" (beginning), translated by Cicero from Greek "arche" (ἀρχή; the beginning, the first principle).

A principle is fundamental in the sense that it generally cannot be derived from others... "

A questão proposta pela Rosângela, da PUC, não tem uma resposta exata. Algumas das ideias espíritas são propostas pelos espíritos e analisadas racionalmente pelos espíritas, a começar de Allan Kardec. Dada a complexidade do espiritismo, sempre é possível analisar suas ideias centrais buscando seus princípios ou pressupostos, e o analista pode chegar a diferentes propostas ou conjuntos de princípios. 

Reduzindo o conceito de princípio ao de pressuposto, a existência de Deus, por exemplo, se fundamenta no axioma de que "um efeito inteligente tem uma causa inteligente", que foi inscrita no túmulo de Allan Kardec no cemitério Père Lachaise. Em outras palavras, o espiritismo fundamenta a ideia de Deus em um princípio racional, e não em uma afirmação que o crente deve aceitar independente da razão.

27.11.20

LIDERANÇAS DO ESPIRITISMO NA FRANÇA E NO BRASIL

 


Mais uma pergunta da entrevista feita pela aluna da PUC MINAS.


03- Quais são os fundadores e principais líderes do espiritismo?


Resposta de Jáder Sampaio


"A pessoa que teve um papel central na elaboração do espiritismo foi o professor H.L.D. Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec para a obra espírita em geral. Ele era tratado pelos espíritas franceses como mestre, e pelos espíritas brasileiros como codificador, por ter realizado estudos com diversos médiuns, analisado as comunicações de diversos espíritos e escrito seus livros, além da publicação da Revue Spirite, que publicava os estudos de espíritas da França e de diversos países.

Na França, após o falecimento de Allan Kardec, outros autores se tornaram importantes para o movimento espírita, como Léon Denis, Gabriel Delanne e o astrônomo Camille Flammarion. 

A Europa passou por diversas dificuldades que afetaram o movimento espírita em geral. Regimes autoritários, como o de Franco, o de Salazar ou o da Hungria na época da cortina de Ferro proibiram a prática do espiritismo e desapropriaram imóveis. O espiritismo francês passou pelo que foi chamado de “processo dos espíritas” em decorrência de um médium que praticava fraudes, o que afetou a imagem no país de Napoleão.

As universidades francesas recusaram-se a aceitar os trabalhos de observação realizados pelos espíritas, e alguns autores europeus oriundos da psiquiatria, principalmente, tentaram explicar os fenômenos espirituais pela via da psicopatologia. As exigências feitas para o espiritismo, e depois para a metapsíquica francesa (uma corrente de pesquisas que aceita a existência de fenômenos como a telepatia, mas põe em suspenso a existência de médiuns) não foram feitas para outras áreas do conhecimento, e o espiritismo francês, após as duas guerras, ficou limitado a uma minoria e preocupado com a aceitação pela comunidade acadêmica.

No Brasil há um grande número de lideranças, expositores, autores e médiuns espíritas conhecidos, mas destacarei dois: Adolpho Bezerra de Menezes (médico e político nascido no Ceará, mas que se tornou espírita no Rio de Janeiro) e Chico Xavier (funcionário público, conhecido por sua mediunidade prolífica e pelo trabalho com as pessoas em vulnerabilidade social)."

21.11.20

ESPIRITISMO OU KARDECISMO? ENTREVISTA PARA A PUCMINAS 2


 


Dando continuidade à entrevista feita pela aluna da PUC Minas.


02- Espiritismo kardecista é a mesma coisa que espiritismo?

Resposta de Jáder Sampaio

"A palavra espiritismo foi criada em língua francesa por Allan Kardec que desejava distinguir a doutrina que ele publicava a partir de “O Livro dos Espíritos”, do spiritualism (espiritualismo ou espiritualismo moderno), que é um movimento mediúnico norte-americano que foi difundido na Europa.

