16.2.19

SAIU A CHAMADA DE TRABALHOS DO 15 ENLIHPE





15º ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO
Tema central: Kardec: 150 anos depois
24 e 25 de agosto de 2019
Fortaleza-CE

CHAMADA DE TRABALHOS

Apresentação
O Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (ENLIHPE) é um espaço privilegiado no contexto brasileiro para apresentação e discussão de propostas e trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita. O sucesso alcançado nos anos anteriores tem atraído pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de seus estudos.
Um dos diferenciais do ENLIHPE é o seu formato, o qual incentiva a formação de redes de pesquisa e promove a aproximação de estudiosos de diferentes áreas do conhecimento.

Instruções aos autores

A data final para submissão de trabalhos é 30 de abril de 2019. A confirmação do recebimento e o parecer da Comissão Científica sobre o artigo serão enviados eletronicamente ao email do remetente.
A avaliação será feita utilizando-se o sistema Double Blind Review, no qual o trabalho é avaliado anonimamente por 2 por membros da Comissão Científica do encontro.
Os trabalhos podem ser submetidos em qualquer área do conhecimento, desde que relacionado à temática espírita, em forma de artigo científico, conforme procedimentos definidos a seguir:

Artigo científico
•O artigo deverá ser gravado em 2 arquivos:
ARQUIVO 1 – contendo o nome do(s) autor(es), o título do trabalho e o resumo;
ARQUIVO 2 – contendo o título e o texto integral do artigo sem qualquer identificação de autoria.

Submissões de trabalhos
Envie os arquivos para 15ENLIHPE@gmail.com

Formato do Trabalho:
Editor de textos: Word for Windows 6.0 ou Posterior
Número máximo de páginas: 15 (quinze)
Configuração das páginas
Margens: superior 3cm; inferior 2 cm; esquerda 3cm; direita 2 cm.
Tamanho do papel: A4 (largura 21 cm; altura 29,7 cm)
Fonte: Times New Roman, tamanho 12
Formato do parágrafo: Recuo especial: primeira linha 1,25 cm
Espaçamento entre linhas: simples.
Figuras, tabelas e gráficos: Fonte Times New Roman, tamanho 8 a 12
Resumo: Mínimo de 1150 caracteres (aproximadamente 10 linhas), máximo de 1750 caracteres (aproximadamente 15 linhas)
Revisão ortográfica a cargo dos autores

Informações adicionais: Acesse www.lihpe.net ou envie uma mensagem para contato@lihpe.net

Local do evento: Federação Espírita do Estado do Ceará – FEEC. Rua Princesa Isabel, 255 – Centro -  Fortaleza/CE

14.2.19

DARWIN, DEÍSTA; KARDEC, CRISTÃO-ESPÍRITA





Allan Kardec tem um texto publicado em Obras Póstumas que sempre me intrigou, denominado “As cinco alternativas da humanidade”. Confesso que nunca entendi direito os deístas e porque Kardec denominou “doutrina dogmática” à dos católicos e protestantes, sem menção ao cristianismo.

Ele coloca em uma posição diversa o espiritismo, confrontando-o com as demais doutrinas, nos aspectos que selecionou delas.

Já levantamos em outra publicação do Espiritismo Comentado, a questão do panteísmo e de sua relação com o pensamento de Baruch Spinoza.

Hoje eu estou lendo o livro “Dispelling the Darkness: Voyage in the Malay Archipelago and the Discovery of evolution by Wallace and Darwin”, de John Van Wyhe, que trata do tema de forma interessante.

Ele diz que Darwin também “pensava muito sobre religião” e que foi durante a pesquisa e teorização intensa que ele fez à bordo do Beagle que ele passou a desacreditar “na cristandade e divina revelação. Não havia simplesmente nenhuma evidência. Ele desceu um nível e se tornou um deísta. Ele ainda acreditava em um criador sobrenatural que estabeleceu as leis da natureza em primeiro lugar, mas tanto quanto Darwin pensava, a natureza trabalhava de acordo com as leis naturais.”

Os deístas entendem, em geral, que se pode estudar a divindade a partir do conhecimento da natureza, e não da teologia cristã. No caso de Darwin, ele fez uma ruptura com o pensamento cristão, após começar a perceber que existia a evolução das espécies a partir da seleção natural, que induziu, assim como Wallace, da leitura de Thomas Malthus, curiosamente.

