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29.10.18

LEMBRANÇAS DO DR PAULO TOLEDO MACHADO

Paulo Toledo Machado
Quando fiquei sabendo da existência do museu espírita de São Paulo, achei uma iniciativa tão importante que tentei auxiliar de alguma forma. Enviei um exemplar do livro “Coletânea de Estudos Espíritas” e recebi uma carta gentil e atenciosa de agradecimento e comunicação de incorporação do livro ao acervo do Museu.

Algum tempo depois, recebi um convite para participar de um evento Espírita no museu, que acontecia uma vez ao mês, no meio da semana, e nessa época eu já cursava o doutorado na Universidade de São Paulo, estando, portanto, na cidade que não dorme ao longo da semana.

Fui à mineira, sem qualquer alarde, e me perguntaram na entrada se eu tinha convite, porque o auditório não era muito grande e eles só podiam receber o número de pessoas cujos convites haviam sido emitidos. Eu entreguei o papel e percebi um ar de “quem é ele”, da parte dos organizadores.

Ao final da palestra, o Dr Paulo afirmou que havia um escritor de fora do estado, e perguntou quem era. Eu levantei a a mão e ele também olhou com o mesmo olhar de estranheza, perguntando uma segunda vez e recebendo uma segunda vez a minha mão levantada.

Paulo Toledo Machado


Foi o início de uma amizade muito frutífera. Procurei-o após o encerramento para conversar e ele me apresentou os amigos presentes. Dr. Paulo me convidou para uma pizza com os confrades após o evento, e aos poucos fomos nos conhecendo.

Lembro que pouco tempo depois eu havia ficado indignado com uma matéria da revista Veja, que insinuava que os espíritas brasileiros desconheciam o episódio do desmentido das irmãs Fox. Comecei uma pesquisa, então, e aproveitei a presença em São Paulo para obter alguma informação do Museu. A atendente não conhecia livros que eu já não tivesse, e me encaminhou para o Dr. Paulo. Ele me perguntou onde eu iria publicar, e eu expliquei  que seria no Reformador, ao que ele me deu acesso amplo ao acervo e ainda me permitiu fazer cópias xerox do que encontrei.

As reuniões mensais no Museu eram muito interessantes e produtivas. Lançamento de livros recém-traduzidos pela instituição, expositores renomados, debates posteriores às apresentações... Certa vez o Dr. Paulo levou o psicólogo Jon Ayspúrua, da Venezuela, que ocupava o cargo de presidente da Confederação Espírita Pan Americana. Na pizza, após as atividades da noite, vi o Dr. Paulo pedir ao Jon que a CEPA se entendesse com a Federação Espírita Brasileira. 


Capa de O primeiro livro dos Espíritos, tradução de Silvino Canuto Abreu

Expus em uma das noites, na qual se estava estudando as diferenças entre a primeira e a segunda edições de “O livro dos espíritos”. O Museu e o Lar da Fraternidade Universal vendiam a edição bilíngue comemorativa dos cem anos de “O Livro dos Espíritos”, impressa por Canuto Abreu. Dr. Paulo tinha muita amizade com Canuto. Uma das publicações que ele havia publicado e também mantinha era “O evangelho por fora”.


Capa da Revista ICESP

Cheguei também a publicar na revista mantida pelo Museu, intitulada Revista ICESP. Essa sigla significa “Instituto de Cultura Espírita de São Paulo”, que foi extinto na passagem do Museu para a Federação Espírita Brasileira (FEB).

Recordo-me de uma viagem que fiz a São Paulo com a esposa, ainda no período conservador da minha doença, em que o Milton Bonfante e o Dr. Paulo nos acolheram e nos levaram a uma cantina italiana, onde conversamos longamente.


Paulo Machado, Elza Mazzoneto, César Perri e Nestor Masotti

Com o fim do curso, fui perdendo o contato com o Dr. Paulo, mas nunca esquecerei a gentileza e a dedicação à memória espírita que ele dispendeu durante anos.

A desencarnação do Dr. Paulo se deu no dia 14 de setembro de 2018. Ele era muito amigo de Silvino Canuto Abreu, e imprimiu seus livros “O evangelho por fora” e “O livro dos espíritos e sua tradição histórica e lendária”, além de continuar distribuindo a tradução do grande espírita da primeira edição de “O livro dos espíritos”, bilíngue, feita para a comemoração do centenário de lançamento da obra. 

Oceano Vieira de Melo nos informou que o Dr. Paulo era filho de Américo Bairral, também espírita, cujo nome se encontra no Hospital de mesmo nome na cidade de Itapira – SP. Mais informações sobre Paulo, e também Elza, se encontra no filme “Kardequianos”. https://www.youtube.com/watch?v=hLcCF8UMh-E

5.9.18

MUSEU HISTÓRICO, MUSEUS ESPÍRITAS.



O lamentável incêndio que destruiu as instalações do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista - cidade do Rio de Janeiro, colocou na pauta da imprensa a questão da desvalorização e da falta de valor da cultura no Brasil. Todos estamos reflexivos quando pensamos o quanto gastamos com um campeonato mundial de futebol e o quão pouco direcionamos para um Museu reconhecido internacionalmente, sob os cuidados da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Há pouco me dei conta como o meio espírita se preocupa pouco com a cultura e a memória. 

Tenho acompanhado os esforços dos diretores e trabalhadores do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM). Acompanhei também, há mais de uma década, a construção e entrega do Museu Espírita de São Paulo, no bairro da Lapa - SP, para a Federação Espírita Brasileira. Tenho visto também iniciativas menores, como a Casa de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, que funciona como casa espírita e faz a guarda de objetos pessoais, livros e documentos de Chico Xavier. 

Há uma coisa comum entre essas três iniciativas: a primeira vem de Eduardo Carvalho Monteiro, a segunda de Paulo Toledo Machado e a terceira de Geraldo Lemos Neto. São entusiastas da cultura espírita que conseguiram congregar pessoas ao seu redor visando a promover instituições diferentes das tradicionais sociedades espíritas.

Com recursos bem mais modestos que nosso incendiado museu, elas vão se mantendo apesar da pouca atenção que lhe dão os milhões de espíritas e simpatizantes no Brasil. Que será pior, o incêndio ou a indiferença?

Ainda há pouco comentei a boa, mas equivocada intenção, de uma espírita que deseja transformar a livraria dos Leymarie em lugar de memória. Em que pese a desinformação da companheira, surge uma nova questão: o Museu Espírita de São Paulo estava há um ano fechado à visitação em função das reformas, que estão fazendo aniversário. O CCDPE-ECM é mantido com um quadro de sócios, doações e eventos promovidos por seus mantenedores e não sei dizer ao certo as fontes da Casa de Chico Xavier, talvez mantida por quadro de sócios e pela editora Vinha de Luz, que vem tentando preservar a memória de Chico Xavier, publicando documentos e textos inéditos.

Peço desculpas a outras instituições claramente voltadas para a cultura espírita, que não citei aqui. Peço aos leitores que as indiquem, colocando nome, endereço, cidade e finalidade na sessão de leitores do Espiritismo Comentado.

A questão que direciona o texto é: enquanto choramos pela perda do Museu Nacional, que ações fazemos com nossos pequenos museus espíritas? Visitamos? Doamos? Desenvolvemos projetos para captação de recursos e realização de pesquisas? Fomentamos parcerias? Promovemos eventos voltados ao conhecimento do trabalho nos museus? Escrevemos livros? Publicamos revistas especializadas?

Deixo ao leitor minhas inquietações.