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15.7.17

COMO FORTALECER UMA ASSOCIAÇÃO.





Há alguns anos o Dr. Ysnard Machado Ennes fez circular um texto com uma ironia fina intitulado “Como destruir uma associação”, de autor desconhecido. 

Ele destacava pequenas omissões, atitudes infantis e outras ações dos membros que acabariam por extinguir a organização que eles próprios criaram.

Em uma atividade de sensibilização dos dirigentes de reuniões mediúnicas na Associação Espírita Célia Xavier, fizemos uma adaptação do texto, invertendo os comentários irônicos para destacar ações que devemos fazer se desejamos que nossos grupos permaneçam.

Vejam como ficou.
  1. Frequente a entidade.
  2. Reconheça as melhoras realizadas e não apenas os defeitos e as limitações.
  3. Aceite incumbências que lhe são confiadas ou encontre pessoas com o perfil de realização necessário.
  4. Dê sua opinião sobre os assuntos e comprometa-se com as soluções aceitas pela direção.
  5. Entenda a dificuldade de se aceitar cargos voluntariamente e aceite se puder.
  6. Compreenda que nem sempre sua opinião prevalecerá em uma discussão
  7. Ajude a direção. Lembre-se que você pode ocupar este lugar um dia, e vai precisar de ajuda.
  8. Compareça às assembleias e reuniões ou faça-se representar.
  9. Responda os questionários, pesquisas e consultas feitas pela direção da associação. Elas visam conhecer a opinião da coletividade para tomar decisões.
  10. Se não concorda com uma decisão da qual não participou, consulte o responsável e esforce-se por entender porque foi tomada.
  11. Leia sempre os boletins e publicações da associação.
  12. Esteja bem informado antes de opinar.
  13. Prepare substitutos para os cargos que ocupa.


O que vocês acham?

29.4.17

MEMÓRIA DA CASA ESPÍRITA



Sala de leitura da Biblioteca do Congresso Norte Americano. Ao fundo, as estantes com livros. Com a digitalização e a internet, como será no futuro?



Recentemente, um irmão muito querido de nossa casa espírita resolveu pedir à diretoria para fixar um quadro com a foto de Célia Xavier em um de nossos corredores ou saguão de maior trânsito e o retirasse da biblioteca, que fica bem escondida, "nos porões" da Associação. Seu objetivo era nobre: que as pessoas conhecessem mais a história da casa. 

O primeiro questionamento, é se ao ver o quadro, talvez com o  nome de Célia Xavier, se as pessoas entenderiam do que se trata. Em um país como o nosso, marcado pelo sincretismo, talvez pudessem entender que se tratava de um nicho, ou fazer associação ao que seria um santo católico, e passar a orar para ela neste lugar, descaracterizando nosso objetivo. É o que aprendi no curso de ciências políticas como "efeitos não esperados de uma política".

Contudo, a demanda do amigo tem razão de ser, por diversos motivos. Uma casa é um grupo de pessoas que se associa com objetivos e disposição para agir a partir de princípios. Para que ela não se perca no rumo da história, é necessário conhecer e compartilhar sua razão de ser e sua ética. Senão, as pessoas começam a agir de acordo com seus próprios princípios e entendimentos, transformando a organização em uma "terra de ninguém", um amontoado de grupos e reuniões, cada um trabalhando com uma finalidade, ética e princípios individuais e, pior, até contraditórios entre si.

Com o tempo, as coisas mudam. As demandas dos frequentadores se alteram. A economia se transforma. A rotina das pessoas fica diferente. As leis mudam. As pessoas na direção vão se sucedendo. Surgem novos projetos. Aparecem novas propostas. E a gestão, principalmente, fica no dilema entre o que deve ser mudado e o que não se muda, por ser princípio, base da identidade da organização.

