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8.3.22

UM GRANDE DOSSIÊ SOBRE BEZERRA DE MENEZES

 



Jáder Sampaio

Recebi há um mês o mais novo livro escrito por Luciano Klein Filho: Bezerra de Menezes: o homem, seu tempo e sua missão. Na verdade, mais um dossiê que um livro, porque o autor publica o texto na íntegra de muitas de suas fontes, obtidas ao longo de décadas de estudo. Em princípio, ele assusta aqueles que estão acostumados a ler livros de 200 ou 300 páginas, pelo seu tamanho – são 1187 páginas até o final das referências bibliográficas.

Ao contrário da primeira impressão, a leitura tem sido muito agradável. Uma das primeiras coisas que o autor fez foi pesquisar as notas de falecimento dos jornais e periódicos da época e como leitor tive uma recordação dos evangelhos: Jesus havia voltado do deserto e começa a visitar as cidades da Galileia, na narrativa de Lucas , até que chega em Nazaré e, após ler uma profecia de Isaías  Is 61:1-2, intitulada, na Bíblia de Jerusalém, “vocação de um profeta”, Jesus anuncia a seus conterrâneos:

“Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura”  Lc 4:21

Os nazarenos começaram a comentar que ele era o filho de José e a cobrar dele curas em sua própria cidade. Ele, então disse uma frase curiosa:

“... nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.” Lc 4:24

Cito essa passagem evangélica para explicar que Bezerra mereceu notas nos mais importantes jornais da República Velha, e recebeu muitas palavras de reconhecimento por suas muitas qualidades tornadas públicas. Apenas o jornal cearense “A República” (CE) escreveu algo depreciativo sobre ele e sobre o espiritismo:


“Da escola ultramontana, em princípio, foi descendo na escala das crendices humanas, até declarar-se espírita, aos últimos dias da sua existência, já materialmente enfraquecida pelos insultos da idade, logo, intelectualmente decaída (...)”  KLEIN FILHO, Luciano. (2021, p. 42)


Outros jornais, do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco, diriam outras coisas:


“Amigo e estimado clínico desta capital ... um dos mais prestimosos chefes do Partido Liberal, por vezes escolhido pelo corpo eleitoral da cidade do Rio de Janeiro” Cidade do Rio, 11 de abril de 1900


... concorria grandemente seu espírito de caridade, pois que era médico dos pobres, dedicado e afetuoso” Cidade do Rio, 11 de abril de 1900


“... Retirado da política, o Dr. Bezerra de Menezes dedicava-se exclusivamente à sua numerosa clínica como um dos médicos mais humanitários desta capital.” A Notícia (RJ), 11 e 12 de abril de 1900


“Um dos poucos indivíduos que, depois de terem dominado as posições mais elevadas, sabem olhar para elas sem saudades e empregam em benefício dos seus semelhantes todas as energias de que serviram para sobressair e elevar-se sobre o nível comum.” Gazeta de Notícias (RJ) 12 de abril de 1900


“... Médico, e médico hábil... um contínuo labutar pelo benefício da pobreza. ... Por isso morreu paupérrimo.”  Jornal do Brasil (RJ), 12 de abril de 1900.


“Há muito tempo que abandonando a política entregou-se ao exercício de sua profissão de médico, onde também se distinguiu pelo seu desinteresse e atos de caridade” Jornal do Comércio (RJ), 12 de abril de 1900


“... em todas essas manifestações da sua atividade (política) deu sempre (...) as mais brilhantes provas da sua capacidade e do seu valor moral e intelectual; mas foi sobretudo no abnegado sacerdócio da sua clínica e na doce penumbra da sua vida íntima que mais refulgiram os peregrinos dotes de seus espírito...” O País (RJ) 12 de abril de 1900


“Notável médico homeopata...”  Correio Paulistano (SP), 12 de abril de 1900


“... o grande e humanitário cidadão Dr Adolfo Bezerra de Menezes, presidente da Federação Espírita do Rio de Janeiro (...) eminente espírito que tomou como divisa – amar ao próximo como a si mesmo.” O Guia (PE) 15 de abril de 1900


Muitas outras fontes foram citadas pelo autor do livro, mas recomendo a leitura do novo trabalho sobre Bezerra de Menezes que nos chegou às mãos através de um pedido à Amazon.com.br que comercializa o título.

Conhecer os que construíram as instituições espíritas que “herdamos”, sem sermos proprietários, é muito importante para definirmos os objetivos do nosso trabalho de hoje ao futuro. 


29.8.20

A ESCRAVIDÃO QUE NÃO VEMOS NO DIA A DIA

 

Um tema que marcou profundamente a cultura brasileira e que podemos entender como uma “doença da sociedade” a ser tratada é a questão da escravidão. Como costuma acontecer, hoje nossa legislação proíbe o trabalho escravo, que vez por outra ainda sobrevive em rincões do país continental, mas a instituição da escravidão ainda está nas nossas mentes e é passada entre gerações.

Estou publicando esse texto no Espiritismo Comentado em homenagem a Bezerra de Menezes, que enquanto encarnado trabalhou pela abolição da escravatura, uma abolição que incluísse os escravos brasileiros na sociedade, e que após desencarnado continuou escrevendo sobre o tema. É uma questão muito cara ao cristianismo e ao espiritismo.

O Brasil é o país das Américas sem o “sonho americano”. Para a grande maioria dos brasileiros, o trabalho ainda não é a via promotora da ascensão e da independência do trabalhador. Um efetivo imenso de trabalhadores em nosso país recebe um salário tão ínfimo, e agora tão despido de garantias sociais, que não lhes permite manter uma família com um ou dois filhos, e quiçá até a si mesmo. O que causaria espanto nos países europeus ou na América do Norte, continua sendo visto como “natural” por um número majoritário dos brasileiros.

