16.5.17

ESTUDO SEM CONTEÚDO

Raul Teixeira, expositor e médium espírita


Uma de minhas grandes influências na formação como espírita foi o professor Raul Teixeira. Eu o conheci ainda na adolescência e pelo menos uma vez ao ano ele vinha em nossa casa. Físico, com um conhecimento amplo das obras de Kardec, dos clássicos, das obras complementares e de autores encarnados, como Carlos Imbassahy e Deolindo Amorim, que ele conheceu, Raul era um misto de orador e professor, sempre trazendo conteúdo com um raciocínio claro e direto.

Raul sempre exprimia, de forma clara, a posição doutrinária e a sua interpretação em suas exposições, e cobrava de nós a precisão do que falávamos. Certa vez ele perguntou quem era Andrew Jackson Davis ao público, e como ninguém respondesse, eu arrisquei:

- Médium norte-americano do século XIX, considerado o profeta da terceira revelação, autor de Penetrália e outros livros.

Ele anuiu, mas corrigiu:

- Terceira revelação fica por conta do Jáder, ele é considerado profeta da nova revelação.

Ele tinha razão. A ideia de três revelações está em Allan Kardec, e não era empregada (talvez por desconhecimento mesmo) pelos autores ligados ao espiritualismo moderno, de onde se origina Davis.

Ao contrário do que se pode pensar, suas exposições não eram excessivamente eruditas. Penso que ele se preocupava em falar para o grande público, embora sempre trouxesse alguma coisa nova, fruto de sua pesquisa pessoal, muitas vezes embaladas com sua grande capacidade narrativa.

Posteriormente estudei didática do ensino superior, com o professor Florêncio, da Universidade de Brasília, e ele nos explicou o método indutivo na educação, que é amplamente utilizado no movimento espírita, como uma espécie de provocação para que os alunos pensem e não percam a linha de raciocínio do professor, que apenas expõe. É algo que se deve fazer com critério, porque se pode consumir muito tempo, e sacrificar o conteúdo das aulas.

Sócrates usava deste recurso, pelo que lemos nos textos de seus discípulos, e o chamava de maiêutica, como comparação ao trabalho de sua mãe, que era parteira. Na maiêutica, acredita-se que os alunos conhecem a verdade (episteme), então o professor faz perguntas, geralmente criticando e apontando os pontos obscuros de sua argumentação, até que o aluno chegue à verdade (e não à sua verdade, como diz o Houaiss). Os gregos influenciados pelo pensamento socrático entendiam que mais que uma opinião (doxa), o conhecimento (episteme) deveria ser verdadeiro e justificado.

Sócrates se opunha aos sofistas, que ensinavam retórica, no sentido de ser capaz de convencer os outros de seu ponto de vista, sem se preocupar com a verdade, mas apenas com a imposição de seu ponto de vista. Isto está bem atual em nosso país. Os sofistas eram muito valorizados pelos pais que desejavam que os filhos fossem importantes, em uma sociedade na qual os cidadãos decidiam o que fazer na cidade (polis) de forma democrática.

Vimos acompanhando ao longo dos anos um uso indevido do método indutivo, nas casas espíritas, e, talvez nas mocidades espíritas. Não sei dizer se se deve a um uso indevido do construtivismo, no qual se valoriza a obtenção do conhecimento (episteme) pelos alunos, sem dependerem exclusivamente da exposição dos professores, e utilizando de sua capacidade de pesquisa e obtenção de informação, que está bastante multiplicada pelas novas mídias e tecnologias.

O abuso chegou ao ponto de um expositor apenas perguntar, inúmeras vezes, questões diferentes, sem nada concluir. O argumento que ouvi é que se deixa a cada um o trabalho de responder, subjetivamente, as questões que são levantadas. Sessenta ou noventa minutos, com dezenas de perguntas sem resposta. Na minha ótica, voltamos ao mundo da opinião (doxa) e abandonamos o conhecimento (episteme).

Quando penso em um programa de estudos todo baseado nesta forma de ensino-aprendizagem, preocupa-me que o pensamento de Kardec, por exemplo, que usava do recurso de perguntas e respostas para que um texto complexo se tornasse mais claro, se transforme em uma grande confusão, já que cada um conclui à sua maneira, sem as devidas informações.


Penso que os jovens devem realmente usar de diversas formas de ensino-aprendizado, até mesmo usando das artes e de outros recursos para que suas reuniões sejam mais agradáveis e prazerosas, mas sem abandonar sua finalidade principal, que é o acesso ao conhecimento espírita. 

6 comentários:

  1. Muito feliz sua abordagem, Jáder! E bem a propósito.
    Uma variante disso, que tenho observado, é a quantidade excessiva de perguntas. Em vez de permear a exposição com uma ou outra indagação, que quebre a monotonia e instigue o raciocínio, o expositor joga uma pergunta atrás da outra, como se estivesse lidando com crianças. A exposição fica truncada, perde-se um tempo danado esperando que alguém ou o expositor responda à pergunta feita e dê andamento na exposição...
    Bom senso, parece, é o que parece faltar em algumas situações.

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  2. Ótimo texto para reflexão, prezado Jáder. Nas aulas de evangelização costumo, às vezes, dependendo do plano de aula, fazer perguntas para logo após introduzir o conteúdo de maneira dialogada, mas sempre pontuando com os ensinamentos da codificação espírita. Utilizo sempre "O Livro dos Espíritos" para estimular aos evangelizandos o interesse pelo mesmo e até que tem dado certo. É frequente que a turma sempre me pergunte "o que diz O Livro dos Espíritos" sobre isto? Ou sobre aquilo? Evangelizo crianças de 11 e 12 anos (3º ciclo de infância) e muitas delas já vem das turmas anteriores com uma boa bagagem de Doutrina Espírita. Acredito que uma aula que tenha um espaço para o diálogo seja bem proveitosa, mas que o instrutor sempre pontue o assunto com o ponto de vista do Espiritismo.

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  3. Prezado leitor (a)

    Um bom exemplo do uso do método indutivo corretamente!

    Muito bom que eles conheçam Kardec. É a base do espiritismo.

    Continue seu trabalho!

    Fraternalmente,

    Jáder

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