Quando falamos da memória das organizações, creio que desejamos duas coisas. A mais importante é entender como, por que e para que elas foram criadas, quais são seus princípios, aquilo que não deve ser mudado, e o que foi sendo realizado e transformado no passar do tempo. A segunda coisa é reconhecer o trabalho de determinadas pessoas, que se dedicaram, que conseguiram ganhar notoriedade pelos resultados de seu trabalho, por suas ideias, pelo apoio aos demais membros da associação, ou seja, por ter feito a diferença.

Os homens espartanos lutavam corajosamente para não ir ao Letes, o rio onde as almas seriam esquecidas. Eles atingiam seu propósito de vida se seus atos fossem contados às novas gerações. Alguns tiveram suas histórias transformadas em lendas, e seus feitos foram idealizados ao infinito e eles se tornaram mais heróis que homens, semi-deuses. Não devemos fantasiar heróis no movimento espírita, mas compartilhar entre nós a experiência de homens e mulheres que construíram as organizações que nos encontramos.

Uma organização sem história é uma casa vazia, que todo novo morador se sente no direito de decorar e reformar a seu gosto. Uma organização com história é uma comunidade, que o novo membro passa a ter que conhecer para interagir, que os associados passam a ter que avaliar com fundamentação antes de decidir qualquer coisa.

A falta de história, portanto, não se resolve apenas com uma fotografia no corredor. Ela demanda informação, sentido e propósito. É um conjunto de ações coordenadas com a finalidade de compartilhar as histórias, valores, regras e tudo o mais que compõe o que o centro espírita é, ou se tornou no passar do tempo. Pode envolver palestras, treinamentos, exposições, livros, folhetos, filmes, entrevistas, youtube, sites, e diversas outras estratégias de comunicação. Não se resolve com um ato isolado, ou o esforço de uma pessoa. Só atinge maioridade, quando se torna um propósito do coletivo da associação, com o empenho do seu corpo diretor, no passar dos anos.

Quando Kardec propôs em seu projeto para o espiritismo, no século XIX, que o movimento precisava de um museu, fico pensando que ele já intuía a importância de se conhecer a trajetória dos centros e do movimento espírita, uma trajetória que não se reduza a inaugurações de prédios ou paredes com fotos de diretores, tão ao gosto da administração pública do nosso país.

Para terminar com uma provocação, respeitosa, gostaria de inverter a pergunta do irmão. Ele pergunta por que a foto da fundadora está na biblioteca-museu, onde "ninguém vai". Acho que o lugar das imagens do passado deve ficar mesmo em um biblioteca-museu, onde se tenha acesso não apenas à imagem, mas à informação associada a ela. Minha pergunta é por que a biblioteca-museu, diferentemente de muitas outras casas, está escondida nos porões da associação.

3.12.16

ISOLAMENTO DE GRUPOS NO CENTRO ESPÍRITA




Jáder Sampaio

O isolamento de grupos em um centro espírita de grande porte é um dos grandes desafios institucionais que precisa ser enfrentado, para que não haja ruptura do caráter associativo.

É mais fácil isolar-se em uma reunião (mediúnica, por exemplo) ou grupo, participar de atividades apenas com as pessoas deste grupo e contribuir com um valor da cota associativa, não se interessando pelas necessidades coletivas da associação, e apenas direcionando exigências para a diretoria, sob a justificativa de ser sócio regular e participar da organização há décadas.

Neste caso, sempre que as necessidades de muitos afetam a rotina dos trabalhos do grupo, este trata dos pedidos de mudança da direção como uma intervenção indevida.

Quando isto acontece, há uma inversão do pacto associativo. Os dirigentes são vistos mais como empregados ou prestadores de serviço da organização e não como lideranças, que abrem mão de seu tempo pessoal e familiar para contribuir com a associação a pedido e com voto de confiança de todos.

