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15.6.08

História do Espiritismo é Capa da Revista de História


A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou dois excelentes artigos sobre a história do Espiritismo no Brasil.
O primeiro artigo é de um antropólogo namorador de história, já conhecido e reconhecido pelos seus estudos sobre o Espiritismo, Emerson Giumbelli. Ele ganhou em 97 o segundo lugar nacional do prêmio "Arquivo Nacional de Pesquisa" pelo seu trabalho "O Cuidado dos Mortos".
Giumbelli apresenta no seu artigo o surgimento do Espiritismo no Brasil e suas conexões com a mediunidade receitista. Ele valoriza o papel da assistência social através da mediunidade receitista no Brasil, que se tornou o primeiro grande elo entre os espíritas da elite e o povo (tese que desenvolve a partir do pensamento de Sylvia Damázio). Não sei se esta maxivalorização da mediunidade receitista reflete bem a época, se olharmos o movimento intramuros. Talvez tenha sido um dos eventos que maior visibilidade deu ao Espiritismo Brasileiro na imprensa leiga.
O autor apresenta um velho objeto de seus trabalhos, os episódios dos conflitos entre a sociedade brasileira e o movimento espírita devido ao código penal de 1890.
Depois trata de outros assuntos interessantes: O crescimento das adesões à FEB nas décadas de 20 a 40 e o papel de Chico Xavier na consolidação do Espiritismo no Brasil.
Ele propõe uma conexão temporal entre o lançamento do conhecido "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", a escolha de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil, a inauguração da estátua do Cristo Redentor e a constituição da Umbanda como movimento e primeira religião genuinamente brasileira. Seriam o médium de Pedro Leopoldo e o autor espiritual influenciados por um espírito de época no qual se tentava não apenas na esfera religiosa, mas também na política e cultural, uma reconstrução da identidade nacional?
Outra contribuição original do autor é a passagem que ele faz da mediunidade receitista no movimento espírita pela desobsessão e tratamento através de passes. É uma questão instigante, mal desenvolvida, mas que me parece ter outros contornos, inclusive o próprio surgimento da Umbanda e os conflitos internos do movimento devido às influências orientalistas. Cabe lembrar que a desobsessão é prática desde os tempos de Kardec.
O segundo artigo é um retrato vivo da reação dos médicos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro ao movimento espírita. O Espiritismo é tomado como uma questão de saúde pública (pasmem!) e uma das teses aprovadas defende que ele deve ser combatido da mesma forma que se fazia "à sífilis, ao alcoolismo, aos entorpecentes, à tuberculos, à lepra e às verminoses". A influência naturalista de Haeckel e dos Higienistas.
Juliano Moreira outro autor influente nesta escola, com formação alemã, propôs a criação de "semanas antiespíritas" que mobilizassem a sociedade contra o "mal".
Um resgate importante do segundo artigo de Arthur Isaia nesta revista é a tese (recusada) do desconhecido (por nós, espíritas) Brasílio Marcondes Machado. Considerada corajosa, ele se opôs ao pensamento do establisment da FMRJ, e defende posições espíritas com base no pensamento de Bezerra de Menezes, e voltando-se contra Franco da Rocha, que pensava poder conseguir explicar os fenômenos espíritas com a Psicanálise Freudiana, reduzindo-os ao inconsciente. Machado usa Flammarion para opor-se a Grasset, e acrescenta a noção de "superconsciente", que posteriormente será endossada por André Luiz em sua obra. Possivelmente Machado teria sido influenciado pela obra de Gustave Geley, que, anteriormente a ele, já defendia a existência de uma "subconsciência superior".
As matérias estão ilustradas com fotos muito significativas, são uma bela contribuição ao pensamento espírita e à sociedade brasileira.

29.5.08

Feminina Trata de Mediunidade



O Programa Feminina da TV Alterosa entrevistou três convidados sobre o tema mediunidade: Roberto Lúcio (psiquiatra e médium), Raul Marinuzzi (parapsicólogo) e Estêvão Albuquerque (ginecologista). (Para assistir à entrevista de 5 minutos, clique na imagem ao lado)



Roberto Lúcio apresenta um pouco da sua experiência pessoal como médium. Ele fala do surgimento e identificação da sua mediunidade e aborda rapidamente as fronteiras entre mediunidade e Psiquiatria.


Estêvão fala das pesquisas de Sérgio Felipe sobre a Pineal e de sua experiência clínica.

Raul apresenta seu conhecimento histórico sobre o tema.



