Conferência do Dr. Alexander
Há décadas que “espiritualidade” tornou-se objeto de estudo e intervenção na área de saúde e nas disciplinas que a compõem. Medicina, enfermagem, odontologia, psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, todas elas entendem que a espiritualidade, antes considerada uma ilusão pelo credo positivista, muito influente nas ciências, não é apenas vilã da saúde e reduto de explicações erradas e fantasiosas sobre o adoecer, mas também pode ser um espaço de tratamentos complementares e ter um papel importante no processo saúde-doença e na busca de sentido para a vida.
Esse ano fomos no terceiro congresso internacional de espiritualidade e saúde do Núcleo de Pesquisas de Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora, nos dias 13 de 14 de março últimos. Seu tema central foi “Experiências Espirituais: pesquisas e implicações clínicas”.
O Dr. Francis Lu fala de sua casa na Califórnia
Os temas foram diversos, saio indicando alguns:
- Ensaios clínicos sobre imposição de mãos.
- Espiritualidade e dependência de substâncias.
- Experiências espirituais: uma revisão de clássicos nos estudos psicológicos e autores contemporâneos.
- Experiência de quase-morte.
- Experiência espiritual e pacientes terminais.
- Como a psiquiatria norte-americana passou a distinguir problemas religiosos e transtornos mentais (o caso do DSM 4 e DSM5).
- Como ensinar espiritualidade e saúde na universidade?
- Uma psicologia das conversões religiosas.
- As muitas formas de ateísmo e a espiritualidade.
- O que se publica hoje sobre experiências espirituais?
- Um estudo psiconeuroendocrinológico com médiuns. A alteração dos hormônios da pineal estão associadas à prática da mediunidade?
- Quem são as pessoas que relatam supostas memórias de vidas passadas?
- Como a psiquiatria passou a respeitar as diferentes culturas, evitando diagnosticar como transtorno mental o que era apenas uma crença partilhada por um grupo social.
O salão do hotel Trade, em Juiz de Fora-MG, recebeu mais de quinhentos profissionais de saúde e interessados nos temas. Alguns autores, presos em casa em decorrência da pandemia de COVID19, não se furtaram a participar à distância, como o caso do simpático Dr. Francis Lu, titular emérito da Universidade da Califórnia.
Visão geral do público do CONUPES
Ao contrário do que possam pensar alguns críticos, especialmente céticos de carteirinha, tratou-se de atividade acadêmica. Pesquisadores de dois continentes apresentaram resultados de suas linhas de pesquisa, doutorandos comunicaram resultados parciais de suas teses, discussões metodológicas, revisões de literatura e metanálises, resultados positivos e negativos, tudo isso ocorreu em um clima de aprendizagem e estudo racional. Não houve nenhuma tentativa de proselitismo (religioso ou cético) ao longo do evento, que ficou no campo dos fatos, fenômenos e das construções teóricas explicativas diversas que emergem deles.
Ao ampliar o conceito de saúde, a Organização Mundial de Saúde refletiu um passo à frente dado pela comunidade científica para uma abordagem mais completa do ser humano, sua cultura e suas práticas religiosas e espirituais Não apenas um corpo fisiológico que adoece e sofre intervenções químicas e cirúrgicas, não apenas sofrimento psíquico em busca de alívio ou compreensão, não só um indivíduo, mas o ser humano, inserido em grupos sociais, com toda a sua complexidade em busca de sentido. Um ser que se reúne ou se isola em busca de transcendência. Um ser que convive com seus semelhantes e encontra na convivência possibilidades para escolher caminhos para sua vida. Um ser diante da morte, que vive a terminalidade e demanda uma morte saudável, até então desconhecida por ciências que se voltaram apenas ao conceito de cura. Uma proposta de entendimento de uma ecologia humana. São os novos desafios para os profissionais de saúde.
Nossa intenção é entrevistar alguns dos participantes para o Espiritismo Comentado. Aguardem.