Ainda hoje há um grande efetivo de trabalhadores que são incapazes de se sustentar com seu próprio trabalho, legal e registrado e vivem em situação semelhante à vida nas senzalas. Com alimentação precária, sem instalações sanitárias mínimas, sem o direito à intimidade em função da precariedade do espaço, com acesso precário ao atendimento médico e dentário, muitos sem possibilidade de educação dos filhos ou acesso a instituições escolares tão aviltadas que são incapazes de assegurar a mínima formação cultural e profissional, sem direito efetivo à segurança e vivendo em relações de extrema violência. 

A lei áurea data de 1888, mas a mentalidade escravagista, que acha natural que um trabalhador não se possa sustentar, não tenha capacidade de estudar, deva se contentar com um “bom patrão”, manteve diferenças absurdas em nossas leis, como uma espécie de trabalhador de “segunda linha”, os domésticos, que apenas em 2015 obtiveram direito a Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, adicional noturno, seguro-desemprego, entre outros direitos já assegurados a outras categorias de trabalhadores.

Uma grande massa de pessoas prefere as ruas das grandes cidades, lavando e “cuidando” de carros, vendendo objetos ou mesmo mendigando para viver e, talvez, recebam mais dinheiro que aqueles que trabalham.

Não bastasse esse país surreal, para não falar da criminalidade organizada e sua capacidade de recrutar jovens recém saídos da infância para as instituições do tráfico de entorpecentes e alucinantes, do furto e do roubo violento, ainda subsistem famílias e pequenas comunidades, em aglomerações sem acesso por estradas asfaltadas, em terras áridas ou improdutivas, em condições tão piores que as periferias e as ruas das grandes cidades, que alimentam continuamente os fluxos migratórios em busca, se bem sucedidos, da vida nas favelas ou nas ruas, que significa para eles algum avanço social. Esses têm ainda filhos sem acesso a postos de saúde, sem escolas, sem nada. Vivem sob o signo da esperança do socorro divino, quando têm o consolo de uma religião.

Enquanto tudo isso for visto como “normal” ou “natural” pelo brasileiro comum e, consequentemente, por seus representantes nos diversos órgãos de estado, continuaremos sendo escravagistas, mesmo depois da assinatura da lei áurea. Defenderemos a liberdade com as palavras, mas remuneraremos os que trabalham com valores tão mesquinhos que não assegurarão o mínimo: habitação, saúde, alimentação, educação e cultura. Enquanto não percebermos que toda pessoa humana tem direito a uma dignidade mínima e a viver com essa dignidade a partir de seu próprio trabalho, o tempo vai passar e continuaremos reproduzindo no Brasil a essência da antiga sociedade de senhores e escravos, considerada equivocadamente um mal do qual não se pode ficar livre em curto prazo, porque “as coisas sempre foram assim”. 

13.7.20

BEZERRA DE MENEZES NA "ESQUINA DO CÉLIA"


Livro do entrevistado sobre Bezerra de Menezes



No último sábado iniciamos o programa "Esquina do Célia". O nome estranho é bem conhecido dos membros e egressos da mocidade da associação, porque a sede da AECX é um sobrado que fica na esquina das ruas Chopin e Cel. Pedro Jorge. Após o término da mocidade, queríamos ficar conversando, mas o responsável pela casa tinha que fechar as portas. Então ficávamos conversando na esquina à luz da iluminação pública.

Nosso primeiro convidado foi o professor Luciano Klein Filho, historiador, que se encontra presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará. Ele tem estudado seu conterrâneo, Bezerra de Menezes, há muitos e muitos anos, e já está com um novo livro sobre o médico cearense quase pronto. 

Conversamos sobre a vida, as esposas, a abolição, a ação política, a construção de um movimento espírita articulado, a medicina, o espiritismo, as publicações nos jornais públicos e, como diz Luciano, o xodó de Bezerra de Menezes que é "A loucura sob novo prisma". 

Luciano nos traz uma releitura e uma nova visão de Bezerra, mais humanizada e menos santificada. Ele nos mostra as escolhas do homem, o sofrimento da perda dos filhos, as relações de amizade e conflito de ideias com Torteroli e muitas outras informações que uma pessoa que leu as biografias disponíveis (incluindo a organizada pelo próprio Luciano) possivelmente desconhece.

Trazer o sotaque cearense às terras de Minas, numa conversa rica de informações, reflexões e propostas, muito nos enriqueceu. Deixo abaixo o link de incorporação da entrevista que passou muito rápido, lamentando a qualidade do sinal da operadora Vivo, que quadriculou a minha imagem e metalizou a voz, em alguns momentos da entrevista, apesar da conexão via cabo.


24.11.19

SINAIS DE NASCENÇA EM "A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA"



Esmeralda fala a Barbedo que reencarnaria com uma mesma mancha de pele que tinha na vida passada.



Continuamos escrevendo sobre detalhes do livro “A Tragédia de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes e psicografado por Yvonne Pereira.

Na página 262 da terceira edição (capítulo quarto da quarta parte, com o título “E quando Deus permite!"), na trama da narrativa, o espírito Esmeralda comunica a seu pai, Barbedo, que vai reencarnar. Ela pede que ele examine o corpo físico da filha do casal de parentes em busca de um sinal de nascença que ela apresentava em sua encarnação passada, para certificar-se de que se tratava dela própria, reencarnada.

