Imagem da Capa do Livro
Na minha juventude tive um contato muito intenso com o autor Malba Tahan. O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais tinha uma ou duas coleções completas de obras do autor, incluindo um livro pedagógico, e eu já o apreciava desde a infância, quando ganhei o então best seller “O Homem que Calculava”.
Os livros de Malba Taham eram repletos de histórias e expressões da cultura árabe, que encantavam pela sua simplicidade e pelo enredo sempre engenhoso. Eu me sentia transportado ao mundo de As Mil e Uma Noites, diante de uma cultura completamente diferente da nossa, exótica e atraente. Estávamos em uma época na qual não havia polarizações políticas nem preconceitos tão exacerbados pela imprensa contra os muçulmanos. Malba criava uma admiração pela sabedoria antiga deste povo e um desejo de conhecer mais, de voltar no tempo para viver no meio de um mundo de desertos, camelos, oásis, suras e matemática.
Há alguns anos (2001) a editora Lachâtre publicou um livro de um médium pouco conhecido, Wallace F. Neves, que teve seu primeiro contato com a inspiração do espírito na Casa Espírita Cristã de Vila Velha-ES. Conheço há décadas o editor e a editora e sei que ele é bastante comedido na publicação de obras mediúnicas, o que me causou um “interesse intrigado”.
Há alguns dias resolvemos trazer o livro ao nosso momento de leitura e comentários cristão-espíritas em nosso lar. Abrimos o livro meio ao acaso e começamos a leitura do texto “O Sheik Infeliz”. Minha filha de 9 anos foi lendo, tropeçando nas palavras e perguntando sobre as expressões árabes e ao final do capítulo percebemos que era o início de uma história maior. Tentamos imaginar como a história terminaria e fiquei encarregado de ler e sintetizar todos os demais capítulos de “O Homem do Turbante Azul”.
Iallah! Escreveria Malba Tahan... Encontrei personagens, situações e até mesmo uma história cuja estrutura e linguagem remonta à célebre “Os 35 camelos”.
Penso que este livro agradaria a Allan Kardec, que sempre procurou elementos comuns entre o pensamento cristão e o pensamento islâmico. O Espiritismo Cristão tempera as letras do falecido Prof. Júlio César de Melo e Souza, é uma espécie de sombra que acompanha seu imaginário de encarnado.
Fiquei imensamente surpreso quando, na semana seguinte, minha filha conseguira guardar detalhes do capítulo que leu, apesar das dificuldades da linguagem, quando minha esposa e eu ficávamos à busca dos episódios já semi esquecidos. Parece que a pedagogia da infância, tão marcante na herança intelectual de Malba, continuava “marcando pontos” do mundo dos espíritos.
Narrei a história e minhas duas filhas se interessaram, tentaram adivinhar o curso da narrativa e ao mesmo tempo que anteciparam, surpreenderam-se com o fecho, que foge da lógica Agostiniana e Luterana que marcou nossa cultura.
Fiquei muito gratificado e recomendo sem hesitação a leitura e a divulgação deste livro. Uma sugestão que deixo aos leitores e que não deve deixar de ser ouvida é que comecem a leitura pela segunda parte do livro, exatamente a saga de Assur-bem-Naif, “O Homem do Turbante Azul”, deixando “O Contador de Histórias” para o final.
Uassalã!
O Contador de Histórias
190 páginas
Lachâtre
2001
18 x 21 cm