Um dos livros que li na disciplina de psicanálise, quando
cursava a graduação foi “A interpretação dos sonhos”, de Sigmund Freud. O livro
foi publicado em 1899, mas com a data de 1900. Lembro-me que minha professora
comentara que Freud acreditava que seria uma grande contribuição para o século
que iria se iniciar.
De uma forma geral, não estudamos no curso de Psicologia os
autores do século XIX e início do século XX que também escreveram e pesquisaram
sonhos, especialmente os filósofos espiritualistas, então Freud fica apenas com os interlocutores que ele próprio escolheu em seu livro.
Há pouco traduzi o livro “Os fantasmas e suas aparições” de
Alfred Russel Wallace, naturalista de renome na história da biologia. Os
artigos que compõem este pequeno livro foram publicados em 1891, e,
curiosamente, têm uma parte de análise de sonhos, alguns deles descritos no livro “Os
fantasmas dos vivos”, publicado ainda antes pela “Society for Psychical
Research”. Os sonhos não são o tema central do livro, mas achei muito
interessante ver que Wallace estava discutindo a tese do “segundo self”, ou “ego
inconsciente”.
Um dos sonhos que ele analisa é:
“o caso da Sra. Menneer, que sonhou
por duas vezes na mesma noite que ela viu seu irmão decapitado aos pés da cama
com sua cabeça dentro de um cofre ao seu lado.” (Wallace, pág. 68)
Seguindo a explicação do pai da psicanálise, este sonho
seria entendido como uma realização “alucinatória” de um desejo, ainda que
tendo sofrido a distorção onírica, em função da defesa.
Voltando à história, o irmão da sonhadora estava em Sarawak,
com Sir James Brooke, e foi morto durante a insurreição chinesa, tentando
defender a Sra. Middleton e suas crianças. Seu corpo foi levado ao rajá e sua
cabeça foi “cortada e carregada em triunfo, seu corpo foi queimado na casa do
rajá”.
Sir James Brooke
A data do sonho “coincide aproximadamente” com a morte do
Sr. Wellington, e seguramente a notícia ainda não tinha sido dada à Sra. Meenner,
o que exclui a explicação a partir dos “restos diários”, ou seja, de se sonhar algo que foi
visto ou vivido em estado de vigília, mas que carrega um conteúdo emocional.
Estou citando apenas um caso, dos que foram analisados e
descritos por estudiosos espíritas e espiritualistas, e até mesmo por
estudiosos sem vínculo com o espiritismo, para defender que de alguma forma
houve a percepção de um evento acontecido à distância, seja por telepatia, seja
por comunicação com espíritos desencarnados.
Acredito que psicanalistas que entendem que todo sonho é
realização de desejo irão sustentar sua teoria, ante este fato, entendendo
tratar-se de coincidência ou acaso (que o evento tenha acontecido à distância).
Contudo, há muitos casos documentados, posso assegurar que às dezenas, se, além
das obras de Wallace, considerarmos também o livro “O desconhecido e os
problemas psíquicos” de Camille Flammarion, que apresentam associações entre conteúdo onírico e eventos acontecidos à distância, desconhecidos do sonhador.