Os estudos sobre reencarnação são antigos, datam do início do século 20, mas o pesquisador que conheço ter tratado de marcas de nascença foi Ian Stevenson. Ele se popularizou no meio espírita brasileiro no final dos anos 60 com a tradução do livro "20 casos sugestivos de reencarnação" para o português. Ele publicou posteriormente um livro sobre reencarnação e biologia, no qual trata de forma cuidadosa da questão das marcas de nascença (birthmarks).

A pesquisa de Stevenson sobre memórias de vidas passadas em crianças, geralmente iniciadas entre dois e quatro anos, era muito dependente dos relatos feitos pelas famílias, às vezes muitos anos depois das primeiras lembranças. As memórias não são uma fonte muito segura, por que é sabido que esquecemos e nos enganamos sobre eventos acontecidos no passado, quanto mais distantes estamos do ocorrido. Stevenson desejava outras evidências de vidas passadas que pudessem ter sido registradas e verificadas de forma mais confiável.

Em 1961, em sua primeira visita ao Sri Lanka, ele estudou o caso de Wijeratne, que tinha um defeito de nascença severo associado a eventos de vida passada. Depois ele encontrou, no Alasca, os casos de Charles Porter e de Henry Elkin, que tinham marcas relacionadas a uma facada e um tiro ocorridos em suas vidas passadas. Apesar dos relatos, Stevenson diz que levou vários anos para perceber a importância dos registros, cujo insight o levou a colher muitos relatos como esses em um único trabalho, com mais fôlego[1].

Nesse trabalho, Stevenson disserta sobre os casos estudados, e fala dos diversos tipos de marcas, sinais ou defeitos de nascença. Embora sejam muito divulgadas as marcas de nascença correspondentes a feridas e lesões cirúrgicas em vidas passadas, no capítulo 8, Stevenson disserta sobre marcas de nascença correspondentes a outros tipos de feridas ou marcas de pessoas mortas.

Ele conta o caso de Santosh Sukla, que se recordava de ter sido Maya, na Índia. Os dois tinham listras vermelhas nos olhos, causados por arteríolas muito dilatadas na esclera, e não eram parentes, além de serem os únicos membros das respectivas famílias com essa característica física[2]. Stevenson fotografou Santosh aos 25 anos, ainda apresentando essa anormalidade.

Ele relata também o caso de John Rose, do Alasca, que nasceu com uma mancha branca no dorso da mão esquerda, lugar onde, na vida passada ele havia tatuado um lobo.

Stevenson relata casos de “fendas” de nascença onde havia piercings, que depois cicatrizaram, e locais de aumento de pigmentação, onde anteriormente havia pigmentação maior (pintas, onde haviam manchas, pelo que entendi). (p. 66)

Como se vê, o relato de Bezerra de Menezes parece antecipar a descoberta de Stevenson. Não tenho conhecimento da literatura de sinais de nascença associados à reencarnação, anteriores a esse pesquisador, o que daria uma bela pesquisa.

Mais uma vez encontramos uma contribuição interessante na psicografia de Yvonne Pereira, que normalmente passa despercebida  ao leitor da nossa época.




[1] STEVENSON, Ian. Where reincarnation and biology intersect. USA, Praeger Publishers, 1997. p. 2.
[2] STEVENSON, Ian. Where reincarnation and biology intersect. USA, Praeger Publishers, 1997. p. 63-64..


31.10.19

A TORTURA DE BENTINHO NA PRISÃO


Aquedutos do Rio de Janeiro


Raquel F. Lima

Estamos estudando em nossa reunião a obra mediúnica Tragédia de Santa Maria, psicografada por Yvonne A. Pereira, autor espiritual Bezerra de Menezes, e em certo momento da história, ocorreu o assassinato da doce Esmeralda, filha do pomposo Comendador Barbedo. Este, por sua vez, enceguecido pela dor lancinante que dilacerava seu coração de pai, afirmou às autoridades policiais que os responsáveis por tal atrocidade seriam o escravo liberto Cassiano e seu genro e advogado, Bentinho.

Ambos foram imediatamente recolhidos à prisão, lá, foram submetidos aos castigos dos açoites, e estes fatos despertaram nossa curiosidade, enquanto operadores do Direito. Seria permitido pela legislação da época este tipo de tratamento a um advogado? O autor espiritual narra que Bentinho fora castigado, mantido isolado, segregado e incomunicável, e que ele por vezes intercedeu em favor do advogado, solicitando entrevistas com o preso, porém, não fora atendido. Como isso foi possível, sendo Bentinho advogado e branco?

De acordo com o Estatuto da Advocacia da OAB, vigente desde 1994, é prerrogativa do advogado ”não ser recolhido preso, antes da sentença transitado em julgado, senão em Sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar” (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm). O advogado é considerado pelo Estado Brasileiro como indispensável à administração da justiça, conforme art. 133 da Constituição Federal de 1988 (https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_133_.asp), e o referido Estatuto da OAB, no parágrafo primeiro do artigo 2º  considera que o serviço prestado pelos advogados tem função social, devido à sua relevância (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm). Diante de tantas prerrogativas, é natural à todo advogado questionar e analisar o tratamento deferido a um colega de profissão, mesmo que os fatos tenham ocorrido nos anos de 1880.

