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6.10.20

NOVAS PESQUISAS SOBRE ALLAN KARDEC

 

Mapa obtido no CSI do Espiritismo mostrando para onde se mudaram os principais médiuns que trabalharam com Allan Kardec na elaboração das obras básicas e na Revista Espírita.


No último sábado, 03 de outubro, fizemos uma palestra para a TV Célia Xavier sobre as novas pesquisas realizadas em torno de Kardec. Seu principal objetivo foi apresentar os pesquisadores que vieram à cena nos últimos anos e onde se pode ler sobre eles.

Inicialmente discutimos um tema polêmico: afinal, por que realizar uma busca nos cartórios, arquivos e bibliotecas por novas informações sobre Kardec, sua família e seus colaboradores? Defendemos cinco objetivos diferentes. (Estão no vídeo)




https://www.youtube.com/watch?v=NqNUL1w_9fA

No conteúdo, pinçamos algumas informações novas sobre a família de Allan Kardec, encontradas por Charles Kempf, Carlos Seth Bastos e pelos estudiosos da correspondência de Allan Kardec, na FEAL (Fundação Espírita Allan Kardec) e no NUPES (Núcleo de Pesquisas sobre Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora).

Alguns dados que modificam a percepção que tínhamos das médiuns que trabalharam com Kardec foram repassados rapidamente. Esse tipo de estudo não tem impacto  na compreensão da doutrina, mas no entendimento que temos sobre as pessoas que trabalharam em sua elaboração. De forma geral, as percebemos mais humanas, especialmente os médiuns, o que torna o papel de Kardec ainda mais importante.

Outra coisa que tratamos foram as publicações do período pós-Kardec na França, em que se destacam os livros de Adriano Calsone (Em nome de Kardec, e, Madame Kardec) e Simoni Privato (O legado de Allan Kardec).

Nos estudos comparativos das edições das obras de Kardec, além dos comentários do tradutor Evandro Noleto Bezerra nas novas publicações das obras básicas, temos o trabalho de Luiz Jorge de Lira Neto, publicado no livro “O espiritismo da França ao Brasil”, que analisa as modificações das doze primeiras edições de O livro dos espíritos, período em que Kardec ainda estava encarnado. Marco Milani vem publicando os resultados dos estudos comparativos entre as primeiras e a quinta edição de A Gênese no periódico Dirigente Espírita.

Como tive que saltar a conclusão do Marco em função do tempo, segue aqui:

“ ... análises comparativas já realizadas permitem afirmar que, sob o aspecto da coerência doutrinária e clareza do texto, a 4ª edição de A Gênese mostra-se mais adequada do que a 5ª edição em diferentes passagens, fazendo com que o estudo comparativo seja fortemente indicado a todo adepto espírita.” Marco Milani, Dirigente Espírita, set./out. 2020, p. 9.

https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/09/DE179-C.pdf

Os últimos blocos saem do papel e entram por outras mídias adentro. Primeiro temos as Cartas de Allan Kardec e outros documentos, que têm sido transcritos (eles são escritos originalmente à mão), traduzidos e digitalizados em francês e português, texto e imagem. Dos lugares em que podem ser lidos temos:

https://projetokardec.ufjf.br/   (50 cartas, até o momento)

https://kardec.blog.br/csi-do-espiritismo/ (pesquisas em cartórios, arquivos e bibliotecas)

https://www.allankardec.online/ (Museu on-line do espiritismo, com jornais, livros, revistas da época de Kardec e as sínteses do CSI do Espiritismo)

https://www.facebook.com/allankardec.online/ (Divulgação no facebook do Museu Allan Kardec On-line)

Finalmente, falo do documentário “Em busca de Kardec”, cujo roteiro foi feito pelo seu apresentador, Karim Akadiri Soumaila e por Dora Incontri. Ele dá uma panorâmica sobre os estudiosos de Kardec na França e no Brasil, bem como do espiritismo e dos fenômenos espirituais em geral. Infelizmente, ele havia sido disponibilizado no YouTube, no link abaixo, mas foi retirado.

https://www.youtube.com/playlist?list=PLDk-SVhCDZTN5Zhp0qqx8NrDgh4E6DqcH

 

"Não extingais o Espírito.

