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15.9.09

JESUS EM BETÂNIA

Figura 1: Mapa da Judéia na época de Jesus


Betânia era um povoado à época de Jesus, que ficava a cerca de 4 km de Jerusalém, o que fica a um dia de caminhada, passando pelo Monte das Oliveiras



Figura 2: Foto contemporânea da região de Betãnia



Figura 3: Antiga Aldeia de Betânia
Três personagens do Evangelho fizeram forte amizade com Jesus: Lázaro e suas irmãs Maria e Marta. Ficaram muito conhecidos pelo movimento espírita os episódios da chamada "ressurreição" de Lázaro, que Kardec explicou como sendo um fenômeno de catalepsia ou morte aparente, e não de ressureição propriamente dita.

Figura 4: Foto contemporânea do local considerado ser o túmulo de Lázaro

O interesse de Maria pela doutrina de Jesus, para a indignação de Marta, que queria ajuda nos serviços domésticos, também foi objeto de muitas considerações de autores espirituais e espíritas, comentaristas do evangelho, como A. L. Sayão, Emmanuel e Amélia Rodrigues.

Uma terceira passagem muito conhecida é a das vésperas da prisão de Jesus, quando em Betânia, a mesma Maria surge, unta os pés de Jesus com um óleo aromático e enxuga com seus cabelos, para a incompreensão dos apóstolos.



Figura 5: Vitral do College St John em Cambridge (Maria aos pés de Jesus)

16.8.09

MUITO SERÁ PEDIDO

Figura 1: Culpa
O comentário de Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, tornou conhecida no meio espírita a afirmação de Jesus: “Àquele a quem muito se deu , muito será pedido” (Lc 12:48).

O que se conhece pouco é o contexto no qual foi dita a frase magistral, que encerra uma história de Jesus para os apóstolos.

Jesus utiliza a imagem do senhor e dos servos. Na sociedade judaica, a servidão era uma forma de quitação de dívidas.

O Rabi conta a história de um senhor que saiu para uma festa de núpcias. À época, este tipo de festa poderia durar muitas horas e até dias. Como tivesse muitos servos ele escolheu um deles e repassou a responsabilidade sobre a casa. Neste caso, os demais servos deverão obedecê-lo e ele pode, segundo os costumes da época, puni-los com chibatadas se necessário for.

Diante do pequeno poder que lhe é confiado este servo pode fazer duas coisas. A primeira é ser zeloso com seus deveres, manter-se acordado (vigilante), pronto para atender a porta quando seu senhor chegar, com as lâmpadas de azeite acesas, mantendo a ordem na casa e tratando com humanidade os demais servos. A segunda é imaginar que o seu senhor demora a chegar, tornar-se arbitrário, espancar seus desafetos que se encontram sob sua autoridade, “comer, beber e embriagar-se”, esquecendo-se dos seus deveres e do seu lugar.

Jesus recomenda que o servo, temporariamente com as atribuições de administrador, mantenha os rins cingidos (esteja vestido adequadamente) e as lâmpadas acesas (Lc 12:35). Ele deve fazê-lo mesmo que o seu senhor chegue na segunda ou terceira vigílias (a noite era dividida pelos judeus em três vigílias), ou seja, tarde da noite.

Pedro parece perceber que Jesus está fazendo uma recomendação aos apóstolos e faz uma pergunta confirmatória (Lc 12:41), a qual é respondida afirmativamente, mas de forma igualmente metafórica.

O Mestre conclui sua parábola com uma explicação estranha, se tomada em separado, mas muito lógica. Se os servos exorbitarem na ausência do senhor, serão chicoteados (ou punidos, conforme a tradução), mas aquele que conhecia a vontade do seu senhor, será ainda mais punido.

Jesus ilustra o papel da vigilância na vida dos que desejam ser seus seguidores. Em linguagem espírita, é uma das passagens que mostra o papel da consciência do mal nas relações de causa e efeito.

Uma leitura psicológica possibilita a seguinte análise: além do sofrimento próprio da conseqüência dos atos equivocados, aquele que se reconhece negligente sofre duas vezes, porque lhe advém à mente que poderia ter agido de forma diferente para evitar as conseqüências indesejáveis.

No contexto contemporâneo, a história não se aplicaria apenas aos apóstolos, como na origem, mas a todas as pessoas. A vigilância não significaria apenas a fiel observância dos valores cristãos, mas a vida responsável pelas ações realizadas e a certeza de que nossas negligências ou cuidados desencadearão consequências futuras.

11.12.07

A Tentação do Deserto e o Mandamento Divino

Alice perguntou: Gostaria que você me enviasse, se possível, alguma explicação a respeito da máxima de Jesus, referente ao capítulo XI do Evangelho Segundo o Espiritismo : " Amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma, de de todo o entendimento e com toda a força". Queria compreender o significado das expressões sublinhadas e o que elas têm a ver com a tentação do deserto.

Jesus está fazendo uma citação do Deuteronômio, capítulo 6, versículo 5. Trata-se do primeiro mandamento de Iahweh, possivelmente escrito por Moisés, aos Israelitas.

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Kardec se detém no segundo mandamento de Jesus, por esta razão não tece comentários sobre o já conhecido preceito do Antigo Testamento.

Seguindo a proposta Kardequiana, ao contextualizar a frase, retornamos ao Egito, de onde Moisés acabara de libertar o povo de Israel. Como todos sabemos, no Egito Antigo fazia-se o culto de diversos deuses, e após anos de escravidão muitos dos israelitas absorveram práticas religiosas egípcias. O monoteísmo pregado por Moisés era estranho àquele povo. Além dos deuses egípcios, os Israelitas seriam expostos aos cultos das divindades dos povos que se tornariam seus vizinhos na futura Palestina. Os Filisteus, os povos do mar, os cananeus e muitos outros cultuavam divindades estranhas a Iahweh.