Analisando a legislação da época, estava vigente o Código Criminal de 1830, de influência portuguesa, sancionado quando D. Pedro II era o Imperador do Brasil, sendo revogado pelo Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, em 1891, (Decreto nº 847/1890 e 1.127/1890), este de cunho republicano, porém não menos violento que o primeiro. Quando comparado à legislação portuguesa que o inspirou, o Código de 1830 avançou em questões quanto à preservação da integridade física para os homens livres, quanto à inviolabilidade dos direitos civis garantidos a partir da Constituição de 1824. Porém, em relação aos escravos, no artigo 60 da referida legislação penal brasileira, havia a previsão legal para os castigos corporais, como por exemplo, os açoites.

Fato é que as autoridades responsáveis pelo esclarecimento do crime descumpriram os preceitos legais aplicáveis ao caso em tela, relegados sob a influência política do orgulhoso Comendador Barbedo, aplicando a Bentinho tratamento que não estava previsto na legislação, o que levou Bentinho à loucura e à morte.

São tantos os detalhes e tão peculiares as circunstâncias que só mesmo estando lá, no calor dos acontecimentos, para descrevê-los com tantas minudências inclusive quanto ao contexto histórico, e é neste ponto que rendemos homenagens à excelência da mediunidade de Yvonne A. Pereira, que fielmente relatou a história contada pelo autor espiritual, Bezerra de Menezes. A médium descreveu acontecimentos desconhecidos de per si, fatos que não presenciou e que pelo estudo da legislação penal da época, verificou-se que estavam presentes no cotidiano dos viventes, que até os consideravam normais e necessários à repressão de crimes e à manutenção da ordem. Constata-se quão fidedigna é a sua descrição de detalhes tão peculiares ao cotidiano do século XIX.
Assim sendo, fica aqui nossa singela homenagem e a nossa gratidão à esta notável trabalhadora espírita, Yvonne A. Pereira.



A Tragédia de Santa Maria - página 207 (3a. edição)

"Todas as provas recaíam sobre o desgraçado esposo da vítima, o advogado Bento José de Souza Gonçalves. Detido para averiguações no próprio dia do crime, sem haver sequer iniciado a defesa a que se comprometera com o Júri, logo de início se reconheceu enleado por uma série esmagadora de circunstâncias que, efetivamente, apontavam a possibilidade de ser ele próprio o estrangulador da esposa. Em vão o infeliz moço debatia-se, apelando para os recursos de que, como intérprete das leis vigentes no País, poderia dispor, exigindo, no dia fatal, por entre lágrimas de rescaldantes revoltas, lhe concedessem o direito sagrado de visitar o cadáver da esposa e de, como advogado, auxiliar as demarches para a descoberta do verdadeiro criminoso, pois que se proclamava acima de quaisquer suspeitas." 

4.9.19

SENADO FEDERAL HOMENAGEIA BEZERRA DE MENEZES




O Senado Federal, a partir de iniciativa do senador Eduardo Girão e de parlamentares de orientação política diversa realizou uma sessão extraordinária para homenagear Adolfo (e não Antônio) Bezerra de Menezes, médico cearense, muito importante na história do espiritismo no Brasil.

Dois expositores espíritas trataram de Bezerra: Luciano Klein Filho, historiador e José Carlos de Lucca, juiz de direito.

Alexandre Caldini optou por falar do espiritismo para o público presente e a sociedade brasileira, escolhendo idéias básicas do pensamento espírita e expondo de maneira clara e fácil. Sua noção de religião é polêmica, mas se a religião for entendida como ele delimita o termo, o espiritismo não teria nada a ver com ela. 

Dois parlamentares, também falam rapidamente de Bezerra de Menezes, um deles se identificando com o espiritismo.

Recomendo aos leitores do Espiritismo Comentado que ouçam e reflitam sobre a homenagem prestada e a importância dos atos do homem que foi homenageado, bem como da imagem social que lhe é associada.

27.8.19

BEZERRA E A ORQUESTRA DE ESCRAVOS


Ponte dos Jesuítas, na Fazenda Imperial Santa Cruz

Continuamos a leitura do livro A tragédia de Santa Maria em nossa reunião mediúnica, e mais uma surpresa nos aguardava. Minha esposa preparou o capítulo 5 da segunda parte, que trata da volta de Esmeralda ao Brasil, e das festividades preparadas para recebê-la. Não acontece muita coisa no enredo literário, mas, mais uma vez, Bezerra de Menezes se aproveita da narrativa para tratar de uma questão que lhe foi muito cara em vida: a abolição da escravatura.

A primeira surpresa do capítulo é a preparação de uma orquestra de escravos para receber Esmeralda. Orquestra de escravos? Nunca havia ouvido falar nisso, e parti para a internet em busca de informações. Qual não foi minha surpresa quando encontrei uma orquestra de escravos na região em que a história se passa.

O comendador Souza Breves, considerado o maior senhor de escravos do Brasil Imperial, mantinha uma orquestra de escravos em suas propriedades para tocar em suas festas. Souza Breves era dono de fazendas na região de Piraí - RJ, situada no Vale do Paraíba a uma altitude de 387 metros do nível do mar.


Comendador Souza Breves

Os dados biográficos do Comendador Souza Breves não o tornam candidato a ser o personagem do livro, mas a localização e a altitude de tornam a região bem passível de ser próxima da Fazenda Santa Maria, quem sabe vizinha das fazendas de Souza Breves.

Ribeiro e Nogueira (2016) escreveram um artigo para a revista "Anais do museu paulista: história e cultura material" (1) , na qual, coincidentemente, explicam que em uma fazenda chamada Santa Maria, da região de Campinas-SP, havia uma orquestra de escravos (p. 64),  dirigida pelo maestro, compositor e professor Sabino Antônio da Silva, que morou por cerca de três anos na referida fazenda.



