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10.7.20

PEQUENAS EDITORAS, GRANDES AUTORES



Livro do espírito Alfredo psicografado por Dolores Bacelar

Em tempos de pandemia, quem está em isolamento social talvez tenha mais tempo para ler. E nós, espíritas, via de regra gostamos de ler bons autores espíritas. Cada um tem suas preferências de estilo literário, tema e até mesmo autor, mas em matéria de espiritismo, temos grandes autores, principalmente encarnados, que publicaram grande parte de sua obra em editoras menores, antes de terem acesso a selos de maior circulação no meio espírita, como a Federação Espírita Brasileira, por exemplo.

Nas últimas décadas surgiram muitas editoras, menores, mas algumas muito boas. Quando comecei a ler livros espíritas, aos 13 anos de idade, havia cinco grandes selos na nossa livraria espírita: a Federação Espírita Brasileira - FEB, a Livraria Allan Kardec Editora - LAKE, o Instituto de Difusão Espírita - IDE, O CLARIM e Correio Fraterno. Aos poucos, diversas novas editoras foram surgindo e gostaria de falar nesta matéria de alguns autores e editoras.

Uma médium pouco conhecida no meio espírita, hoje, mas com trabalhos literariamente muito importantes e doutrinariamente qualificados é Dolores Bacelar. Eu já havia lido praticamente tudo o que tive acesso dela, quando vi sua foto pela primeira vez, próximo à sua desencarnação. Já comentei aqui no Espiritismo Comentado um ou outro de seus livros: romances, páginas soltas, contos... Quem a publica é a Correio Fraterno, editora batalhadora situada na cidade de São Bernardo do Campo, São Paulo. 

De Raymundo Espelho, para conhecer Herculano Pires

Um gigante do pensamento filosófico espírita em São Paulo, com incursões pelos mais diferentes temas e áreas de conhecimento, é José Herculano Pires. Jornalista, ele nos deixou mais de oitenta títulos de livros espíritas, alguns muito conhecidos e outros nem tanto. Sua formação em filosofia influenciou muito seu estilo próprio de articular pensadores e pesquisadores contemporâneos seus a sua amada doutrina espírita. Ele foi um dos polemistas que agiu na defesa do pensamento kardequiano, penso que em decorrência da própria filosofia que valoriza a compreensão clara dos conceitos e afirmações dos autores inovadores de novas escolas. Hoje, a família de Herculano assumiu a Fundação Maria Virgínia e José Herculano Pires, que mantém a editora Paideia, uma das “artes” do autor ainda vivo.

Hermínio escreve sobre a médium Regina

Outro autor que nunca canso de divulgar é Hermínio Correia de Miranda. O “escriba”, como é conhecido na intimidade, fez um resgate importante de autores espíritas e espiritualistas das línguas inglesa e francesa, escreveu trabalhos originais em matéria de espiritismo, tratando de questões interessantes, como o autismo e o transtorno de dissociação de identidade. Hermínio mostrou suas próprias observações e fez incursões extremamente originais na história do cristianismo. Ele publicou por diversas editoras, mas a que ainda tem o maior número de seus títulos é a Lachâtre, fundada em Niterói e, agora, no estado de São Paulo.

Um dos livros mais conhecidos de Cairbar

Cairbar Schutel é um autor do início do século 20 que escreveu um grande número de livros entre os quais se destaca o estudo do evangelho à luz do espiritismo e diversos temas doutrinários, comuns a sua época. Ele estabeleceu-se em Matão, no interior de São Paulo, onde fundou o Jornal “O Clarim” (1905) e a “Revista Internacional de Espiritismo” (1925). 

Um dos últimos livros ditados por Irmão X (Humberto de Campos)

Quando o assunto é Chico Xavier, a maior editora de seus livros ainda é a Federação Espírita Brasileira, mas ele teve trabalhos específicos publicados por editoras menores. A editora do Grupo Espírita Emmanuel - GEEM, por exemplo, tem em seu catálogo um grande número de livros psicografados por Chico nos anos 70 e 80, tornando públicas as cartas que ele recebia para familiares em situação de luto. São cerca de 90 livros ditados médium mineiro em seu catálogo. Outra editora com uma linha de publicações muito interessante é Vinha de Luz, que vem recuperando textos não publicados do Chico, mostrando mais da história do médium em Pedro Leopoldo e trazendo a público o que estava condenado a ficar em gavetas ou em prateleiras de museus. Outra editora pequena é a Cultura Espírita União - CEU, que tem um número razoável de livros de Chico Xavier, psicografados nas últimas décadas de seu trabalho como médium.



Eduardo Carvalho Monteiro é outro autor interessante, com uma proposta diferenciada. Ele se interessou bastante pela história do movimento espírita, mesmo não sendo historiador por profissão. Empenhou-se na obtenção de livros e documentos que formaram a base do que hoje é chamado Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM). Boa parte de sua obra e pesquisas se acham publicadas pela editora do CCDPE-ECM. Os títulos de seus livros são encontrados em http://ccdpe.org.br/sobre-o-ccdpe/eduardo-carvalho-monteiro/


Um livro de reflexões sobre a teoria e a prática da mediunidade

Raul Teixeira é mais um médium e divulgador importante da atualidade. Algumas dezenas de livros em torno da sua obra se encontram sendo vendidos pela editora Fráter. Seus livros ditados pelo espírito Camilo têm por foco as reflexões sobre a vida à luz do espiritismo. Família, educação, prática da mediunidade e juventude são alguns de seus temas pela mediunidade do médium fluminense.