Figura 1: A Criação de Adão, de Michelângelo

O sentido da frase nos parece claro: Iahweh manda que o povo de Israel obedeça apenas a seus princípios e leis, não rendendo culto a outros deuses. Não poderia haver lugar na alma ou no coração dos Israelitas para outra divindade. Se necessário, Iahweh exige que os Israelitas defendam sua crença com toda a sua força. (ou poder, como foi traduzido na tradução de Ferreira de Almeida). Uma evidência deste sentido é a própria continuidade do texto do Deuteronômio que deixa explícito no versículo 14: "Não seguireis outros deuses, qualquer um dos deuses dos povos que estão ao vosso redor, pois Iahweh teu Deus é um Deus ciumento, que habita em teu meio."

Vê-se que Moisés tinha suas razões para encabeçar com este mandamento a lista dos demais, posto que enquanto ele os recebia no monte, tendo demorado alguns dias, os Israelitas se esqueceram-se de Iahweh e fundiram o bezerro de ouro para culto.



Figura 2: Moisés, de Michelângelo

Mateus não faz referência a "poder" ou "força" em seu evangelho. Ele adiciona a palavra "entendimento" (Tradução da Bíblia de Jerusalém) ou "pensamento" (Tradução de Ferreira de Almeida). No Evangelho de Marcos (12:30) e no de Lucas (10:27) se encontram as quatro expressões: coração, alma, entendimento e força.

Na narrativa de Marcos há outra evidência de que Jesus se referia à crença em um único Deus. O escriba, com quem Jesus conversava, afirma "Muito bem, Mestre, tens razão em dizer que ele é o único e não existe outro além dele, e amá-lo de todo o coração, de toda a inteligência e com toda a força (...) é mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios. Jesus vendo que ele respondera com inteligência, disse-lhe: "Tu não estás longe do Reino de Deus".

Nesta passagem o evangelista introduz a questão da interioridade da crença em Deus. Amar com coração, alma e entendimento é amar internamente a Deus; render-lhe sacrifícios e oferendas é fazer com que a sociedade saiba que se diz amá-lo ou temê-lo. Esta já é uma contribuição de Jesus à concepção de Deus de sua época. Há uma outra passagem em que ele diz que Deus não deve ser adorado em templos, mas "em espírito e verdade". Jesus sempre foi crítico dos que dizem amar a Deus exteriormente e que na intimidade desrespeitam seus princípios. Ele é crítico contumaz da hipocrisia de fariseus em diversas passagens dos evangelhos. Mais que uma crença exterior, social, amar a Deus com o coração, com a alma e com o entendimento é ser consistente com sua proposta de vida. Esta é uma das chaves para se compreender o que Jesus considera ser o Reino.

Para se fazer a distinção das palavra alma e coração, uma análise correta (segundo a hermenêutica) demandaria a identificação do seu equivalente em hebraico e uma análise da mesma palavra em outras passagens do pentateuco, ou pelo menos uma consulta a exegetas consagrados, o que está além da minha capacidade atual, portanto, prefiro não emitir opinião.


Figura 3: Tentação do Deserto de Gustave Doré

Quanto à tentação do deserto, em Mateus 4: 8-10, o diabo (adversário de Iahweh, outra divindade na concepção histórico filosófica, portanto) propõe que Jesus se lhe prostre e o adore, oferecendo-lhe para tanto todos os reinos do mundo. Jesus recorda-lhe uma outra passagem do Deuteronômio e o manda embora dizendo: "Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto". Fica óbvia a associação entre as passagens.

3.6.07

O Conto Perdido


Jorge Damas Martins, sempre atento e atencioso, conseguiu a primeira edição do livro "A Canção do Destino", que eu havia divulgado na revista Universo Espírita. Além de uma introdução de Ismael Gomes Braga, encontra-se um conto de Bernardo Guimarães - Espírito, intitulado "O Bom Ateu". Este conto não foi publicado nas edições de Correio Fraterno.

O conto é uma ficção criada a partir da conhecida contradição entre as religiões e o comportamento dos religiosos, e tem por fundo uma espécie de versão moderna da Parábola do Bom Samaritano.

Sob a pena de Bernardo Guimarães, Jesus e Pedro voltam à Terra para saber porque tão poucos religiosos mereciam "o céu" após a morte. Eles passam por Jerusalém, pelo Vaticano, pela Igreja Anglicana e por uma sociedade espírita no Brasil. Como era de se esperar, ninguém reconhece a Jesus, a Pedro, nem aos ensinamentos cristãos. Todos se apegam a seus títulos, posições e instituições terrenas para justificar doutrinas estranhas à cristã difundidas como se a fossem.

No Espiritismo, o autor se detém nos conflitos históricos entre críticos e defensores das obras de Roustaing, e o personagem Jesus ensina a Pedro que os filhos do consolador prometido chegam a faltar com a fraternidade e o respeito entre si por divergência de idéias.

O final do conto é um encontro com um ateu caridoso, cujas ações impressionam a Jesus e Pedro, que concluem que devem esperá-lo "no céu".

A contra capa da primeira edição divulga o livro "Cânticos do Além". Os nomes de autores espirituais impressionam, pela variedade de literatos desencarnados. Confirmando-se a capacidade mediúnica de Dolores Bacelar, este livro tem potencial para se tornar um segundo "Parnaso de Além Túmulo". Não valeria a pena reeditar este livro?