Neste cenário, é mais difícil mobilizar a contribuição dos associados para objetivos comuns, da associação como um todo, que demandam trabalho voluntário e envolvimento de todos. Os projetos externos a um grupo, como a construção de uma nova sede, a adoção de regimentos, o socorro a uma atividade considerada importante que está com falta de trabalhadores, a promoção de eventos para encontro dos membros da organização, sejam de caráter doutrinário ou administrativo e a participação de pessoas de diferentes grupos em atividades que não são vistas como “deles” por dirigentes e membros de grupos.

As escolhas de dirigentes e lideranças se tornam um trabalho muito difícil, porque, isolados, os valores de cada grupo não são conhecidos pela organização como um todo, faltando o vínculo da confiança e do respeito entre eles e o corpo dirigente. Os valores, quando identificados e convidados, necessitarão gastar mais energia e dedicação para superar as dificuldades criadas pelo isolamento e pelo desconhecimento das equipes novas com que trabalharão. Não raro, muitos se afastam precocemente, por motivos muitas vezes triviais, que não seriam causa deste tipo de atitude se já houvesse um relacionamento anterior.

Não há, portanto, uma relação orgânica entre o nível estratégico (a direção do centro), nível gerencial (a direção dos grupos) e trabalhadores (nível operacional). Começa a ocorrer uma estranha disputa de poder entre direção do centro e direção dos grupos, quando deveria haver um relacionamento de colaboração, principalmente porque os grupos e os associados em geral necessitam de um corpo diretor eficaz e são eles que o elegem e o conduzem a suas funções “nunca-remuneradas”.


Esta reflexão não exime os dirigentes dos centros espíritas de seus equívocos, do excesso de individualidade ou do cometimento de abusos em suas funções, mas este seria objeto de discussão de outro texto. O que observamos é a estranha inversão e competição, que possibilita o desenvolvimento de um clima organizacional na casa espírita muito bem descrito pelo espírito Irmão X, no livro Cartas e Crônicas, capítulo 29, intitulado “Bichinhos” ao qual remeto o leitor.

27.1.15

BOICOTE NA CASA ESPÍRITA


Seu centro espírita é um arquipélago?

Recentemente recebi uma consulta de um amigo de muitos anos, que atua em uma casa de Minas Gerais e tenta auxiliar a direção geral em seus propósitos. A atual diretoria, composta de pessoas com algum tempo de vida, na casa dos sessenta/setenta anos, tem superado as dificuldades pessoais, deixado o pijama no armário e tenta investir esforços para a realização de coisas necessárias para o centro como um todo.

Sempre que me entendi por gente no movimento espírita, talvez pela influência de autores como Chico Xavier (Emmanuel), Raul Teixeira, Divaldo Franco, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e muitos outros cuja abordagem considero benéfica e relevante, entendo que o espiritismo tem um autor importante que desenvolveu a estrutura do pensamento espírita, que é Allan Kardec, e seu trabalho vem sendo desenvolvido ao longo dos tempos por diversos autores, encarnados e desencarnados, cuja obras convencionamos chamar de subsidiárias.

Esta forma de perceber o pensamento espírita parece-me muito semelhante à da filosofia, por exemplo, que demanda de todos aqueles que pretendem formar-se nesta área que dominem bem os gregos antigos, como Platão e Aristóteles. Não conheço físico que consiga estudar mecânica quântica, sem conhecer as leis de Newton. A psicanálise, nos dias de hoje, não prescinde da leitura de Freud cujas ideias podem até ser criticadas por autores contemporâneos, mas são a base de uma das escolas de pensamento psicológicas de hoje. Não tenho conhecimento enciclopédico, mas creio que poderia continuar falando de outras áreas do conhecimento. Seja estudando diretamente, seja indiretamente, todas têm seus clássicos, com ideias que funcionam como estruturas do pensamento, com o passar dos anos.