Fazenda Imperial Santa Cruz

Outro exemplo da existência de orquestras de escravos no Brasil Colônia e no Brasil Império é a Fazenda Imperial de Santa Cruz, fundada em 1556, no Rio de Janeiro. Na Wikipédia se aponta o funcionamento de "uma Escola de Música, de uma Orquestra e de um Coral, integrados por escravos, que tocavam e cantavam nas missas e nas festividades quer na Fazenda, quer na Capital da Capitania"

Dá para ver que a novela de Bezerra de Menezes apresenta alguns detalhes pouco conhecidos de quando viveu, especialmente com relação à escravidão. Ela também retrata uma época e os costumes da sociedade fluminense em que viveu. Embora não se possa falar em prova, é uma boa pista que o autor espiritual deixa no texto indicando sua autoria.


(1) http://dx.doi.org/10.1590/1982-02672016v24n0202


10.8.19

YVONNE PEREIRA, AS IRMÃS DE SION E OS DETALHES DE SUAS NARRATIVAS



Estamos estudando o livro “A Tragédia de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira e publicado pela Federação Espírita Brasileira, em nossa reunião de sábado.

Fiquei encarregado do capítulo 4 da segunda parte, que, a princípio, seria apenas uma mera narrativa do encontro dos personagens Esmeralda e Bentinho, via correspondência em Portugal e pessoalmente na Suíça.

Inicialmente é a descrição de um piano Pleyel para concertos, que é o tipo tocado por Chopin, por exemplo. Segundo o site do fabricante, ele começa a ser fabricado em 1807 (pleyel.com), ou seja, é provável que fosse comercializado e disponível em Portugal nos anos 1880.



Ao ler com cuidado, observam-se alguns detalhes muito curiosos. Primeiro é a descrição de flores e árvores da Quinta Feliz, em Coimbra-Portugal. Tive a curiosidade de procurar uma por uma na internet, e todas elas são encontradas no país lusitano. Algumas são trazidas de outros lugares, e são encontradas lá na época dos eventos da novela.

Depois, quando os personagens vão à Suíça, passar férias, a vegetação descrita é diferente e muito coerente com altitudes maiores e clima mais frio. Não há nenhuma flor igual à da primeira descrição. Algo muito difícil de ser feito apenas com imaginação, especialmente por uma pessoa que nunca saiu do Brasil.

O mais curioso, no entanto, é uma pequena frase escrita por Bentinho. Ele havia sido informado que Esmeralda iria estudar no “Educandário das Freiras de Sion em Paris”. À primeira vista, pareceu-me muito estranho. Freiras de Sion? Lembrei-me inicialmente do Sionismo, que era um movimento para a formação do estado de Israel. Olhando no dicionário, vi que Sion é uma palavra que originalmente designava uma fortaleza próxima a Jerusalém e que passou a ser usada para significar “a terra prometida dos Judeus”.

O que algo Judeu teria a ver com a igreja? Freiras de Sion? Saí à procura da expressão “Nossa Senhora de Sion”, em busca de alguma ordem religiosa católica, e da explicação do nome. Deu para descobrir muita coisa.

Théodore Ratisbonne era um descendente de judeus da cidade de Estrasburgo que se converteu ao cristianismo em 1827, ano em que batizou-se. Os textos consultados apontam para uma conversão pessoal, simultânea à conversão de outros amigos. Posteriormente ele converteu também seu irmão Alphonse, estudou e foi ordenado padre em 1830.



Alphonse o convenceu a fundar um espaço para a educação (catecumenato, segundo alguns autores) de filhas de judeus convertidos, em 1842, ano em que se encontrava em Paris. Eles fundaram, então a ordem de Nossa Senhora de Sion, com o objetivo de converter judeus à fé cristã. A ordem foi reconhecida por Roma em 1842. 

Nesse ponto da história, estava achando que havia algum erro na narrativa do médico dos pobres-espírito. Esmeralda não era descendente de judeus, mas uma filha de latifundiário brasileiro em estudo na Europa. Por que ela estudaria em uma instituição dessa ordem?

Entre 1843 e 1884, a ordem foi crescendo e criou uma espécie de segundo objetivo. Criou 13 internatos de elite, em decorrência da reputação de Madre Rose Valentin. Os internatos lhe davam recursos para que ela pudesse dar consecução ao seu objetivo maior que era a conversão de judeus. (E assim o foi até o Concílio Vaticano Segundo, no século 20).

Bezerra de Menezes estava certo. Havia em Paris uma ordem das freiras de Sion e um internato para moças da elite!

Passados alguns anos, o governo francês promoveu reformas de laicização do ensino, especialmente o fundamental, que envolveu gratuidade e a obrigatoriedade do primário. Algumas das irmãs foram, então, convidadas a fundar uma instituição de ensino aos moldes franceses no Rio de Janeiro, pela nobreza brasileira com o apoio da princesa Isabel. Elas vieram em 1888.

Encontrei uma escola das Irmãs de Sion em Paris, mas parece ter sido fundada no século 20, em parceria com outra ordem religiosa. 

A questão dos detalhes da literatura produzida por Yvonne Pereira, em contato com os autores espirituais é impressionante. Autores contemporâneos que fazem literatura com temas históricos, como Ken Follet, têm um número enorme de consultores, que são especialistas em aspectos pontuais da história e que o permitem escrever sem cometer equívocos. Yvonne tinha apenas lápis, papel e a assistência dos espíritos que lhe contavam as histórias.

