Reinauguração do monumento na Praça Professor Rivail, em Niterói
Passados alguns dias do término do 1º. Encontro de Cultura e
Pesquisa Espírita – XII Colóquio França-Brasil, somente agora consigo comunicar
minhas impressões do evento.
A primeira impressão positiva foi a presença de mais de 200
pessoas dispostas a passar o final de semana discutindo o surgimento do
espiritismo no Brasil e na França. A grande maioria foi de pessoas do Rio de
Janeiro, local de realização, mas tivemos presenças notáveis de outros estados
e países.
César Perri fez a conferência de abertura, na qual tratou
dos 150 nos de “O Céu e o Inferno”, com sobriedade e erudição. Ele nos explicou
uma velha dúvida, que é a ausência de uma introdução deste livro. A introdução
de Kardec existiu nas primeiras edições, e foi recuperada na nova edição da FEB,
traduzida por Evandro Noleto Bezerra.
Mesa de abertura: Da esquerda para a direita - Profa. Telma (UERJ), Pedro Nakano, César Perri, Paulo Sérgio, Nely, Roberto e o Diretor da Rádio Rio de Janeiro
Jorge Brito e Evandro Noleto fizeram uma mesa meticulosa,
que demonstrou o cuidado de ambos com a recuperação das obras elaboradas por
Kardec. Jorge é bibliófilo e tratou das edições e dos editores na França e no Brasil.
Foram tantas informações que não consegui registrar, embora estivesse anotando
as conferências para esta matéria que agora escrevo. Penso que este é um dos
DVDs que devem ser comprados por quem se interesse pelo ´processo da formação do espiritismo.
Marion Aubrée
Fiquei muito sensibilizado com a simpatia da Dra. Marion
Aubrée. A antropóloga fez um trabalho em parceria com o Prof. Laplantine sobre
o espiritismo no Brasil e na França, propondo a ideia da reexportação das
ideias espíritas do nosso país para o berço do espiritismo. Ela dedicou muitos
anos de sua vida estudando os dois movimentos, visitou instituições e
participou ativamente do evento até seu encerramento. Já publiquei
anteriormente algumas críticas que fiz ao livro “A mesa, o livro e os
espíritos”, mas isso não impede a simpatia pelos esforços de Marie Jeanne. Com
um olhar externo, ela pontuou muitos pontos que às vezes preferimos não ver no
movimento espírita brasileiro, como os misticismos envolvendo a mediunidade de
cura.
A conferência de abertura do sábado de manhã foi feita pela
Dra. Nadja do Couto Valle. Uma aula de história da filosofia, que é seu campo,
até a época de Kardec. O texto que Nadja publicou no livro “Em torno de Rivail:
o mundo que viveu Allan Kardec” é uma síntese desta palestra, mas a fala foi
ainda mais rica e cheia de informações. Outro DVD que vai interessar muito aos
estudiosos da filosofia espírita.
Houve uma boa conexão entre a conferência da Dra. Nadja e a
mesa que mediamos, composta pelo Dr. Alexander e pelo doutorando Marcelo Gulão,
que trataram do método de Kardec. Ambos mostram como o trabalho de Kardec foi
cuidadoso, e, de certa forma, considera-lo apenas como codificador não revela a
dimensão de pesquisador e pensador que esteve presente na construção de sua
obra. Citei o livro “A temática espírita na pesquisa contemporânea”, que contém
um artigo de Alexander e Klaus sobre a metodologia de Kardec, e o capítulo que
publiquei do livro “O espiritismo, as ciências e a filosofia”, que mostra como
Kardec empregou a hermenêutica em seu trabalho e como ele antecipou em meio
século algumas das ideias da fenomenologia de Husserl. Os livros foram muito
procurados pelos presentes, quase se esgotando, tal o interesse do tema.
O Prof. François Gaudin fez uma palestra interessantíssima sobre
Maurice Lachâtre, que é conhecido no Brasil apenas pelo episódio do auto-de-fé
de Barcelona, mas que tem uma longa trajetória de atuação em favor das ideias
socialistas e de parceria com Allan Kardec. Lachâtre, por exemplo, fundou um
banco de trocas com Rivail, que chegou a ter 500 participantes, mas de vida
curta. Gaudin nos apresentou a inclusão do espiritismo nos dicionários e
enciclopédias de Lachâtre, que foram muito vendidos em sua época.
Luciano Klein Filho
Dos brasileiros tivemos a presença bem humorada e muito erudita
de Samuel Magalhães e Luciano Klein Filho. Ambos trataram das origens do
espiritismo no Brasil, especialmente no Amazonas e no Ceará, terra de Bezerra
de Menezes. Ambos estudam e pesquisam seus temas há muitos anos, têm livros
publicados, e conhecem com detalhes espíritas como Bezerra de Menezes e Ana
Prado. A recuperação da história do espiritismo no Amazonas mostra o quão pouco
conhecemos em geral da história do nosso país e do nosso movimento.
A mesa francesa, composta por Vincent Fleurot e Olivier
Geneviéve, que encerrou a tarde de sábado, mostrou o esforço conjunto entre
Niterói e Lyon para homenagear publicamente a memória de Allan Kardec. Hoje
existe um menir de Allan Kardec em Lyon, que foi construído próximo ao local de
nascimento do fundador do espiritismo, na rua Sala. Em Niterói, cidade irmã, se
construiu um monumento na praça Allan Kardec, que foi restaurado e visitado
como parte do Encontro, nas sexta feira pela manhã. As camisas do encontro têm
representados os dois monumentos.
Dora Incontri
Não pude assistir as conferências de Dora Incontri e Yasmim
Madeira, em função dos horários de voo de retorno a Belo Horizonte. Dora
enfrentou alguns problemas com a projeção das imagens que ela havia planejado,
mas seu domínio e conhecimento prevaleceram no pouco que pude assistir de sua
conferência sobre o diálogo entre espiritismo e universidade.
Nos intervalos, onde um encontro pessoal aconteceu, quando
pudemos conhecer pessoalmente pessoas como Cláudia Bonmartin, pioneira da
reconstrução do espiritismo em Paris e Europa, Mauro Camargo, escritor radicado
em Santa Catarina, Darcy, pioneira das Comeerjs de décadas atrás e atuante na
CEERJ, e muitas pessoas que foram participar do evento, jovens, estudantes de
pós-graduação, trabalhadores de frente do movimento espírita do Rio de Janeiro,
entre muitas outras pessoas. Foi muito bom encontrar e conhecer pessoalmente
muitos dos atores da nova relação que se estabeleceu no final do século XX, entre França e Brasil,
espíritas.