Clique no link abaixo para assistir.


http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=60&id_noticia=5788/noticia_interna.shtml

1.5.08

V Simpósio Saúde e Espiritualidade

V Simpósio Saúde e Espiritualidade
17 de maio de 2008
8h às 19h


Ocorrerá na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, no próximo dia 17 de maio o V Simpósio Saúde e Espiritualidade, oferecido pelo departamento de cirurgia e CENEX-MED. Serão 60 vagas para acadêmicos e público em geral. Convidamos a todos. Segue a programação e informações.

“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.” Louis Pasteur

Temas:

Aspectos Positivos e Negativos da Religiosidade na Saúde
George Lodi

Experiência de Quase Morte
Orientado por Oswaldo Hely Moreira

Processo de Saúde e Cura
Louis Ricci

Aspectos Positivos e Negativos da Religiosidade na Saúde
Orientado por Gustavo Bastos

Espiritualidade e Saúde Coletiva
Andrei Moreira Machado e Souza

Deficiência – Vivências e Aprendizados
Orientado por Mauro Ivan Salgado

A Importância da Espiritualidade na Formação do Profissional de Saúde
Orientado por Fabrício Henrique de Oliveira e Oliveira

As Necessidades Espirituais das Pessoas
(A Confirmar)

Ética e Solidariedade no Trabalho da Saúde
Ênio Roberto Pietra Pedroso

Vivência – Tai Chi
Maristela Botelho

Exposição de Pôsteres


Inscrições:
No CENEX/MED, Faculdade de Medicina da UFMG Sala 121, 1º andar. Av. Alfredo Balena, 190 – Sta Efigênia CEP 30130-100 Fones: 3248 9644/9645 fax: 3248 9643
Enquanto houver vaga ou até 16/05/2008, no horário de 09:00 as 12:00 e 15/05/2008, no horário de 09:00 as 12:00 e de 13:30 as 17:00.

Vagas: 60 vagas:

estudantes.......................R$15,00
médicos residentes............R$30,00
professores.......................R$30,00
público em geral................R$30,00

PAGAMENTO:
Conta Única do Tesouro Nacional
Banco do Brasil, Agência 4201-3
Conta: 170 500-8
Código identificador 1: 153.289.152.292.883.2-2
Código Identificador 2: CPF do depositante

Favor confirmar no CENEX-MED a existência de vaga, antes de efetuar o pagamento. Mais informações:
http://www.medicina.ufmg.br/cenex/2008/sse.php

16.2.08

Espiritismo e Universidade: Médicos, Médiuns e Mediações


Figura 1: Fotos do Instituto Bairral

Eveline Stella de Araújo defendeu dissertação de mestrado em 2007 intitulada "Médiuns, Médicos e Mediações". É um trabalho antropológico no qual ela emprega o método etnográfico para discutir a mediação entre o "código médico e o espírita" por profissional médico e espírita.


Eveline pesquisou hospitais, associações médico-espíritas, eventos médico-espíritas e descreve as práticas em um centro espírita.


A autora tenta durante o seu discurso "afastar-se" do movimento espírita, o qual parece conhecer de dentro de casa (um abraço ao Napoleão, nosso colega-pioneiro da LIHPE e à sua esposa Elci). Ela mosta domínio dos principais autores antropólogos e de ciências humanas e sociais que trabalharam com o Espiritismo no Brasil em sua revisão.


Temos pontos de divergência e convergência, que não apresentarei no momento, quem sabe em uma publicação futura.


O movimento espírita merece conhecer este trabalho. Basta clicar no título deste "post" e baixar gratuitamente a dissertação da Universidade Federal do Paraná em pdf.

19.5.07

Professor de Neurologia Faz Acusações ao Movimento Espírita

O professor Paulo Bittencourt, titular da cadeira de neurologia da UFSC, orientou um artigo intitulado "Tratamento em Medicina Alternativa em Pacientes com Epilepsia em Santa Catarina", publicado em português e comunicado em congresso internacional no qual faz inúmeras acusações gratuitas aos espíritas catarinenses e ao Espiritismo.

"...os centros espíritas de nosso estado filiam-se basicamente às idéias de seu mentor francês, Alan Kardec. Centros desta natureza apresentam-se à sociedade como uma forma de panacéia: tornando claras, justificando e tratando todas as doenças, disseminando entre seus praticantes a idéia conformista de que os problemas de saúde atuais são consequência de processos de vidas passadas. Resumindo, a doença atual é produto da vida de ontem, e no amanhã virá a consequência do que se fez ou não hoje. Tais centros tem uma poderosa ferramenta terapêutica que denominam cirurgia espiritual. Este tipo de procedimento, ocorre numa sequência análoga às cirurgias reais, onde o médium é uma espécie de cirurgião-chefe."