21.12.18

DOIS INDÍCIOS DA IDENTIDADE DE BEZERRA DE MENEZES NO LIVRO "DRAMAS DA OBSESSÃO"





A expulsão dos judeus em 1497



Estamos estudando o livro “Dramas da Obsessão”, ditado pelo Espírito Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira. Como a leitura é feita aos poucos em nosso grupo de estudos (um pequeno capítulo por sessão), conseguimos observar alguns detalhes que geralmente escapam a uma leitura do livro como romance apenas.

A trama do romance, desde o início, remete o leitor ao livro “A Loucura sob Novo Prisma”, publicado postumamente. Nesse livro, o médico cearense defende a tese da existência de pessoas avaliadas como loucas por médicos da época, que na verdade sofreriam apenas a obsessão espiritual (provocada por espíritos inferiores). A história, que parece ter origem em fatos reais, trata de suicidas que foram levados ao ato por obsessão espiritual.

Durante a narrativa se descobre que os obsessores do livro haviam sido convertidos compulsoriamente ao cristianismo no século XVI, e depois torturados e mortos apenas por terem fortuna, sob o pretexto de cultuarem sua religião em segredo.

Na narrativa, Bezerra mostra como eles foram obrigados a adotar nomes cristãos após a conversão. O rabino Timóteo Aboab passou a ser chamado de Silvério Fontes Oliveira, seus filhos Joel, Saulo e Rubem, tiveram que adotar os nomes de Henrique, José e Joaquim, respectivamente.

Nas páginas 66 e 67 da minha edição, Bezerra traça uma explicação sobre o significado hebraico dos nomes da família, voltando até mesmo à descendência de Israel (ou Jacó). A mudança obrigatória de nomes é, portanto, uma violência simbólica e uma tentativa de apagar as origens judaicas da família.

Curiosamente, Bezerra faz um comentário muito relevante, relacionado a este fato:

“Nestas páginas, não obstante, continuaremos a tratar nossas personagens pelos seus nomes de origem, uma vez que, liberais que deveremos ser, respeitaremos o direito que eles têm, ou quem quer que seja, de se nomearem conforme lhes aprouver.”

Por isso, ele continua chamando os autores com seus nomes hebraicos durante a narrativa.

Vemos, portanto, que o autor espiritual admite a influência das ideias liberais, que ele defendeu pela política quando estava encarnado. Bezerra era político do partido liberal, na segunda metade do século XIX. Embora pontual, não deixa de ser uma marca de identidade do autor.

O tema do livro, como uma ilustração de uma tese que ele quase defendeu quando encarnado[1] e sua identificação com as ideias liberais, são dois pontos que trazem a marca de Adolfo Bezerra de Menezes no livro ditado a Yvonne Pereira.

Bezerra de Menezes (espírito). Dramas da Obsessão. 4 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981. [psicografado por Yvonne A. Pereira]




[1] Segundo Luciano Klein Filho, Bezerra escreveu “A loucura sob novo prisma” para apresentar como tese no Congresso Espírita e Espiritualista Internacional em Paris-França, em 1900, mas desencarnou antes do evento.

14.10.16

A COMUNICAÇÃO DE BEZERRA DE MENEZES NO 8o. CONGRESSO ESPÍRITA MUNDIAL



Um leitor do Espiritismo Comentado me pediu que publicasse a comunicação de Bezerra de Menezes que foi citada no texto do Paulo Mourinha, publicado ontem. Graças à gentileza e presteza do amigo de Portugal, estamos publicando hoje esta transcrição.

Para quem quiser ver mais fotos, vídeo conferências ou áudio conferências, a organização do evento disponibilizou, gentil e gratuitamente, no link abaixo:


Comunicação de Bezerra de Menezes por Divaldo Franco (Transcrição de Paulo Mourinha)

"Deveremos converter-nos em chamas vivas, para que nunca mais, haja escuridão na Terra. É necessário que o nosso amor se transforme, em ESPERANÇA e ALEGRIA.

Há tanta DOR esperando por nós. Tantas lágrimas a enxugar. Tanto sofrimento que temos vergonha de ser felizes. ESPÍRITAS MEUS FILHOS transformai as lições profundas da CODIFICAÇÃO ESPIRITA numa diretriz de segurança para encontrardes a plenitude. Nós, aqueles que atravessamos o portal de cinza e de lama de que se constitui o corpo. Voltamos para dizer-vos: AMAI A VIDA EM TODAS AS SUAS EXPRESSÕES. PORFIAI NO BEM E CREDE, CRISTO VIVE. A MORTE, É NADA MAIS QUE A TRANSFORMAÇÃO DE MOLÉCULAS QUE VOLTAM A QUÍMICA ORIGINAL DO SUBSOLO, PARA NOVAS CONJUGAÇÕES ATÔMICAS.

O Amor, à luz da Caridade, é o maior tesouro que podemos carregar. Onde estejais, que brilhe a luz do Senhor, e que todos saibam, que sois irmãos uns dos outros, diferindo a verbalização idiomática. O nascimento do solo, o endereço, mais uma só pátria...A PÁTRIA DA FRATERNIDADE. Uni-vos, porque unidos no amor sois uma força indestrutível, mas, separados, sereis vencidos pelas próprias paixões e procurai levar sem temor a mensagem de vida eterna. Não tendes mais as arenas, nem as cruzes, nem os empalamentos, nem as fogueiras, mas tendes as paixões eternas a vencer.

Os Espíritos espíritas deste Congresso em nome de Léon Denis que patrocina este evento a nível mundial, suplica a Deus que, a todos, nos abençoe e nos guarde em muita paz.

