Depois do programa Conversa com Bial, diversos amigos,
todos trabalhadores espíritas, vêm entrando em contato para ouvir a opinião do
Espiritismo Comentado sobre a entrevista que o Bial fez com Dora Incontri e com
Marcel Souto Maior.
Em nossa opinião, a entrevista como um todo projetou uma
imagem racional e favorável do espiritismo para a população brasileira, muito
diferente da imagem que ficou com o caso de João de Deus, que, mesmo não sendo
espírita, era confundido como tal por se apresentar como médium. Na mentalidade
de grande parte dos brasileiros “é tudo a mesma coisa”, e a multiplicidade de
experiências religiosas não vem acompanhada com uma clareza na distinção de
princípios, proposições e práticas.
Houve um sensacionalismo na mídia de divulgação do programa,
feita pela própria emissora, ao falar de descobertas novas e atribui-las à
Dora. Ao longo da entrevista, vê-se que ela não se colocou nesse lugar.
Um exemplo do sensacionalismo da mídia global, para quem
quiser conferir:
A entrevista foi muito rica em informações então vamos nos
deter nos dois pontos mais questionados: as novas informações sobre a história
do espiritismo e, especificamente, a família de Allan Kardec.
Dora Incontri fez menção a algumas descobertas já tornadas
públicas por instituições que estão trabalhando com a conservação, transcrição
e tradução da correspondência de Kardec e com os documentos copiados por Canuto
Abreu na França no período entre guerras, que estava guardado e acesso vetado pelos
seus herdeiros.
Além dessas duas iniciativas há uma grande pesquisa que vem
sendo feita via internet. Ela se baseia no acesso digital aos arquivos,
documentos e coleções europeias das mais diferentes instituições, como
cartórios, bibliotecas e órgãos governamentais.
Achei curioso como um grande número de pessoas desconhece o
trabalho que vem sendo feito na preservação da memória do espiritismo. As
cartas de Kardec compradas dos descendentes de Leymarie e o acervo de Canuto
Abreu, especialmente esse último, é quase uma novela com diversos capítulos. Paulo
Henrique de Figueiredo nos explica em seu livro “Autonomia: a história jamais
contada do espiritismo”, que o acervo de Canuto Abreu (documentos escritos à
mão ou datilografados) estão sob os cuidados da Fundação Espírita André Luiz,
em São Paulo.
Imagem do C.S.I: Imagens e Registros
Com relação às pesquisas pela internet, gostaria de destacar
o Carlos Seth Bastos e seu C.S.I. (Codification, Séances, Investigation):
Imagens e Registros Históricos do Espiritismo, pelas contribuições que vêm
dando nessa frente de trabalho. O Carlos vem publicando seus achados em três
espaços:
https://www.allankardec.online - clicar
no canto inferior direito, imagem CSI
Uma das ilustrações que se encontra em allankardec.online
Outro espaço virtual em que se tem publicado documentos
digitalizados referentes a Allan Kardec e sua época é o AllanKardec.online. Seu
acervo tem por base a Librairie Leymarie e aquisições em outras livrarias
especializadas. Seu curador se chama Adair Ribeiro. Eles trabalham em conjunto
com o Carlos, citado acima, e o Charles Kempf (veja abaixo). O endereço digital
já foi disponibilizado acima:
Há também uma página do Facebook:
As informações da família de Kardec, como a filha Louise e o
pai, foram publicadas inicialmente por um espírita francês. Charles Kempf, em outubro de 2018, divulgou
em português os achados referentes à correspondência pessoal de Rivail com
Amélie que citam a menina Louise, possivelmente desencarnada enquanto os pais adotivos estavam vivos.
Ele pode ser lido em http://ismaelgobbo.blogspot.com/2018/10/artigo-inedito-por-charles-kempf.html
Foi também o Charles quem publicou sobre o pai de Allan
Kardec. O texto em português pode ser lido no site da Federação Espírita do
Paraná com os endereços eletrônicos das fontes: http://www.feparana.com.br/topico/?topico=2255. No entanto, posteriormente esta informação foi revisada, pois descobriu-se seu paradeiro, conforme explicado por Carlos Seth em https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/407144190049369
Pessoalmente, não há como negar que uma história de perdas
de pessoas queridas pode vir a afetar os interesses de uma pessoa, mas acho
ainda especulativo associar as desencarnações ao interesse pelos fenômenos
espíritas. Principalmente porque conhecemos a grande maioria dos trabalhos
públicos de Kardec, que são extensos, e ele sempre defende os interesses de
cientista ante os fenômenos espirituais que estudou.
A posição de Dora contra a idealização de médiuns é muito
correta e sensata. Nosso trabalho, como estudiosos do espiritismo, é sempre
conhecer bem a doutrina e as afirmações dos espíritos, verificar onde se
baseiam, confrontar diferenças e concluir na defesa do que está devidamente
fundamentado, argumentado, lógico, venha de quem vier. Isso me fez recordar
Sócrates, condenado à morte pela defesa racional de suas ideias, que
desagradavam as elites gregas.