Outubro de 1999. No apagar das luzes do século passado, o amigo Alexandre Rocha pediu que auxiliasse o lançamento de um novo livro da Lachâtre em Belo Horizonte. Era um livro sobre Allan Kardec, e eu pensei: mais um? Será que é mais do mesmo? Pedi, na minha mineirice, um exemplar para avaliar o trabalho, mas recebi por resposta que ele só chegaria no dia do lançamento.
A Lachâtre fez contato com uma livraria de shopping para o lançamento e eu consegui hospedagem na casa de uma grande amiga. Organizamo-nos para o "dia D", e fui à casa anfitriã para ver se estava tudo bem. Minha amiga perguntou-me:
- Você já viu o livro dele?
Eu disse que não, curioso, e Edson mesmo mostrou-me o exemplar.
Confesso que meu mundo caiu. Um livro de texto simples, direto, que ambicionava mostrar o racionalismo de Kardec aos franceses, que ainda têm uma visão do espiritismo construída no palco dos tribunais do século XIX. As imagens eram belíssimas. Fotos em preto-e-branco, entremeadas à narrativa, como se saltassem dela. O papel escolhido cuidadosamente, creio que trazido do exterior, transformando o livro em um daqueles livros de arte, que costumamos comprar aqui em casa só pelo prazer de folhear.
Audi estava tranquilo, mas bem humorado. Contou-me do encontro com Zêus Wantuil, falou-me do espiritismo na França e de sua experiência, explicou-me a sorte que teve ao fotografar o apartamento da Passagem Sainte-Anne, que havia acabado de ser pintado, e hoje está situado em uma parte velha de Paris, habitada por estrangeiros.
Edson estava com uma camiseta de mangas curtas, e comentou sobre isto, sobre como os espíritas podiam se vestir de forma mais moderna...
O lançamento foi trágico. Uma dúzia de pessoas, atraídas por nós e frequentadores do nosso centro espírita apareceram lá. Menos de dez livros vendidos. Levei meu exemplar ao Edson e uma caneta, que ele recusou gentilmente mostrando-me o que usaria para autografar. Era uma caneta com uma tinta cinza, brilhante, que escrevia sobre o preto escuro da primeira página após a capa da bela brochura.
Conversei com o gerente, que me mostrou as propagandas feitas no Estado de Minas. Certamente, não foi uma estratégia muito efetiva. Conversei então com um dirigente do Célia Xavier e com a anfitriã de Edson Audi. Todo estávamos chateados com o desempenho. Então, no meio do espaço reservado para o lançamento, decidimos fazer algo.
Telefonamos para a dirigente da reunião de quinta-feira, que, para nossa alegria, era a Juselma. Ela nos acolheu com gentileza e entusiasmo, cancelou o palestrante do dia seguinte e abriu as portas da reunião para fazermos uma noite de autógrafos no Célia Xavier. Não havia tempo de divulgar, conversamos com o gerente da editora, passamos o endereço e ele levou cerca de quarenta livros para o novo lançamento, do outro lado da cidade.
Pedimos ao Edson que ficasse mais um dia em Belo Horizonte. Ele já tinha comprado passagens para Juiz de Fora e tinha um novo anfitrião esperando por lá.
- Troque, Edson. Avise ao anfitrião. Você não tem compromisso em JF amanhã, não haverá prejuízo.
Ele aceitou.
Na noite seguinte, Juselma nos acolheu com boa-vontade, e brincou:
- Da próxima vez me avisem com alguns dias de antecedência para eu conseguir um coral!
A reunião se desenvolveu. Edson falou do processo de preparar o livro e mostrou o material ao público. Duas ou três pessoas de nosso grupo comentaram a realização. Os quarenta livros foram totalmente vendidos.
Passados 16 anos, encontrei mais uma vez o gerente da livraria. Era mais um lançamento nela. Ele se recordou do acontecido, mas não me reconheceu.
Agora o Edson retornou à pátria espiritual, após enfrentar um câncer, aos 57 anos. Deixou-nos três belos trabalhos de arte e cultura para o movimento espírita. Ainda este mês sairá seu filme sobre Herculano Pires, que nos foi notificado semana passada pela Tatiana Pires, da editora Paideia.
Ele, portanto, continua conosco. E fazendo arte!