O Servidor humílimo e paternal de sempre. Bezerra"

14.12.12

DIVALDO LANÇA LIVRO NOVO PELA FEB



A Federação Espírita Brasileira está lançando livro atribuído a Bezerra de Menezes, psicografado por Divaldo Pereira Franco, médium baiano que tem vasta publicação mediúnica, reconhecido internacionalmente por suas conferências e por sua obra social no bairro Pau da Lima, em Salvador.

Ainda não li, logo, não tenho como comentar o livro, mas as expectativas são altas.

16.1.09

Como foi fundada a Federação Espírita Brasileira?

Figura 1: Sede da FEB na Av. Passos, Rio de Janeiro. Ela foi construída na gestão de Leopoldo Cirne e inaugurada em 1911.


Poucas fontes documentais tratam da fundação da Federação Espírita Brasileira.

Canuto Abreu escreveu um livro importante, mas pouco conhecido, chamado "Bezerra de Menezes - Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o Ano de 1895." Consegui outras fontes, inclusive documentais, no livro do Eduardo Carvalho Monteiro que cito ao final do trabalho.

Nasce o Reformador

Abreu defende uma tese curiosa, a FEB é filha do Reformador e de uma pastoral da Igreja Católica de afirmava "devemos odiar pelo dever de consciência", referindo-se aos adeptos do movimento espírita e baseando-se no pensamento moisaico.

Esta pastoral foi escrita em junho de 1882. À época, Augusto Elias da Silva era neófito no movimento espírita, frequentava a Sociedade Acadêmica e convenceu-se das idéias espíritas a partir dos estudos de "O Livro dos Espíritos".

Incomodado pela pastoral, ele escreveu um texto em resposta aos católicos intolerantes e não conseguiu publicá-lo em nenhum órgão de imprensa da época. Resolveu então fundar uma revista de orientação liberal com duas partes: uma seção voltada a "todas as corporações científicas, filosóficas e literárias" e outra voltada ao Espiritismo.

Após publicar o primeiro número, afirma Abreu que o editor saiu à cata de colaboradores, e conseguiu envolver neste projeto Pinheiro Guedes (médico homeopata), Ewerton Quadros (marechal) e Bezerra de Menezes.

Bezerra de Menezes julgava necessário unir os espíritas no Brasil em um centro, na capital do império, formado por delegados de todos os grupos. Esta idéia ganhou força com a publicação de Reformador, uma vez que seu "conselho editorial" não desejava associá-lo a uma sociedade espírita isolada.

No natal de 1883 (segundo Abreu) ou em 1o. de Janeiro de 1884 (segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO, 2006), reuniram-se na casa de Antônio Elias da Silva as seguintes pessoas: Bezerra de Menezes, Raymundo Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Filgueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Victório e Pedro da Nóbrega.

Canuto Abreu entende que a idéia de congregar os grupos espíritas em torno de uma entidade central era uma das tônicas da fundação desta nova organização, mas Quadros afirma que a finalidade era “fundar uma sociedade para o estudo científico do Espiritismo” (MONTEIRO, 2006. p. 23). Giumbelli (1997, p. 63) também discute esta finalidade, e com base no Reformador da época ele encontra a apresentação da FEB como uma organização que visava a “propaganda ativa do Espiritismo pela imprensa e por conferências públicas”.

Foram convidadas outras pessoas para participarem da sociedade e as que o fizeram no prazo de sessenta dias foram inscritas como sócios-fundadores. O número chegou a 40 pessoas de pelo menos quatro estados diferentes. Giumbelli (1997, p. 62) fez um levantamento das profissões dos fundadores e encontrou engenheiros, homeopatas, advogados, militares, funcionários públicos, autônomos, algumas esposas dos fundadores e mulheres sem vínculo familiar com os demais associados.

A Sobrevivência da Nova Sociedade

Com uma sede alugada e poucos recursos, Dias da Cruz, médico homeopata, eleito presidente, teve um papel importante na sobrevivência da mesma. Ele a manteve e chegou a assinar um contrato de aluguel de valor muito mais alto que o inicial, enfrentando a crise econômica que sobreveio com a proclamação da república sem permitir que a sociedade se dissolvesse. (segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO, 2006)

O Papel de Órgão Federativo

Giumbelli (1997, p. 63) mostrou muitas evidências de que o papel de órgão federativo, apesar do nome da sociedade, só foi assumido tempos após a fundação da FEB. Ela chegou a filiar-se a uma sociedade que foi criada com esta função. Abreu (1981) entende que havia uma intenção da parte de Bezerra de Menezes em transformar a FEB em uma organização que coordenasse a propaganda espírita no Brasil, e cita seu discurso publicado no Reformador de 1895 no qual ele implementa mudanças importantes na gestão da sociedade que consolidariam, no futuro o papel que esta organização desempenha hoje.

Fontes Bibliográficas

ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes.4 ed. São Paulo: FEESP, 1981.
GIUMBELLI, Emerson. O cuidado dos mortos. Rio de janeiro: Arquivo Nacional, 1997.
MARTINS, Jorge Damas. O 13º. Apóstolo. Niterói: Lachâtre, 2004.
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Marechal Ewerton Quadros: primeiro presidente da Federação Espírita Brasileira. Capivari-SP: EME e CCDPE, 2006.
_______ 100 anos de comunicação espírita em São Paulo. São Paulo: Madras Espírita, 2003.

29.8.08

Bezerra nos Cinemas e nas Bancas de Revistas



Dois lançamentos em uma mesma semana.