Herculano dizia que o espiritismo é “o grande desconhecido”, e vemos que a obra de Kardec, desenvolvida no contexto da Europa do século XIX, ainda é pouco estudada no movimento espírita. Acho que os espíritas do nosso tempo têm a ilusão, após um ou dois anos de centro espírita, que Kardec é fácil ou rápido de se aprender. Na verdade, o que penso que acontece é uma falta de programação de estudos das casas espíritas que faz com que os expositores falem sempre dos mesmos temas. Há muitos expositores, ainda, que estudam pouco, então se tornam repetitivos e aprendem apenas de oitiva, o que gera um círculo vicioso. Creio que “O evangelho segundo o espiritismo” e “O livro dos espíritos” são as obras mais lidas e comentadas em estudos de Kardec, mas os demais livros e a Revista Espírita, que contém o processo da construção teórica e prática do movimento espírita, ainda são conhecidos por poucos.

Perdoem se divaguei, voltemos à história do início da matéria. Sensíveis à necessidade de revitalizar em sua casa o conhecimento do pensamento de Allan Kardec, os dirigentes convocaram reuniões para sensibilizar os dirigentes para uma ação do centro como um todo, valorizando Kardec, e meu amigo surpreendeu-se com uma reação que ele não esperava na casa espírita: o boicote.

Na administração de casas espíritas, boicote seria um grupo, sob uma direção superior, se recusar a ter relações com os dirigentes que ele próprio escolheu, ou deixou escolherem. Geralmente é um boicote branco, ou seja, não se vai nem se faz representar nas reuniões convocadas, não se cumpre uma decisão coletiva, inviabilizando a gestão. Não é um conflito ou divergência, apenas indiferença. Nas casas maiores, formadas com muitos grupos, é cômodo ficar apenas no âmbito da sua reunião ou grupo de trabalho e fingir que os problemas da casa são dos outros, uma vez que quando uma casa cresce, seus problemas também crescem.

Ilhar-se dentro da casa espírita é uma forma de criar inúmeros grupos dentro de um centro, dificultando sua administração. Com o tempo, os grupos podem desenvolver idiossincrasias e podem ignorar as decisões tomadas pela comunidade, até mesmo as mais democráticas. Não há conflito nem discordância, mas aos poucos as pessoas começam a perceber, e as vezes comentar, as diferenças. Humberto de Campos falou deste problema em um conto intitulado “Bichinhos”.

O problema fica ainda maior quando uma casa com grande número de frequentadores se torna um “arquipélago”. A tentativa de empreender ações coordenadas e de obter apoio para realizações maiores é cheia de espinhos, fica difícil encontrar pessoas dispostas a ocupar cargos de direção, pelas seguidas frustrações impostas pelo “clima de boicote”.

Por esta razão, ouvi de um conhecido expositor espírita sobre a importância de se ter um espaço que congregue as lideranças da casa. Não é um espaço administrativo, apenas deliberativo ou informativo, mas uma reunião ou evento periódico, que possibilite que as lideranças se conheçam, se encontrem e estudem/trabalhem juntas, evitando a territorialização dos grupos espíritas. São necessários esforços para que haja uma convergência de atitudes e objetivos ou o centro se fragmenta.


Gostaria de deixar aos dirigentes de reuniões que leram heroicamente este artigo até o final algumas perguntas: Você tem apoiado a diretoria que elegeu? Sabe quais são os problemas da casa, que ela vem tentando solucionar? Você sabe quais são as tarefas da sua casa e incentiva seus colegas de reunião a auxiliar na sua realização? Ou será que você tem incentivado a todos a ficarem em uma ilha em um arquipélago que leva o nome de centro espírita?

1.10.13

O PROBLEMA DA TERRITORIALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES ESPÍRITAS





"Personalismo e espiritismo são dois polos que não se tocam.” Célia Xavier

Um dos fenômenos que tenho observado em instituições espíritas é a territorialização. Podemos definir a territorialização em uma organização como sua divisão em segmentos com regras próprias e núcleo de poder, em dissonância com os elementos identitários da organização como um todo.