No Brasil, contudo, o senso comum aproximou o espiritismo dos cultos afro-católicos, ambos recebidos com restrições por um país oficialmente católico. É uma aproximação estranha, porque o espiritismo foi desenvolvido filosoficamente e os cultos afro são tradições trazidas pelos povos africanos, essencialmente orais. 

Para que não houvesse confusão entre as práticas, algumas pessoas começaram a se referir ao espiritismo como “centros de mesa”, “centros de linha branca” ou “kardecismo”, mas essas designações não são aceitas pela maioria dos espíritas brasileiros, que preferem que se distinga o espiritismo, de umbanda, do candomblé e de outros cultos de matriz africana."

29.6.20

UM DIÁLOGO SOBRE CIÊNCIA E ESPIRITISMO





Quatro professores universitários com formações diferentes tratam da questão científica do espiritismo. Afinal, o que era considerado ciência na época de Kardec?  O espiritismo pode ser considerado ciência? Qual era a influência do positivismo na época de Allan Kardec? Por que Allan Kardec afirmou que o espiritismo e a ciência caminham lado a lado? Existem pesquisas sobre temas espíritas em curso?


Um diálogo entre Sílvio Chibeni, Marco Milani, Alexandre Fontes da Fonseca e Jáder Sampaio a partir de um convite da União das Sociedades Espíritas de São Paulo - Regional Campinas.


A partir dessas questões e das posições dos convidados, inicia-se um diálogo com os participantes do evento, que lançam luz em diversos pontos de ligação da ciência e das ciências com o espiritismo. 

Confiram!

18.4.20

O ESPIRITISMO É A VERDADE ABSOLUTA?




Jáder Sampaio

Ainda jovem eu assistia a uma palestra de um espírita famoso na capital mineira, cujo nome omitirei, e me recordo de uma afirmação forte que ele fez, e que arrancou interjeições e outras reações emocionais da plateia:

- Eu não vou dizer que o espiritismo é uma verdade! (Silêncio retórico) O espiritismo é A Verdade!

Aquilo ficou na minha mente. Enquanto as pessoas acolhiam com entusiasmo a frase de efeito, eu fiquei em silêncio com o meu mineirês interno, perguntando:

- Uai! será?

Hoje penso que o fundador do espiritismo não faria esse tipo de observação. Quando Kardec começou a estudar os fenômenos espirituais e se propôs a desenvolver um corpo de doutrina baseado nos diálogos com os espíritos, ele definiu o espiritismo da seguinte forma:

“O Espiritismo é uma Ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corpóreo.”[1]  

Isso significa que ele delimitou um objeto de estudo do espiritismo. Por mais ampla que possa ser a abrangência deste objeto, Kardec não “invade” as outras áreas de competência das demais ciências.

Nós, espíritas, continuamos valorizando o saber médico e o psicológico para o tratamento do câncer, por exemplo, embora saibamos a partir da própria medicina que a espiritualidade pode auxiliar a terapêutica médico-psicológica. O espiritismo não invade, ou pelo menos não deveria invadir o domínio da física, embora físicos já tenham estudado temas mediúnicos e formulado hipóteses para a explicação de fenômenos espirituais de efeitos físicos. Chamá-lo de "A Verdade" significa excluir da condição de conhecimento tudo o que não é espiritismo. Em termos lógicos:

O espiritismo é a verdade. (premissa maior)
Medicina (ou astronomia, ou química...) não é o espiritismo. (premissa menor)
Logo: medicina (ou astronomia, ou química...) não é a verdade. (conclusão)

De volta ao argumento inicial, o espiritismo não pode ser verdade absoluta, porque há uma realidade a ser estudada muito mais ampla que a “realidade espiritual”. Ainda que exista uma conexão entre a “realidade espiritual” e a natureza ou “realidade material”, escapa ao espiritismo o conhecimento da natureza em-si. Todos sabemos que ao estudar mais profundamente a matéria, sem hipóteses explicativas transcendentais, o conhecimento aumentou, o que significa dizer que se conhece muito mais sobre a natureza hoje, que há cem ou duzentos anos. A natureza em-si é do domínio de outras áreas do conhecimento, algumas delas muito complexas, ao ponto de demandarem anos e anos de estudo para se poder falar com alguma autoridade sobre algum de seus pontos.

