Estamos estudando o livro “O
transe e mediunidade” de Lamartine Palhano Jr em um subgrupo da Liga de
Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE.
Uma palavra que chamou a atenção
desde a introdução é medianímico (adjetivo), cujo substantivo é medianimidade
(tradução de Evandro Noleto Bezerra), empregado como quase sinônimo de
mediunidade. Esta palavra se encontra no dicionário Laudelino Freire, definida
da seguinte forma:
“Medianimidade. s.f. Lat medius +
animus + dade. Estado ou propriedade de medianímico”
E por medianímico ele define da
seguinte forma: adj. Medius + animus + ico. Espir. 1. Que tem a qualidade ou a
faculdade de médium. 2. Relativo a médium."
Kardec define medianimidade como “faculdade
dos médiuns. Sinônimo de mediunidade. Estas duas palavras são, com frequência,
empregadas indiferentemente. Caso se queira fazer uma distinção, poder-se-á
dizer que mediunidade tem um sentido mais geral e medianimidade um sentido mais
restrito. Ele possui o dom da medianimidade. – A medianimidade mecânica”
(transcrito de O Livro dos Médiuns, ebook,
tradução de Evandro Noleto Bezerra).
Pelo que se pode entender, já se
usava no francês a palavra medianimidade, senão Kardec teria informado que ele
havia criado a palavra, assim como o fez em outras situações. Nesta definição,
ele parece querer usar com um sentido mais preciso, pouco distinto de mediunidade,
mas este texto é muito resumido para se ter clareza sobre o sentido das duas
palavras usado por Kardec.
Resolvi, então, pesquisar nos
originais franceses onde Kardec usa “medianimidade”. Logo encontrei um
problema, já conhecido pelo editor de Palhano.
Na primeira edição há um erro na
palavra “medianimique” e ela sai como “mediaminique”, erro que Kardec corrigirá
nas outras edições. (No site do IPEAK há a segunda, a sexta e a décima primeira
no original francês).
Na segunda edição, a palavra medianimidade aparece no capítulo
XXII, “Da Medianimidade dos Animais” (por que Noleto não traduziu o título
assim?) e fica apenas neste capítulo (curiosidade: Kardec não publicou este
capítulo na primeira edição de O Livro dos Médiuns).
Procurei, então a palavra
medianímico (fr. medianimique) que aparece na introdução e ao longo do livro (a
faculdade medianímica), no capítulo II, IV (poder medianímico), no capítulo V
(influência medianímica, aparelho eletromedianímico e fatos medianímicos, no
capítulo XVIII (via medianímica), no
capítulo XX (aparelhos medianímicos) da segunda edição do original francês. Observei
que Kardec não usa o adjetivo mediumnique, e observei que os tradutores da FEB
(Guillon Ribeiro e Evandro Noleto) traduziram a palavra medianimique por
mediúnico. Evandro Noleto, contudo manteve a palavra medianímico ao traduzir o
vocabulário com o texto da primeira edição (e apenas aí, curioso, não?), mas ao
longo do texto foi traduzindo por mediúnico toda palavra medianimique que
encontrou.
A que conclusões cheguei até
o momento? Kardec empregou as duas
palavras mediunidade (fr. médiumnité) e medianimidade (fr. médianimité)
praticamente como sinônimas. Não consegui identificar a leve diferença de sentido que
ele explicita no vocabulário, em seu texto. Outro ponto importante, que para as
duas palavras ele usou na segunda edição do francês o adjetivo “medianimique”,
que foi traduzido por mediúnico pelos tradutores da FEB, ou seja, não deveria
haver em português a palavra medianímico, que foi empregada diversas vezes por
André Luiz no livro Nos Domínios da Mediunidade, senão como sinônimo de
mediúnico.
De volta ao Palhano, no capítulo
III ele define a palavra medianímico da seguinte forma: “Do latim medius – i =
medianeiro, intermediário; do francês âme = alma)” e reproduz a definição do
vocabulário. Vê-se que ele discorda de Laudelino Freire, que entende que a
palavra não é híbrida, mas totalmente originária do latim, contudo, isto é uma
questão menor. A questão maior é o sentido que ele imputa a Kardec e que não dá
para encontrar na obra dele. Em síntese, ele diz que Kardec agregou em uma
mesma expressão “os fenômenos anímicos associados aos mediúnicos”. A palavra animismo
não foi empregada por Kardec como é utilizada hoje pelos espíritas brasileiros.
Afirmar que ele já empregava que a influência do médium pode ser chamada de
animismo, por adjetivar médianimité e
médiumnité, com a palavra medianimique, é um equívoco, como tento
mostrar acima, e como entende também Laudelino Freire em seu dicionário tão abrangente.
Não se deve contudo, levar a
crítica além das palavras e seus sentidos. Sabemos que os fenômenos mediúnicos,
mesmo os mecânicos, sempre têm uma dose de animismo (ou seja, de intervenção do
próprio médium), que é a ideia principal que Palhano defende em seu capítulo
III.