A territorialização, no caso dos centros espíritas, pode acontecer em associações grandes ou pequenas, mas é mais comum nas grandes associações, geridas com estrutura, cargos e funções de gestão pensadas para organizações menos complexas e de menor porte.

Não se confunde territorialização com departamentalização das sociedades espíritas. Esta última prevê autonomia em determinados segmentos ou departamentos, mas mantém coesão em torno de diretrizes gerais e de decisões para a organização como um todo. A departamentalização reconhece que em determinados segmentos, pode haver necessidades e características próprias, por isso tem diretrizes gerais para o todo e permitem variações consistentes com estas características gerais em departamentos específicos.

Este fenômeno vem acompanhado do surgimento de lideranças “individualistas”, com aspirações, visão das tarefas e objetivos de seu(s) grupo(s) de trabalho desconectadas da visão, missão e objetivos da organização como um todo. As lideranças de territórios desenvolvem uma lógica de isolamento, evitar o diálogo com lideranças organizacionais e não participação dos fóruns institucionais. Para sustentarem-se, as lideranças são carismáticas, e atraem o respeito e a fidelidade das pessoas que trabalham com elas. Aos poucos conseguem que as pessoas percebam a direção institucional como uma espécie de “mal necessário”, que se deve respeitar e tratar bem, mas não necessariamente seguir as diretrizes que vêm dela, por mais democráticos e dialógicos que sejam os fóruns de decisão.

Quando participam de órgãos deliberativos, os líderes territoriais podem evitar o conflito verbal, mas boicotam as decisões coletivas com as quais não concordam, considerando-se acima delas.

Tendo se acostumado com esta forma de liderar e coordenar, se eleitas para cargos de nível organizacional, estas lideranças terão dificuldades em lidar com as diferenças, tendendo ao autoritarismo e promovendo conflitos nas relações. Em vez de promover o difícil e demorado caminho da busca possível de consenso com base no diálogo, pretenderão normatizar a partir de sua perspectiva individual. Transformam facilmente uma discussão de ideias em um conflito pessoal, às vezes impondo seus pontos de vista e desqualificando quem discorda deles.

Concebamos as sociedades espíritas territorializadas como uma construção com rachaduras. Se não houver uma intervenção e uma conscientização dos membros dos territórios que são também membros da sociedade como um todo, e que precisam apoiar dentro do possível os projetos coletivos, a construção de normas comuns, e os diretores, que tem o difícil papel de articular uma organização cheia de pontos de tensão, a tendência é a ruptura ou o isolamento, enfraquecendo a sociedade espírita como um todo.

Penso que todos nós temos uma tendência ou impulso ao personalismo. É, portanto, um trabalho de autodesenvolvimento evitar que ele se torne predominante na nossa vida de relação, aprendendo a ouvir e a respeitar fóruns instituídos.

Não é à toa que Allan Kardec valorizasse muito o entendimento e a colaboração entre os membros das sociedades espíritas.

13.2.09

Arquiteto faz Mapa de Centros Espíritas de Belo Horizonte


Figura 1: Mapa dos Centros Espíritas Belorizontinos para visualização em computadores


Vanilson Cosme Oliveira Couto, arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, entregou esta semana um mapa contendo cerca de 120 sociedades espíritas filiadas à Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, AME-BH.

" ...os mapas são como um registro parcial do que de fato acontece sobre o território dos municípios", explica. "Ainda que representações limitadas, eles podem reforçar ou contradizer estudos e percepções futuros como o cruzamento de informações relativas à concentração de centros espíritas, à densidade habitacional e ao nível sócio-econômico destas áreas."
O mapa de Belo Horizonte traz informações curiosas. Algumas regiões são conglomerados de centros espíritas, enquanto que outras são verdadeiros "claros".
Na próxima semana iremos publicar o mapa que ele fez voluntariamente, conjuntamente com seu irmão, o geógrafo Leandro Couto, do município de Contagem.

20.12.08

Devem os centros espíritas manter creches?