Outro ponto, é que, como ciência, o espiritismo seria um conhecimento progressivo[2]. Como parte das ciências se baseia em teorias construídas a partir de fatos e de fenômenos[3], o surgimento de novos fatos ou fenômenos, ou o conhecimento mais profundo de fatos, fenômenos e teorias já conhecidos, pode propiciar a revisão ou o avanço das teorias. Então não há como se falar em verdades absolutas, porque o que é considerado verdadeiro no tempo X, pode ser revisto no tempo X + Y, com o aumento do conhecimento sobre os fenômenos compreendidos no objeto de estudos da respectiva área de conhecimento.

O que não modificaria no espiritismo? Para Allan Kardec, qualquer afirmação que compõe o corpo de doutrina poderia ser modificada[4]. O que tem acontecido, com o passar dos anos, é que os princípios fundamentais do espiritismo continuam válidos, embora na própria obra de Kardec tenhamos percebido que houve evolução na compreensão de algumas teorias secundárias, como já foi apresentado por Pimentel[5], em seu trabalho sobre a metodologia do espiritismo.

Não vejo demérito à doutrina espírita em concebê-la como um conhecimento sobre os Espíritos e o mundo espiritual, baseado em observação e nas informações obtidas a partir da mediunidade, com o emprego da razão e dos métodos experimentais.

Quando se insiste que a doutrina é “a verdade”, nós a transformamos em uma espécie de teologia revelada por um ser absoluto (Deus), ou por seres muito superiores a nós, que não nos cabe questionar, e perdemos o caráter de conhecimento construído a partir da razão e da observação e experimentação de fenômenos, que todos sabemos ser falível. Do ponto de vista gnosiológico, reduzimos o espiritismo em um tipo de conhecimento como o catolicismo, o judaísmo, o islamismo ou o budismo. Com isso, perdemos o seu caráter científico e filosófico, tão caro a Allan Kardec.

Finalizando, o espiritismo não é a verdade, mas a busca criteriosa da verdade em assuntos relacionados aos Espíritos e à vida espiritual.



[1] Kardec, Allan. O que é o espiritismo. 5 ed francesa e posteriores. Preâmbulo.
[2] Kardec, Allan. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. 4ª ou 5ª ed. francesas, cap. 1, §55.
[3] Fatos seriam eventos da natureza percebidas pelos sentidos humanos, principalmente pela observação, ampliados ou não por instrumentos. Fenômenos, a partir de Kant, são intuições das pessoas “captadas segundo a intuição e das categorias inatas do intelecto”.
[4] Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Kardec, Allan. Caráter da revelação espírita. In: A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. (4ª ou 5ª edições francesas), cap. 1, item 55.
[5] Pimentel, Marcelo Gulão. O método de Allan Kardec para investigação dos fenômenos mediúnicos (1854-1869). Dissertação de mestrado. UFJF. Juiz de Fora, Programa de Pós-Graduação em Saúde Brasileira, 2014.

18.5.19

ESPIRITISMO: CRENÇA COMPARTILHADA OU DOUTRINA FILOSÓFICA?




Há uma diferença entre crenças compartilhadas e doutrinas filosóficas. As primeiras se baseiam em um corpo de ideias, racionais ou não, com ou sem base empírica, propostas ou mantidas por pessoas consideradas autoridades por um grupo. Um exemplo famoso de crença compartilhada é o “senso comum” ou conhecimento popular, que é um conjunto de crenças aprendidas em sociedade que são passadas entre gerações e aceitas pelos membros dos grupos sociais.

Recordo-me das famílias que atendíamos no Lar Espírita Esperança, e com as quais conversávamos sobre noções de puericultura. Muitas mães, oriundas “da roça”, aprenderam em suas comunidades que se deve tratar do umbigo do recém-nascido com teias de aranha, fumo de rolo ou outras substâncias, que a medicina mostra trazerem riscos de saúde para o neonato, infecções ou outros problemas. Indicávamos o uso de álcool, com base na autoridade médica, mas muitas mães recusavam, dizendo que demorava muito para cair o umbigo.