Por que estou divulgando as pequenas editoras espíritas? Por causa de coisas que a modernidade e o comércio fazem. Hoje temos distribuidoras espíritas, que adquirem os livros das diversas editoras e facilitam o pedido para as livrarias espíritas. Como têm finalidade comercial, escolhem os livros mais vendáveis, e deixam de adquirir livros com menor apelo comercial, o que tem por consequência a ausência dos livros desses e de outros grandes autores nas prateleiras das livrarias espíritas. Sem acesso aos livros, os autores vão ficando esquecidos, ou pior, desconhecidos.

Nessa época que vivemos, a compra de livros não se faz mais indo presencialmente ao centro espírita e escolhendo um dos livros. Então gostaria de recomendar aos que compram pela internet para dar uma olhadinha nos sites dessas editoras espíritas. Vale a pena  escolher alguns desses autores para ler e conhecer. 

Instituto Lachâtre – https://www.lachatre.com.br/loja/
CCDPE-ECM – http://ccdpe.org.br/

Agradeço a todos os que leram o artigo antes da publicação e me ajudaram a torná-lo melhor! Ajudem a divulgar.

22.7.09

LIVROS ESPÍRITAS OU DE MERCADO CONSUMIDOR ESPÍRITA?

Figura 1: Livros (foto de sharkinho)



Dalmo Duque dos Santos fez uma oportuna reflexão sobre o novo mercado de livros espíritas que está em funcionamento. http://observadorespirita.blogspot.com/2009/07/paixao-pelos-livros.html

A questão dos romances açucarados que ele comenta é real e gostaria de adicionar minha opinião ao tema.

O romance, os contos e outras formas narrativas costumam ocupar o lugar de entretenimento, mas grandes escritores articulam sua história com o seu olhar sobre o mundo, que pode ser de crítica social, às vezes de análise psicológica, ou discutindo um tema de interesse do seu público leitor (sem cair no pedagogismo, que na minha opinião costuma empobrecer a narrativa). Ele intercala sua intenção de proporcionar uma leitura prazerosa com um algo mais.

Quando penso na literatura espírita, tão desconhecida pela maioria dos nossos especialistas universitários, não me esqueço da experiência pessoal de se ler livros como “Renúncia”, de Emmanuel, Memórias de Um Suicida, de Camilo (com comentários de Léon Denis, como nos mostrou o Pedro Camilo), “A Mansão Renoir”, de Alfredo, “Dor Suprema”, de Vítor Hugo, o notável “Memórias do Padre Germano” escrito a partir do ditado psicofônico do espírito Germano por Amália Domingos Soler, “Os Luminares Tchecos” de Rochester, entre muitos outros.

Estou evitando os novos autores intencionalmente, por uma razão: tenho lido menos romances .

Penso que o Dalmo concorda comigo: ele não levanta sua pena (melhor falando, seu teclado) contra o gênero literário, mas contra uma mentalidade, que é a mentalidade meramente comercial.



Esta mentalidade não nasce nos editores, nem nos distribuidores, mas está no centro espírita, nas livrarias e bibliotecas espíritas, e pior, principalmente nos Clubes de Livro espírita. Está em quem consome e em quem forma opinião.

As livrarias acham cômodo comprar dos distribuidores, que estão cada vez mais influentes junto às editoras e divulgam com peso os livros que consideram comerciais, alguns de boa e outros de má qualidade.

Os Clubes do Livro, que também são viabilizadores da edição de livros, também optam pelos açucarados para evitar reclamações e fidelizar clientes. Primeiro eles formam seu público e depois reclamam de não ter opção. Em Belo Horizonte o CLUBAME, quase na contramão desta tendência, tem adotado uma conduta divergente, que é a de distribuir três gêneros de livros: um romance, um livro de estudos e um livro infantil. E estão cheios de leitores e projetos futuros.

As bibliotecas não compram livros. Geralmente fazem campanhas e escrevem cartas pedindo doações. Não fazem sequer um pedido orientado de doações junto aos frequentadores das sociedades espíritas, ou seja, não administram seu acervo. Quando compram, o fazem direcionadas pela procura dos leitores, ou seja, Kardec (ainda bem), André Luiz (geralmente a série a vida no mundo espiritual) e romances, muitos romances. Como são bibliotecas de empréstimo domiciliar e dificilmente de estudos, são poucas as que têm obras raras e edições antigas, tão necessárias à pesquisa séria.

Os expositores, contudo, são os grandes formadores de opinião na casa espírita. Fiquei curioso para ler Inácio de Antioquia, depois de uma palestra que minha esposa assistiu de um sério colega espírita mineiro. Se eles não apresentam e discutem os livros com seu público, não será um belo projeto gráfico que irá atrair o público leitor, geralmente conservador em matéria de Espiritismo. O público se interessa pelo que eles divulgam (e pelo que criticam também).

Isto nos leva a uma outra questão, os livros sensacionalistas, repletos de novidades improváveis e fantasiosas, geralmente sobre a vida no Plano Espiritual, mas isto fica para um outro artigo, porque este já está muito extenso...