Figura 1: Saquinhos decorados, publicado pela Creche Espírita Ponto de Luz http://amaipontodeluz.blogspot.com/


É desnecessário argumentar em favor da filantropia e da caridade no movimento espírita brasileiro. A obra kardequiana defende, seguida por diversas contribuições de autores e médiuns brasileiros, a caridade como valor e a filantropia como dever. De uma forma muito pessoal e individual, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” é um convite de muitas faces para que o homem de bem, e não apenas o espírita, atenda a exortações como:

“Encontra satisfações nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.” (KARDEC, 1978a, p. 285)

Uma vez aceito o imperativo ético da prática da caridade, e aceita a distinção entre caridade moral e material, como o faz Kardec na mesma obra, não é inusitado aceitar que as instituições espíritas organizem serviços capazes de atender às necessidades sociais, no limite de suas capacidades. O próprio Kardec propôs a manutenção de instituições como um dispensário, onde se realizariam consultas médicas gratuitas, uma caixa de socorros e um asilo, a serem mantidos com recursos da Comissão Central do Espiritismo, em seu conhecido Projeto de 1868. (KARDEC, 1978b)



Há que se distinguir a manutenção de instituições do imperativo da caridade. O espírita (pessoa) não precisa de uma instituição mantida por seu centro espírita para a realização de uma ação social beneficente. Ele pode juntar esforços a diversas iniciativas sociais mantidas pelo Estado ou por organizações sérias sem fins lucrativos. Da época de Kardec aos nossos dias, cada vez mais os Estados têm trazido para si a responsabilidade de fornecer serviços considerados necessários à população. Educação, saúde, proteção alimentar, entre outras ações, estão cada vez mais presentes nas agendas de governos, das mais diversas orientações políticas. Salamon (1998) defende, com números, que nas últimas décadas o número de organizações sem fins lucrativos, constituintes do chamado Terceiro Setor, têm crescido intensamente em todo o planeta. O movimento espírita não pode se furtar a refletir sobre as mudanças na sociedade e sobre o seu papel. Diante destas mudanças, é muito oportuna a questão que o Carlos Iglesia solicitou que se discutisse melhor: devem os centros espíritas manter creches?



Antes de tratar da questão das creches, devemos pensar em uma área que sofreu uma transformação mais intensa em nosso país, as ações de saúde. Seja pelo avanço da medicina e da tecnologia médica, seja pela evolução das políticas públicas de saúde, hoje, de uma forma geral, temos nos grandes centros urbanos um serviço de atendimento médico disseminado e articulado. O Sistema Único de Saúde (SUS) possibilitou a criação centros de saúde com corpo médico de generalistas e alguns especialistas, serviços de enfermagem, farmácia, campanhas de vacinação, odontologia, psiquiatria, psicologia, entre outros serviços, integrados a hospitais generalistas e de especialidades. Na última década os governos federais têm incentivado o Programa de Saúde da Família, no qual uma equipe de saúde visita residências e passa a acompanhar pacientes cujo cotidiano era desconhecido ao médico, que só os via no posto de saúde, e a atender pacientes que eram mal atendidos pelo sistema anterior pelas dificuldades de locomoção aos postos de saúde.



Respeitadas as diferenças entre regiões no Brasil e as exceções, um dispensário com um médico fazendo consultas gratuitas, é uma organização de qualidade inferior à que é oferecida pelo Estado (o que não acontecia à época de Kardec). Sem poder pedir exames que o auxiliem a fazer diagnóstico, sem poder encaminhar para hospitais de alta complexidade, sem poder contar com o apoio de uma equipe de profissionais da saúde, o seu trabalho, em que se pese a boa vontade e a disposição de ajudar o próximo, será de qualidade inferior ao que é oferecido pelos órgãos de Estado. Não é exagero dizer que esta instituição, nas condições acima indicadas, atende mais a necessidade do voluntário em prestar o serviço que a do atendido. A conseqüência da melhora dos serviços do Estado é que a exigência para a atuação neste espaço aumenta.



