ABREU, Canuto. O
evangelho por fora. São Paulo, LFU, 1996.
HEINE, Ronald. Origen: an introdution to his life and thought. OR-USA: Cascade Books, 2019.
ABREU, Canuto. O
evangelho por fora. São Paulo, LFU, 1996.
HEINE, Ronald. Origen: an introdution to his life and thought. OR-USA: Cascade Books, 2019.
A revista Reformador, editada pela Federação Espírita Brasileira, publicou um artigo do autor de Espiritismo Comentado sobre a "análise minuciosa do Evangelho" e um técnica chamada de análise contextual, que envolve uma análise interna (no caso, do próprio texto, em comparação com o todo, a perícope ou a unidade do texto) em conjunto com informações do autor, geográficas, históricas.
Abaixo o resumo do artigo.
Resumo
A análise minuciosa do
Evangelho foi explicada pelo espírito Emmanuel em dois de seus livros: "Caminho, verdade e vida" e "Renúncia", publicados em 1948 e 1944, respectivamente. Ele
propõe a leitura de um único versículo (que usa como epígrafe em seus textos
publicados) e a meditação profunda dele. Não há proposta de se fazer
hermenêutica nem exegese, é uma reflexão. Além de analisar a proposta de
Emmanuel, este artigo compara a análise minuciosa, baseada em versículo isolado
ou lógion, com a análise contextual, em
cujo contexto interno se baseia em perícopes, nas comparações com outras partes
do texto evangélico e da Bíblia e com informações históricas, geográficas e
arqueológicas.
Palavras-chave
Evangelho, Emmanuel,
Hermenêutica, Reflexão Pessoal, Exegese, Eisegese
Encontrei hoje no texto de Milton Torres, professor da Universidade Adventista de São Paulo, um bom conjunto de explicações, acessíveis a todos nós, interessados no estudo dos evangelhos. Vou retirar literalmente as explicações dele, e interpolo meus comentários entre colchetes:
1. “... ele [o evangelho de João] não faz nenhuma tentativa de se passar por uma biografia de Jesus.”
2. “[O evangelho de João] não demonstra interesse por uma cronologia exata dos feitos de Cristo.”
3. “... os longos discursos de Jesus ali registrados apresentam semelhanças formais com as preleções de Sócrates nos diálogos platônicos”
4. “... como no caso de Platão, seu método é determinado pelo propósito que persegue, pois lança as ideias de Jesus em metáforas surpreendentes, dramatizando os momentos históricos para que alcancem uma sugestibilidade supra-histórica, para isso empregando símbolos e analogias”.
5. “... o termo logos aparece, no prólogo de João, em íntima associação com outras expressões de longo pedigree filosófico: panta (“todas as coisas”, isto é, o “universo”); kosmos (“mundo”); sarx (“carne”); en archêi (“no princípio”), etc.
Com esses argumentos, ele tenta mostrar que o escritor de "O evangelho segundo João" produz um texto que é voltado não apenas aos hebreus e descendentes, mas também aos gregos e outros estrangeiros com acesso e influência da cultura helenista, e, dentro dela, de elementos da filosofia grega. É como se esse evangelho fosse uma produção em sintonia com a proposta de Paulo de levar a mensagem cristã para os gentios, através de um texto que é capaz de levar o cristianismo mais próximo à cultura dos membros das comunidades fundadas em cidades gregas e romanas.
Para quem desejar ler o texto todo, que se preocupa com o conceito de lógos, segue a fonte:
TORRES, Milton R. A retórica joanina do Logos, Revista Caminhando v. 21, n. 2, p. 147-167 jul./dez. 2016.
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/Caminhando/article/viewFile/6992/5506
Figura 1: A Criação de Adão, de Michelângelo
O sentido da frase nos parece claro: Iahweh manda que o povo de Israel obedeça apenas a seus princípios e leis, não rendendo culto a outros deuses. Não poderia haver lugar na alma ou no coração dos Israelitas para outra divindade. Se necessário, Iahweh exige que os Israelitas defendam sua crença com toda a sua força. (ou poder, como foi traduzido na tradução de Ferreira de Almeida). Uma evidência deste sentido é a própria continuidade do texto do Deuteronômio que deixa explícito no versículo 14: "Não seguireis outros deuses, qualquer um dos deuses dos povos que estão ao vosso redor, pois Iahweh teu Deus é um Deus ciumento, que habita em teu meio."Figura 2: Moisés, de Michelângelo
Mateus não faz referência a "poder" ou "força" em seu evangelho. Ele adiciona a palavra "entendimento" (Tradução da Bíblia de Jerusalém) ou "pensamento" (Tradução de Ferreira de Almeida). No Evangelho de Marcos (12:30) e no de Lucas (10:27) se encontram as quatro expressões: coração, alma, entendimento e força.
Na narrativa de Marcos há outra evidência de que Jesus se referia à crença em um único Deus. O escriba, com quem Jesus conversava, afirma "Muito bem, Mestre, tens razão em dizer que ele é o único e não existe outro além dele, e amá-lo de todo o coração, de toda a inteligência e com toda a força (...) é mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios. Jesus vendo que ele respondera com inteligência, disse-lhe: "Tu não estás longe do Reino de Deus".
Nesta passagem o evangelista introduz a questão da interioridade da crença em Deus. Amar com coração, alma e entendimento é amar internamente a Deus; render-lhe sacrifícios e oferendas é fazer com que a sociedade saiba que se diz amá-lo ou temê-lo. Esta já é uma contribuição de Jesus à concepção de Deus de sua época. Há uma outra passagem em que ele diz que Deus não deve ser adorado em templos, mas "em espírito e verdade". Jesus sempre foi crítico dos que dizem amar a Deus exteriormente e que na intimidade desrespeitam seus princípios. Ele é crítico contumaz da hipocrisia de fariseus em diversas passagens dos evangelhos. Mais que uma crença exterior, social, amar a Deus com o coração, com a alma e com o entendimento é ser consistente com sua proposta de vida. Esta é uma das chaves para se compreender o que Jesus considera ser o Reino.
Figura 3: Tentação do Deserto de Gustave Doré
Quanto à tentação do deserto, em Mateus 4: 8-10, o diabo (adversário de Iahweh, outra divindade na concepção histórico filosófica, portanto) propõe que Jesus se lhe prostre e o adore, oferecendo-lhe para tanto todos os reinos do mundo. Jesus recorda-lhe uma outra passagem do Deuteronômio e o manda embora dizendo: "Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto". Fica óbvia a associação entre as passagens.