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28.1.09

Poema de Damasceno Sobral

Foto 1: Sobral. Cortesia de Marco Antônio.

... E os Tempos Chegarão

Mais cedo ou mais tarde
no íntimo dos povos que se esclareceram despercebidamente ao contato da vida cotidiana
brotará o desejo de algo profundo, infinito e eterno.
O superficial carecerá de sentido
e as ciências exatas os impelirão para os domínios da metafísica,
experimentando a volúpia do inexplicável
que com o decorrer dos tempos será explicado
e natural até.
Enfim se definirá o mundo da razão e do equilíbrio
emancipado da perplexidade da matéria.

18.7.08

José Damasceno Sobral, Poeta.

Figura 1: O fantasma. Gravura japonesa de Kunisada.


PROPÓSITO



Cousa alguma nos fará silenciar
essas verdades consoladoras,
quando o mundo,
mais necessitado do que nunca,
se debate nas garras da incompreensão.



Elas serão mal recebidas por muitos,
ridicularizadas por outros,
todavia
sempre encontrarão eco no coração de alguém.


Ainda que elas se elevem
como um brado sem repercussão,
restar-nos-á o consolo
de havermos contribuído com o pouco
ao nosso alcance
para despertar a humanidade
do pesadelo de suas ilusões.



Livro: Almas Libertas
Autor: José Damasceno Sobral
Divinópolis, 1949

20.5.08

Sugestões do Mundo



... e o mundo não nos hipnotizará!

Em vão nos abrirá as portas de seus cabarés

onde mulheres quase nuas

vivem as aberrações do sexo:

nelas apenas reconheceremos

nossas irmãs em provações

e, talvez, mais infelizes do que nós.

Inutilmente nos porá em contato

com a atmosfera contaminada de suas salas de jogo,

onde há fichas,

e o pano verde ... verde de esperança

e a possibilidade de loucura e suicídio:

recordaremos que

"a cada um será dado segundo as suas obras"

- E o que mereceremos vivendo assim?

Então nos falará de tesouros ocultos,

que durante séculos e séculos permanecem escondidos,

pintando-lhes com cores sugestivas o valor

e a história;

e responderemos:

- os tesouros passam,

só não passam o mérito do bem

e a infalível reparação do mal.

... e o mundo não nos hipnotizará!

Não nos hipnotizará porque teremos

um "não" para as coisas perecíveis

e um sim para as coisas eternas.

José Damasceno Sobral

Do Livro "Almas Eternas" - 1949

9.4.08

Outro Poema de Damasceno Sobral



REVELAÇÃO

A harmonia impecável

e a suavidade quase divina de certas músicas

nos descortinam um mundo

onde a voz é murmúrio;

o desejo, ideal

e a expressão, poesia.

Um mundo homogêneo

cuja realidade parece ficção,

e ficção não é.

Esse mundo tão discretamente revelado

constitui o verdadeiro mundo,

o mundo essencial,

onde aportaremos um dia,

quando instruídos e modificados

à custa dos males aparentes de existências inúmeras.

Extraído de SOBRAL, J. Damasceno. Almas Libertas (Poemas). Divinópolis-MG, 1949.

9.3.08

Exortação de Damasceno Sobral







Exortação










Oremos pelos que sofrem
física, moral e espiritualmente falando.
Oremos pelas prostitutas
que a sociedade desigualou e repeliu
Oremos por nós próprios
afim de esquecermos o passado
e nos resignarmos no presente.
Oremos pelos felizes,
pelos felizes, principalmente,
para que se lembrem de Deus...


Extraído de "Almas Libertas", escrito por José Damasceno Sobral, Divinópolis, 1949.

13.1.08

O Livro Perdido de Damasceno Sobral

José Damasceno Sobral foi um dos expositores incansáveis do Grupo Emmanuel, que viajou pelo interior de Minas Gerais divulgando a doutrina até que o Mal de Parkinson limitasse seus trabalhos a um grupo familiar. Muito disciplinado e querido pelo movimento espírita mineiro, foi considerado um dos pioneiros do Espiritismo na terra das alterosas. Quem quiser conhecer mais de sua biografia, pode acessar o link http://www.uemmg.org.br/list.noticia.php/origem/1/noticia/151/titulo/Jose_Damasceno_Sobral

Eu o conheci nas viagens de divulgação da doutrina que fazia com papai (José Mário) e a amizade entre as famílias se perpetuou embora nos víssemos entre longos intervalos de tempo.Do seu grupo mediúnico, minha família recebeu as mensagens de papai cuja linguagem e análise de conteúdo mais revelam sua identidade pregressa.






Há anos guardo comigo um exemplar de seu livro de poesias, surpreendentemente desconhecido pela grande maioria do movimento espírita mineiro, dada a sua discrição. São versos livres, espirituais e psicológicos, no qual se revela sua sensibilidade e seus vôos espirituais a partir dos princípios espíritas.

Não são versos pobres ou ingênuos. A concepção do livro é moderna e o leitor tem sua atenção capturada pelas letras e imagens do poeta cristão-espírita. Os poemas, via de regra, iniciam-se no pé da primeira página e concluem-se no início do verso.

Os temas são diversos, mas a fonte de inspiração mais recorrente é a morte, ou melhor, a libertação do espírito após a morte e o conflito do homem que se divide entre a certeza da imortalidade e o sofrimento da perda. Sobral surpreende novamente quando trata de princípios e idéias doutrinárias com brevidade e consistência, sem perder a sensibilidade poética.

Algumas imagens são fortes, revelam sua personalidade ao mesmo tempo doce e determinada.

O livro foi prefaciado por César Burnier que lhe destaca o ponto de convergência entre a poesia e a filosofia e o papel demiúrgico da poesia e do poeta no mundo.

É muito difícil escolher um dos poemas para o leitor. Gostaria de deixar diversos deles (na verdade, eu gostaria mesmo é que o livro fosse reeditado, mas sei que a cada dia que passa a poesia tem menos lugar nas sociedades espíritas e o "mercado editorial" espírita decretou a morte comercial deste gênero literário), então deixo-lhe uma poesia sobre a poesia.

Eternidade da Poesia

A poesia não morre.

A poesia é o idioma das almas,

a tradução dos sentimentos

que ainda poucos homens entenderam.

Evoluindo,

ela se transforma

de trivial em filosófica,

de filosófica em transcendental.

A poesia não morre.

O homem,

na embriaguez da matéria,

é que morreu para a poesia.