O que têm feito os centros espíritas que estão atentos às mudanças no cenário social? Quando já têm uma estrutura de saúde montada, vão migrando seus serviços para os espaços mal cobertos pelos órgãos de Estado ou vão aumentando a complexidade de suas ações. As farmácias ligadas aos centros espíritas trabalham com medicamentos que não são facilmente encontrados nos postos de saúde. Os serviços de odontologia vão fazer procedimentos cujo custo torna proibitivos aos postos de saúde. Os voluntários da área de saúde realizariam trabalhos que não estão disponíveis nos postos de saúde. Esta é uma forma inteligente de integração à rede de proteção social que o Estado e as organizações da sociedade formam.



Outra ação conhecida pelo movimento espírita brasileiro foi a constituição de Hospitais Psiquiátricos Espíritas em diversos lugares do Brasil. Possivelmente, esta iniciativa tem como motivo a preocupação do movimento espírita na distinção entre doença mental e mediunidade, mas não se reduz a isto, uma vez que são espaços de prática de uma especialidade médica e de profissionais da saúde mental. Estes hospitais vieram incorporando as modificações na Psiquiatria, as ações multidisciplinares e se adaptaram a muitas das justas exigências do movimento de luta antimanicomial e às disposições governamentais. Estas instituições espíritas romperam o isolamento e têm realizado encontros entre seus profissionais, têm promovido eventos e têm trocado experiências. Este, talvez, seja um dos projetos mais bem sucedidos das Associações Médico-Espíritas que se fundaram nos últimos anos em nosso país.



Da mesma forma que a saúde, a educação também mudou. A nova lei de Diretrizes e Bases atribuiu precariamente às prefeituras a obrigação de manter instituições pré-escolares. O Estado Brasileiro começou a destinar recursos e a pensar políticas para um segmento até então marginal às agendas públicas. Um movimento semelhante ao da saúde está acontecendo com a chamada educação infantil.



Os centros espíritas devem, então, manter creches? Penso que sim, desde que consigam fazê-lo com qualidade e mantidas as suas diretrizes.



Inicialmente, a obrigação das prefeituras ainda é relativa. A legislação atribui a educação infantil às prefeituras, mas prioriza o repasse de recursos ao ensino fundamental, ou seja, deixa uma brecha para os prefeitos justificarem a falta de fornecimento deste serviço à população. Muitos segmentos do tecido social ainda não tiveram atendidas as suas necessidades de cuidados para as crianças em idade pré-escolar. São recorrentes os casos de visitas a favelas nos quais se encontram crianças na segunda infância tendo que tomar conta de recém-nascidos e de seus irmãos menores, em nossa capital mineira. Além disto, muitas creches da rede de educação infantil não são mais que um espaço de cuidados à criança.



Em segundo lugar, da mesma forma que os hospitais espíritas têm envidado esforços para fornecer um atendimento diferenciado aos seus clientes, as creches espíritas podem dar uma educação e cuidados superiores aos seus pequenos clientes e às suas famílias. Ao lado do espaço de atuação voluntária (que deve ser conseqüente e inteligente), a integridade das instituições espíritas é um diferencial importante, em se tratando de aporte de recursos públicos ou de parceiros da iniciativa privada.



Um terceiro argumento é a necessidade dos centros espíritas manterem ações sociais conseqüentes, que possibilitem o engajamento não só de seus participantes, mas das comunidades como um todo. A finalidade maior é, nestes tempos de desigualdade social e dissolução do tecido social, além de possibilitar a integração dos espíritas em ações de impacto social, mostrar à sociedade que existem comunidades íntegras, capazes de incentivar as pessoas a darem uma contribuição pessoal pela melhoria de nossa sociedade, independente de sua posição religiosa.



