30.4.15

MEIO MILHÃO



Estamos comemorando meio milhão de acessos do Espiritismo Comentado, desde 2008, computados pelo instrumento do Google. 

Mais uma vez agradeço à comunidade espírita e espiritualista, que nos tem incentivado e partilhado as despretensiosas publicações. Agradeço à Telma Núbia, que ainda encarnada, muito antes de haver internet, havia me incentivado a escrever e publicar os trabalhos que esquematizava e apresentava oralmente nas casas espíritas.

Como espaço interativo, o EC tem sido muito beneficiado dos comentários, compartilhamentos, sugestões e discussões que os leitores fazem, sempre mantendo o bom nível e o respeito às ideias alheias. 

Agradeço aos brasileiros do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte, a comunidade norte-americana, aos interessados de Portugal, Japão e da Europa como um todo, que têm participado dos esforços do EC para entender e discutir o pensamento espírita.

25.4.15

O DIVALDO DE ANA LANDI




A jornalista e historiadora Ana Landi acaba de publicar o livro “Divaldo Franco: a trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos”, pela editora Bella. Recebi a notícia de primeira mão, pelo confrade Washington Fernandes, que estava feliz com a venda do pré-lançamento, cerca de 40 mil livros.

O livro é delicioso de ler, mercê do lado jornalístico de Ana. Ela não fez um texto linear, mas um texto que, embora siga a linha da vida de Divaldo, vai e volta no tempo, detalhando situações que ela vai narrando. Ao ler, eu parecia estar ouvindo o próprio Divaldo, que já vi contar pessoalmente um grande número dos eventos biográficos escolhidos pela autora.

Apesar do interesse pelo Divaldo-médium, o que mais me tocou foi a preocupação de se mostrar sua dimensão humana e o alcance de sua obra. As histórias de Divaldo são quase inacreditáveis, se eu não o tivesse conhecido pessoalmente e visto um pouco de suas faculdades e qualidades.

A mais grata surpresa do livro não foi o texto fluente e magnético, nem as fotos muito bem escolhidas de diferentes momentos da vida do médium, assim como de algumas de suas psicografias. Foi a extensa narrativa sobre a relação de Divaldo com Chico Xavier, outro personagem que conheci em vida, embora muito rapidamente, e cujos amigos, livros e espíritos estão muito presentes na minha história pessoal como espírita.

Para quem conhece um pouco da história do espiritismo, o texto traz uma surpresa após a outra, dada a quantidade de personagens espíritas que aparecem na vida do baiano, oriundos do mundo físico e do mundo espiritual.
A Mansão do Caminho vai sendo construída, passo a passo, aos olhos do leitor. É uma espécie de patrimônio coletivo, porque tem as mãos e a generosidade de um número enorme de pessoas e instituições, que geralmente contribuem e passam. A mão amiga de Nilson está presente o tempo todo, fazendo justiça àquele que foi o esteio para que Divaldo pudesse realizar sua missão como expositor e psicógrafo.

O livro emociona, faz rir e chorar, assim como o próprio Divaldo. Ana não trabalhou como historiadora, uma vez que posso até estar errado, mas penso que o médium baiano insere “o seu tempero” nas histórias, já que são contadas para um público que o escuta por uma hora ou mais. Ganham um tom humorístico, mesmo em situações claramente dramáticas. Ela foi uma bela médium do médium, transmitindo a história que ele escolheu contar para todos nós.


O livro não foge dos temas polêmicos que envolveram a vida de Divaldo, e que tanto impactaram na terra de Chico Xavier, de onde escrevo a vocês. Não vou falar muito, para que fique aquela dúvida intrigante que faz com que o leitor desta história resolva adquirir, ajudando a obra social do médium (os direitos autorais foram cedidos) e embeber-se do texto.

22.4.15

PROFESSORES PUBLICAM LIVRO SOBRE POLTERGEIST




Há alguns anos, Emília Coutinho intermediou uma visita às Faculdades Integradas "Espírita", em Curitiba, onde fiquei conhecendo pessoalmente Carlos Alberto Tinoco (físico) e Carlos Antônio Fragoso Guimarães (psicólogo). Conversamos muito e saí com uma boa impressão dos dois.


Após algum tempo, Tinoco me escreve pedindo para analisar e escrever a introdução do livro "Poltergeist: o dilema da parapsicologia". Como fosse muito denso e eu ainda estivesse com as atribuições da UFMG, demorei alguns meses fazendo a leitura, comentários e a apresentação do livro. Esperava que ele fosse interessar ao Instituto Lachâtre, mas não tive mais resposta.



Mais recentemente fiquei conhecendo o catálogo da Editora do Conhecimento. Há muitos livros deles que não me atraem, mas eles têm se dedicado a fazer publicações de obras clássicas do espiritismo, e eu já havia comprado o livro "Pesquisas sobre a mediunidade", de Gabriel Delanne. Qual não foi minha surpresa quando encontrei o Poltergeist, publicado!



Encomendei-o e ele ficou muito bem impresso. O livro trata de fenômenos de efeitos físicos, que Flammarion descreveu inicialmente no livro "As Casas Mal Assombradas", que envolve fenômenos como os da médium Frederica Hauffe (A vidente de Prevórst - Editora O Clarim) e os fenômenos de Hydesville, considerados por muitos como o início do espiritualismo moderno.



Tinoco e Guimarães não se detém apenas em relatar fenômenos, mas apresentam as teorias de autores que os estudaram, como Myers e Podmore. Dois casos que aconteceram no Brasil são estudados por eles.



Os interessados podem adquiri-lo no site da Editora do Conhecimento (http://edconhecimento.com.br/?livros=poltergeist) por R$45,00 mais despesas postais.




