Alguns autores têm atribuído a Léon Denis a seguinte frase: “O espiritismo será científico ou não subsistirá”. Esta frase se encontra no prefácio de 1911 do livro “No Invisível”.
Como havíamos publicado em Reformador, uma frase deve ser entendida em seu contexto. No prefácio, Léon Denis estava tratando da mistificação de médiuns. Cinco anos antes ele havia lidado com o Caso Miller, um francês que morava nos Estados Unidos e estava na França fazendo demonstrações pagas de materialização. Denis assistia suas demonstrações e começou a suspeitar de fraude, o que conseguiu demonstrar, e expôs o médium em revista da sua época. Miller ludibriava os espíritas franceses.
Na nova edição de “No Invisível”, um livro no qual Denis trata de mediunidade, na introdução de 1911 ele estava tratando do caráter do espiritismo. Após citar autores que elogiavam o caráter religioso e moral do espiritismo, inclusive Flournoy, que vê o espiritismo como uma opção entre o catolicismo-protestantismo e o ateísmo.
Denis, então, sugere um equilíbrio por parte dos espiritas entre a experimentação (ciência) e o ensino (filosofia e religião), na página 23. Ele mesmo se confessa atraído pelo ensino espírita e ter obtido base experimental após 15 anos de experimentação.
Ele distingue alguns pesquisadores de sua época e os cuidados que tomavam com a fraude. Cuidados que muitos espíritas e experimentadores sem perseverança, geralmente não adotavam. Então ele trata da fraude, no caso de um médium que ele não identifica ao leitor, na qual ele identificou fenômenos autênticos e simulações, e declarou a um juiz da “corte de apelação”.
E a frase surge como um dito de efeito à argumentação. Ele diz:
“Os espíritas são homens de convicção e fé. Mas se a fé esclarecida nos atrai, nos planos espiritual e material, nobres e elevadas almas, a credulidade, no plano terrestre, atrai os charlatões, os exploradores de toda espécie, a chusma dos cavaleiros de indústria que só nos procuram ludibriar. Aí está o perigo para o espiritismo. Cumpre-nos, a todos os que em nosso coração zelamos a verdade e nobreza dessa coisa, conjurá-lo. De sobra se tem repetido: o espiritismo será científico ou não subsistirá. Ao que acrescentaremos: o espiritismo, deve ser antes de tudo, honesto!”. (Denis, p. 2-22)
O que está em questão não é a redução do espiritismo à ciência, que o espiritismo seja exclusivamente uma ciência, mas que os médiuns que compõem o meio espírita, sejam honestos, sem o que se exigirá um rigor incomum para a pesquisa dos fenômenos mediúnicos, e se confundirão as ideias dos médiuns às ideias dos espíritos e os fenômenos de efeitos físicos às fraudes. Essa era a preocupação do autor.
Não é correto, portanto, atribuir à Léon Denis a frase isolada: “o espiritismo será científico ou não subsistirá”. Era uma frase falada à época por um segmento de espíritas e de estudiosos que cobravam estudos experimentais (como no IV Congresso Europeu de Psicologia) dos espíritas e inclusive de Denis e Delanne.