Não desprezeis as profecias.

Examinai tudo. Retende o bem." (Paulo)

1 Tessalonicenses 5:19-21

18.2.18

TRAJETÓRIA DA "SOCIEDADE ANÔNIMA" SEGUNDO SIMONI PRIVATO - SÉC. XIX




Estou concluindo a leitura do livro "El Legado de Kardec" da brasileira Simoni Privato Goidanich, que será objeto de um seminário em São Paulo organizado pela USE-SP e parceiros, com o lançamento do livro em português.

Confesso que me interessei mais com as descrições dos acontecimentos pós desencarnação de Allan Kardec ocorridos no movimento espírita francês, que pela discussão sobre quem fez as alterações da quinta edição de "A Gênese".

As leituras que Simoni fez da Revue Spirite pós 1869 (desencarnação de Kardec) e da revista "Le Spiritisme", nos deu mais informações sobre as tensões que existiram entre a Sociedade Anônima, presidida por Pierre Gaëtan Leymarie, que se entendia "progressista" e tinha os direitos autorais de publicação da Revue Spirite, e o grupo que se formou em torno dos Delanne e que veio a criar a revista Le Spiritisme e a União Espírita Francesa, em 1882, que pode ser chamado de "Kardecista" ou "conservador".

Por "progressista" se entende que Leymarie usava a posição de Kardec que disse claramente que "o espiritismo acompanha o progresso das ciências" para justificar a aproximação com a teosofia, que ele considerava ser uma ciência, mas que se tratava de uma síntese pessoal de doutrinas orientais. Ele também permitiu uma associação da Sociedade Anônima com J. Guérin, que podemos considerar como divulgador das obras de Roustaing, e que se serviu de uma espécie de parceria com a sociedade para seu objetivo.

Para entender a Sociedade Anônima, temos que considerar as seguintes datas:

3 jul 1869 - É formada a "Sociedade Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo" (p. 130)

Simoni percebeu bem, que o nome Sociedade Anônima está associado à criação de uma instituição comercial, que possibilitava obtenção de lucro e remuneração de seus diretores, e isso foi uma espécie de "ponto fraco" que influenciou futuras decisões, pelo menos polêmicas.

1 jun 1878 - A sede da Sociedade Anônima se muda para uma área nobre de Paris (Palais Royal), junto com a livraria, oficina e fundando uma sala de leitura, biblioteca e salão de recepção. Com a mudança, a livraria perdeu o nome espírita e se tornou "Livraria de Ciências Psicológicas" (p. 198)

1878 - Criação da Sociedade Científica de Estudos Psicológicos, vinculada à Sociedade Anônima.(Isso merece ser analisado em comparação com o que aconteceu no futuro, quando Jean Meyer funda, em paralelo, a "Casa dos Espíritas" e o "Instituto Metapsíquico Internacional") (p. 198)

5 de março de 1878 - Leymarie envia uma carta ao capitão Mendy na qual considera Roustaing, Madame Collignon e todos os que admiram os mesmos como frutos secos. (Evidência de que Leymarie não era roustanista) (p. 232)

1879 - Desencarnação de Roustaing, que deixou um legado de 40 mil francos para Jean Guérin traduzir e imprimir sua obra (p. 233)

Abril de 1879 - Guérin se aproximou da Sociedade Anônima e tornou-se um de seus acionistas

1879 - Guérin doou, com o apoio da Revue Spirite, um exemplar da obra de Roustaing para cada grupo espírita francês ou do exterior, interessado nela. (p. 234)

1882 - Guérin, que tinha 21 ações da Sociedade Anônima, propõe transferi-la para a propriedade  de um imóvel em Bordeaux de 2500 metros quadrados, mas pede em troca 216 ações. A proposta é aprovada em assembléia em 24 de julho de 1882. O capital social aumenta e é dividido em 300 partes (não sei dizer quantas ações) (p. 235)

Esta aproximação da Sociedade Anônima com Jean Guérin não foi bem vista por um grande número de espíritas franceses. Um movimento de oposição à Sociedade Anônima começou a se esboçar.