17.4.15

FESTA DE NATAL EM BELO HORIZONTE


Crianças no chão do auditório do Lar Espírita Esperança



Fui assediado por uma memória que teima em permanecer na mente. Junto com ela veio um sentimento bom, uma saudade alegre, que vou correr o risco de compartilhar com o leitor.

A Associação Espírita Célia Xavier faz há anos uma grande festa de Natal. É um esforço que envolve todas as reuniões (mais de oitenta, creio) e que gera cestas de natal para serem distribuídas pela comunidade que de alguma forma tem laços conosco. Cada reunião se responsabiliza por um item da cesta básica e fazem-se centenas de cestas. Creio que em seu auge, já chegou a milhares.

Para que a entrega das cestas não seja apenas uma entrega comum, a mocidade fazia uma peça teatral e cantava com o público. Dois meses treinando, e um domingo inteiro apresentando das oito da manhã às dez da noite, para um auditório cheio, com cerca de trezentas pessoas. Creio que com as deficiências de cenário, iluminação, roteiro e atores, éramos sem dúvida o grupo de teatro amador mais bem sucedido de Belo Horizonte (risos).

A experiência era notável. Geralmente vinham os pares de mãe e filho, ou mãe e amiga para ajudar a buscar a cesta, que chamávamos de farnel. Como era uma festa de natal, enquanto saía um grupo e chegava outro, cantávamos "Noite Feliz", o que evitava que as trocas se tornassem um momentâneo vozerio.

Quando iniciávamos o trabalho, Marlene Assis acolhia os visitantes, fazia-os levantarem-se, soltar o corpo, cantarem. Era mágico. Via mulheres entrando agarradas à sua bolsa, temerosas, olhando ao redor, mineiramente desconfiadas. Aos poucos elas estavam sorrido, muitas já com as falhas dos dentes, chinelo da havaianas, como se por um momento único pudessem voltar a brincar como crianças.

As peças costumavam fazê-las emocionar-se. Os roteiros eram histórias evangélicas, e os personagens eram galileus, romanos, judeus, homens e mulheres, que viveram há dois mil anos. Era comum ver o público chorar, olhar curioso e compartilhando cada cena com o coração.

Apesar da disciplina da saída, acontecia de alguém ir falar com os artistas, agradecer. "A cesta é um cafezinho que damos a vocês que nos visitam, dizia Marlene. O presente de verdade é esta festa."

Ao final nos reuníamos, exaustos, para comemorar o dia e fazer uma oração.

Houve no grupo quem criticasse o que fazíamos. Entendiam que se tratava de assistencialismo, que não promovia as pessoas. É verdade. Contudo, há horas que se deve parar de examinar apenas com a razão, e ampliar o olhar, para ver o significado das nossas ações para as pessoas.

Muitos anos depois, um espírito de nossa reunião, que era identificado como "Companheiro de Trabalhos", escreveu um conto no qual uma destas mães era a narradora. Para minha surpresa, minha colega do lado, na reunião, recordou-se da peça que acontecera daquele ano e me confessou: Eu fiz o papel de Maria.

16.4.15

ARTIGOS INTERESSANTES PUBLICADOS NO JORNAL DE ESTUDOS ESPÍRITAS.


O Jornal de Estudos Espíritas é um periódico aberto, revisto por pares, publicado na internet de de amplo acesso.

Em 2015 já foram publicados três artigos completos (o Jornal publica também resenhas, comentários, etc.) Pode-se acessar o índice, com links para resumos e para o artigo completo em: https://sites.google.com/site/jeespiritas/volumes/volume-3

O primeiro artigo foi escrito por Marco Milani e seu título é "Um breve diálogo entre um espírita e um descrente acerca da reencarnação". O autor apresenta os principais conjuntos de críticas feitas à ideia da reencarnação e argumenta como um paradigma aceito pelo pesquisador pode afetar suas conclusões.

O segundo artigo, escrito pelo editor, é bastante instigante. Ele trata dos fenômenos de transporte e discute se ele seria melhor explicado pela teoria da desmaterialização ou rematerialização (Bozzano) ou pela teoria da quarta dimensão (Zöllner). O autor faz uma discussão tendo em vista as comunicações obtidas por Kardec sobre este tipo de fenômeno e mostra a consistência da proposta de Zöllner, tanto com as explicações obtidas por Kardec quanto pela física. Alexandre Fonseca abandona, portanto, a teoria de Bozzano.

O terceiro artigo é bem polêmico. O espiritismo de Kardec é monista, como dizia o Prof. Mario Barbosa, há mais de duas décadas, e ainda dizem muitas pessoas no movimento espírita? Leonardo Marmo Moreira argumenta que não, com base em O Livro dos Espíritos, faz um histórico da questão na filosofia e discute os argumentos dos defensores do monismo. Qual é sua opinião, leitor?

Entrei em contato com o editor, e ele convida estudiosos e pesquisadores do espiritismo e temas relacionados a ele para:
1. Considerarem enviar artigos(jestudosespiritas@gmail.com)
2. Entrarem no cadastro para receberem avisos de novas publicações no JEE

O site do JEE é: https://sites.google.com/site/jeespiritas

14.4.15

JOÃO




A sociedade brasileira está votando a diminuição da maioridade penal para dezesseis anos. A razão se divide entre partidários do sim e do não, e os argumentos se multiplicam. Parte da sociedade teme a violência, um de nossos maiores problemas no momento.

- Você me arranja um emprego? Perguntou-me um jovem de pele negra e história sinistra.

- Eu não tenho vagas no momento, respondi-lhe.

João baixou os olhos, meio decepcionado, mas como se já esperasse a resposta. Eu me senti péssimo, mas sem recursos para ajudá-lo e jovem demais para conseguir alguma coisa na minha rede de contatos, que se reduzia aos companheiros de centro espírita e pequenos empresários que trabalhavam com vídeo.