Da mesma forma que Darwin, em sua autobiografia, Flammarion rompe com o cristianismo ainda na adolescência, após estudar os avanços da ciência e os erros da Bíblia no que concerne à idade do mundo, formação da humanidade e outros temas que emergiram nas ciência no final do século XVIII e início do século XIX.

Nesse ponto, há alguma relação entre Darwin e Kardec, porque Kardec entendia as leis naturais como criadas por Deus, e por isso as chamava de “Lei Divina ou Natural”, mas Kardec propõe leis que vão além de Darwin, e aceita um providencialismo que não é divino, mas espiritual.

Outra diferença entre o deísta Darwin e o espírita Allan Kardec, é que este se entendia como cristão espírita, ou seja, ele não abriu mão do cristianismo como base ética, nem do estudo histórico do cristianismo, nem da possibilidade de explicar passagens da vida de Jesus e dos apóstolos consideradas milagres com a nova perspectiva obtida a partir dos estudos dos fenômenos espirituais.

Na classificação de Kardec, Darwin seria um deísta independente, e não providencialista.

Considerando a classificação de Kardec de espírita-cristão, o espiritismo teria uma dimensão religiosa, como entendia Flammarion em seu livro "As Forças Naturais Desconhecidas".

11.2.19

A ESCRITURA INTERPRETA A ESCRITURA?




Estou lendo a dissertação de mestrado “Orígenes ensinou a reencarnação? Uma resposta às teorias neo-gnósticas da reencarnação cristã com referência particular a Orígenes e ao segundo concílio de Constantinopla (553)”, escrita por Dan Schlesinger. Ela foi defendida no Departamento de Teologia e Estudos Religiosos da Universidade de Glasgow, na Escócia, em 2016.

Trata-se de um belo texto, bem fundamentado de um estudioso da área, simpático ao pensamento ortodoxo cristão que entende que não se deve entender que haja reencarnação no Novo Testamento.

Há muito que comentar e discutir na argumentação do mestre Schlesinger, se puder, vou pinçar alguns argumentos polêmicos e comentá-los no Espiritismo Comentado.

Um ponto interessante que ele apresenta é o que ele denomina como princípio básico de hermenêutica (interpretação dos textos bíblicos) aceita pelos teólogos cristãos em geral: “a escritura interpreta a escritura”. Isso significa que, como bem explica o autor, “onde as passagens são isoladas, obscuras ou aparentemente contraditórias”, interpreta-se levando em conta outras passagens e regras de interpretação bíblica que se referem ao texto. Ele diz que os neo-gnósticos (ele chama de neo-gnósticos os autores do movimento new age, e não dá mostras de conhecer o espiritismo) fazem eisegese (interpretar um texto dando ideias do próprio leitor) e não exegese (interpretação minuciosa do texto).

Em outras palavras, ele diz que os membros do movimento new age fazem uma interpretação forçada dos evangelhos para acomodar suas próprias crenças, e, portanto, defende que a teologia tradicional não faz isso, possivelmente por causa da coerência interna das interpretações com os textos das escrituras e possivelmente com a tradição cristã, que supõe remontar à interpretação dos apóstolos e dos primeiros cristãos.

Olhando com algum afastamento, acho essa argumentação bem falaciosa, em função de alguns argumentos que passo a apresentar.

O primeiro é que o conjunto de livros que compõem o Novo Testamento foram objeto de escolha no final do século IV e início do século V, por Jerônimo (considerado santo), a pedido do papa Dâmaso I, e logo a seguir traduzidos para o latim, compondo a Vulgata. Ele consultou outros cânones existentes, mas teria comentado, segundo Léon Denis, que ele estava ciente que sua escolha não seria aceita pelas diversas comunidades cristãs ao redor do mundo na época.

O argumento que se emprega em defesa do trabalho de Jerônimo, é que ele escolheu apenas os textos que eram coerentes entre si, que não eram contraditórios.

