Esmeralda fala a Barbedo que reencarnaria com uma mesma mancha de pele que tinha na vida passada.
Continuamos escrevendo sobre detalhes do livro “A Tragédia
de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes e psicografado por Yvonne
Pereira.
Na página 262 da terceira edição (capítulo quarto da quarta
parte, com o título “E quando Deus permite!"), na trama da narrativa, o espírito
Esmeralda comunica a seu pai, Barbedo, que vai reencarnar. Ela pede que ele
examine o corpo físico da filha do casal de parentes em busca de um sinal de
nascença que ela apresentava em sua encarnação passada, para certificar-se de
que se tratava dela própria, reencarnada.
Os estudos sobre reencarnação são antigos, datam do início
do século 20, mas o pesquisador que conheço ter tratado de marcas de nascença
foi Ian Stevenson. Ele se popularizou no
meio espírita brasileiro no final dos anos 60 com a tradução do livro "20 casos
sugestivos de reencarnação" para o português. Ele publicou posteriormente um
livro sobre reencarnação e biologia, no qual trata de forma cuidadosa da
questão das marcas de nascença (birthmarks).
A pesquisa de Stevenson sobre memórias de vidas passadas em
crianças, geralmente iniciadas entre dois e quatro anos, era muito dependente
dos relatos feitos pelas famílias, às vezes muitos anos depois das primeiras
lembranças. As memórias não são uma fonte muito segura, por que é sabido que
esquecemos e nos enganamos sobre eventos acontecidos no passado, quanto mais
distantes estamos do ocorrido. Stevenson desejava outras evidências de vidas
passadas que pudessem ter sido registradas e verificadas de forma mais
confiável.
Em 1961, em sua primeira visita ao Sri Lanka, ele estudou o
caso de Wijeratne, que tinha um defeito de nascença severo associado a eventos
de vida passada. Depois ele encontrou, no Alasca, os casos de Charles Porter e
de Henry Elkin, que tinham marcas relacionadas a uma facada e um tiro ocorridos
em suas vidas passadas. Apesar dos relatos, Stevenson diz que levou vários anos
para perceber a importância dos registros, cujo insight o levou a colher muitos
relatos como esses em um único trabalho, com mais fôlego[1].
Nesse trabalho, Stevenson disserta sobre os casos estudados,
e fala dos diversos tipos de marcas, sinais ou defeitos de nascença. Embora
sejam muito divulgadas as marcas de nascença correspondentes a feridas e lesões
cirúrgicas em vidas passadas, no capítulo 8, Stevenson disserta sobre marcas de
nascença correspondentes a outros tipos de feridas ou marcas de pessoas mortas.
Ele conta o caso de Santosh Sukla, que se recordava de ter
sido Maya, na Índia. Os dois tinham listras vermelhas nos olhos, causados por
arteríolas muito dilatadas na esclera, e não eram parentes, além de serem os
únicos membros das respectivas famílias com essa característica física[2].
Stevenson fotografou Santosh aos 25 anos, ainda apresentando essa anormalidade.
Ele relata
também o caso de John Rose, do Alasca, que nasceu com uma mancha branca no
dorso da mão esquerda, lugar onde, na vida passada ele havia tatuado um lobo.
Stevenson
relata casos de “fendas” de nascença onde havia piercings, que depois cicatrizaram, e locais de aumento de
pigmentação, onde anteriormente havia pigmentação maior (pintas, onde haviam
manchas, pelo que entendi). (p. 66)
Como se
vê, o relato de Bezerra de Menezes parece antecipar a descoberta de Stevenson.
Não tenho conhecimento da literatura de sinais de nascença associados à reencarnação,
anteriores a esse pesquisador, o que daria uma bela pesquisa.
Mais uma
vez encontramos uma contribuição interessante na psicografia de Yvonne Pereira,
que normalmente passa despercebida ao
leitor da nossa época.
[1]
STEVENSON, Ian. Where reincarnation and biology intersect. USA, Praeger
Publishers, 1997. p. 2.
[2] STEVENSON,
Ian. Where reincarnation and biology intersect. USA, Praeger Publishers, 1997.
p. 63-64..