Naquela época os telefones eram caros e raros. Eu não tinha um aparelho na minha locadora de vídeo, e o primeiro que conseguimos foi uma extensão de um número de nossa casa. Não tinha como entrar em contato com ele, que se foi naquele momento de desemprego e estagflação. Tive a clara impressão que sua busca seria improdutiva. João vestia-se com muita simplicidade, era muito tímido e trazia dentro dele uma tristeza que não conseguia esconder.

Parei para pensar e recordei de sua história.

João era o mais velho de uma grande quantidade de filhos de mãe solteira daquelas que são usadas por homens que só se interessam por sexo e são abandonadas a seguir. Eu conhecia bem o olhar e o comportamento da mãe de João. Ela levava aos sábados os filhos para a nossa evangelização infantil. Não era preciso ser psicólogo para perceber que ela era doente mental, portadora de uma possível psicose, e apesar das imensas limitações e das alterações de humor, mantinha os filhos na atividade espírita.

João foi meu aluno na turma de 11-12 anos. Trabalhávamos com  crianças, jovens e mães que residiam na região vizinha do bairro Salgado Filho, onde ficava o Lar Espírita Esperança. Sempre calado, diferentemente da maioria dos alunos, era bem comportado, um comportamento que parecia uma extrema dificuldade de se permitir brincar. Ele assistia às aulas ora com atenção, ora como se a mente estivesse em outro lugar, mas nunca era preciso chamar-lhe a atenção. Quando o conheci, devia ter uns doze anos de idade.

A casa de Célia, mercê do empenho do Sr. Evaristo, montou uma marcenaria com maquinário profissional. A ideia inicial era fazer brinquedos para distribuir no natal e posteriormente dar uma formação inicial para jovens interessados. Haveria uma seleção e João me perguntou:

- Será que eu posso ir?

- Claro, João, é aberta a todos. Tente!

Na semana seguinte eu perguntei a ele:

- E aí, João. Como foi?

- Eu não fui escolhido. Respondeu com voz e olhar baixos.

Procurei o selecionador e lhe perguntei o que havia acontecido. Sincero, ele me respondeu:

- Ele não mostrou interesse.

Percebi o que acontecera. Seu jeito tímido e introvertido, sua dificuldade de se expressar e sua aparente falta de energia o condenaram. Não houve pedido que alterasse a decisão do administrador, que deseja jovens que demonstrassem interesse, que se engajassem.

Escrevo esta história real para dizer que não sei o que aconteceu depois com João. Eu desejaria muito que ele tivesse conseguido alguma forma de inclusão em nossa sociedade, que tivesse feito um curso profissionalizante mesmo que rápido, que pudesse lhe assegurar o mínimo do mínimo. Creio que pesava em suas costas os deveres de ser irmão mais velho, sem ter tido pai e educação capazes de ajudá-lo minimamente neste esforço desumano.

Eu desejaria muito que houvesse um final feliz, mas temo que ela não tenha acontecido. Jovem, necessitando do básico, querendo cuidar da família e com uma mãe portadora de transtorno mental, ele era uma vítima fácil para o tráfico e para outros criminosos adultos, à cata destas aves sem ninho.


Esta recordação sempre me faz refletir, como espírita e como brasileiro,  sobre a necessidade apoiar da forma possível ações de proteção à infância e de inclusão social, mesmo que emergenciais.

10.4.15

NOVO ROMANCE PSICOGRAFADO POR ADA MAY





Por esses dias, fui presenteado com dois trabalhos que tratam da Paris da época de Allan Kardec. Um ponto comum chamou-me a atenção: Haussmann remodelava a capital francesa sob o desejo imperioso de Napoleão III. Ruas e construções postas abaixo para nascerem grandes avenidas e boulevares.

O livro que acabo de ler é “O Cético”, psicografado por Ada May e atribuído ao espírito José Bento. Incomodou-me no começo alguns anacronismos, que desafio o leitor a encontrar e comentar em nosso blog ou no grupo Espiritismo Comentado do Facebook.

Bento criou personagens que saíram do universo de Conan Doyle. Tenho certeza que vão despertar emoções naqueles que já leram Sherlock Holmes. O personagem principal, Arthur C. Davenport, é uma mescla entre o autor inglês e seu principal personagem.

Não sei onde o conjunto Ada May/Bento encontrou informações sobre Ermance Dufaux, mas ela e Allan Kardec são personagens muito presentes na trama.

A emancipação da mulher, o contraste entre pobreza e fausto, o nascimento do espiritismo na França e os médiuns famosos de efeitos físicos constituem o cenário ao redor do trio Arthur, Watson e Jeanne.

A história prende o leitor após as primeiras páginas, e ele se sente instigado a ir até o final. Ao mesmo tempo, a história do espiritismo vai sendo construída e apresentada de uma forma muito agradável. Gostei do desenvolvimento da trama, embora confesse que consegui adivinhar o que iria acontecer. Isto, todavia, não reduziu a emoção de ler.

Recomendo aos espíritas a sensatez de entenderem que se trata de uma ficção, e sequer imaginar que os personagens principais tenham sido reais. Eles são símbolos vivos dentro da história do espiritismo.

Imagem: Adolphe Martial - Paris em 1862

Recebi também do amigo Sinézio Augusto Grimann um DVD contendo as imagens da França na época de Kardec, pesquisa feita por ele próprio, onde novamente encontro a demolição e renascimento de Paris. Creio que é bem simbólico, também, do sentido do espiritismo almejado pelo seu fundador.


Fico devendo aos leitores a resenha sobre o livro “A Terra da Bruma”, de Arthur Conan Doyle, que também me encantou recentemente e que parece ter sido uma espécie de inspiração para o desenvolvimento do enredo de “O Cético”.