Então, a regra da hermenêutica incorre na chamada “petição de princípio”, que é uma falácia, citada pelo próprio autor contra os “neo-gnósticos” e contra nós, porque uma pessoa escolheu os textos da escritura, mas só se pode interpretar as passagens obscuras usando-se os textos que ele escolheu. Em outras palavras, a compreensão de Jerônimo e de sua tradição se torna, na verdade, um critério para a interpretação dos evangelhos. Temos, então uma regra que impõe uma hermenêutica dos vitoriosos da história, já que havia um número enorme de textos (como o Pastor de Hermas que foi usado por muito tempo pelos cristãos primeiros e depois retirado do cânone) e de interpretações (as mais “populares e discordantes” foram consideradas heresias).

Repetindo, é um erro lógico também chamado de circularidade. Eu só posso interpretar usando os textos que alguém escolheu como certos porque são considerados coerentes entre si, com critérios que Jerônimo considerou.

Esse é um ponto importante, porque permite a consideração e análise de outros textos produzidos nos primeiros séculos, como fontes para a compreensão do que os primeiros cristãos pensavam, para fins do entendimento possível do que Jesus deve ter ensinado aos apóstolos. É uma abordagem hermenêutica que inclui estudos históricos e a necessidade de compreensão de como os grupos cristãos foram se formando, e não apenas assume como heresias o que a ortodoxia vitoriosa assim o considera.

Por essa razão, é sensata a recomendação de Allan Kardec que conheçamos a época e os costumes para entender o texto bíblico e a provocação de Hermínio Miranda quando coloca no título de seu livro sobre o cristianismo a expressão “heresia católica”. 

8.2.19

COMO O ESPIRITISMO VÊ A QUESTÃO DA CATÁSTROFE DE BRUMADINHO?





Após a tragédia de Brumadinho, muitos espíritas têm se preocupado em argumentar sobre a questão da justiça divina do sofrimento coletivo. Há em Allan Kardec, contudo, outra questão importante que ele trata na Lei de Destruição (O Livro dos Espíritos), quando pergunta aos Espíritos sobre os flagelos (no sentido de catástrofe, dano coletivos): o progresso dos homens, em especial o progresso da sociedade. 

Por progresso, nesse caso, não entendemos um crescimento a partir de um sofrimento depurador, mas uma mudança de mentalidade, conhecimentos e ações coletivas para evitar no futuro novas catástrofes.

Na questão 741, Allan Kardec pergunta se é possível  ao homem afastar os flagelos e os Espíritos respondem que muitos deles “resultam da imprevidência do homem”. É o que nos parece ter acontecido nos casos de Mariana e Brumadinho-MG. Duas semanas após o rompimento da barragem de rejeitos que gerou a desencarnação violenta de muitas dezenas de pessoas na cidade próxima à capital mineira, os meios de comunicação têm dado voz a especialistas que apontam formas alternativas de lidar com os rejeitos, tecnologias de prevenção da ruptura das barragens, problemas da legislação referente à fiscalização do estado das barragens de contenção, entre outras questões. 

A ruptura da barragem de Mariana foi uma catástrofe que, se tivéssemos, como sociedade e órgãos de Estado, levado à sério, teria o papel de promover avanços capazes de evitar ou minimizar em muito os danos da ruptura da barragem 1, de Brumadinho. Uma questão que não sofreu avanços e tem sido questionada é o próprio sistema de fiscalização das barragens no qual o fiscal é ao mesmo tempo prestador de serviços diretamente contratado pela empresa mineradora, e que poderia ter sido solucionado com uma mera alteração legal.

Os Espíritos dizem a Kardec: “À medida em que adquire conhecimentos e experiência, ele pode afastar, isto é prevenir, se souber pesquisar suas causas.”
Kardec ainda comenta: “... Entretanto, não tem o homem encontrado na Ciência, nas obras de engenharia, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, meios de neutralizar, ou pelo menos de atenuar, tantos desastres? Certas regiões, outrora assoladas por tantos flagelos, não estão hoje livres deles?”

Esperamos que o segundo e mais grave episódio de ruptura de barragens faça acordar a população brasileira, e, em especial, a nós espíritas, para realizarmos o que é necessário: acompanhar as mudanças que evitarão ou pelo menos atenuarão novos incidentes capazes de ceifar vidas, destruir comunidades e deixar consequências no meio ambiente que talvez afetem a um grande número de seres vivos por um grande período de tempo.