Tristes comentários. O pior é que o pesquisador não se deu ao luxo de estudar minimamente o Espiritismo para falar dele, quando muito, reproduziu o que ouviu seus pacientes dizerem, ou seja, escreve de oitiva...

Há uma contradição no texto. Panacéia ou conformismo? Panacéia é o remédio para todos os males. Se o Espiritismo possui alguma, por que o conformismo? Se conhecesse o tema sobre o qual escreve, o autor veria que não há defesa de panacéias nem apologia do conformismo em matéria de Doutrina Espírita.

Kardec e os principais autores espíritas não defendem a idéia "conformista" de que os problemas de saúde atuais são todos conseqüências de processos de vidas passadas. Se o autor do artigo e seus colaboradores tivessem avaliado a obra do codificador antes de escreverem sobre ele, teriam encontrado um pensamento muito mais complexo do que barbaramente reduziram em seu texto. Ele escreve em "O Evangelho Segundo o Espiritismo":

"De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5)

No mesmo capítulo, mais à frente, ele escreve:

"Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5)

Quanto ao conformismo a que se referem os autores, Kardec escreveu sobre a fatalidade e se refere a ela da seguinte forma:

Do fato de ser infalível a hora da morte, poder-se-á deduzir que sejam inúteis as precauções para evitá-la?
“Não, visto que as precauções que tomais vos são sugeridas com o fito de evitardes a morte que vos ameaça. São um dos meios empregados para que ela não se dê.” (O Livro dos Espíritos, questão 854)

A idéia de conformismo não é consistente com as opiniões de Kardec e dos Espíritos nem em matéria de enfermidades, como já o mostramos, nem em matéria de desigualdades sociais como se lê:

813. Há pessoas que, por culpa sua, caem na miséria. Nenhuma responsabilidade caberá disso à sociedade?

“Mas, certamente. Já dissemos que a sociedade é muitas vezes a principal culpada de semelhante coisa. Demais, não tem ela que velar pela educação moral dos seus membros? Quase sempre, é a má educação que lhes falseia o critério, ao invés de sufocar-lhes as tendências perniciosas.” (685) (O Livro dos Espíritos)

Quanto às cirurgias espirituais, a sua qualificação irônica como "poderosa ferramenta terapêutica" demonstra a atitude de pouco afastamento ou objetividade com que escreveu o artigo. Diversos autores sérios pesquisaram o tema e os resultados são controversos, assim como é controversa a questão no seio do movimento espírita. Não existe uma conduta comum com relação às cirurgias espirituais nos centros espíritas.

Eu poderia continuar citando obras espíritas. Vêm-me à mente o livro Mediunidade Serena, de Yvonne Pereira e os livros de Carlos Toledo Rizinni, pesquisador do CNPq, que se opõem claramente a esta suposta interpretação que estes médicos catarinenses fazem da doutrina dos espíritos. Poderia citar toda a revisão bibliográfica que tenho feito sobre curas espirituais em periódicos internacionais, cujas posições dos autores são geralmente contraditórias às desrespeitosas afirmações dos médicos catarinenses.

Quanto ao design do trabalho, encontram-se inúmeras falhas, de forma que ele dificilmente seria aceito em um periódico criterioso com blind review. Como pesquisa descritiva, ele é não probabilista, não se podendo generalizar resultados, como os autores bem o admitem no seio do trabalho. Como não é experimental, ele não comparou resultados de terapias alternativas aos da medicina oficial, não podendo comparar a eficácia dos métodos. A revisão bibliográfica é limitadíssima, talvez devido à má delimitação do tema de pesquisa.

Para mais confundir ainda, eles admitem que a doença tem taxas altas de remissão, mas não as explica em bases fisiológicas, nem é capaz de distinguir o que ocorre devido à "natureza" (termo empregado pelos autores) daquilo que acelerou os processos naturais ou interviu de outras formas. Em suma, ele é uma manifestação dos preconceitos do grupo de médicos que o escreveu, de forma tão descuidada, tão desrespeitosa, que não se deu ao luxo de sequer analisar e fundamentar suas acusações e impropérios, talvez julgando ignorantes os espíritas e incapazes de perceber dimensão de leviandade com que produziram este trabalho.