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5.12.17

MEU FILHO DEVE IR PARA A MOCIDADE ANTES DO TEMPO?


Esta história aconteceu há muito tempo, mas tem histórias que se repetem, nem sempre com o mesmo fim. Eu era um dos evangelizadores da turma com 11 e 12 anos, na Associação Espírita Célia Xavier. Era novo, não devia ter feito 18 anos ainda.

Um dia, uma mãe me procurou. Ela desejava que sua filha fosse para a mocidade (grupo de jovens, que começava com 13 anos), que ela era muito madura e inteligente e que aproveitaria melhor o outro grupo.

Quando se dividem turmas por idade, em um período tão marcante como a pré-adolescência e a adolescência, não se tem em vista a capacidade intelectual, especialmente em um centro espírita. Um ano de diferença parece uma eternidade para um adolescente. Fico vendo as filhas dos amigos dizendo que dois anos de diferença fazem com que se sintam deslocadas nas festas.

Outro problema, muito encontrado nas escolas, é quando chega um novo membro em uma turma já formada. Ele terá uma dificuldade a mais para se “enturmar”, porque os demais já se conhecem, já têm suas preferências e amizades estabelecidas, e pode ficar meio à parte, até que consiga amizades. Uma adolescente que conheço mudou de escola no 6º. ano. Tímida, levou dois anos para construir uma turma de amigos, daquelas que se relacionam além das salas de aula e dos trabalhos em grupo.

Na pré-adolescência as mudanças corporais são acentuadas. Minha esposa comentou que seus alunos entram ainda com corpo de menino/menina e saem com corpo de rapaz e moça, com algumas variações. Não são apenas mudanças físicas, mas também psicológicas, que se tornam um fator a mais no difícil processo de integração dos jovens.

Certa vez fui falar para um grupo de mocidades em um centro espírita de Belo Horizonte que tinha apenas 4 jovens no dia marcado. Dois tinham entre 13 e 14 anos e os outros dois na faixa dos 18 anos. Foi um dia difícil, porque os interesses eram imensamente divergentes.

Há também uma questão com os pais. Via de regra eles fazem tudo por seus filhos, e às vezes se projetam neles. Os filhos podem ser uma espécie de “segunda chance” de realização dos sonhos deles próprios, e passam a sofrer (isso mesmo!) as expectativas dos pais. Os pais os consideram mais inteligentes do que eles foram, e às vezes querem “corrigir” a educação que tiveram com os avós nos filhos. Podem, por exemplo, tratar de forma mais “democrática” seus filhos e costuma acontecer de exagerarem na mão e serem permissivos. Passam a ter dificuldade de dizer “não”, uma palavra tão necessária para a educação de um cidadão que vai viver em uma sociedade com direitos e deveres.

Outra questão envolve o próprio jovem. Passando as transformações da adolescência, ficam hipersensíveis e às vezes “donos da verdade”. Os pais não sabem muita coisa, aos olhos deles, porque vivem uma nova época. Paradoxalmente, já li sobre isso no Império Romano... Com tanto “poder” e expectativas, costumam ser frágeis, na verdade. Se ofendem ou magoam com situações que um adulto nem percebe. E a fuga pode ser uma forma inadequada de enfrentamento dos problemas.

Nesse caso, o pai percebe que o filho está incomodado, mas o filho lhe dá uma resposta socialmente aceita: “eu já sei tudo o que me ensinam, por isso não quero ir... “ E os pais menos atentos, acreditam, mesmo que os programas de curso sejam bastante diferentes e preocupados com a variação dos temas e das abordagens.

Há também uma questão meio narcísica. O pré-adolescente/adolescente quer parecer algo que ele ainda não é. Não se trata, portanto, de um conteúdo que ele já conhece, mas mostrar aos pais e aos colegas o quão especial ele é. Fica claro que isso é fantasioso, e não se atinge com uma mera mudança de turma. Ele vai continuar com esta “necessidade” íntima.

Retornando à história original, eu conversei com a mãe. Expliquei-lhe nas duas aulas que a filha participou, eu havia notado que ela era realmente especial, mas que o interesse e a ligação com o grupo não podiam ser esquecidos. Eu lhe expliquei que iríamos fazer um trabalho na turma de 11 e 12 anos para que eles se aproximassem, e pudessem ir, juntos, para a mocidade. Isso lhes daria mais segurança e satisfação.

A mãe ouviu e entendeu. A pré-adolescente participou conosco durante o ano todo, e no ano seguinte foi para a mocidade. Com o passar das décadas eu perdi o contato com eles, e me lembro vagamente das duas. Não sei se continuam no meio espírita, mas acho que foi uma experiência bem sucedida, e uma decisão acertada.

Eu mesmo tinha interesses diferenciados quando tinha 13 anos. Eu participava de minha turma de mocidade, o antigo 1º. Ciclo, e depois ficava para assistir os estudos do 3º. Ciclo. Conseguia acompanhar os estudos sem dificuldade, mas eram duas experiências diferentes, e agradeço muito o carinho e a compreensão dos meus amigos de idade mais avançada, porque era claramente imaturo perto deles.

