22.3.11

AS MÃES E O FEMININO

Foto: Pirateada do blog oficial do filme... Clique na imagem e acesse-o

Ontem à noite fui, com minha filha de 9 anos, à pré-estréia do filme "As Mães de Chico Xavier. Apesar de iniciar às 21 horas, foi uma correria sem fim, posto que o trânsito e os encargos do dia a dia da capital mineira não ajudaram muito.

As salas de projeção do Pátio Savassi são confortáveis e amplas, e a primeira boa surpresa da noite foi encontrar o saguão de acesso aos cinemas lotado, com algumas pessoas conhecidas, muitos interessados, imprensa e a badalação costumeira com produtor e alguns atores. Nelson Xavier estava com a simpatia de sempre, tirando fotos com os fãs, bastante assediado.

Após nos munirmos do kit cinema, indispensável a uma jovenzinha de 9 anos (e a outro de mais de 40), outra surpresa. A produção distribuiu pipoca e refrigerante à multidão que lotou pelo menos três salas de projeção do pátio.

Na abertura, um produtor entusiasmado fala do filme e de outros projetos, agradecendo ao público o apoio com Bezerra de Menezes: História de Um Espírito, que possibilitou a filmagem deste.
Aos cinéfilos interessados em temas espíritas, a Estação da Luz mostrou um trailer de um novo filme sobre "O Livro dos Espíritos", com uma cena que lembra muito o texto "Há um século", psicografado por Chico Xavier e adaptado aos dias de hoje. O cinema brasileiro vive bons dias, foi-se o tempo das pornochanchadas, e o cinema volta a falar da alma brasileira...
O filme é um misto de drama e suspense. Não é um dramalhão, mas um roteiro psicológico, que acompanha como se fosse uma sinfonia, os estados de alma de três mulheres, mães, de três gerações diferentes. Elas parecem simbolizar todas as mulheres que procuraram o Chico e que continuam procurando forças para viver após a perda de grandes amores.
A habilidade dos responsáveis pela fotografia não consegue ocultar as locações na capital cearense, cuja praça, cadeia pública e outros patrimônios da brasilidade são facilmente reconhecíveis por quem já esteve nesta bela cidade. Contudo, isso não atrapalha o conjunto da obra, posto que se utilizou muito dos recursos de focalizar os atores de perto, no rosto, dando vida às mudanças de expressão e ao balé das emoções, no qual Vanessa, Tainá e Via são espetaculares.
A reconstituição de época tem seus limites. A capa dos livros da codificação que aparecem não é a dos anos 70 e 80, o bebedouro na sala de espera do hospital não é o da minha infância e juventude, eu não vi audis conversíveis rodando na época da reserva de mercado, mesmo entre gente muito rica, mas gostei de recordar da placa amarela do carro do Santiago, das roupas anos 70 dos artistas que comemoravam o fim de um curso, do figurino das atrizes e atores.
O roteiro não é linear, é um baralho de cartas, bem embaralhado, para que as histórias e os desfechos apareçam aos poucos e a atenção dos assistentes fique presa. Para compreender bem, atenção é fundamental, e um pouco de conhecimento espírita ajuda a entrever o que vai acontecer.
Minha filha se perdeu no vai e vem do tempo que aparece poucas vezes, e perguntou se um dos personagens era ou não outro, mas não tirou os olhos da tela. Saiu serelepe como entrou e conversou muito sobre o filme, para a tristeza de quem assentou junto a nós (e a alegria da produção, penso eu). Sentiu medo em uma das cenas, que lhe evocou o inferno, apesar de sua educação espírita. A cena é muito bem criada, porque mistura episódios que encontramos nas ruas das grandes cidades brasileiras com uma menção fotográfica ao mundo dos espíritos. Talvez ela tenha razão, e esta vivência, sobre a qual não posso falar muito, para não estragar a experiência do leitor que vai ver o filme, seja mesmo um inferno.
É um filme muito colorido, como as paisagens nordestinas. Não tem muitos recursos tecnológicos, estilo Hollywood, mas tem atrizes que dão show de interpretação, estilo teatro brasileiro.
O Nelson que me perdoe, mas elas roubam a cena. Até mesmo a atriz que faz a Dinorá (mulher que cuida do Chico em Uberaba), com seu sotaque mineiro e escapadelas do seu espírito cearense, hipnotiza a platéia. O personagem de Nelson exige suavidade das emoções e as mulheres expressam seu mundo íntimo com maestria e liberdade.
É um filme que tinha tudo para ficar cansativo, e não ficou. Neste mês de março, ganhamos um filme sobre os espíritos, mas muito mais sobre o mundo feminino que tanto admiro. Temas como maternidade, aborto, dorgas, morte de entes queridos, casamento, relacionamentos, sofrimento, amor maternal, insegurança, obsessão espiritual e psicológica, amor conjugal, perdão e compreensão são cartas embaralhadas neste roteiro que se parece com um tarô e a cada minuto apresenta uma das cartas da alma feminina.
Não direi ao leitor que vá ver o filme do Chico. Direi que vi um filme sobre a mulher brasileira, e adorei. A propósito, as atrizes são belíssimas...

2 comentários:

  1. Prezado Jáder,

    Tive a felicidade de ver a pre-estreia ontem, aqui em Natal/RN.

    Falar mais que você disse é correr o risco de estragar a estreia da semana que vem.

    Registro apenas comentários prévios à seção expressos para todos os presentes pelo Marcel Souto Maior, após fala de um dos Diretores do filme (Haelder Gomes):

    "Vocês vão ver no filme o Chico que eu, no passado tão cético, mais admiro. O Chico homem que em sua simplicidade consolou tantas pessoas. No momento que elas recebiam as cartas consoladoras aquilo representava também uma nova certidão de nascimento."

    Sobre a certidão de nascimento, fiquei pensando depois que tanto é da constatação da vida daqueles já desencarnados como também daqueles destinatários da mensagem que soubessem transformar o momento para algo melhor, dando um novo e mais proveitoso rumo para sua existência.

    Bom filme a todos. Felicidades!

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  2. Estimado amigo Jáder,
    Nas suas palavras revi a pré-estréia de São Paulo. Cheguei com uma hora de antecedência e já havia uma fila interminável para lotar as 8 salas de cinema do Shopping Eldorado(dizem que os mineiros é que chegam cedo!). Como fui circular para o registro fotográfico e conversar com os amigos só conseguir ir para a sétima sala. Os atores e a direção do filme estiveram presentes e se dividiram para entrar nas salas antes do seu início para agradecer a presença de todos. A fila e o atraso de 40 minutos foram compensados pelo filme verdadeiramente espírita de ótima qualidade - no roteiro, na técnica e atores, também, a lembrança meiga de Chico Xavier.
    Abraço grande para você e sua família. Julia Nezu - SP

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