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16.9.12

PODEM-SE CONSIDERAR AS OBRAS DE PAULO COELHO COMO ESPÍRITAS?



De Nazareno Tourinho eu conhecia apenas as obras de pesquisa sobre mediunidade, como "Surpresas de uma pesquisa mediúnica", ou os livros que escreveu com o saudoso Carlos Imbassahy. Buscando pela internet, vi que sua obra é mais extensa e envolve também livros de teatro, além de uma honrosa cadeira na Academia Paraense de Letras.

O Mago e o Mendigo chegou como uma cortesia da Lachâtre, em silêncio, acompanhando meu exemplar do Leitura Espírita. Chamou-me a atenção logo de cara, ou ao ler a quarta capa, quando vi a proposta de usar o gênero literário escolhido para fazer uma comparação do pensamento (ou seria melhor dizer, dos escritos?) de Paulo Coelho com o espiritismo.

Li os dois ou três primeiros romances do mago quando foram lançados: "Diário de um mago", "O Alquimista" e "Brida", mas o tempo passou e apesar da impressão inicial, nada ficou em minha memória. Sinto-me um computador 486, daqueles antigos, de HD pequeno, que tem que deletar arquivos antigos para conter os novos.

O livro de Nazareno é instigante. Lembra, como alguém comentou, os escritos de Kardec em forma de diálogo, como em O Que é o Espiritismo, mas traz um enredo bem diferente do usual.

Nele o autor pinçou alguns pontos centrais da proposta supostamente mágico-mística de Paulo Coelho, que aparece nos diálogos e pensamentos de um mago desembarcado na Amazônia paraense, e compara com as ideias de um pretenso mendigo, um personagem franciscano-espírita, se é que posso expressar-me assim. Uma médium gaúcha, estudante de medicina e um "mediador de debates", além da cultura cabocla e mágico-indígena do norte, compõem o rol de embates que acontecerão em quase duzentas páginas.

Nós, pobres leitores do sul, às vezes ficamos à deriva com as referências amazônicas, ricas em frutas, alimentos nativos, mitos, práticas de magia, crenças e outros elementos, às vezes desconhecidos por nós, apesar da brasilidade comum. Deu para sentir saudades do cupuaçu, lembrar do gosto exótico do taperebá, e rir um pouco da tentativa curiosa de encontro entre a cultura cabocla, caracterizada como terra-a-terra mas imensamente atraída pelo diferente, e o misticismo europeu e católico.

Espíritos ou demônios? Mediunidade ou intuição? Amor ou poder? Arrogância ou humildade? Alguns contrapontos ganham corpo nas interações entre os personagens e o autor não esconde sua preferência pelo espiritismo em sua trama.