Talvez as gerações novas tenham esquecido do mito do judeu errante.
Conta-se que Ashverus, um sapateiro, teria sido amaldiçoado por Jesus no episódio da crucificação por recusar-se a ajudá-lo ou por tê-lo tripudiado. Ele foi condenado a viver eternamente sem morrer, vagando pelo mundo. Dizem algumas variantes da história que ele vagará até a parusia ou volta de Jesus.
Quem sabe Kardec se inspirou nesta história fantasiosa ao escolher a palavra erraticidade, para designar a condição do espírito no intervalo das encarnações, "que aspira a novo destino, que espera". (O Livro dos Espíritos, questão 224) Ao empregar a palavra erraticidade, Kardec não parece referir-se a um lugar, mas a um estado dos espíritos. No comentário da questão 226, ele deixa claro que os espíritos podem ser encarnados, errantes ou puros.
A palavra errante, segundo o mestre Houaiss, vem do latim "errans, errantis" e significa "que anda sem destino, que se engana".
Erraticidade, portanto, não é o mesmo que "mundo dos espíritos" (linguagem kardequiana) ou plano espiritual (termo empregado amiúde por André Luiz), posto que os espíritos puros, em tese, participariam do mundo espiritual mas não se encontram em erraticidade, porque não mais necessitariam reencarnar.