Há alguns anos uma mãe zelosa, preocupada com o filho e
desejando que ele fosse atendido em um centro espírita, nos ligou. Havia ouvido
falar no atendimento fraterno e explicou rapidamente o problema, expondo o
interesse do rapaz em em procurar nossa instituição. Depois de tudo
esclarecido, horários, procedimentos, não-promessa de curas, entre outros
assuntos, ela me perguntou:
- E em quanto vai ficar? (referindo-se a dinheiro).
Fiquei surpreso, mas respondi:
- Em nada. Não se cobra por atendimentos em centros
espíritas.
Ela insistiu:
- Ah, sim, mas você entende, né. Nos dias em que vivemos...
Eu também insisti:
- Minha senhora, se você for a um centro espírita que cobre
por algum tratamento, passe, atendimento ou mediunidade, afaste-se dele.
Sempre entendi a gratuidade com as coisas espirituais como
um pilar importante da ética espírita. Com certeza, as casas espíritas precisam
de recursos financeiros para cobrir seus custos, mas eles são obtidos com
eventos, contribuições dos sócios, venda de livros, lanchonete, parcerias com o
poder público ou iniciativa privada, entre outros. Sempre me lembro de uma frase do evangelho, curiosa que diz: -"Onde houver o cadáver, aí se aproximarão as harpias".
Por estes dias recebi outro telefonema de uma amiga querida,
que não é espírita mas sabe que sou espírita e tem alguma confiança nas minhas
opiniões sobre o assunto.
- Uma amiga minha está pretendendo casar-se, e é espírita. Disse.
- Ela olhou com uma pessoa para fazer o culto na hora do casamento, mas achou
que ele está cobrando muito caro. Você teria alguém para indicar?
- Alice (nome fantasia), o espiritismo não tem rituais. Nós, espíritas, nos
casamos no civil, apenas, sem qualquer cerimônia. O máximo que acontece é, no
momento da reunião da família e dos convidados, alguém ligado aos noivos fazer
uma prece, vinda do coração. Mas não há sacerdotes no espiritismo, e,
definitivamente, não se cobra para fazer uma prece.
Ela riu, e perguntou ainda:
- Mesmo?
Eu insisti:
- Confesso que estou horrorizado em saber que alguém possa
pedir dinheiro para fazer uma celebração em nome do espiritismo.
Ela gargalhou e entendeu.
Fiquei sem saber se a amiga de Alice era vinculada a algum culto afro
e apenas confundia-se os nomes umbanda ou candomblé com espiritismo, afinal, são
coisas diferentes e, portanto, com práticas, ética e costumes diferentes, mas
fiquei pensando se realmente não haveria espíritas (kardecistas, como alguns gostam
de dizer) realizando casamentos e cobrando por eles.