Nas nossas cabeças, tratava-se de uma disputa de autoridades. Quem deveria ser considerado? Muitas mães achavam que suas mães, avós, vizinhas e outras pessoas “experientes” sabiam o que fazer. Nós acreditávamos na medicina, porque os médicos baseiam suas práticas em conhecimentos verificados, registrados e comparados, com uma casuística muito maior que a do conhecimento popular. Entre nós e elas havia apenas uma disputa de autoridades, mas espera-se do conhecimento médico uma decisão se possível consensual, com base em estudos, observações e comparações estatísticas.

Quando pensamos no Espiritismo, vemos um corpo imenso de proposições, a partir dos estudos de Allan Kardec. Que proposições devemos aceitar como espíritas? O próprio Kardec nos ensinou que muitas delas partiram de observações, outras de raciocínios filosóficos, outras de consenso entre espíritos considerados superiores, que se comunicavam por médiuns diferentes. Mais à frente, quando publicava a Revista Espírita, Kardec dá mostras de levar em consideração a análise e a crítica oriunda dos diversos grupos e leitores do periódico.

Como avança o pensamento espírita? Deveria ser da mesma forma. Novas proposições deveriam ser analisadas racionalmente, as observações que fundamentam essas proposições deveriam ser explicitadas e compartilhadas. Com certeza, a reputação dos médiuns é importante, sua participação voluntária (sem qualquer contrapartida econômica) no trabalho mediúnico também, mas sua reputação em si não deveria assegurar a veracidade ou não da sua produção mediúnica.

Qualquer médium é capaz de ser enganado por espíritos, de substituir as ideias de espíritos comunicantes por suas próprias ideias (sem o perceber), de não entender direito o que lhes é intuído e registrar algo originalmente certo de forma equivocada. Os médiuns são pessoas, então mesmo que tenham seu compromisso com a reforma íntima, têm seus sentimentos, suas vaidades, seu orgulho pessoal, e suas emoções podem muito bem interferir em questões que deveriam ser solucionadas de forma racional, como todos nós o fazemos em nossas vidas.

Quanto maior o respeito que tenhamos a um médium, cabe a um estudioso espírita perguntar-se sempre qual é o fundamento do que se afirma em nome do espiritismo. A assertiva respeita a razão? A proposição entra em contradição com o corpo doutrinário? Nesse caso, o que justificaria uma mudança de posição até então adotada? Que argumentos foram construídos? A interpretação do que diz o Espírito está correta? Onde mais encontramos ideias de mesmo teor? Há alguma base na observação ou experimentação científicos?

Alguns espíritas e algumas casas espíritas, contudo, não avançam em nível de análise. Escolhem autores e expositores e aceitam em bloco tudo o que afirmam em nome do espiritismo. Têm uma noção superficial do sentido dos conceitos, não fazem análise racional do que dizem, não consideram importante verificar a origem das teorias que esposam. Afirmam que o espiritismo é também uma filosofia, mas desconhecem o que é filosofia. Quando são questionados, geralmente respondem algo que se resume na expressão latina: magister dixit, ou seja, “o professor disse”. Outra expressão latina também ilustra bem essa forma de trabalhar: “Roma locuta, causa finita” ou seja, “Se Roma falou, a causa está encerrada.” É uma forma de pensar composta de dogmas, ideias indiscutíveis, mesmo que pensem o contrário.

O professor, ou Roma, pode ser um expositor famoso, um médium prestigiado, um dirigente de casa espírita, ou um “guia espiritual”. Todos os cuidados com o conhecimento propostos pelo velho Kardec são esquecidos, e o que passa a valer é uma espécie de referendo grupal das opiniões. O membro da casa espírita passa a se preocupar mais com a conformidade ou não de uma ideia com as dos demais membros que com sua realidade ou coerência. É algo como: creio porque todos creem nisso também. A crença coletiva passa a ser mais importante que a verdade, a razão e até mesmo o bom senso.

