22.8.21

16 ENLIHPE: 28 E 29 DE AGOSTO

 



Todo ano, a Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, rede de estudiosos do espiritismo (espíritas ou não) promove seu encontro nacional. Nesse ano o encontro será à distância e aberto a todos os interessados, sob a coordenação dos membros de São Paulo, após três anos distantes dessa capital.

Em 2021 teremos a participação de Julie Beischel, uma pesquisadora norte-americana que vem publicando trabalhos de resultados de estudos com médiuns. Interessa a todos nós os seus artigos, uma vez que emprega métodos experimentais e de observação em seus estudos.

Os links para a participação do público serão divulgados em data mais próxima do evento, aqui no Espiritismo Comentado, no grupo de Facebook da LIHPE e em outras mídias. A participação é livre e não necessita inscrição. Utilizar-se-á o Streamyard para levar o evento ao público. 

https://business.facebook.com/LihpeLigaDePesquisadoresDoEspiritismo/videos/161410425955270/

Segue abaixo a programação do evento:


16º ENLIHPE Tema central: 160 anos de O Livro dos Médiuns

PROGRAMAÇÃO – 28/08/21

Sábado

8h30 Abertura e apresentação artística

8h45 Palavras iniciais: LIHPE / CCDPE-ECM / USE

Marco Milani, Julia Nezu e Rosana Gaspar

9h00 Apresentação 1 – O Livro dos Médiuns: origem dos textos e evolução da obra

Luís Jorge Lira Neto e Luciana Farias

9h20 Perguntas e comentários

9h40 Apresentação 2 – Mecanismos da Mediunidade: Um Paralelo entre André Luiz e Kardec

Alexandre Fontes da Fonseca

10h00 Perguntas e comentários

10h20 Intervalo 1 (café)

10h40 Apresentação 3 – “A loucura sob novo prisma” como produção de conhecimento científico: uma análise a partir da filosofia da ciência de Gaston Bachelard

José Daniel Souza

11h00 Perguntas e comentários

11h20 Apresentação 4 – Catálogo racional de obras para se formar uma biblioteca espírita: a publicação original comparada com alguns de seus manuscritos e demais versões

Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos e Luciana Farias

11h40 Perguntas e comentários

12h00 Intervalo 2 (almoço)

13h30 Apresentação artística 2

14h00 Apresentação 5 – Valorização de Kardec nos trabalhos da LIHPE

Alexandre Fontes da Fonseca

10h20 Perguntas e comentários

14h40 Apresentação 6 – Três conceitos de experiência: o crítico-transcendental, o analítico-pragmático, e o espírita

Humberto Schubert Coelho

15h00 Perguntas e comentários

15h20 Intervalo 3 (café)

15h40 Sessão internacional – Pesquisas sobre médiuns no Windbridge Research Center (Obs:esta apresentação será realizada em inglês)

Julie Beischel

16h00 Perguntas e comentários

16h30 Apresentação 7 – A atuação de Amélie Boudet na sucessão de Allan Kardec

Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos e Luciana Farias

16h50 Perguntas e comentários

17h10 Encerramento das atividades do dia


16º ENLIHPE Tema central: 160 anos de O Livro dos Médiuns

PROGRAMAÇÃO – 29/08/21

Domingo

8h00 Abertura

Painel: Pesquisas em desenvolvimento

8h10 P1) Alteração da qualidade de vida de integrantes de reuniões mediúnicas após as restrições impostas pela covid-19

Ricardo Alves da Silva, Eliomar Borgo Cypriano e Raphael Vivacqua Carneiro

8h30 Perguntas e comentários

8h50 P2) Proposta de pesquisa de mediunidade intervivos

Mauricio Mendonça

9h10 Perguntas e comentários

9h30 P3) A irradiação mental no tratamento espiritual do transtorno mental - estudo de caso

Jaider Rodrigues de Paulo, Lenice Aparecida de Souza Alves, José de Avila Oliveira Neto, Viviane Aparecida dos Santos e Cristina Maria Pinheiro de Souza de Avila Oliveira

10h20 Perguntas e comentários

10h40 Intervalo

11h00 Apresentação 8 Uma identificação da causa mortis alegada pelos espíritos comunicantes das cartas psicografadas por Chico Xavier

Carlos Roberto Fernandes e Emanuelly Pereira da Silva

11h20 Perguntas e comentários

11h40 Encerramento

Apoio institucional: União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro.

Abaixo temos um vídeo em inglês com a apresentação de parte do trabalho sobre mediunidade do Windbridge Institute, que a Dra. Beischel dirige.

13.8.21

ÓCHÊMA: UMA CONCEPÇÃO NEOPLATÔNICA DO PERISPÍRITO

Jáder Sampaio



Desenho de Gustave Doré sobre a transfiguração. Passagem bíblica em que Moisés e Elias, mortos há séculos, se mostram ao lado de Jesus "iluminado", e são vistos pelos apóstolos. Para o espiritismo isso só seria possível em função da mediunidade e do perispírito.

