12.2.08

Doutrinação ou Atendimento?

Foto 1: Capa da Primeira Edição do Diálogo com as Sombras

Élcio Pires nos enviou a seguinte questão:
Gostaria de ouvir você sobre nossa ação numa reunião mediúnica. Como médium, DOUTRINAMOS, ou ESCLARECEMOS um Espírito que se manifesta a procura de ajuda? O termo “doutrinar”, pode levar a idéia de impor “algo a alquém”? Ou, nesse ato, “doutrinar ou esclarecer” acabam tendo o mesmo sentido? Qual sua opinião?

Hermínio Miranda no livro "Diálogo com as Sombras" (FEB) afirma que doutrinar é "instruir em doutrina ou , simplesmente, ensinar". Na página 67 ele discorre sobre os problemas que o termo doutrinador traz:

- "... o espírito que comparece para debater conosco os seus problemas e aflições, não está em condições, logo aos primeiros contatos, de receber instruções doutrinárias, ou seja, acerca da Doutrina Espírita, que professamos, e com a qual pretendemos ajudá-lo. Ele não vem disposto a ouvir uma pregação, nem predisposto ao aprendizado, como ouvinte paciente ante um guru evoluído. Muitas vezes ele está perfeitamente familiarizado com inúmeros pontos importantes da Doutrina Espírita. Sabe que é um Espírito sobrevivente, conhece suas responsabilidades perante as leis universais, admite, ante evidência que lhe são mais do que óbvias, os mecanismos da reencarnação, reconhece até mesmo a existência de Deus.(...)
Portanto, o companheiro encarnado, com quem estabelece o diálogo, não tem muito a ensinar-lhe, em termos gerais de doutrina. "

Ele continua o capítulo tratando das qualidades e perfil do doutrinador. Apesar de criticar o termo, não o substitui.

Em nosso grupo, insatisfeitos com o termo doutrinador, utilizamos a palavra atendente e atendimento, que é mais próxima da idéia de atendimento psicológico e que tem suporte nas obras de André Luiz, que faz uso do termo atendente. Entendemos que o papel da pessoa que conversa com os espíritos é atendê-los, como faz um psicólogo em sua clínica. Devemos às vezes esclarecer, raramente instruir em doutrina, evitando a posição professoral ou do sacerdote exorcista.

Quanto à etimologia da palavra doutrinar, ela pode assumir o sentido de ensinar compulsoriamente e até mesmo punir, como nos mostra o mestre Houaiss:
v. (1344 cf. IVPM) 1 t.d.int. formular, transmitir, pregar doutrina ou nela instruir alguém; ensinar 2 t.d. incutir em (alguém) opinião, ponto de vista ou princípio sectário; inculcar em alguém uma crença ou atitude particular, com o objetivo de que não aceite qualquer outra 3 t.d.int. ant. educar, corrigir com castigo 4 t.d. ant. fazer adestramento de; amansar, amestrar ¤ etim doutrina + -ar; ver doc(t)- ¤ sin/var adoutrinar; ver tb. sinonímia de instruir ¤ ant desdoutrinar ¤ par doutrinaria(1ª3ªp.s.)/ doutrinária(f.doutrinário[adj.s.m.])

Tenho certeza que com todo este cuidado linguístico, não adianta nada dizermos que atendemos se continuamos a impor pontos de vista ou ensinar doutoralmente e não há problema em se dizer que se doutrina espíritos, desde que o sentido esteja associado ao exercício do Ágape Paulino.

Figura 2: Dedicatória do Livro feita pelo autor a José Mário Sampaio

4 comentários:

  1. Jáder, o termo "doutrinador" consta também no livro Desafios da Mediunidade de Camilo, psicografia do José Raul Teixeira, nas questões 88,89,90,92 mas a resposta à 88 é contrária ao sentido do dicionário, a idéia diz respeito à ideologia.
    No Correnteza de Luz de Camilo, por J.R.T. no texto nº 19 o título é doutrinação, mas o § começa com " Nos labores do atendimento.." e o sentido não é o de passar uma doutrina. O querido Aurélio Valente em Sessões Práticas e Doutrinárias, cap IV, p. 79 final do último §, usa "doutrinado", p. 81 "doutrinação".
    No livro Conscência e Mediunidade, do Projeto Manoel Philomeno de Miranda é empregado o termo "Atendimento", ao mesmo tempo que usa "doutrinador" na questão 13 da primeira parte, já no item 14 usa terapeuta-doutrinador. com disse oa expressãonão é importante ,mas sim a forma de dialogar. Abc, Alberto Becker.

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  2. Alberto,

    Já está disseminada no meio espírita a idéia de que a doutrinação de espíritos, no sentido próprio da palavra, não os ajuda na maioria dos casos.

    Como o termo doutrinação veio sendo usado incorretamente, nós espíritas acabamos criando um novo sentido para ele, sentido este que não é compreendido por quem não pertence ao movimento espírita e que deve causar confusão à população em geral.

    Por esta razão, entendo que utilizar um termo novo é importante, seja para os espíritas, seja para os não espíritas entenderem melhor o que fazemos quando conversamos com espíritos sofredores, ignorantes ou malévolos.

    Vale o bom senso de Kardec, que dizia: para idéias novas, palavras novas.

    Um abraço

    Jáder

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  3. Até agirá ainda não descobri da onde veio esse termo. kardec não o cita em lugar nenhum ? Como podemos intitular essa função dentro das casas espiritas se ela não existe em fonte doutrinária

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  4. Priscilla, perdoe a demora em aprovar seu comentário. Você se refere a atendimento ou doutrinação? A questão dos conceitos espíritas não se reduz ao emprego das palavras por Allan Kardec. Ectoplasma, por exemplo, é um conceito que surgiu após Allan Kardec, como forma de explicar o que ele chamou de "aparições tangíveis". Kardec não poderia ter utilizado esse termo, porque em sua época não haviam estudado ainda o material do qual eram feitas as chamadas materializações. A ideia de conhecer Kardec antes de entrar nas "obras subsidiárias" é muito boa. A ideia de reduzir o vocabulário espírita aos conceitos empregados por Kardec vai contra o próprio Kardec, que ao longo de sua obra foi identificando fenômenos novos e redefinindo termos, como nos mostrou Marcelo Gulão em sua dissertação de mestrado sobre o método em Allan Kardec. Quanto à antigamente chamada doutrinação, encontra-se em Kardec o desejo de instruir em doutrina um dos obsessores que seu grupo atendeu, mas depois diversos espíritos, entre eles a pequena Cárita, deu diversas sugestões para o auxílio de obsessores. No livro Conversando com os Espíritos, dediquei alguns capítulos para recuperar essa prática que avançou tanto no Brasil, na obra de Allan Kardec.

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