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11.8.07

O Véu e a República Francesa


A França votou uma lei que proíbe o uso de sinais religiosos ostensivos nas escolas e nos espaços públicos. O véu islâmico (na verdade, toda uma coleção de peças, que vão de um lenço claro à Burka, cobrindo os cabelos e às vezes o rosto) foi o principal afetado pela lei. No biênio que se seguiu à lei 44 jovens foram expulsas da escola por não aceitarem assistir às aulas sem véu.
(Foto 1: Véu islâmico colorido, preferência das afegãs. Fonte: Site da BBC Brasil)

A discussão do véu é imensa, muito maior que o pequeno espaço disponível neste blog. Alguns pontos parecem claros: uma coisa é a proibição de sinais religiosos em prédios públicos, outra coisa é a proibição das pessoas portarem ou exibirem em seus corpos sinais religiosos.

O princípio de laicidade do estado existe para que cidadãos, não importa a religião ou o credo político, possam ser tratados igualmente pelo estado, perante a lei. Quando se exige do cidadão que oculte suas convicções religiosas ou políticas, quando se entende que um véu, ou uma cruz, que sinalizariam aos demais sua identidade religiosa, não pode ser tolerado em um espaço público, é porque o Estado não conseguiu disseminar uma cultura ou mentalidade da tolerância e da diversidade. Qualquer sinal cheira a proselitismo aos olhos das autoridades...

(Foto 2: Foto do Filme Paris Je T'Aime, do site Cinco Dias)

No pouco que li, nas diferentes culturas islâmicas, os véus podem ter sentidos e significados muito diferentes, extremos até. Um véu pode ser um toque de sensualidade, pode significar proteção, pode ser um costume religioso familiar, pode ser inclusive opressão, se quem o utiliza é obrigado a fazê-lo. O Estado Francês se considera salvador das oprimidas e da laicidade, esquecendo-se das demais mulheres e jovens que usam o véu como opção religiosa, que não se sentem oprimidas pelo islamismo e sim pelo Estado Francês. Ao contrário do que se poderia esperar do Estado, ele não assegura a liberdade de crença e de expressão, mas uniformiza os indivíduos e tenta resolver diferenças políticas e sociais na esfera religiosa. Pior: o Estado estabelece qual é o significado real (perdoem-me a duplicidade de sentidos desta palavra) de um símbolo religioso, despindo-o da polissemia. Ele diz, através de lei, como deve ser interpretado um símbolo...

Pelo visto, o muçulmano tem que abrir mão dos costumes muçulmanos para ser cidadão francês, ainda que o direito lhe assegure a suposta cidadania. Pelo visto, o francês de primeira categoria usa boina ou não usa nada. Quem cobre a cabeça com outra coisa, se for francês, é de segunda ou terceira...

O que isto tem a ver com o Espiritismo? Se é verdade que uma lei contra sinais exteriores não nos atingiria, a intolerância religiosa fere a todos, especialmente se patrocinada pelo Estado. Este estado de espírito não é visível, como uma lei ou um véu, age de forma subterrânea e fere a cidadania pelas costas. Os espíritas europeus enfrentaram (e ainda hoje se enfrenta) muitas formas ocultas de desrespeito e até de perseguição.

Estamos no século XXI e ainda não está clara a diferença entre o público e o privado, o Estado e a Religião. Jerusalém continua sendo um espaço de conflito entre diferentes crenças, mais políticas que religiosas.