Ilustração de Gustave Doré de A Divina Comédia. Dante e Virgílio estão no sexto ciclo.
Um dos temas que costumam causar
polêmica na obra de Kardec é a dupla definição de espírito/Espírito que ele faz
em “O livro dos espíritos”.
Na questão 23 ele define espírito
(com e minúsculo) como o “princípio inteligente do universo”. Esta definição não
constava da primeira edição do livro, bem como a discussão sobre Deus, espírito
e matéria (questão 27), na qual Kardec tenta distinguir “o princípio de tudo o
que existe, a trindade universal”.
Essa trindade assemelha-se à de
um dos autores espirituais de “O livro dos espíritos” quando encarnado: Platão.
Ele propõe como trindade o demiurgo (o criador do mundo), a matéria e as ideias
puras.
Observa-se que neste início do
livro, Kardec define espírito “em princípio” ou como princípio, não como
ente. Este “princípio inteligente do
universo” não existe separado da matéria, embora possa estar ligado a uma forma
material tão sutil, que para nós “é como se não existisse” (questão 186)
Prosseguindo , ele faz uma nova
definição na questão 76, mas agora está falando dos Espíritos, com a letra “e”
maiúscula. Estes, sim, são entes, seres que se encontram na natureza, no mundo espiritual,
como define Kardec. Ele define,
portanto, como “seres inteligentes da criação” e ainda redige uma nota que os leitores
desavisados costumam não dar muita atenção: “A palavra Espírito é empregada
aqui para designar as individualidades
dos seres extracorpóreos, e não mais o elemento inteligente do universo”.
Neste momento, Kardec passa a tratar
dos seres humanos desencarnados, que existem no mundo espiritual com um períspirito
que os delimita à percepção dos demais e dos médiuns. Perceba o leitor que, a
partir da questão 76, ele passa a usar a palavra Espírito com maiúscula, mesmo
quando ela aparece no meio da frase, para deixar claro que não está se
referindo ao princípio inteligente, mas aos seres inteligentes.
Uma curiosidade: na primeira
edição de O Livro dos Espíritos, Kardec usa sempre a palavra francesa esprit ou
esprits com letra minúscula. Na segunda edição é que encontramos a distinção de
esprit e Esprit ou Esprits. Confiram no site do IPEAK:
Primeira edição: http://www.ipeak.com.br/site/upload/midia/pdf/le_livre_des_esprits_1a.ed_1857_mode_texte.pdf
Segunda edição: http://www.ipeak.com.br/site/upload/midia/pdf/le_livre_des_espirits_2ed.1860_mode_texte.pdf
Por fim resta-nos distinguir
Espíritos de almas. Kardec emprega a palavra Espírito para tratar dos
desencarnados e alma (questão 184) para
tratar do Espírito dos encarnados.
Concluindo:
O espírito é um elemento
universal, de essência distinta da matéria (e de Deus, obviamente)
Os Espíritos são seres
inteligentes, desencarnados, que só existem ligados a um envoltório semimaterial
denominado períspirito.
As almas são os Espíritos
encarnados.
Oi Jader, oi Amigos,
ResponderExcluirEu gostaria de acrescentar um comentário sobre a distinção entre os conceitos de alma e Espírito (com E maiúsculo).
Embora no Livro dos Espíritos, encontremos aquela definição de que "a alma é um Espírito encarnado", essa definição, na verdade, não distingue os conceitos de alma e Espírito. Só se entende a afirmação acima se previamente tivermos os conceitos de alma e Espírito.
A gente encontra uma definição filosófica muito importante, na minha opinião, feita por Kardec em O Que É o Espiritismo, item 14 do Capítulo 2. Kardec apresenta definições filosóficas para os conceitos de alma e Espírito, onde o segundo é definido em termos do primeiro. Eu não vou transcrever aqui o item 14 para não abusar do espaço, mas sugiro fortemente que os interessados no assunto leiam e percebam a lucidez de Kardec.
Um abraço,
Alexandre F. Fonseca
Excelente contribuição, Alexandre. No item 7 do capítulo 2, Kardec diz: "Os Espíritos não são, como supõem muitas pessoas, uma classe à parte na criação, porém as almas, despitas do seu invólucro corporal, daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos."
ResponderExcluirNo item 14, que você citou, ele afirma: A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito.
Ele privilegia a alma como "locus" de produção das funções psicológicas, e na observação ele reafirma:
A alma é assim um ser simples; o Espírito um ser duplo e o homem um ser triplo.
Para Kardec, portanto, o conceito de Espírito envolve o "espírito ou alma" e o perispírito, como havíamos argumentado anteriormente.
Amei! Voltarei para pesquisar mais...
ExcluirGratidão!
Estava fazendo uma pesquisa para um documentário e eis que encontro maravilhas. Voltaremos!
ResponderExcluirhttp://sonetosdoalemtumulo.blogspot.com.br/
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