Pensemos nisso. Estudar o espiritismo é algo que exige da pessoa interessada mais que a compreensão e a fé; exige compromisso com a razão e com a busca da verdade.

18.7.17

Espiritismo ou espiritismo? (desta vez não vou poder escrever o título todo em maiúsculas, como gosto...)




Acessei o “Manual de Comunicação” da Secretaria de Comunicação do Senado Federal com uma dúvida: os nomes de áreas do conhecimento devem ser escritos em maiúscula ou minúscula?

Há algumas décadas, era consenso que se escrevesse física, psicologia, geologia e outras áreas de conhecimento com inicial maiúscula. Estava disposto no Acordo Ortográfico de 1943. (http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&id=16-49&version=1943Por esta razão, encontramos espiritismo escrito em maiúscula nos livros de Allan Kardec, publicados há anos atrás.

Mais recentemente, meu editor reviu-me um texto e me explicou pacientemente que a língua evoluiu, e que, com a evolução do uso, as áreas de conhecimento são escritas em minúsculas nos principais jornais, revistas e órgãos de comunicação. Como se trata de um costume, e não de um mérito ou demérito, adotei imediatamente.

Como é uma mudança, passei a sofrer o efeito contrário: todos querem me corrigir. Escrevi estatística, e um professor da área pediu que escrevesse com maiúscula. Pedi que um autor mudasse de Física para física, e ele me pediu uma norma por escrito. Espiritismo, então, causa furor.

- “Espiritismo com minúscula? Nunca vi isso!” Ouvi de um amigo.

- “Não posso aceitar que o espiritismo seja escrito com minúscula! Ouvi de um editor de revista.

Eu já me acostumei, e vou levando em frente. No “Espiritismo comentado” o espiritismo será escrito em inicial minúscula ainda que continue batendo maiúsculo no coração.

Mas, terminando a história (e não estória, apesar de já estar dicionarizado também, mas como diacronismo e regionalismo) , no Senado Federal está escrito:

"Atualização (24 de março de 2014): nomes de cursos, disciplinas e áreas do conhecimento, em sentido amplo, passam a ser grafados em iniciais minúsculas"

No manual de redação da Folha de São Paulo:

"disciplinas — Escreva seus nomes sempre com minúscula: direito, medicina, educação física, ciências sociais, filosofia, português, matemática."

No manual de redação da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, de 2008

"ESCREVA COM MINÚSCULA • Nomes de áreas ou disciplinas da ciência: física, medicina, química, sociologia, astronomia, ecologia, ciências humanas, história, paleontologia."


Contudo, observando a lei pedida pelo colega, os comentaristas que li sobre o Novo Acordo Ortográfico são unânimes em dizer que se tornou opcional usar maiúscula ou minúscula no início dos nomes que designam áreas de conhecimento ou domínios de saber, cursos e disciplinas.

21.9.16

CAÇADORES DE BRUXAS


Pintura de um autor da época das bruxas de Salém, Thomas Satterwhite

O episódio de Salém, nos Estados Unidos, virou até filme. Diz respeito a pessoas que foram consideradas bruxas, intermediárias do demônio, e que passaram a ser caçadas com base no “Malleus Maleficarum”, o livro que tentava indicar comportamentos e sinais do pacto sinistro com o diabo, a partir de denúncias, que eram estimuladas por um clima de histeria, misturado com medo e um falso sentimento religioso de dedicação.

Pessoas como estas sempre estiveram na história, porque talvez sejam manifestação do lado obscuro de nossa alma, aquele que teimamos em dizer que ficou no passado, mas às vezes se manifesta.

Estão por aí, inclusive no meio espírita. Apesar de se acreditarem humildes, agem como se fossem donos da verdade. Não exercem a crítica com sua face racional, paciente, que visa a mostrar contradições de ideias. Gostam de dar golpes verbais, e abusam das acusações em seus discursos.

Ao analisarem uma obra ou um autor, não se detém na análise das ideias em conformidade e em contradição com o pensamento kardequiano, por exemplo. Estigmatizam. Argumentam pela existência de um perigo iminente, que ronda todo o movimento espírita, colocando-se como paladinos, defensores da paz e do bem.