Amélie Boudet foi procurada pelos Delanne e consultada para presidir a nova organização, mas recusou (p. 256) 

4 set. 1882 - Fez-se uma reunião na sede da Sociedade Anônima para fundar a União Espírita Francesa. (p. 256)

18 nov, 1882 - Uma assembleia com 150 pessoas aprovou por unanimidade o projeto de estatutos da USF, apresentada por uma comissão, mas os presentes (e Delanne entre eles) julgaram que a assembleia não era representativa dos espíritas franceses. (p. 257)

(??) Vautier proíbe que os formadores da nova sociedade se reúnam na Sociedade Anônima. Ele e Leymarie se opõem à fundação da USF (p. 258)

24 dez 1882 - Uma assembleia de 400 pessoas no grande salão de La Redoute, sala Jean-Jacques Rousseau, fundaram a União Espírita Francesa (USF, sigla em francês) e a revista "O espiritismo". Denis participou desta assembleia e discursou em favor da criação da USF. (p. 259 e seguintes)

A direção da USF era voluntária (não remunerada) ou ad honorem (p. 262) Os membros pagavam seis francos anuais e quatro francos anuais para assinar O Espiritismo, que era um valor menor que a Revue Spirite. A prestação de contas era anual e publicada na revista. (p. 265)

1888 - A Sociedade Anônima muda seu nome para "Sociedade da Livraria Espírita fundada por Allan Kardec" (p. 413)

1893 - A corte de Bordeaux condena a Socidade Anônima a restituir aos filhos de Jean Guérin a totalidade dos 220 mil francos que ele havia deixado para essa organização . (p. 412)

Os conflitos a entre a Sociedade Anônima e a União Espírita Francesa tiveram impacto aqui no Brasil. A tentativa de se fundar órgãos centrais para o espiritismo no Brasil são de época semelhante (segundo Canuto Abreu) e são citadas pelos tradutores de A Gênese da Sociedade Acadêmica "Deus, Cristo e Caridade", em 1882, que como já mostramos antes, apoiou a ideia de uma União Espírita Universal.

Espero ter fôlego para fazer um paralelo entre o movimento francês desta época e o movimento brasileiro.

Postscriptum: Há alguns dias, um grupo de espíritas publicou um manifesto intitulando-se progressistas. Escrevo este para deixar claro que ao usar o termo neste texto, para descrever a posição de Leymarie, não fiz qualquer referência ou associação ao manifesto ou abaixo-assinado. 

13.5.16

COMO SE DEU A APROXIMAÇÃO, NA FRANÇA, ENTRE ESPÍRITAS E TEOSOFISTAS?



Acabo de ler "de um só fôlego" o livro acima escrito por Adriano Calsone. Conheci o autor no último encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, quando ele foi convidado a lançar seu trabalho e apresentá-lo rapidamente para nós.

Adriano é formado em Comunicação Social, com pós graduação em mídias digitais, o que, de certa forma, explica o texto. É uma narrativa que flui aos nossos olhos, fácil de ler, com letras grandes, como convém às pessoas que como eu, já precisam do auxílio de óculos para ler. O projeto gráfico é agradável e criativo. As citações aparecem com letras diferenciadas, mas dão continuidade ao texto, fluem, em vez de apenas servirem como uma espécie de prova do que foi afirmado antes. Infelizmente, Calsone não faz as citações completas, para a tristeza dos estudiosos do espiritismo, que gostam de rever as fontes. Eles terão mais trabalho...

O livro assusta a um leitor espírita, conhecedor de Kardec, porque trata da Teosofia de Mme. Blavatsky, Coronel Olcott e Annie Besant, mas, curiosamente, como ela ganhou as colunas da Revue Spirite no século XIX, após a desencarnação de Allan Kardec. É, portanto, uma recuperação histórica, sob a ótica do autor do livro, de uma época do movimento espírita, pouco conhecida por nós, espíritas brasileiros, seja pela dificuldade de acesso à Revista Espírita em língua portuguesa após 1869 (ano em que desencarnou Kardec), seja pela escassez de trabalhos históricos desta época.