ESPIRITISMO COMENTADO NO FACEBOOK


Prezados Leitores,


Cientes da dificuldade de comentar as publicações no Blogspot, criamos há alguns anos um grupo no Facebook. Aos poucos, os debates têm sido feitos lá, pela agilidade do instrumento. 

Não fizemos  um grupo aberto, para evitar trolls e outros visitantes indesejados, que desejam apenas a polêmica ou a provocação, e não o diálogo, contudo, temos aceito os pedidos de participação no grupos. 

Hoje há quase mil membros no grupo do Face, e vez por outra compartilhamos alguns posts de participantes que não são publicados pelo blog do EC. Avisamos também todas as vezes que há uma publicação no blog, o que facilita o acompanhamento de suas atualizações.

Se vocês desejarem acompanhar melhor os comentários, inscrevam-se no https://www.facebook.com/groups/espiritismocomentado/. É necessário já ter uma conta no Facebook para fazer a filiação, mas a mesma é gratuita.


Fraternalmente,

Jáder Sampaio

8.4.15

PROFISSÃO REPÓRTER TRATA DE MEDIUNIDADE



O programa Profissão Repórter de ontem tratou da mediunidade. Eles entrevistaram médiuns de Abadiânia-GO, Lorena-SP e São Caetano-SP, além da equipe do NUPES, na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG.

Se vocês não puderam assistir (assim como eu), segue o link:

6.4.15

CAMPETTI ENTREVISTA JORGE GODINHO




Nosso leitor, Alexandre Caroli Rocha, nos enviou um link para uma entrevista feita por Geraldo Campetti com o novo presidente da FEB. Ele trata da questão do eixo de ligação entre a Ciência e o Espiritismo.

https://www.youtube.com/watch?v=wnsrXjmIWuE

28.3.15

NOVO PRESIDENTE DA FEB ELEITO EM MARÇO DE 2015




O Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira elegeu no último dia 22 de março de 2015 o Sr. Jorge Godinho Barreto Nery como seu novo presidente.

Jorge Godinho é Tenente Brigadeiro do Ar da reserva da aeronáutica, tendo ocupado diversos cargos em sua trajetória profissional, inclusos o de Diretor Geral do DAC, Chefe do Estado Maior da Aeronáutica e Conselheiro Militar na Conferência de Desarmamento Mundial da Organização das Nações Unidas, em Genebra. O novo presidente optou por omitir estes cargos e títulos nas comunicações oficiais, preferindo apresentar sua "folha de serviço" como espírita.

A trajetória espírita de Jorge Godinho pode ser vista em  http://nrsp.nl/wp-content/uploads/2013/11/Godinho.pdf Ele foi presidente do Centro Espírita Léon Denis – CELD, no Rio de Janeiro na década de 70. Este grupo é muito conhecido pela ação proativa na divulgação do espiritismo e publicação de obras de estudo e memória do movimento.

A experiência com o movimento espírita europeu (Suíça, Holanda, Itália e Áustria) e a direção do Grupo de Apoio e Assistência aos Povos da África (GRAAPA) podem significar um cuidado da Federação com o apoio às organizações espíritas do exterior. Quase todos os vice-presidentes e diretores da gestão de Antônio César Perri de Carvalho estão mantidos em seus cargos, segundo informe da própria Federação. http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/eleito-novo-presidente-da-feb/

Em sua fala inicial, o novo presidente não apresenta ainda um projeto de trabalho para os próximos anos, limitando-se a convocar aos espíritas para:

“...colocarmos o Evangelho como roteiro; mantermos a consciência tranquila como consolo; esquecermos o mal como  estratégia; e utilizarmos a prece como fortaleza.


O Espiritismo Comentado deseja sucesso para a nova direção da Federação.

26.3.15

RELAÇÃO ENTRE CENTROS ESPÍRITAS E ÓRGÃOS DO ESTADO




Desde Kardec, na sua "Constituição Transitória do Espiritismo" (1868), encontramos preocupações com a ação organizada dos espíritas na sociedade. O fundador francês pensava em uma comissão central que, entre muitas ações de ordem cultural (museu, biblioteca, etc.), também teria por objetivos a construção de um dispensário (semelhante aos nossos postos de saúde atuais), um asilo e  uma caixa de socorros e previdência. Eles seriam construídos a partir da doação de recursos, que criariam um fundo financeiro e o rendimento deste seria utilizado para a manutenção dos órgãos sociais. 

No Brasil a história do movimento espírita está muito marcada com a construção de instituições de saúde, assistência social, cuidado e educação. Geralmente são laicas e públicas e voltadas à população de baixa renda, ao contrário do que pensa o senso comum, que crê terem por objetivo a conversão das pessoas, talvez por associarem fantasiosamente nossas instituições com igrejas que têm por missão a conversão. 

Aos poucos o legislador no Brasil foi percebendo a necessidade de incentivar-se este tipo de iniciativas sociais, e de tomar cuidados para que não haja desvio de recursos por estas instituições. Os três poderes têm recursos e interesses na manutenção de instituições de ação social, porque é mais fácil e econômico apoiar o que já existe que construir infra-estrutura e aumentar os quadros de servidores públicos do Estado, hoje limitados pela lei de responsabilidade social dos gestores.

Há diversas formas de se conseguir apoio do Estado: o reconhecimento da utilidade pública (municipal, estadual e federal) assegura imunidade (a proibição do Estado cobrar impostos) e diversas isenções e reduções de taxas de serviços. Os três poderes podem dar recursos financeiros através de subvenções, convênios e, mais recentemente, termos de parceria (que são convênios simplificados, mas exigem que a organização se qualifique como organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP).

Com a formalização destes instrumentos de gestão em nossa sociedade, houve pessoas desonestas que enxergaram nesta possibilidade um caminho de obtenção ilícita de recursos. Isso criou um grande alvoroço no legislativo, cuja fala informal e inconsequente de nossos representantes criou o termo "pilantropia", o que aumentou não apenas os cuidados do Estado com seu controle,  mas criou uma "aura" preconceituosa em torno das parcerias entre organizações do terceiro setor e os órgãos do estado.

