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Um tema que marcou profundamente a cultura brasileira e que podemos entender como uma “doença da sociedade” a ser tratada é a questão da escravidão. Como costuma acontecer, hoje nossa legislação proíbe o trabalho escravo, que vez por outra ainda sobrevive em rincões do país continental, mas a instituição da escravidão ainda está nas nossas mentes e é passada entre gerações.
Estou publicando esse texto no Espiritismo Comentado em homenagem a Bezerra de Menezes, que enquanto encarnado trabalhou pela abolição da escravatura, uma abolição que incluísse os escravos brasileiros na sociedade, e que após desencarnado continuou escrevendo sobre o tema. É uma questão muito cara ao cristianismo e ao espiritismo.
O Brasil é o país das Américas sem o “sonho americano”. Para a grande maioria dos brasileiros, o trabalho ainda não é a via promotora da ascensão e da independência do trabalhador. Um efetivo imenso de trabalhadores em nosso país recebe um salário tão ínfimo, e agora tão despido de garantias sociais, que não lhes permite manter uma família com um ou dois filhos, e quiçá até a si mesmo. O que causaria espanto nos países europeus ou na América do Norte, continua sendo visto como “natural” por um número majoritário dos brasileiros.
Ainda hoje há um grande efetivo de trabalhadores que são incapazes de se sustentar com seu próprio trabalho, legal e registrado e vivem em situação semelhante à vida nas senzalas. Com alimentação precária, sem instalações sanitárias mínimas, sem o direito à intimidade em função da precariedade do espaço, com acesso precário ao atendimento médico e dentário, muitos sem possibilidade de educação dos filhos ou acesso a instituições escolares tão aviltadas que são incapazes de assegurar a mínima formação cultural e profissional, sem direito efetivo à segurança e vivendo em relações de extrema violência.
A lei áurea data de 1888, mas a mentalidade escravagista, que acha natural que um trabalhador não se possa sustentar, não tenha capacidade de estudar, deva se contentar com um “bom patrão”, manteve diferenças absurdas em nossas leis, como uma espécie de trabalhador de “segunda linha”, os domésticos, que apenas em 2015 obtiveram direito a Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, adicional noturno, seguro-desemprego, entre outros direitos já assegurados a outras categorias de trabalhadores.
Uma grande massa de pessoas prefere as ruas das grandes cidades, lavando e “cuidando” de carros, vendendo objetos ou mesmo mendigando para viver e, talvez, recebam mais dinheiro que aqueles que trabalham.
Não bastasse esse país surreal, para não falar da criminalidade organizada e sua capacidade de recrutar jovens recém saídos da infância para as instituições do tráfico de entorpecentes e alucinantes, do furto e do roubo violento, ainda subsistem famílias e pequenas comunidades, em aglomerações sem acesso por estradas asfaltadas, em terras áridas ou improdutivas, em condições tão piores que as periferias e as ruas das grandes cidades, que alimentam continuamente os fluxos migratórios em busca, se bem sucedidos, da vida nas favelas ou nas ruas, que significa para eles algum avanço social. Esses têm ainda filhos sem acesso a postos de saúde, sem escolas, sem nada. Vivem sob o signo da esperança do socorro divino, quando têm o consolo de uma religião.
Enquanto tudo isso for visto como “normal” ou “natural” pelo brasileiro comum e, consequentemente, por seus representantes nos diversos órgãos de estado, continuaremos sendo escravagistas, mesmo depois da assinatura da lei áurea. Defenderemos a liberdade com as palavras, mas remuneraremos os que trabalham com valores tão mesquinhos que não assegurarão o mínimo: habitação, saúde, alimentação, educação e cultura. Enquanto não percebermos que toda pessoa humana tem direito a uma dignidade mínima e a viver com essa dignidade a partir de seu próprio trabalho, o tempo vai passar e continuaremos reproduzindo no Brasil a essência da antiga sociedade de senhores e escravos, considerada equivocadamente um mal do qual não se pode ficar livre em curto prazo, porque “as coisas sempre foram assim”.
Há uns treze anos participei de um congresso no Paraná e os organizadores compraram uma passagem Maringá - São Paulo, que chegava de manhã e partia para Belo Horizonte à tarde. Em vez de ficar horas a fio no aeroporto, resolvi fazer uma limonada do limão e entrei em contato com a Izabel Vitusso, do Correio Fraterno. Ela gentilmente se dispôs a me levar ao Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo para conhecer.
Chegando em São Paulo, mudança de planos. Izabel me levou no Lar da Criança Emmanuel, em São Bernardo do Campo, antes de irmos ao CCDPE-ECM. Fiquei conhecendo também, por dentro, o Correio Fraterno. Como não perco a oportunidade de fazer uma boa matéria, e na época tinha fôlego de sobra, fotografei e colhi as informações que se transformaram na matéria sobre a creche que saiu dia 02/10/2007 - https://espiritismocomentado.blogspot.com/search?q=Tia+Lol%C3%B4
Depois, Izabel levou-me para conhecer o CCDPE-ECM. Fiquei conhecendo pessoalmente a Júlia Nezu, e, no almoço, fui convidado a ajudar a reativar o Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo.
Desde então, tem sido uma troca muito intensa entre o Correio, o CCDPE-ECM e o Espiritismo Comentado. O quarto Enlihpe já está na sua décima sexta versão, suspensa pela pandemia. O Correio Fraterno, então, nem se fala.
Por todas essas histórias e mais uma, que será contada ao longo da entrevista com Izabel é que a convidamos com muita alegria para falar dos livros da médium Dolores Bacelar, que são editados pelo Correio. Dolores já está no plano espiritual, mas sua imensa discrição fez com que ela ficasse pouco conhecida enquanto estava encarnada, apesar da qualidade literária e doutrinária de seus livros, que vez por outra aparecem no EC.
Quem é o espírito "Um jardineiro", que tem dois livros psicografados?
Dolores tem o seu "Parnaso de Além Túmulo"?
Um romance de judeus, assírios e persas?
Contos de diversos autores brasileiros desencarnados?
Confiram no próximo sábado.