O texto faz uma retrospectiva da história controversa de Mme. Blavatsky, embora não mencione a pesquisa sobre sua mediunidade feita pelos estudiosos da American Society for Psychical Research, que tanta reação causaram aos adeptos da Teosofia.

O que se vê no livro foi uma aproximação de Pierre-Gaëtan Leymarie aos fundadores da doutrina teosófica à época em Blavatsky vivia na França. Ele parece tê-la percebido como médium e ter-se deixado levar pelas semelhanças de suas ideias com as propostas pela Doutrina Espírita, sem atentar muito para as diferenças. Talvez ele tenha se inspirado em uma prática de Kardec na Revue, que dá notícias de semelhanças e diferenças de outras formas de pensamento que fazem alguma fronteira com o espiritismo, como o fez com o druidismo, o islamismo e similares.

Calsone recuperou e deixou uma lista ao final do livro dos 50 artigos publicados pela Revista Espírita que tratam da Teosofia, seja de divulgação da mesma por seus profitentes, seja de crítica dos espíritas franceses que aos poucos vão se apercebendo das diferenças.

Blavatsky chega a tentar modificar a linha editoral da Revista, criticando que ela seja um veículo de discussão e informação do espiritismo, para tornar-se uma espécie de revista de variedades sobre doutrinas espiritualistas, ou seja, que permita ser usada para a divulgação da teosofia, vista por sua fundadora como um avanço do pensamento espírita. Os franceses, contudo, perceberam as diferenças metodológicas entre o trabalho originado na obra de Kardec para a construção do pensamento espírita e o da teosofia, que se fiava apenas na seriedade dos seus médiuns, na milenaridade do pensamento oriental e na autoridade de Helena como leitora, ou melhor, releitora e autora de uma nova contribuição ao espiritualismo.

Creio que Calsone tenta escrever um texto que prenda espíritas e teosofistas, e faz um esforço hercúleo para "afastar-se de seu objeto de estudo" e relatar os eventos como aconteceram, interferindo o mínimo possível com seu juízo de valor. Isso causou-me a impressão de que o texto flutua entre a teosofia e o espiritismo, sem deixar clara qual é a filiação do autor. Calsone é um egresso da teosofia que voltou-se ao movimento espírita ou um espírita que fez um esforço de apreensão da teosofia para relatar um pedaço da história do nosso movimento na Europa? Creio que este mistério só ele mesmo pode resolver.

Título: Em nome de Kardec
Autor: Adriano Calsone
Editora: Vivaluz Editora
282 páginas
2015 - 1a. edição

Post Scriptum

Tive a satisfação de receber o texto abaixo do autor do livro, que explicou a questão que levantei.

"Jáder, amigo. Agradeço a iniciativa da resenha literária, atitude importante à cultura espírita. Infelizmente, a crítica contemporânea como análise conscienciosa é ação cada vez menos praticada em nosso meio literário espírita. Obrigado!

Sobre a minha filiação, ao contrário da curiosa trajetória do professor Herculano Pires, que jovem passou pela Teosofia para depois tornar-se espiritista, conheci o Espiritismo na adolescência por meio dos cursos da Federação Espírita do Estado de São Paulo e, desde então, permaneço espírita sem mistério. Portanto, não sou egresso do Teosofismo. Na introdução de nosso livro, faço lembrar que “antes de começarmos a escrever esta obra, mal sabíamos o que era a Teosofia, embora ainda não saibamos exatamente o que ela possa significar, já que nos pareceu ser mesmo uma doutrina secreta – fechada e reservada a poucos”. O que me desagradou ao estudar esta doutrina secreta do século 19 foi, justamente, o seu caráter secreto por estatuto e o seu processo seletivo por aptidão mediúnica, condições que acenderam uma aura de doutrina seleta, reservada para poucos.