No movimento espírita (pelo menos no mineiro) a relação com os órgãos do estado sempre foi vista com muita cautela, porque os dirigentes se preocupam em depender do estado e, de repente, ter o repasse de recursos atrasado ou circunstanciado, ou ainda ter que criar toda uma área-meio, burocrática, para atender as exigências dos órgãos parceiros. Houve sempre uma preocupação saudável em deixar as instituições espíritas à larga dos compromissos políticos partidários, ou pior, "devendo favores" a candidatos, que costumam "cobrar" em votos, no período eleitoral.

Cautelas à parte, penso que nas últimas décadas houve uma proximidade maior com o poder público, mesmo porque, o Estado Brasileiro foi assumindo responsabilidades sociais. No caso das creches, por exemplo, elas se tornaram uma atribuição das prefeituras, mas em uma cidade grande como Belo Horizonte, não há como construir uma rede de creches que atenda a centenas de milhares de crianças em idade pré-escolar em curto espaço de tempo. Da mesma forma, fica muito caro às sociedades espíritas a manutenção de educação infantil de qualidade, atendendo a todos os avanços de que foram sendo objeto. 

Precisamos conhecer mais e melhor estas iniciativas, para viabilizarmos honestamente um trabalho de promoção social que efetivamente dê resultados nas comunidades em que nos encontramos, até que o Estado Brasileiro seja capaz de cumprir seu papel sem necessitar da parceria com o terceiro setor, o que não parece ser algo viável nas próximas décadas.


25.3.15

COMO PESQUISAR NO ESPIRITISMO COMENTADO



O Espiritismo Comentado está comemorando em março, oito anos de publicações, comentários e diálogos muito ricos sobre seu tema central. Foram até agora quase 850 matérias sobre assuntos diversos, quase 490 mil visualizações, acessos de 123 países (27 deles fizeram 50 ou mais acessos registrados pelo flagcounter)

Nesse meio tempo, comentamos um grande número de livros espíritas que lemos e consideramos que vale a pena conhecer, como uma forma de tentar quebrar a resistência pelo novo que se instalou no movimento espírita, em função de um grande número de livros escritos com informações contraditórias e isoladas, recentemente. Outra frente de trabalho foi o resgate de autores já desencarnados, que aos poucos vão sendo esquecidos, pela falta de mídia ou pela falta de discussão sobre suas obras nos centros espíritas.

Tomei a liberdade de divulgar a Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE), nossa frente de trabalho com interessados de todo o Brasil, seus encontros, suas publicações. Falta muito ainda para que este trabalho seja conhecido no Brasil, apesar do interesse de movimentos do exterior, como o movimento francês. Um trabalho quase quixotesco tem sido a divulgação dos livros da coleção "Espiritismo na Universidade", composta até o momento de teses e dissertações defendidas no Brasil e que poderiam ficar na obscuridade e no desconhecimento do movimento espírita. Sei que se trata de trabalhos de interesse restrito e que jamais se tornarão best-sellers.

Tenho sempre recebido cortesias de livros da editora Lachâtre, que tem sido parceira na publicação de nossas traduções e psicografias. Como gosto de sua linha editorial, séria e aberta, tenho sempre comentado livros deles em minhas publicações, mas não há qualquer financeiro ou de mercado nisso, nem eles nunca me pediram que divulgasse nada. Uma pesquisa no blog constatará que escrevo sobre quaisquer editoras espíritas que tenham publicado livros que considero do interesse do movimento.

Outro interesse do EC é o resgate das vidas de espíritas que trabalharam e produziram pelo movimento e de instituições espíritas interessantes, que têm realizado ações de promoção social, inovações nas atividades dos centros espíritas, apresentado ou solucionado problemas de interesse mais amplo. 

O público nos tem sinalizado interesse em temas relacionados à mediunidade, à doutrina espírita em geral e ao comentário de eventos atuais, como foi o caso da publicação sobre o incêndio de Santa Maria, com mais de dois mil acessos. Continuaremos tratando disso.

Ontem, o leitor e amigo José Lourenço me perguntou sobre publicações antigas, então resolvi mostrar um instrumento que temos no blog e que não é muito utilizado. Na régua superior do blog (de quem acessa por notebook ou desktop, não pelos celulares) há uma caixa de pesquisa à esquerda do símbolo do google +. Veja abaixo:


 mais  Próximo blog»


Para pesquisar dentro do Espiritismo Comentado, basta escrever a palavra dentro da caixa de pesquisa e pressionar a tecla enter

No caso do amigo Lourenço, ele está interessado em uma pesquisa sobre determinismo. Aparecerão três matérias, e eu recomendo a matéria "O Determinismo dos Deuses Gregos", para o estudo dele.

Boas pesquisas, leitores e obrigado pela confiança em nosso trabalho!

3.3.15

11o. ENLIHPE APRESENTARÁ PESQUISAS SOBRE REENCARNAÇÃO



A Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) é uma rede de interessados no estudo do espiritismo. É composta por pessoas de todo o país, com ou sem formação acadêmica, com a finalidade principal de intercâmbio, troca de informação e produção/divulgação de conhecimento.

Há mais de uma década temos promovido, em parceria com o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM) (o fundador da rede) um encontro nacional. Este ano será em São Paulo, dias 29 e 30 de agosto, no auditório da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), mas mantendo a parceria com o CCDPE-ECM.