Ao demonizarem seus opositores, endeusam-se aos olhos do leitor ingênuo, que os acredita fiéis defensores da verdade.

É quase impossível manter um diálogo, porque como estão certos de suas verdades pessoais, e não costumam rever ideias, recorrem logo à retórica para fazer desacreditar os que se lhes opõem algum ponto de vista. Querem transformar o diálogo em uma espécie de jogo de gladiadores, e os que o assistem em uma espécie de torcida, pronta a aplaudir, em suas mentes imaginativas, o golpe bem dado no adversário.

Escolhem cuidadosamente as falhas e erros das instituições espíritas, não para propor mudanças e auxiliar nelas, mas para acusá-las, torná-las menores e indignas de crédito aos olhos do público. Reafirmam sua imagem quixotesca ao acreditarem-se denunciando e defendendo a pureza doutrinária, ou o futuro da doutrina espírita.

De tanto agredirem verbalmente, desagregam. Atraem apenas as mentes ingênuas, que acreditam também estar em uma luta justa, e que os elegem como campeões. Cercam-se apenas dos que aceitam tudo o que pensam, sem qualquer discordância, e que se calam ante sua "voz de trovão".


Peço a Deus a vigilância constante, capaz de me fazer distinguir a atitude vaidosa destes homens, que seguramente existe no lado negro de minha alma, da análise crítica, necessária e humilde, capaz de fazer pensar e proporcionar o avanço, pela convicção compartilhada, dos que trabalham diária e voluntariamente por um espiritismo congruente com suas bases e propósitos.

25.4.13

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO


Foto 1: Pedro Camilo.

A sociedade espírita em que trabalho tem reuniões diárias, de segunda à sábado, que começam em torno das 20 horas. Em uma delas fui convidado a apresentar um estudo no qual abordei o trabalho de Deolindo Amorim, "O espiritismo e as doutrinas espiritualilstas".

Deolindo viveu em uma época de intensos debates no movimento em torno da identidade do espiritismo, e como tivesse conhecimento filosófico e coerência doutrinária, assumia posições contrárias aos sincretismos que os mais entusiasmados propugnavam, e que já haviam gerado diversas cisões no movimento espírita. 

Seu livro foi publicado originalmente pela Federação Espírita do Paraná, e objetiva distinguir o espiritismo das diferentes doutrinas espiritualistas em voga no Brasil. Deolindo era membro da Liga Espírita do Brasil, cuja sede era estabelecida em Niterói-RJ, e que se transformaria da FEERJ, após o Pacto Áureo. Ele somava forças com Herculano Pires e Carlos Imbassahy, dois grandes pensadores daquela época, nos congressos e encontros que organizaram.

Como pensador, sensato que era, em vez de escrever em tom panfletário, o que não lhe era característico, Deolindo analisava, calmamente, mas de forma clara e incisiva, as semelhanças e diferenças entre o espiritismo e: a rosacruz, a cabala, a teosofia, as doutrinas evangélicas, a umbanda, e o movimento espiritualista anglo-saxão. Posteriormente ele publicaria africanismo e espiritismo.

Este tema parece nunca ter fim. É muito comum os neófitos (e mesmo espíritas com muitos e muitos anos de casa) desejarem trazer algo de sua experiência pessoal para as sociedades espíritas. Recentemente ouvi pessoas quererem trazer o reiki para as casas espíritas (talvez pela similitude com os passes), as práticas de medicina chinesa, a cromoterapia, a acupuntura (que hoje é uma especialidade médica em nosso país, portanto, regulamentada), os florais de Bach  e outras práticas/filosofias, nas quais parecem perceber alguma identidade de conceitos, mas que tem suas diferenças. 