Os centros espíritas devem ter atenção com o zelo pela humanização do cuidado infantil e evitar que a profissionalização de muitos dos espaços transformem as creches em uma espécie de anexo, um lugar no qual não se reconhece a ação de homens de bem, mas apenas um espaço burocrático de atuação técnica.



Para concluir, recordei-me de um comentário feito em um livro inusitado e quase esquecido pela grande maioria dos espíritas do nosso tempo, escrito pelo espírita argentino Humberto Mariotti. Ele afirma que se “o Espiritismo permanecesse à margem da questão social, adotaria um critério evasivo perante as grandes coletividades humanas que sofrem, esperando sua definitiva redenção”. (MARIOTTI, 1983, p. 106)


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 76 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978a.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 17 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978b.
MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. São Paulo: EDICEL, 1983.
SALAMON, Lester. A emergência do Terceiro Setor: uma revolução associativa global. Revista de Administração. São Paulo, v. 33, n. 1, p. 5-11, jan/mar 1998.


Publicado no Boletim GEAE 514. Disponível em http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae514.html . Acesso em setembro de 2006.

26.10.08

Lideranças na Casa Espírita



Foto 1: Melody Lewwellen recebe o prêmio de voluntária do mês por cuidar de crianças enquanto as mães se qualificavam profissionalmente, nos Estados Unidos

Caiu em minhas mãos um artigo no qual Michael Brown tenta ensinar executivos a liderar com base na experiência do "setor voluntário". Ao contrário do que diz a literatura, em vez de copiar a experiência das empresas nas associações voluntárias (como um centro espírita), ele faz o contrário.

O texto é muito rico, mas queria focalizar apenas algumas sugestões que ele aprendeu com os coordenadores de atividades:

1. O coordenador melhora as habilidades dos voluntários que trabalham com ele.

2. Ele pensa nas forças e fraquezas dos companheiros.

3. Ele se interessa pelas pessoas que estão na sua equipe ou grupo (em nosso caso, os frequentadores de reuniões públicas)

4. Ele conversa pessoalmente com os possíveis voluntários, para conhecer qual é o seu interesse pessoal, o que o motiva, com o que se importa, de onde veio e quais são seus valores familiares.

5. O coordenador não manipula as pessoas, sua intenção é desenvolvê-las e facilitar sua integração com as equipes de trabalho.

6. Inicialmente ele convida a pessoa a fazer algo dentro de suas possibilidades, algo pontual.

7. As colaborações pensadas ajudam a pessoa a se inserir no grupo e a interagir com outras pessoas;

8. Depois o líder auxilia as pessoas a avaliarem seu desempenho, perguntando: como eles sentiram a situação, porque disseram o que disseram, foram surpreendidos pela reação, foram surpreendidos por sua própria reação, o que poderiam ter feito diferente ou melhor e o que aprenderam da experiência.

9. Com a avaliação as pessoas entendem como colaboraram, o que foi importante para elas e aos poucos podem se disponibilizar a assumir mais responsabilidades se se sentirem bem trabalhando em equipe.

Valorizando as pessoas e auxiliando-as a se autodesenvolverem as sociedades espíritas terão menos conflitos, menos frequentadores e mais trabalhadores, porque partilharão com os que a procuram seu mais precioso bem.

Liderar não é dar ordens, é envolver as pessoas em um projeto comum.

17.6.07

Correio Fraterno Lança Site e Republica Artigos



O Correio Fraterno publicou seu novo site, que apresenta algumas de suas matérias como cortesia ao internauta. O site mostra algumas das colunas mais frequentes do jornal: Entrevista, Literatura, Baú de Memórias (homenagem ao Eduardo Carvalho Monteiro), Você Sabia?, Biografia, Comportamento, Opinião, Filosofia e Ciência.

O endereço é: http://www.correiofraterno.com.br/

Agradeço à equipe a publicação de uma entrevista que fizeram na época da defesa da tese na USP. As perguntas da Izabel ficaram muito bem feitas e são abrangentes. O leitor do blog pode acessá-la clicando no título desta postagem.