Existe na história da filosofia um platonismo considerado tardio, uma espécie de revivescência de Platão que ficou conhecido como neoplatonismo. Amônio Sacas, filósofo romano radicado em Alexandria, da transição entre os séculos 2 e 3 da era comum (ou depois de Cristo, como se falava na minha juventude...) é considerado um dos fundadores dessa escola e influenciou diversos pensadores de sua época, como Plotino, e mesmo pensadores cristãos, como o “quase-pai” da igreja, chamado Orígenes, que entre outras coisas, aceita a realidade lógica de uma pré-existência do Espírito como forma de se entender as diferenças de condição dos homens no mundo.

João Castro e Murilo Castro nos explicam que no neoplatonismo “a alma tem outro corpo quase-físico ou óchêma, geralmente adquirido durante a «descida» pré-natal através dos céus (kathodos; ver Plotino, Enn. IV, 3, 15; Macróbio, In Somn. Scip. I, 12). Este torna-se gradualmente mais pesado e mais visível à medida que desce através do aer úmido (Porfírio, De antro nymph. II). Com a sua vulgar devoção textual os neoplatônicos dedicaram-se a descobrir a origem desta doutrina em Platão e particularmente no Tim. 41d-e onde o demiourgos semeia cada alma num astro «como num carro» (ochema; confrontar Fedro 247b), antes de incorporar algumas delas na terra e «armazenar» outras nos planetas (ibid. 42d).” (http://platon.hyperlogos.info/ochema)

Nessas doutrinas temos mais um conceito bem semelhante ao de períspirito e um conceito antigo cujas modificações no tempo vão dar no éter, também empregado por Kardec que prefere entendê-lo como um estado ou quinta-essência e preferir o nome de fluido universal, fluido cósmico e às vezes fluido cósmico universal, com o mesmo sentido.

Por que voltar aos filósofos e pensadores antigos em busca de Kardec? Para entender o que ele dizia quando considerava Sócrates, Platão e outros pensadores como precursores do espiritismo cristão. Autores clássicos como Delanne, Denis e Flammarion se serviam sempre desse “retorno ao passado”, que mostrava aos leitores a erudição de Allan Kardec e permitia a ele uma melhor compreensão do significado dos conceitos dele.

Os que procuram o espiritismo apenas como uma terapia complementar, um espaço de socialização ou uma espécie de rito semanal não devem se interessar por esse tipo de texto, mas o que o entendem como uma filosofia de vida, que exige ser conhecida para ser critério de escolhas, saberão valorizar a iniciativa.

3.8.21

EIDÔLON OU SOMBRA: EM BUSCA DA IDEIA DE PERISPÍRITO NA GRÉCIA ANTIGA

 


Gravura de Gustave Doré, Matelda imerge Dante no rio Letes.


Jáder Sampaio


Ângelo B. Soares Pereira (2010) escreveu uma dissertação de mestrado para o programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade de Brasília, intitulada “A Teoria da Metempsicose Pitagórica”. Nela temos uma visão muito interessante da evolução do conceito de psyché (alma) e do conceito de eidôlon (períspirito), de Homero até Pitágoras. Ele deseja marcar a distinção de uma visão mítico-poética, até uma visão crítico-racional do filósofo grego.

Surpreendeu-me bastante a visão de Homero, que já trazia em si a noção de “transmigração das almas”, um dos conceitos próximos à de reencarnação em Allan Kardec.

Homero é um poeta-aedo, considerado o autor de livros como Ilíada e a Odisséia, mas os historiadores atuais questionam se ele teria ou não existido, e se seria o autor, ou apenas um compilador de lendas antigas, mas isso não diminui a influência de seus escritos e das histórias que contou na cultura grega.

O autor da dissertação nos explica os três conceitos: psyché (alma), eidôlon (imagem) e sôma (corpo). No processo da morte, a psyché sai do corpo no último suspiro ou hálito (p. 36), ou por uma ferida do corpo. O corpo morto, sem psyché, é o sôma. Ao sair do corpo, ela toma a imagem do corpo. Torna-se o eidôlon (p. 37), e, citando Bento Silva Santos, ele afirma que o morto é, portanto, uma “sombra do homem que vivia”. Isso explica o emprego da palavra sombra como sinônima de Espírito. O eidôlon é psyché sob a forma humana da mesma forma que, em Kardec, o Espírito é o princípio inteligente (ou espírito com “e” minúsculo) que anima um “corpo espiritual” ou períspirito.

Gabriel Delanne atribui a Platão, ao falar da transmigração das almas, a afirmação que após 1000 anos de Hades, se tiverem de voltar, bebem a água do rio Letes “que lhes tiram a lembrança de suas existências passadas”. Delanne também diz que a alma, “desembaraçada de suas imperfeições, ... não vem mais à Terra.” (Delanne, Gabriel. A reencarnação, cap. 1, p. 24)

Esta é mais uma questão que sugere a aproximação entre o pensamento de Allan Kardec a elementos da filosofia clássica, e a identificação de Platão como um dos espíritos que contribuiu com a elaboração do pensamento espírita.