Gravura de Gustave Doré, Matelda imerge Dante no rio Letes.
Jáder Sampaio
Ângelo B. Soares Pereira (2010) escreveu uma dissertação de mestrado para o programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade de Brasília, intitulada “A Teoria da Metempsicose Pitagórica”. Nela temos uma visão muito interessante da evolução do conceito de psyché (alma) e do conceito de eidôlon (períspirito), de Homero até Pitágoras. Ele deseja marcar a distinção de uma visão mítico-poética, até uma visão crítico-racional do filósofo grego.
Surpreendeu-me bastante a visão de Homero, que já trazia em si a noção de “transmigração das almas”, um dos conceitos próximos à de reencarnação em Allan Kardec.
Homero é um poeta-aedo, considerado o autor de livros como Ilíada e a Odisséia, mas os historiadores atuais questionam se ele teria ou não existido, e se seria o autor, ou apenas um compilador de lendas antigas, mas isso não diminui a influência de seus escritos e das histórias que contou na cultura grega.
O autor da dissertação nos explica os três conceitos: psyché (alma), eidôlon (imagem) e sôma (corpo). No processo da morte, a psyché sai do corpo no último suspiro ou hálito (p. 36), ou por uma ferida do corpo. O corpo morto, sem psyché, é o sôma. Ao sair do corpo, ela toma a imagem do corpo. Torna-se o eidôlon (p. 37), e, citando Bento Silva Santos, ele afirma que o morto é, portanto, uma “sombra do homem que vivia”. Isso explica o emprego da palavra sombra como sinônima de Espírito. O eidôlon é psyché sob a forma humana da mesma forma que, em Kardec, o Espírito é o princípio inteligente (ou espírito com “e” minúsculo) que anima um “corpo espiritual” ou períspirito.
Gabriel Delanne atribui a Platão, ao falar da transmigração das almas, a afirmação que após 1000 anos de Hades, se tiverem de voltar, bebem a água do rio Letes “que lhes tiram a lembrança de suas existências passadas”. Delanne também diz que a alma, “desembaraçada de suas imperfeições, ... não vem mais à Terra.” (Delanne, Gabriel. A reencarnação, cap. 1, p. 24)
Esta é mais uma questão que sugere a aproximação entre o pensamento de Allan Kardec a elementos da filosofia clássica, e a identificação de Platão como um dos espíritos que contribuiu com a elaboração do pensamento espírita.
Interessante a matéria e a pesquisa feita pelo Ângelo Pereira.
ResponderExcluirMas gostaria de fazer referência à existência de Homero. Conforme consta na Revista Espírita de novembro de 1860, subtítulo Homero, Kardec faz referência a uma prova de identidade desse Espírito, em mensagem escrita por um médium de Sens.
Num trecho da mensagem ele diz:
“Passei a juventude entre os caniços do Mélès; banhei-me e embalei-me muitas vezes em suas ondas. Por isso, na minha juventude, eu era chamado Melesígeno.”
1. ─ Sendo este nome desconhecido, rogamos ao Espírito a bondade de explicá-lo de maneira precisa. ─ “Minha mocidade foi embalada nas ondas; a poesia me deu cabelos brancos. Eu sou aquele a quem chamais Homero.” OBSERVAÇÃO: Grande foi a nossa surpresa, pois nenhuma ideia tínhamos desse apelido de Homero. Encontramo-lo depois no dicionário mitológico. Continuamos as perguntas.
Recomendo a leitura integral do texto da Revista Espírita que poderá ser acessado em
https://kardecpedia.com/pt/roteiro-de-estudos/894/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1860/4838/novembro/homero