Creio que a opção para os jovens que desejam aprender mais, é mantê-los nas turmas de sua idade e encaminhá-los para outros espaços das casas espíritas, para ver como se saem. Cursos de estudo sistemático do espiritismo, por exemplo, seriam uma boa opção. Outra boa opção é aproximá-los a equipes de tarefas, onde poderão aprender e fazer algo. A realização e a confiança obtida pelos demais, nessa idade, é muito motivadora e estruturadora.

Para terminar, há também um “lado negro”, no caso de nossa casa, porque a evangelização é sábado de manhã e a mocidade no sábado à tarde, então há pais que não querem levar seus filhos duas vezes ao dia no centro espírita, e temem que eles ainda sejam muito jovens para andar de ônibus sozinhos. Então para os pais seria mais cômodo levá-los uma vez só.

Como se pode ver, é um problema bem complexo, mas que envolve a vida das pessoas mais queridas por nós, então vale a pena sair da “zona de conforto”, pensar muito antes de colocar os filhos em uma turma de jovens de idade diferente.

6.2.11

AGENDA DE UMA MOCIDADE ESPÍRITA CONTEMPORÂNEA

Reunião de Abertura da Mocidade AECX em 2010


No início do século XX não havia mocidades espíritas no Brasil. As primeiras começaram a ser formadas na década de 1930, embora não haja dados seguros sobre isto. Em 1948, Leopoldo Machado tomou à frente da organização do 1o. Congresso de Mocidades Espíritas no Brasil, após a recusa da FEB em organizá-lo, que recebeu representantes de diversos estados e teve como efeito a disseminação deste novo tipo de reunião nas sociedades espíritas brasileiras.
Houve muitas transformações desde sua concepção aos dias de hoje. As poucas descrições na obra de Leopoldo Machado faziam parecer a mocidade uma espécie de grupo festivo, no qual havia um papel da arte associada ao Espiritismo, mas uma mentalidade de tratamento do jovem que se aproximava muito ao que dispensamos hoje às crianças.
Como se defendia a criação de um estatuto próprio para as mocidades, muitas se tornaram um "centro dentro de um centro", agindo à revelia das decisões, resoluções e diretrizes da casa que os acolhia. Eram eleitos presidentes de mocidades e juventudes espíritas, cargos diretivos, como se fosse um órgão estudantil dentro de uma escola, uma espécie de grêmio ou diretório. Neste formato podia ou não haver a figura do mentor, pessoa mais experiente que deveria orientar os jovens. Não é difícil perceber que este formato gerou muitos conflitos dentro das casas espíritas, em virtude da inexperiência nas relações instituicionais e interpessoais dos jovens e da desconfiança dos membros da casa para com uma organização que lhes soava estranha e às vezes ameaçadora.
Passados os anos, hoje as mocidades e juventudes são bastante aceitas pelo movimento espírita, recomendadas pelos órgãos federativos e muito material e experiência se desenvolveu em torno deste espaço instituicional espírita. Ainda há quem seja contra as mocidades ou os encontros de jovens espíritas e conceba a inserção do jovem na casa espírita pelos mesmos espaços criados para os adultos, mas são minorias no movimento.
Na capital mineira, hoje, grande parte dos grupos de jovens se acha integrado às sociedades espíritas com maior ou menor intensidade. Desde o surgimento da Confraternização das Mocidades Espíritas de Belo Horizonte - COMEBH, em 1983 (eu estive lá...) houve um grande aumento do relacionamento entre jovens de mocidades diferentes e um saudável trânsito entre as casas espíritas da Grande Belo Horizonte.
As COMEBHs se tornaram também uma espécie de incentivo a práticas que se disseminaram pelas mocidades: grupos de teatro, músicas criadas pelos participantes, instrumentos musicais, estudos com objetivos e metas, ações de integração, criação de material de apoio, entre outras iniciativas passaram a fazer parte do cotidiano do jovem no Centro Espírita.
Ontem fui convidado a assistir a reunião anual de abertura da mocidade da casa que frequento, 32 anos após tê-lo feito na condição de adolescente interessado. Algumas coisas mudaram, mas o essencial continua, sob novas formas.
Ainda se canta a canção "Sê bem-vindo" para os novatos. Ontem o regente enviou um vídeo da Alemanha, onde se encontra, com uma mensagem de acolhimento e "regeu" a cantoria.
Ainda se dão recados, com um ar despojado e alegre, convidando os participantes a ingressar nas muitas tarefas e eles estão cada dia mais criativos...
Ainda se projetam imagens, mas o velho projetor de slides, o flanerógrafo e o retroprojetor cederam lugar às mídias informatizadas.
O ingresso dos jovens que concluíram a evangelização infantil aumentou, assim como o interesse e a participação dos pais.
Para concluir, fiquei impressionado com a agenda de trabalhos do grupo de jovens. São diversos compromissos envolvendo a mocidade, a casa espírita e o movimento espírita municipal. A título de informação, transcrevo:
- Participação na campanha de inverno
- Participação na organização da festa junina da casa
- Organização das oficinas de mocidade (espécie de confraternização dos jovens da AECX)
- Encontros dos ciclos de mocidade (uma leitura comentada com atividades de recreação na casa de uma das famílias de membro)
- "Enturmão" semestral (encontro de avaliação)
- Participação na campanha do quilo
- Organização do Blog da Mocidade (http://aecx.blogspot.com/)
- Participação na campanha de natal
- Confecção das cestas de natal
- Reunião extra para os interessados de estudo sistematizado (este ano sobre o livro "O Consolador" de Emmanuel)
- Participação como expositores nos ciclos de estudo introdutórios de Espiritismo, que acontecem às segundas e sextas-feiras.
- Participação na organização da COMEBH e na promoção do Festival de Sorvete para angariar fundos
- Participação na evangelização infantil das quatro unidades que compõem a AECX, sendo duas situadas em municípios vizinhos.
- Grupo de música, que toca todos os sábados na reunião de mocidades e mediante convites em eventos espíritas.
- Visitas quinzenais ao hospital João XXIII
Isso foi o que anotei, estou certo que deve haver mais atividades e tarefas, mas estas já dão a dimensão da integração de um grupo de jovens na casa e no movimento espírita.

