A segunda aula de Antonina foi um desafio. O programa
indicava “atributos da divindade” como tema. Como ensinar um tema tão
filosófico e tão abstrato a um grupo de meninos que ainda estava no pensamento operacional-concreto?
- Que tal fazermos alguma atividade lúdica e física para
abordar o tema? Pensou Antonina.
O planejamento da aula ficou assim: os atributos da
divindade foram escritos em fichas, com letras grandes, e as crianças
brincariam de “corre-cutia”.
Quem ficasse com o papel, tentava explicar o
significado da palavra.
Depois uma atividade igualmente lúdica para ver se haviam
apreendido as palavras novas. Um grande caça-palavras, em uma folha de papel Kraft
foi feito.
Começou a aula. Os alunos já traziam a ideia repetida nos
anos anteriores de que “Deus é nosso pai e Jesus é nosso irmão”, e sabiam que
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas (criador).
Antonina perguntou:
- Vocês conhecem uma brincadeira chamada “corre cutia”?
Um aluno replicou de imediato:
- Ih, tia! Tem um tempão que a gente não brinca disso!
Acendeu o sinal amarelo. Isso podia significar que a
brincadeira é de meninos pequenos e que eles não aceitariam fazê-la.
Infelizmente, foi isso mesmo que aconteceu. Eles começaram, mas não queriam
continuar com o jogo.
Nestes momentos, um pouco de intuição, na falta de um plano
B, é muito importante. Em vez de insistir e confrontar, Antonina aceitou o que
sinalizou a turma.
- Já que vocês não querem, então vamos sentar e ver uma a
uma as fichas que eu trouxe.
Deu certo! Apesar das provocações contínuas, uns com os
outros, os alunos se interessaram pelas palavras e seus significados. Não deu,
e era esperado, para fazer as demonstrações que Allan Kardec faz em O livro dos
espíritos e A gênese. Demandaria lógica e noções de filosofia. Pedir demais
para crianças na segunda infância.
Parte final da aula. A evangelizadora abriu um grande papel
kraft, contendo todas as palavras estudadas, na vertical e horizontal, ocultas.
Cada aluno ganhou um pincel atômico de uma cor, e passaram todos a tentar
descobrir no mesmo caça-palavras, os atributos da divindade.
Não havia como consultar as palavras. Eles teriam que pelo
menos reconhecer e recordar para conseguir identifica-las. Algumas delas, como
onipotente e onisciente eram totalmente desconhecidas antes da aula. De
repente, começou uma nova brincadeira, desta vez criada por eles.
Meninos desta idade são competitivos. E eles começaram a
disputar quem achava mais palavras. As reações foram interessantíssimas.
- “Nu, véi!” Que palavra grande!
As palavras inteligência suprema ocupavam uma linha inteira
do caça-palavras, de um lado a outro.
Os atributos foram sendo desvendados, um a um. A
evangelizadora não interferiu, nem ajudou. As palavras eram recordadas, como se
fossem objetos preciosos. Aos poucos a disputa ficou entre dois dos alunos.
Quem ganharia?
Uma das palavras foi descoberta pelos dois ao mesmo tempo!
Antonina virou árbitro. Então ela disse:
- Os dois descobriram ao mesmo tempo. Então a palavra vai
ficar com as cores dos dois, ambos a circularão.
A última palavra era como um saci. Escondida! Ninguém
achava. Ela poderia empatar ou desempatar a disputa recém criada.
Deu empate. Mas não teve revolta, o resultado foi justo.
Antonina saiu surpresa com a turma. Eles aprenderam novas
palavras e eram capazes de dizer quais eram os atributos de Deus.
Que legal !!!! Não entendi se é história que aconteceu mesmo ou que você criou, mas o enredo ficou ótimo ! Gostei bastante !!! Para aplicar e replicar ! abraços
ResponderExcluirAs histórias de Antonina são reais, Maurício. Estou ocultando os nomes reais e a localidade por uma questão ética. Não dá também para descrever com detalhes a aula toda, então seleciono os pontos que parecem ser mais importantes para os interessados em evangelização infantil, educação espírita de crianças, ou semelhantes.
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