Este ano o tema central é o "Panorama Atual das Pesquisas Científicas sobre a Reencarnação". Já fizemos um levantamento de dezenas de artigos que tratam do tema, publicados em inglês, nas áreas de parapsicologia, medicina, antropologia, ética, história e psicologia, e identificamos as publicações de pesquisadores famosos sobre este tema, como Erlendur Haraldson, Antônia Mills, Ian Stevenson e Jim Tucker. Membros da LIHPE e do CCDPE estão se organizando para estudar os trabalhos e analisá-los no encontro. O evento está sendo coordenado pelo prof. Adilson Assis, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com muita dedicação e competência.

Independente desta iniciativa, como sempre, estamos aguardando as submissões de trabalhos relacionados à finalidade da LIHPE no período de 1 de março até 31 de maio. Mais informações sobre a chamada de trabalhos podem ser obtidas no site http://www.lihpe.net/wordpress/?p=1450

As inscrições para participar do evento ainda não estão abertas, Avisaremos no Espiritismo Comentado e no site da LIHPE



Quem desejar adquirir a publicação do ENLIHPE de 2014, pode me escrever no e-mail espiritismocomentado@gmail.com, enviando o endereço completo, que repasso uma conta para depósito e envio pelos correios. Para os leitores do Espiritismo Comentado, o livro e o envio pelos correios (como impresso, não como sedex) fica em 30 reais.

Venham a São Paulo em agosto participar conosco desta iniciativa!

28.2.15

ALLAN KARDEC E O ISLAMISMO




Vivemos hoje uma época de muita tensão entre cristãos e muçulmanos, fruto de ações militares em países muçulmanos, ações contra a vida de civis nos Estados Unidos, na França (Charlie Hebdo), das posições iconoclastas dos militantes do ISIS e do velho preconceito dos países ocidentais, que insiste em generalizar atos cometidos por indivíduos e organizações para todos os adeptos de uma religião no mundo.

Allan Kardec sempre teve uma conduta de tolerância entre as religiões, não uma tolerância ingênua, que pressupõe bondade em tudo, mas uma aceitação de diferenças e uma possibilidade de convivência apesar delas.

Na Revista Espírita de 1866, Kardec escreveu dois artigos com o título "Maomé e o Islamismo", nos quais denuncia o conhecimento apenas legendário dos Europeus sobre o Islamismo, a ação do espírito de partido, que ressalta "os pontos mais acessíveis à crítica, muitas vezes, e de propósito" deixa na sombra as partes favoráveis. "Disto resultou que sobre o fundador do islamismo se fizeram ideias muitas vezes falsas ou ridículas, baseadas em preconceitos, que não encontravam nenhum corretivo na discussão." (página 225- Edicel)

Ele consultou um livro publicado por Saint Hilaire (Mahomet et le Coran), pela livraria Didier, que sintetiza as principais considerações dos orientalistas de sua época, formando uma opinião diversa da que era veiculada em sua época.

Ele trata das origens do islamismo entre os povos árabes, da luta de Maomé contra os ídolos que dividiam os povos árabes e faz uma biografia de Maomé voltada ao seu contexto, às dificuldades de enfrentou e destacando um homem pacífico por décadas, que só se lançou à guerra quando foi sitiado em Medina. 

"Maomé foi, pois, guerreiro, pela força de circunstâncias, muito mais que por seu caráter, e terá sempre o mérito de não ter sido o provocador." (páginas 321 e 322 - Edicel)

Kardec, portanto, defende a desconstrução de um Maomé ambicioso, sanguinário e cruel. Ele considera o homem em seu tempo, em contato com povos belicosos.

Outro ponto destacado nos artigos dizem respeito às percepções que Maomé afirma ter com o anjo Gabriel, origem das Suratas. 

Allan Kardec não concorda com o casamento poligâmico de Maomé após a morte da sua esposa Khadidja. "Permitindo quatro mulheres legítimas, Maomé não pensou que, para que sua lei se tornasse a da universalidade dos homens, era preciso que o sexo feminino fosse ao menos quatro vezes mais numeroso que o masculino". (página 323 - Edicel)

"Mau grado suas imperfeições, o Islamismo não deixou de ser um grande benefício para a época em que apareceu e para o país onde surgiu, porque fundou o culto da unidade de Deus sobre as ruínas da idolatria." (página 323 - Edicel)

Essa religião era a mais simples de todas: "Crença num Deus único, onipotente, eterno, infinito, presente em toda a parte, clemente, misericordioso, criador dos céus, dos anjos e da Terra. Pai do homem, sobre o qual vela e o cumula de bens; remunerador e vingador numa outra vida, onde nos espera para nos recompensar ou castigar, conforme os nossos méritos. Vendo nossas ações mais secretas e presidindo ao destino inteiro de suas criaturas que não abandona um só instante, nem neste mundo, nem no outro; submissão a mais humilde e confiança absoluta em sua vontade santa": eis os dogmas.

Há o destaque no antigo e do novo testamento na religião muçulmana, que reconhece Jesus como profeta: enviado de Deus para ensinar a verdade aos homens, assim como Moisés. O codificador destaca que Maomé não tinha sentimentos hostis pelos cristãos e no próprio Alcorão recomenda habilidade para com eles, "mas o fanatismo os englobou na proscrição geral dos idólatras e dos infiéis" (página 331 - Edicel)

Vejam três citações:

"Os Cristãos serão julgados segundo o Evangelho; os que os julgarem de outro modo serão prevaricadores" (Surata V, v. 51)

"Não discutais com os Judeus e os Cristãos senão em termos honestos e moderados. Entre eles confundi os ímpios: Dizei: Nós cremos no livro que nos foi revelado e em nossas escrituras. Nosso Deus e o vosso são apenas um. Somos muçulmanos (Surata XXIX, v. 45)

"Não façais violência aos homens por causa de sua fé. A via da salvação é bem distinta do caminho do erro. (Surata I, v. 257)

Kardec reproduz diversas passagens das Suratas sobre o paraíso de Maomé e critica a pilhéria que àquela época faziam dele.