De fato, o nosso estudo “flutua entre a teosofia e o espiritismo”. Isso aconteceu naturalmente, em virtude do enorme interesse que temos pelo entendimento das relações interpessoais no pós-Kardec francês. E em nosso próximo trabalho, a biografia da Madame Kardec, não será diferente: também flutuaremos para as relações interpessoais... Por conta disso, descemos até o chão das “fábricas” (Teosofismo e Espiritismo) para conhecer a vida e os costumes de seus “funcionários”, o que pode justificar este afastamento do objeto de estudo, mas sem relação alguma com questões de filiação.

Nas edições da Revista Espírita observamos que Allan Kardec, como de hábito, estudou e publicou opiniões sobre as diversas crenças ou escolas espiritualistas de sua época. Na Revue de outubro de 1868, por exemplo, há um artigo elogioso sobre a “Doutrina de Lau-Tse”, em que o mestre fala nas últimas linhas do “traço de união para a aliança fraterna das crenças”, “resultado que o Espiritismo deve chegar”. Esse objetivo fraternal das crenças unidas, embora utópico, esteve para o mestre sempre pautado na necessidade do estudo e do respeito. Foi o que almejamos em nossas pesquisas publicadas no Em nome de Kardec: estudo e respeito à contribuição do próximo.

Pelo pouco que estudamos sobre a Teosofia no Espiritismo, tivemos a oportunidade de conhecer e estimar as iniciativas de seus fundadores (Blavatsky e Olcott) e de seus continuadores (Besant, Steiner e Leadbeater, dentre outros). No caso particular da teósofa Anne Besant, que dedicamos um capítulo no livro, é inegável a importância de seu legado espiritualista, especialmente o seu trabalho intelectual e humanitário em prol da sociedade indiana. Neste aspecto, flanamos para ressaltar a contribuição social da Teosofia (também como doutrina que negou o materialismo), que pode, obviamente, servir como exemplo salutar à nossa militância espírita." 

Adriano Calsone

11.10.14

IMPRESSÕES DO SIMPÓSIO FRANCÊS DE ESPIRITISMO


Alcione Reis de Albuquerque



Obra de Augustin Lesage


Voltando do Symposium de Villeneuve D’ascq, em Lille, França, promovido pelo CSF (Conselho Espírita Frances) ocorrido nos dias 27 e 28 de setembro de 2014, com as melhores impressões dos trabalhadores espíritas neste país.

O tema central para este ano foi: “O trabalho nos centros, elemento importante para o despertar das consciências”. (‘Le travail dans les centres, element important pour l’eveil des consciences’)



Público presente

O que ressalta aos olhos é uma forte acentuação no estudo doutrinário, seguidos pela sua prática, mantendo, no todo, uma proposta séria em compreender e seguir os conceitos de Kardec, sem concessões a personalismos.

Ao lado desta postura percebe-se da parte da Federação Espírita da França, em especial na pessoa de seu presidente atual Richard Buono, uma abertura para acolher e ouvir variadas expressões do trabalho prático, tais como se vê no programa que foi levado a público.

Os aspectos históricos, filosóficos, científicos, assim como os aspectos da prática social, que denominamos caridade, são contemplados em todo território. Evidentemente não cobrem o território francês, mas encontram-se mais disseminados do que havíamos imaginado, para nossa alegria intima.




Cláudia Bonmartin no centro e Alcione à direita


Alegrias também sentimos em observar as confreiras brasileiras levando projetos de vulto a frente, tais como Cláudia Bonmartin em Paris e Cláudia Werdine em Madrid. Há um projeto de Evangelização da criança, do adolescente e das famílias já em vias de implantação em seis países, projeto denominado Sementes para o futuro (‘Semences de L’avenir’).



Cláudia Werdine


A “Banca de Livros” estava repleta das obras básicas de Allan Kardec, seguidas por muitos  títulos psicografados por Chico Xavier, além dos clássicos tais como Léon Denis, Flammarion , Bozzano, entre outros.



Livros espíritas em francês

Próximo encontro agora será em Lyon, berço do Codificador, para o 7º Congresso Francofônico de Medicina e Espiritualidade nos dias 18 e 19 de outubro. Este encontro será presidido por Marlene Nobre, SP. Br. e contara com a presença de alguns expositores brasileiros.

