Terminei a leitura do livro "Uma breve história do cristianismo", de Geoffrey Blainey. De fato, ele produziu um texto como historiador, embora seja uma narrativa corrida e sem a indicação de fontes, o que gera alguns pontos polêmicos e outros próprios da leitura do autor. Apesar da busca do lugar terceiro, o autor não consegue deixar de expor-se e posicionar-se, o que é esperado.
O livro é uma deliciosa leitura introdutória para quem se interessa pelo tema. De Jesus a João Paulo II, o autor dedica uma ou duas páginas para um grande número de designações e grupos cristãos e anticristãos, mundo afora. Surpresa agradável foi encontrar uma descrição das ideias de Emmanuel Swedenborg (médium sueco) e de Edward Irving, considerados antecessores do espiritismo por Arthur Conan Doyle.
Allan Kardec, o Evangelho Segundo o Espiritismo e o movimento espírita são uma grande omissão do autor, que chegou a inserir tendências atéias e de articulação entre o marxismo e o cristianismo em seu trabalho. A Teologia da Libertação brasileira é recordada, e os três milhões de espíritas esquecidos. Etnocentrismo do primeiro mundo?
Uma trajetória curiosa do autor é traçar a linha tênue entre o cristianismo e a política. A desconstrução do catolicismo pela revolução francesa, sua expoliação pelos revolucionários e o desrespeito a instituições cristãs como um todo, sem capacidade de distinguir os aliados da nobreza dos servidores do povo como um todo, causam quase indignação.
O autor também tem uma leitura muito diferente da historiografia brasileira com relação aos jesuítas. Foram perseguidos por serem competentes ou por interferirem nos bastidores do poder temporal?
Uma leitura interessante é a recuperação de cada uma das tendências oriundas do movimento protestantes que estão presentes no nosso dia-a-dia. Os Santos dos Últimos dias, a Assembléia de Deus, os Metodistas, os Batistas, o Exército da Salvação, os luteranos, a Torre de Vigia, a Ciência Cristã, os Quakers, todos têm suas origens, principais ideias e percurso esboçados no texto e contextualizados.
O cristianismo é um opositor do capitalismo democrático? Do comunismo? Do fascismo? O tema, apesar de tratado de forma breve, faz parte da proposta da obra. Muitos ativistas políticos ateus de hoje tratam as diversas designações cristãs como adversárias ou inimigas, com intolerância incomum.
Blainey trata também de um assunto curiosíssimo. A crença de ateus e agnósticos no conhecimento considerado científico e tecnológico e sua cegueira quanto às questões do humano, nestas estreitras abordagens epistemológicas do conhecimento. Ele aponta uma certa ingenuidade de propostas como a de Dawkins e a de Hawking e um esquecimento dos episódios negros das guerras mundiais e seu racionalismo anti-humanista.
O livro, apesar de expressar a leitura do autor, lança luz e questões sobre as representações do cristianismo na sociedade, hoje, talvez surpreendendo muitos dos que se encontram identificados com o movimento cristão e ignorantes das ações e concepções de ateus e políticos materialistas. Recomendo a leitura crítica do mesmo.