"Tal é o famoso paraíso de Maomé, do qual tanto pilheriam e que, certamente, não procuraremos justificar. Apenas diremos que estava em harmonia com os costumes desses povos e que devia agradá-los muito mais que a perspectiva de um estado puramente espiritual, por mais esplêndido que fosse..." (páginas 336 e 337 - Edicel)

O segundo artigo termina com uma promessa que até o momento não encontrei (se alguém encontrar, por gentileza, me avise) "Em próximo artigo examinaremos como o Islamismo poderá ligar-se à grande família da humanidade civilizada."

Em outras palavras, ainda que discordasse de alguns pontos da religião islâmica, Kardec publicou na defesa do respeito e do entendimento entre cristãos e muçulmanos. Desconstruiu algumas lendas que corriam em seu país sobre os muçulmanos e fez uma análise histórica, ainda que marcada em alguns pontos pelo entendimento comum de sua época da superioridade da cultura ocidental. Parece que estes textos têm sua significância nos dias de hoje, em que um grande debate se faz em torno das relações entre os países ocidentais e os países árabes e muçulmanos em geral.

23.2.15

DIVALDO NO FANTÁSTICO



Considero muito feliz o trabalho da equipe de reportagem do Fantástico com o Divaldo Franco. Para quem não conhece (se é que algum leitor deste blog não conhece o Divaldo), ele é um orador espírita, médium baiano, com uma obra social admirável.

Após uma entrevista rápida com o Divaldo e algumas cenas envolvendo a prática mediúnica, mostrou-se a Mansão do Caminho, que já mostramos antes no Espiritismo Comentado (http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/search?q=mansão),

Foi muito feliz mostrar a comunidade do Pau da Lima, e a relação dos excluídos com o trabalho do Divaldo. Encontrar pessoas que foram adotados por ele ou estudaram na Mansão, com suas profissões, décadas depois da infância, é algo que toca e incentiva quem quer que esteja buscando fazer um trabalho de inclusão social.


No link abaixo você tem a matéria e a transcrição da entrevista com Divaldo.

http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/02/principal-medium-do-pais-psicografa-diante-das-cameras-do-fantastico.html

20.2.15

FELICIDADE E SOFRIMENTO: QUAL É O RECADO DE TONINHO BITTENCOURT?




Ontem líamos o livro "Ideias e ilustrações", que é uma coletânea de psicografias de Chico Xavier. Cada capítulo tem uma história, geralmente do Irmão X, seguida de poesias e citações sobre o mesmo tema.

O capítulo de ontem agrupou os textos sob o título "Do aperfeiçoamento", e trata de uma pedra que sofre humilhações impingidas pelos instrumentos de lapidação para se tornar um brilhante de um cetro real. O consolo da pedra, ao longo do percurso, eram os trabalhadores que se beneficiavam do seu sofrimento.

Intrigou-nos uma poesia, ditada pelo espírito Toninho Bittencourt, de difícil interpretação:

"Sem a dor que a forme no peito,
Felicidade perdura
Como sendo indiferença, 
Ingenuidade ou loucura."

O que ele deseja dizer? Penso que ele não argumenta em defesa de um masoquismo, um culto da dor pela dor. 

O que pude depreender é que o mundo apresenta tanto sofrimento, tantos problemas, que não é possível não percebê-lo, e, ao fazê-lo, sentir compaixão ou empatia com os que sofrem.

Talvez Toninho queira dizer que as pessoas que vivem apenas uma vida de prazeres, fecham os olhos ao sofrimento do mundo. Por isso sentem-se felizes, mas são indiferentes, ingênuos ou loucos.

Como você interpreta a poesia, leitor?

8.2.15

YVONNE E O AMBIENTE METAETÉRICO



Yvonne é uma das raras médiuns que estudou seus próprios fenômenos, sempre empregando os clássicos do espiritismo e da pesquisa psíquica. No livro Devassando o Invisível encontramos a médium em uma residência do Rio de Janeiro, da época do segundo império, passando alguns dias com amigos.

Ao deitar, Yvonne não conseguia dormir e tinha seu campo de percepção alterado. A casa onde estava desaparecia e em seu lugar se encontrava uma fazenda com senzala, milharais e canaviais. As ruas desapareciam e ela via a paisagem rural, com escravos cantando, carregando cestas e sacos, feixes de lenha, ferramentas e enxadas.

Uma escrava de saia preta e camisa de algodão, com lenço branco e colher de pau mexia um tacho onde se fazia o antigo sabão de cinza. Outra escrava servia-se da palmatória para corrigir um moleque de oito a doze anos, em seu colo.

Um escravo idoso, no pelourinho, preso pelos pulsos, era chicoteado e repetia em voz alta:

- "Meu Deus do céu! Meu anjo da guarda! Tenham dó de mim!"

Ele via também uma dama de aspecto senhorial, esbelta, bonita, trajando um vestido de tafetá azul forte, com cabelos negros "penteados com esmero" e brincos com pingentes de ouro.

Ao levantar-se pela manhã, conversou com a dona da casa que confirmou que antigamente ali funcionava uma fazenda de escravos, levando Yvonne para conhecer as ruínas de um pelourinho que resistira ao tempo.

Yvonne parece ver as cenas como as de um filme ou porta retratos digital, distinguindo os personagens que viu dos espíritos, com quem usualmente conseguia interagir.

Então ela nos recorda da teoria do ambiente metaetérico, de Myers, que afirmava ser possível encontrar virtualmente "organismos vivos" que eram percebidos pelos sensitivos que pesquisou. São criações  mentais fluídicas, ou, como denominou André Luiz, "formas pensamento", que se mantém após terem sido criadas pelas pessoas que lá viveram e sofreram. Yvonne denomina sua faculdade com a expressão psicometria "de ambiente", ou seja, ela tem percepções psicométricas ao entrar em contato com um local e não apenas com um objeto dele. Mais informações sobre esta faculdade no capítulo VIII do livro Devassando o Invisível, publicado pela Federação Espírita Brasileira.