Agradecemos pela oportunidade de nos fazermos presentes no Simpósio de Lille, e aguardamos as tarefas que virão no mesmo ambiente de simplicidade, fraternidade e reforma intima.



(Alcione Albuquerque é brasileira, residente na França)

13.4.12

CORREIO FRATERNO PUBLICA ENTREVISTA COM PRESIDENTE DO CONSELHO ESPÍRITA FRANCÊS



Michel Buffet, 68 é o atual presidente do Conselho Espírita Francês. Em entrevista exclusiva ele fala de temas como a situação atual do espiritismo na França, o Conselho Espírita Internacional, o trabalho de Jean Meyer e os efeitos da guerra no movimento francês.

Observa-se que há uma organização e um planejamento das ações por parte da federativa francesa, e as questões culturais também são consideradas por Buffet.

Além desta matéria o número conta com um artigo sobre a viagem espírita de Kardec em 1862, um artigo sobre consumismo escrito por André Trigueiro, uma leitura sobre o mundo infantil escrita por Pedro Camilo, um artigo sobre conflitos do Guaraci (Juiz de Fora), etc.

Vale a pena conferir. 

28.2.10

ANTROPOLOGIA DA IMAGINAÇÃO





Finalmente consegui adquirir a tradução em língua portuguesa do clássico da antropologia francesa sobre o Espiritismo: A Mesa, o Livro e os Espíritos: Gênese, Evolução e Atualidade do Movimento Social Espírita entre França e Brasil, escrito por Marion Aubrée e François Laplantine.

O projeto é imensamente ambicioso, porque, além do estudo de campo, há uma intenção de comparar a trajetória histórica dos movimentos francês e brasileiro.

Sempre achei interessante o conceito de etnocentrismo. O olhar e a escuta dos pesquisadores franceses privilegiam no Brasil os aspectos que eles consideram míticos do Espiritismo. Da mesma forma que dizem que construímos uma representação social dos franceses como pessoas sofisticadas, os pesquisadores não conseguem evitar aquela representação de “carnaval, futebol e pobreza”, que a mídia construiu no imaginário internacional. Como não há conexão entre Espiritismo e futebol, ficou o carnaval e a pobreza. Já me explico.

Minha experiência pessoal com professores franceses, é de uma relação vertical com os professores brasileiros. Talvez estejam acostumados a recebê-los como alunos do lado de lá do Atlântico e generalizem indevidamente... A exceção que posso registrar foi a professora Helena Hirata. Supervalorizam o olhar estrangeiro sobre o Brasil, e nunca tive notícias de comentários sobre um olhar brasileiro sobre a França

Para que esta matéria não fique grande, vou tratar diversos pontos curiosos do livro em outras matérias. Escolhi o Pacto Áureo como primeiro ponto. Eles articulam o pacto áureo à Umbanda. Ele seria uma espécie de recomposição do movimento espírita, frente à ameaça da Umbanda, uma prática mais nacionalista, porque incorporava elementos dos cultos afro e indígenas (não há menção ao sincretismo católico, tão exaustivamente descrito por Deolindo Amorim e outros autores).

De fato, existia uma preocupação à época com os sincretismos, o que envolve as doutrinas orientalistas e o próprio catolicismo. O livro O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas é uma das respostas do movimento a esta tendência sincretizante, que deve ter se expandido após a ditadura Vargas, que proibiu e controlou não apenas as manifestações espíritas, mas todos os espaços de assembléias que pudessem significar alguma resistência ao regime.

Contudo, o Pacto Áureo nos soa como uma recomposição interna do movimento. Havia estados com duas ou mais organizações com papel de federativa, como era o caso de São Paulo e Rio de Janeiro, uma organização que congregava intelectuais do Rio de Janeiro, São Paulo e possivelmente outros estados, que era a Liga Espírita do Brasil.Estas instituições disputavam entre si, dividindo o movimento.

Foi em um evento da Liga Espírita do Brasil, por sinal um evento internacional, que se tentou acertar um acordo nos bastidores, aproveitando a presença de lideranças importantes do eixo sul-sudeste. Delineada em seus princípios, uma comissão foi formada e iniciou diálogo com a presidência da Federação Espírita Brasileira, preservando a FEB, mas criando um Conselho Federativo Nacional, representativo das federativas estaduais.

