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5.10.23

"O ESPIRITISMO SERÁ CIENTÍFICO OU NÃO SUBSISTIRÁ" É UMA AFIRMAÇÃO DE LÉON DENIS?




Alguns autores têm atribuído a Léon Denis a seguinte frase: “O espiritismo será científico ou não subsistirá”. Esta frase se encontra no prefácio de 1911 do livro “No Invisível”. 

Como havíamos publicado em Reformador, uma frase deve ser entendida em seu contexto. No prefácio, Léon Denis estava tratando da mistificação de médiuns. Cinco anos antes ele havia lidado com o Caso Miller, um francês que morava nos Estados Unidos e estava na França fazendo demonstrações pagas de materialização. Denis assistia suas demonstrações e começou a suspeitar de fraude, o que conseguiu demonstrar, e expôs o médium em revista da sua época. Miller ludibriava os espíritas franceses.

Na nova edição de “No Invisível”, um livro no qual Denis trata de mediunidade, na introdução de 1911 ele estava tratando do caráter do espiritismo. Após citar autores que elogiavam o caráter religioso e moral do espiritismo, inclusive Flournoy, que vê o espiritismo como uma opção entre o catolicismo-protestantismo e o ateísmo. 

Denis, então, sugere um equilíbrio por parte dos espiritas entre a experimentação (ciência) e o ensino (filosofia e religião), na página 23. Ele mesmo se confessa atraído pelo ensino espírita e ter obtido base experimental após 15 anos de experimentação.

Ele distingue alguns pesquisadores de sua época e os cuidados que tomavam com a fraude. Cuidados que muitos espíritas e experimentadores sem perseverança, geralmente não adotavam. Então ele trata da fraude, no caso de um médium que ele não identifica ao leitor, na qual ele identificou fenômenos autênticos e simulações, e declarou a um juiz da “corte de apelação”.

E a frase surge como um dito de efeito à argumentação. Ele diz: 

“Os espíritas são homens de convicção e fé. Mas se a fé esclarecida nos atrai, nos planos espiritual e material, nobres e elevadas almas, a credulidade, no plano terrestre, atrai os charlatões, os exploradores de toda espécie, a chusma dos cavaleiros de indústria que só nos procuram ludibriar. Aí está o perigo para o espiritismo. Cumpre-nos, a todos os que em nosso coração zelamos a verdade e nobreza dessa coisa, conjurá-lo. De sobra se tem repetido: o espiritismo será científico ou não subsistirá. Ao que acrescentaremos: o espiritismo, deve ser antes de tudo, honesto!”. (Denis, p. 2-22)

O que está em questão não é a redução do espiritismo à ciência, que o espiritismo seja exclusivamente uma ciência, mas que os médiuns que compõem o meio espírita, sejam honestos, sem o que se exigirá um rigor incomum para a pesquisa dos fenômenos mediúnicos, e se confundirão as ideias dos médiuns às ideias dos espíritos e os fenômenos de efeitos físicos às fraudes. Essa era a preocupação do autor. 

Não é correto, portanto, atribuir à Léon Denis a frase isolada: “o espiritismo será científico ou não subsistirá”. Era uma frase falada à época por um segmento de espíritas e de estudiosos que cobravam estudos experimentais (como no IV Congresso Europeu de Psicologia) dos espíritas e inclusive de Denis e Delanne.


5.11.08

Espiritismo Científico

Figura 1: Capa do livro de Rivas
Luis Hu Rivas, espírita peruano, consultor da FEB e do CEI, publicou o livro "Doutrina Espírita para Principiantes". A concepção da obra é digna de elogios. Um livro escrito com uma linguagem acessível a todos, amplamente ilustrado, que aborda princípios e postulados espíritas, com o objetivo de dar uma visão geral da doutrina dos espíritos para quem quer que se interesse.

Alguns pontos, contudo, são polêmicos e há alguns equívocos que merecem ser comentados, não para diminuir o valor da obra, mas em respeito ao caráter filosófico do Espiritismo, que tem a crítica de idéias como instrumento valioso na construção do seu conhecimento.

Figura 2: Capa antiga de "No Invisível"

Na página 31 da edição brasileira, Rivas atribui a Léon Denis a frase: "O Espiritismo será científico ou não sobreviverá". De fato, Denis escreveu esta frase, possivelmente uma interpretação retórica das idéias de Flammarion, que nas comemorações da desencarnação de Kardec dizia: "O Espiritismo é uma ciência da qual só se conhece o ABC."
Denis, contudo, escreveu a frase para criticá-la. No mesmo capítulo ele publica:


"É com desgosto que observamos a tendência de certos adeptos no sentido de menosprezar a feição elevada do Espiritismo (...) para restringir ao campo da experimentação terra-a-terra, a investigação exclusiva do fenômeno físico". (página 10)


Os adeptos do Espiritismo francês discutiam se o trabalho de Kardec deveria ser abandonado ou posto em suspensão de juízo para que os fenônomenos fossem livremente estudados e as teorias construídas com base na observação de fatos, e não com o diálogo com os espíritos e o emprego do método da universalidade e concordância dos ensinos.


O discípulo de Kardec escreveu "No Invisível" para defender a prática da mediunidade como a conhecemos e o diálogo com os espíritos como método válido para a construção do conhecimento espírita. Ele se opunha ao renascimento dos que Kardec denominou "espíritas experimentadores", os que só se interessavam pelos fenômenos, sem considerarem a filosofia espírita e suas conseqüências morais e religiosas.


Lendo o trecho completo de Denis ver-se-á que ele quis criticar o experimentalismo e defender a prática mediúnica dialógica:

"De sobra se tem repetido: o Espiritismo será científico, ou não subsistirá. Ao que acrescentaremos: o Espiritismo deve, antes de tudo, ser honesto!” (Léon Denis, No Invisível, página 21)