O filme Bezerra de Menezes estréia nas salas de cinema do país. A estréia é tímida, uma vez que o filme está passando em poucas salas. Em Belo Horizonte, apenas uma das salas do BH Shopping o apresenta neste final de semana.

Pelo visto, os administradores das salas de cinema vêem o filme com desconfiança. Filme nacional, sobre um personagem conhecido principalmente pelos espíritas, que não deve atrair um grande público... Devem estar pensando...

Acredito que a timidez dos administradores, associada à qualidade do filme e à relevância do personagem devem atrair uma multidão de espíritas nesta primeira semana, uma vez que ficaremos temerosos de não poder vê-lo na telona, com um som de última geração, para aproveitar o excelente trabalho de fotografia que foi feito, assim como a reconstituição de época. É uma oportunidade de ouro para rever os companheiros dos diversos centros espíritas, que o cotidiano afastou...

A Universo Espírita está apostando em Bezerra: lançou um número especial, intitulado "Revista Oficial do Filme", com inúmeras referências, textos, comentários sobre a obra e curiosidades sobre Bezerra.

Só faltou mesmo a coluna Espiritismo Comentado neste número, contendo, por exemplo a publicação que fizemos em 01 de março do corrente, na qual se recupera o discurso de posse de Bezerra na FEB em 1895, no qual ele traçou as diretrizes que marcariam o futuro do Espiritismo no Brasil.

26.7.08

Do You Know Bezerra de Menezes?




Film about Bezerra de Menezes debuts in August.

On August’s last days, it debuts a film about Bezerra de Menezes’ life. Try to watch it in its first days of presentation, in order to increase its time of exhibit.
The film seems to be good, both in photography and in interpretation. A bit of spiritist brazility in movies!
Watch its trailer in:
http://www.bezerrademenezesofilme.com.br/index.php

Première du film sur Bezerra de Menezes en Août.

La première du film sur la vie de Bezerra de Menezes aura lieu à la fin Août.. Regardez-le pendant les premièrs jours d’exhibition, afin de la prolonger.
Le film promet des bonnes performances en photographie et en interprétation. Un peu de brésilité spirite aux cinés !

Regardez le trailer en :
http://www.bezerrademenezesofilme.com.br/index.php


Filme sobre Bezerra de Menezes estréia em agosto.

O filme sobre a vida de Bezerra de Menezes estréia no final de agosto. Procure assistir na primeira semana de exibição, para que ele tenha vida longa nas telonas.
O filme promete, tanto em fotografia quanto em interpretação. Um pouco de brasilidade espírita nos cinemas.
Veja o trailer em:
http://www.bezerrademenezesofilme.com.br/index.php


Traduções para o inglês e o francês: Vanilson Couto

10.7.08

Filme sobre Bezerra Estréia em Agosto


O filme sobre a vida de Bezerra de Menezes estréia no final de agosto. Procure assistir na primeira semana de exibição, para que ele tenha vida longa nas telonas.
O filme promete, tanto em fotografia quanto em interpretação. Um pouco de brasilidade espírita nos cinemas.

1.3.08

Bezerra de Menezes escreve no Reformador em 1895


Canuto Abreu transcreveu e comentou o editorial do Reformador escrito por Bezerra em 1895, período em que os espíritas se dividiam por questões de interpretação do caráter do Espiritismo. O tema dá o que pensar nos dias de hoje, por esta razão, passo a transcrever o editorial do então Presidente da FEB.

"É para lastimar que, tendo-se difundido admiravelmente no Brasil as idéias espíritas de modo a não haver ninguém que não as aceite, seja a sua propaganda feita sem ordem nem sistema.

Nos Estados há grupos dispersos... Na Capital as associações estão desligadas... Empregam-se, nos Estados principalmente, métodos inconvenientes, tudo à falta de unidade de vistas... Cada grupo tem sua orientação...

Tudo progride e parece-nos que já é tempo de entrar o Espiritismo, entre nós, em nova fase analítica de que deverá subir à sintética, que unificará o Espiritismo no Brasil com o de todo o mundo.

Para passarmos do estado de confusão, em que nos achamos, ao de ordem bem regulada, para chegarmos ao de sistema que será o último trabalho humano, faz-se mister uma séria e bem compreendida organização.

Sem harmonia de ação, sem o concurso harmônico dos grupos entre si, o Espiritismo não fará mais progresso no Brasil, não passará de uma crença sem base, variante de indivíduo a indivíduo.

A união faz a força. Organização e organização, é a palavra que parte de todos os lábios, é a idéia que paira em todos os pensamentos, porque é chegada a hora de passarmos da fase sincrética à fase analítica, como acima indicamos.

Aceitamos, pois, de boa vontade, como nos cumpre, as inspirações que nos dão os prepostos do Senhor, incumbidos de desenvolver o Espiritismo no Brasil. Organizemos.

Para organizarmos é preciso, primo, ligar em uma grande falange os trabalhadores: segundo, regularizar metodicamente o seu trabalho. No próximo número daremos o plano de organização."

(Extraído do livro Bezerra de Menezes: Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o ano de 1895. Escrito por Silvino Canuto Abreu. Edições FEESP)

2.9.07

Assista o Trailer do Filme de Bezerra de Menezes


Glauber Filho dirigiu um longa metragem sobre Bezerra de Menezes. Clique no título ou no link http://br.youtube.com/watch?v=NIsmtkniZx4 e assista o trailer no YouTube.
Orientado por Luciano Klein Filho, o filme promete. Leia um pouco sobre o projeto e o elenco no link http://www.bezerrademenezesofilme.com.br/.