Decidiu-se um critério para evitar criar um órgão com mais de uma representação estadual, o que foi uma ação claramente contra a divisão que existia em um movimento que, longe de estar frágil como parece entender Aubrée e Laplantine, enfrentou uma ditadura e manteve-se com um número substantivo de sociedades e federativas espíritas.

A primeira ação do Pacto Áureo foi a Caravana da Fraternidade, que tendo por interlocutor Leopoldo Machado e por financiador Lins de Vasconcelos, um dos mais hábeis articuladores do pacto, viajou pelo norte-nordeste em busca de uma adesão nacional.

Não houve campanhas institucionais contra a Umbanda, especificamente. Desde a mais tenra idade, vejo um esforço contra o sincretismo em geral pelo movimento espírita.

Aubrée e Laplantine dizem que as federações “resolveram criar uma ‘Grande Conferência Espírita’ para criar o Conselho Federativo Nacional”. Dizem também que, ao término da conferência que reuniu “os presidentes de todas as federações de estado, que defendiam a orientação kardecista, foi assinado o ‘Pacto Áureo’ que consagrava a aliança indefectível de todas as instituições que o assinavam, fossem subordinadas à FEB ou fossem autônomas, como, entre outras a FEESP...” (p. 198-199)

Nada mais estranho aos trabalhos que li que esta análise. O CFN é um órgão sediado na FEB, autônomo e, apesar da falta de autonomia financeira, não é subordinado a ela. Não houve participação de todas as federativas “de orientação kardecista”, como mostrei acima, e não há tanta centralidade da ameaça umbandista por detrás do Pacto Áureo.

O mais curioso é que sobram documentos e livros sobre o mesmo. Escritos até por pessoas que votaram em suas federativas contra o pacto, como é o caso de Memórias e Reminiscências Espíritas, de Deolindo Amorim, e dos inúmeros livros escritos por Leopoldo Machado, documentando suas viagens em detalhes. Ney Lobo publicou um trabalho sobre Lins de Vasconcellos detalhado e com reprodução de inúmeros documentos.

Minha impressão pessoal é que Aubrée e Laplantine preencheram os espaços em branco abertos pela ambição do projeto e pela falta de tempo e acesso a informações importantes com hipóteses imaginativas. Esta impressão se repete ao longo da leitura da tese. Como lhes falta interlocução, as fragilidades permaneceram. Houve também um privilégio aos autores acadêmicos que produzem sobre o Espiritismo, o que é muito curioso, porque os autores estrangeiros fazem análises etnocêntricas e nem sempre bem justificadas. Mais recentemente antropólogos brasileiros têm desconstruído pontos mais polêmicos.

Nada disto foi visto pelos colegas franceses, que ficaram mais impressionados com as supostas comunicações de médiuns e com o que teria caráter mítico (o papel da espiritualidade na história, na obra de Chico Xavier, a psicopictografia de quadros de pintores impressionistas, por exemplo, que é vista como um realismo fantástico pelos autores europeus), como se viessem ao Brasil assistir a um desfile de carnaval...

Em um próximo trabalho tratarei da questão da pobreza para os franceses e da ação social espírita.
(Agradeço ao Prof. Alexandre Caroli as sugestões ao texto e a atenção com que o recebeu.)

12.6.08

FEB PROMOVE VENDA DA REVISTA ESPÍRITA


A Loja virtual da Federação Espírita Brasileira está fazendo diversas promoções. A que nos chamou a atenção é a venda da Coleção da Revista Espírita por três parcelas de R$63,75 para o Brasil.

A coleção é composta de doze livros, que agrupam as revistas publicadas mensalmente entre 1857 e 1869, ano em que Kardec desencarnou.

A Revista Espírita, no período comercializado, é praticamente o memorial do trabalho de Allan Kardec. Mensalmente o editor da RE publicava artigos, resenhas de livros, rebatia críticas sérias ao Espiritismo nascente, comunicações mediúnicas que recebia dos lugares mais diversos e fazia dissertações espíritas.