Parece haver uma nova onda africanista no movimento, e como se vende de tudo nas livrarias, a leitura de um livro opinativo, ainda que considerado mediúnico, parece ser suficiente para sacramentar sincretismos. Felizmente, há pessoas lúcidas no movimento, como o Pedro Camilo, que muito recentemente publicou um artigo no qual se dirige respeitosamente à umbanda e aos umbandistas, mas reafirma a identidade destas duas práticas, posicionando-se contra as misturas.
Voltando às palestras na Associação Espírita Célia Xavier, em uma delas, uma frequentadora perguntou se eu não considerava os cultos afrobrasileiros e o espiritismo como sendo a mesma coisa. Em outra, um frequentador ficou incomodado com o trabalho do Deolindo e veio me questionar após a palestra. Quando reafirmei o que disse ele desabafou: eu não vou deixar de tomar os meus banhos de flores brancas... 

Creio que na esfera particular, devemos respeitar o livre-arbítrio das pessoas.  A questão maior é quando, querendo reconhecimento social para escolhas individuais, elas resolvem querer implantar suas combinações pessoais nas casas espíritas, como forma de buscar reconhecimento. Se em nome da tolerância os trabalhadores da casa aceitam, em breve não se conseguirá mais  identificar o que é espiritismo e o que não é.

5.11.11

O ESPIRITISMO É UMA DOUTRINA CRISTÃ?

João, o apóstolo


Giovanni Reale e Dario Antiseri (2011) escreveram e publicaram uma coleção intitulada História da Filosofia. No Brasil, a Paulus fez a empreitada de traduzir para a língua portuguesa e trazer a público.

No segundo volume, os autores apresentam a filosofia patrística e escolástica. Com mais de 300 páginas, eles podem se dar ao luxo de apresentá-las com mais cuidado. Um tema desenvolvido por eles vem de encontro às nossas pesquisas sobre a identidade do cristianismo.

O Cristianismo é trinitário?

Minha filha entrou em debate com seu professor de religião, que afirmou que embora os espíritas acreditem ser o Espiritismo uma doutrina cristã, o resto da cristandade não compartilhava desta posição. Ele se justificou: na sua concepção de cristianismo a doutrina trinitária (Deus-Jesus-Espírito Santo são uma só pessoa) é o marco central. Quem não aceita este dogma, não é cristão.

A Construção do Trinitarismo

O Trinitarismo não é um ponto pacífico entre os cristãos dos primeiros séculos. Reale e Antiseri entendem que alguns problemas enfrentados foram centrais: a conciliação do Antigo Testamento com o Novo Testamento, os problemas textuais (a multiplicação de textos) e os problemas teológicos (que têm por centro a questão da trindade).

Comecei uma leitura dos textos dos chamados Padres Apostólicos (os que foram discípulos dos apóstolos e deram sequência ao movimento cristão). Em Clemente Romano, por exemplo, não há clareza alguma do trinitarismo. O tema não parece ser relevante em suas preocupações, que envolviam as discórdias internas do movimento e o ethos cristão.

Esta questão vai tornar-se relevante aos poucos, no confronto entre o pensamento cristão, que se desenvolve a partir dos "padres apologistas", debatedores com os filósofos e que aos poucos absorvem alguns dos instrumentos do pensamento filosófico. 

Os filósofos italianos afirmam: "A formulação definitiva do dogma da Trindade só ocorreu em 325, no Concílio de Nicéia, depois de longas discussões e polêmicas, quando foram identificados e denunciados os perigos opostos do adocionismo (...) e do modalismo (...), bem como uma série de posições relacionadas a estas de diversos modos." (pág. 29-30)

A pergunta que não quer calar

Publicamos há alguns meses uma matéria sobre o Concílio de Nicéia, suas interferências políticas e os interesses que o cercaram, bem como sua composição e como foram votadas suas conclusões. 

Independente deste relato, se o trinitarismo como conhecemos só foi formulado no século IV, e se as posições do movimento cristão iam da indiferença à oposição a esta tese, dar-se-á que os cristãos dos primeiros séculos fossem heréticos, todos heréticos? Penso que não, assim como nós espíritas, nos dias de hoje.

O trinitarismo não é o pilar central do cristianismo, é só uma ideia dos cristãos dos séculos III e IV que se tornou majoritária no futuro. Uma esquina de pedra.