O termo parapsicologia foi criado por Max Dessoir, um
filósofo e psicólogo alemão, mas seu emprego sistemático como um conceito para
agrupar um conjunto de fenômenos e designar uma nova ciência parece ter sido
difundido a partir dos trabalhos de Joseph Banks Rhine, pesquisador
norte-americano.
Rhine ficou conhecido por seus estudos com telepatia,
clarividência, precognição e psicocinese, mas ao ler o livro “Extra-Sensory
Perception”, originalmente publicado em 1964, encontrei um traçado do campo da
parapsicologia, feito por ele, que compreende os fenômenos espirituais. Isto
não significa que ele tenha aceitado as teorias espíritas, mas que insere a
fenomenologia que usou Kardec para desenvolvê-las no campo da parapsicologia.
No livro ESP, Jopseph Banks Rhine, pai da parapsicologia
moderna, escreve um capítulo para “clarificar o problema”, no qual delimita o
campo da pesquisa psíquica e no qual pretende dividir de uma forma mais
detalhada que a então conhecida divisão em fenômenos físicos e mentais.
Ele defende o uso do termo parapsicologia para o campo como
um todo, que ele considera ser mais apropriado que “pesquisa psíquica” ou outros,
porque a palavra situa os fenômenos ao lado do campo da psicologia, e não fora
dele. Dessoir tem um segundo objetivo com o termo: situar os fenômenos entre os
chamados normais e os patológicos (são incomuns, mas não se referem a doenças
ou transtornos mentais) Como os fenômenos vão além da fronteira com a
Psicologia, Rhine os dividiu segundo a tabela abaixo:
Fenômenos Parapsicológicos
A) Parapsíquicos: Telepatia e clarividência
(experimentais e espontâneas), “dowsing” (procura
de água ou minerais abaixo do solo, através de uma varinha, rabdomancia),
sonhos ou alucinações preditivos e premonitórios, psicometria, comunicações
espirituais “verídicas”.
B) Parapsicofísicos:
Telecinese, levitação, “luzes psíquicas”, mudanças de temperatura, “apports” (mediunidade de transporte),
etc.
C) Parapsicofisiológicos: Materializações, extrusões,
“elongations” (alongamentos), estigmatização, mudanças extremas da temperatura
do corpo.
D) Parapsicopatológicos: “Patologia da possessão”, “cura
psíquica” de doenças orgânicas, além do efeito da sugestão.
E) Parapsicoliterários
(e outros parapsicoartísticos): Escrita criativa ou outra arte claramente
impossível como resultado de treinamento natural, por exemplo, Patience Worth
como foi relatada. (Esta classe pode ser adequadamente considerada como um sub-item
de A).
Como se vê, embora suas pesquisas tenham se focalizado nos
itens A e B principalmente, ele tinha uma visão bem mais ampla da fenomenologia
parapsicológica, e, portanto, do seu campo de estudos.
Ao contrário do que dizem alguns, ele considera a existência
das teorias que tratam de Espíritos, como se pode ler na página 8 do livro. Ele
afirma que as ocorrências relatadas podem “ser supostamente devidas a agências
(agentes) incorpóreos, chamados “controles”, “espíritos”, etc. ou supostamente
produzidos por certos agentes corporais (quer dizer, vivos) que são
especialmente sensitivos e capazes de desempenhos pouco usuais”.
Então ele desenvolve outra forma de classificar os
fenômenos, na qual:
A) Um
agente corpóreo influencia outro. (por exemplo: telepatia)
B) Um agente corpóreo pode ser apenas pessoalmente
afetado (por exemplo: clarividência)
C) O
agente incorpóreo (uma personalidade desencarnada que sobreviveu à morte) pode
influenciar um corpóreo. (por exemplo: “experiências mediúnicas”)
D) O agente incorpóreo pode produzir fenômenos sem
a ajuda de um agente corpóreo com capacidades paranormais (por exemplo:
assombrações)
Nesta última categoria, a explicação de Rhine colide com o
entendimento de Allan Kardec, que explica que, mesmo nos casos de casas assombradas
e nos fenômenos de efeitos físicos em geral, há sempre a atuação de um médium.
Mais uma vez, em meus estudos, vejo como é importante ler os
autores originais, em lugar de seus divulgadores, comentaristas ou autores de “segunda-mão”.
Fonte: RHINE,
Joseph Banks, Extra-sensory perception. 4th edition. Boston – USA, Branden
Publishing Company, 1997. Capítulo 1: Clarification of the problem