Textos de Kardec que posteriormente integrariam as obras da codificação, encontram-se completos. A correspondência e os debates do movimento espírita da época também são encontrados.

Para quem deseja conhecer Kardec a fundo, circunstanciar os textos da codificação, esta coleção é indispensável.

Há alguns anos solicitamos que ela fosse disponibilizada em formato digital, para facilitar nossas pesquisas (pessoalmente, tenho a coleção em capa dura, traduzida por Júlio Abreu e publicada pela EDICEL), e hoje já se encontra na internet, o que facilita a vida do pesquisador, mas não dispensa ter a coleção em papel para podermos ler e discutir com um conforto maior que o permitido pela tela de um computador.

Sugerimos à FEB, futuramente, incluir na coleção um CD com o texto digitalizado, para facilitar ainda mais a pesquisa e valorizar a iniciativa.

A tradução da FEB foi feita por Evandro Noleto Bezerra, o mesmo tradutor de "O Livro dos Espíritos" em sua edição comemorativa dos 200 anos.

Se você se interessou pela aquisição, clique no título desta publicação que o redirecionará para a loja da Federação ou no link abaixo.

18.12.07

Victor Hugo e os Espíritos

Recentemente um documentário sobre o livro "Os Miseráveis" chamou-me a atenção para o lado espírita de Victor Hugo. Nele, um dos estudiosos da obra de Hugo afirma que os espíritos o incentivaram a concluir e publicar o livro que se tornaria um marco na literatura mundial, por dar voz e luz a uma população geralmente esquecida, diminuída ou marginalizada pelos autores anteriores à sua época.



O escritor francês foi condecorado cavaleiro da Legião de Honra em 1825, membro da Academia Francesa e foi eleito deputado constituinte de Paris em 1848 e 1849. Foi eleito presidente do Congresso Internacional da Paz em 1849. Em 1852 um decreto do governo de Luis Napoleão o expulsa da França e ele vai para a ilha de Jersey, onde teve contato com a mediunidade e os espíritos. Hugo só voltaria à Paris após a proclamação da república, mesmo tendo sido anistiado.


O livro de Maria do Carmo Schneider, de leitura agradável, focaliza o lado espírita de Victor Hugo, conectando-o à sua obra. São impressionantes os poemas obtidos pela via mediúnica na ilha de Jersey e os espíritos com quem comunicava-se, que adotavam pseudônimos poéticos como "Sombra do Sepulcro", "Dama Branca", "Leão de Ândrocles" e "Pomba do Arco". Poetas famosos também assinavam as comunicações, como Molière, Ésquilo, Shakespeare, Dante e Camões.


A pena dos historiadores e biógrafos de Victor Hugo muitas vezes o considerou um "louco no exílio", assim como foi feito com outras personalidades notáveis que se tornaram espíritas ou espiritualistas como William Crookes e Robert Owen. Em sua "loucura genial" Victor Hugo ainda publicou mais de vinte grandes obras, como "O Homem Que Ri", "Os Miseráveis", "William Shakespeare", "Trabalhadores do Mar", "Torquemada" e outras obras memoráveis.



Além do trabalho de Maria do Carmo, quem desejar conhecer uma abordagem filosófica da obra de Victor Hugo, pode ler o livro "Victor Hugo, Espírita", escrito pelo espírita argentino Humberto Mariotti e publicado em português pela editora EME.

Como um presente ao leitor do blog, fica um dos poemas mediúnicos da Ilha de Jersey, ditado pela "Sombra do Sepulcro":


"Espírito que quer saber o segredo das trevas,
E que, segurando nas mãos a terrestre chama,
Vem, furtivo, apalpando nas nossas fúnebres sombras,
Espicaçar a imensa tumba,

Retorna ao teu silêncio e sopra tuas velas,
Retorna à noite de onde algumas vezes sais;
O olho dos vivos não lê coisas eternas
Por sobre os ombros dos que não vivem mais."

(Resposta a Hugo da Sombra do Sepulcro após duas perguntas dirigidas a Molière) Leia sua interpretação na página 52 do livro de Schneider.