3.2.15

PROVAÇÃO, PROVA, EXPIAÇÃO E MISSÃO



Um espírita de muitos anos de casa perguntou-nos qual era a diferença entre expiação, prova e missão. Resolvi inserir também o conceito de provação, empregado por Kardec em sua obra.

Kardec usa missão como uma tarefa que um espírito se coloca ou concorda em realizar a pedido de seus superiores. Como toda tarefa, ela tem suas dificuldades, mas estas não se acham ligadas a erros do passado, são apenas “ossos do ofício”. Alfred Schweitzer, por exemplo, tomou como missão pessoal a construção do hospital em Lambaréné, no Gabão - África e seu trabalho como cirurgião. Ele já era um organista de sucesso e um teólogo cristão, quando decidiu realizar esta tarefa. Embora desconheçamos o passado de Albert, se ele não tiver nenhuma dívida do passado com a comunidade africana, podemos considerá-lo um missionário.


Fotos de Lambaréné por Joel Mattison

O dicionário Houaiss definiu provação como “situação aflitiva ou sofrimento muito grandes, que põe à prova a força moral, a fé religiosa, as convicções de um indivíduo” e ao definir prova ele coloca como sinônimo de provação.

Aceitar este conceito tem uma consequência importante no entendimento espírita da vida. Nem todas as situações que passamos são remissões de erros passados. O sofrimento não é necessariamente algo articulado à culpa e ao erro, mas pode ser uma circunstância da vida que nos possibilita o autoconhecimento, mobiliza nossas energias e talentos. Mais importante que explicar ou dar sentido ao sofrimento empregando a reencarnação, o conceito de prova ou provação põe ao ser humano consciente e lúcido a tarefa de saber superá-lo.

As provas costumam ser objeto de escolha dos espíritos minimamente lúcidos ainda antes da encarnação (questão 269 de O livro dos espíritos), mas, como na vida, ele pode optar por provas que são superiores à sua força e sucumbir a elas.

Por expiação, o Houaiss entende como “purificação de crimes ou faltas cometidas”. Seria uma situação da vida que envolve sofrimento físico ou psicológico, que se acha ligada a um evento passado, que o sujeito percebe como errado, ou de cujas consequências não consegue se evadir facilmente. Os espíritos com quem Kardec dialogou explicam que encarnações como a das crianças com paralisia cerebral (ele não usa este termo) geralmente estão ligadas a algum “abuso temporário” (questão 373 de O livro dos espíritos).


Quando se observa em alguém que passa por uma expiação, não se pode concluir esta pessoa seja má. Todos cometemos equívocos, e nenhum de nós, em sã consciência, consegue sustentar que tem um passado reencarnatório imaculado. Daí a proposta de tolerância e caridade uns para com os outros, o que, convenhamos, quase nunca é fácil.

2.2.15

SENSAÇÕES DOS MÉDIUNS




Em nossa reunião mediúnica, há um mês ou dois, estávamos em uma sala muito quente e abafada. O ventilador não conseguia, senão circular ar quente entre os membros, quando terminamos a parte de estudos e iniciamos as comunicações com os espíritos. Em pouco tempo, três comunicações simultâneas deram início.

Uma das comunicações despertou o tema deste texto. A médium começou a sentir frio, e o espírito relatou um acidente em um local muito frio, que provocou sua desencarnação. Como a médium pode sentir frio em um local tão quente? Se o espírito comunicante não está mais encarnado e também não se encontra no local em que desencarnou, por que relata sentir frio?

Nas pessoas encarnadas as sensações são frutos dos órgãos dos sentidos. Os olhos são uma espécie de transdutores de luz, que transformam as ondas luminosas de certa faixa de frequências em impulsos nervosos. Os ouvidos fazem o mesmo com ondas sonoras. Paladar e olfato transformam os sabores e odores; o tato transforma sensações de frio/calor, pressões sobre o corpo e movimentos. O sistema nervoso leva os impulsos ao cérebro. A teoria espírita entende que, no caso dos encarnados, estes impulsos são processados pelo Espírito, através do perispírito.

Os espíritos desencarnados não têm tato, porque se encontram desligados do seu organismo. Como podem sentir frio? Após conversar com diversos espíritos, Kardec concluiu que os relatos de sensações por espíritos são recordações, memórias (questões 256 e 257 de O Livro dos Espíritos), empregadas para descrever o estado em que se encontra. O fundador do espiritismo usa a expressão latina sensorium commune para deixar claro que não há no perispírito o equivalente aos sensores da derme ou da audição e que o Espírito sente como um todo. Em outras palavras, a consciência é uma faculdade espiritual, e não perispiritual. O Espírito desencarnado, contudo, ainda tem o registro das sensações que anteriormente eram recebidas do organismo, podendo trazê-las à consciência como evocamos uma recordação de infância.

Por que então, Espírito comunicante, e, por consequência, a médium, relatavam sentir frio? Por que o Espírito acreditava estar ainda em meio à neve. Ele não era capaz de perceber que se comunicava através de uma médium que estava em uma sala quente, porque se sentia ainda confuso após a desencarnação. O frio que a médium sentia é, portanto, uma percepção profunda da consciência um pouco perturbada do espírito comunicante.


Em situações como esta, dar a notícia da desencarnação é menos importante que dialogar com o comunicante. Ao nos relatar suas vivências, sentimentos e sensações, ele vai aos poucos organizando sua experiência e assenhorando-se dela. Ele pode passar de um estado de confusão, a um estado em que é capaz de se comunicar com outros espíritos em melhor estado, capazes de auxiliá-lo.