12.5.08

Mocidade AECX Comemora 40 Anos.

Foto 1: Mocidade AECX em reunião (1980)


Recebi o convite abaixo da comissão organizadora e repasso aos leitores de Belo Horizonte e arredores.

Outras informações: mocidade.aecx@gmail.com

2.3.08

Ivan de Albuquerque e o Jovem

Figura 1: Ivan de Albuquerque
Ivan de Albuquerque tornou-se espírita na infância, influência de sua família, especialmente sua mãe. Passando por dificuldades financeiras, optou por trabalhar após a conclusão do equivalente ao nosso ensino fundamental para custear os estudos do irmão. Trabalhou como enfermeiro e tornou-se jovem expositor espírita, após estudar as obras a sua disposição, especialmente Allan Kardec e Léon Denis. Jovem, idealista e cristão, fez amizades no círculo dos trabalhadores espíritas das cidades do interior de São Paulo e dedicou sua juventude aos hansenianos, aos pobres, velhos e presidiários. Intimorato, visitava os hansenianos, abraçando-os e bebendo do mesmo copo. Certo dia solicitado a socorrer uma gestante em contrações de parto, atravessou a nado o rio Piracicaba para atender ao pedido da família. Foi detido e internado no Juqueri por autoridades policiais por panfletar o Espiritismo no Congresso Eucarístico (Araçatuba). Abatido, mas cheio de fé, continuou falando para os enfermos e para a equipe até que foi descoberto o paradeiro pela família e retirado do injusto internamento. Fundou uma cooperativa agrícola em Itaberá. Desencarnou jovem, aos 28 anos, em um acidente acontecido em um trem, rumo a Marília, onde faria uma palestra.


Figura 2: Cântico da Juventude

Após sua desencarnação já deu comunicações através de médiuns reconhecidos, mas trouxe aos jovens espíritas um "livro de cabeceira", para ler e meditar, sobre temas atuais de interesse à juventude, publicado pela Editora Fráter. Meu livro já se encontra desgastado pelo uso, mas o considero ainda contemporâneo e importante para as novas gerações, que devem discuti-lo em conjunto, nas reuniões de mocidades, aos poucos, para apreender o universo deste jovem espírito antigo que como Francisco de Assis, não resistiu à loucura da vivência do cristianismo em uma sociedade mercantil.

6.11.07

Notícias da COMECON


Foi realizada a primeira prévia da COMECON - Confraternização das Mocidades Espíritas de Contagem, no Grupo da Fraternidade Francisco de Assis, no dia 28 de outubro passado.

O tema abordado foi "150 anos de O Livro dos Espíritos" e estiveram presentes os jovens que irão participar da confraternização em 2008 e os membros da comissão organizadora.

O estudo tratou da contribuição de dois autores espíritas de épocas diferentes ao entendimento do ambiente, conteúdo e significado da codificação: Deolindo Amorim (Allan Kardec: o homem, a época, o meio, as influências e a missão. Instituto Maria, 1981) e Dora Incontri (Para Entender Allan Kardec. Lachâtre, 2004).

As atividades se realizaram das 8:00 às 13:00 horas, em clima de respeito, integração e alegria. A comissão de música apresentou sua seleção de músicas para o encontro durante o evento.



Os debates e discussões abrangeram questões sobre o caráter epistemológico do Espiritismo, as influências do pensamento na constituição da Doutrina por Kardec, os antecedentes (antecedentes filosóficos, Doutrina Swedenborguiana, antecedentes cristãos e o contexto sócio político do século XIX) e os desdobramentos (Espiritualismo Moderno, Pesquisa Psíquica, Metapsíquica e Parapsicologia). A centralidade de "O Livro dos Espíritos" na obra de Allan Kardec e seu papel no interesse de Flammarion, Delanne e Denis encerraram o estudo que terá continuidade em novas prévias.