Foto: Sanatório Espírita de Uberaba
Livro: Recordações de Modesta
Autor: Iracy Cecílio
Editor: INEDE
223 páginas
16 X 22,5
ISBN: 9788589038218
1a. Edição
2007
A memória espírita não se esvanece porque algumas
editoras e pessoas insistem em preservar o pouco que resta do passado com seus
esforços pessoais. Mesmo sem formação em história ou sem qualquer curso formal
sobre preservação da memória, surgem voluntários a abrir mão de suas horas de
descanso em iniciativas que possibilitam às novas gerações não perder as
“picadas” que foram abertas na mata pelos pioneiros.
Maria Modesto nasceu em 1899, no mesmo ano em que
Freud escreveu a “Interpretação dos Sonhos”. Filha de espíritas, padeceu aos 18
anos de uma enfermidade que foi diagnosticada como grangrena por um facultativo
da capital mineira, associada a perturbação mental que os espíritas
identificaram como obsessão. A família evitou a cirurgia e, mesmo sob
advertência médica, levou-a a Sacramento, onde foi tratada por Eurípedes
Barsanulfo, à base de desobsessão, passes e água fluidificada no período de 18
dias. Seguiu-se a educação mediúnica e, em breve, estaria psicografando. Ela
seria intermediária das prescrições médicas dos espíritos, prescrições
corretas, para o desespero do Pai da Psicanálise.
Estivesse viva, seria levada pelo Prof. Cléber de
Aquino, da USP, para ensinar aos alunos de Administração sobre
empreendedorismo. Ainda em 1917 ela foi aceita como sócia no Centro Espírita
Uberabense, em 1919 fundou o “Ponto Bezerra de Menezes”, onde realizava reuniões
mediúnicas e reuniões públicas três vezes por semana, passados nove anos,
lançou a pedra fundamental do Sanatório Espírita, sob a inspiração do
presidente desencarnado da FEB. O Sanatório foi construído em cinco anos, e, em
breve, seria dirigido pelo Dr. Inácio Ferreira. Diariamente Maria Modesto passaria a colaborar com o funcionamento do sanatório, seja através dos eventos
sociais, seja através do exercício da mediunidade, no auxílio à desobsessão, e
nas comunicações de espíritos superiores, como é o caso do próprio Dr. Bezerra
de Menezes.
A vida como médium foi marcada por eventos
comprobatórios, como a previsão da volta e fim trágico de Vargas ao poder,
feita em 1945, pelo espírito de Frei Ângelo.
Em 1940, a médium-empreendedora funda a União da Mocidade
Espírita de Uberaba, instituição que apoiaria durante o curso da vida. Em 1949
ela fundaria o Lar Espírita, entidade de amparo à criança.
Há ligações de Maria Modesto com a maçonaria, visto
que ela ajudou a construir a Loja Maçônica Estrela Uberabense.
Maria Modesto desencarnou em 1964 na triste aurora
dos anos de chumbo.
O livro, na verdade, é uma compilação de
documentos. Os primeiros capítulos são memórias biográficas escritas por
diferentes autores, entre eles o filho Erasmo. A segunda parte (embora o livro
não esteja dividido assim) contém a transcrição de mensagens, inicialmente
tendo Maria Modesto como médium e depois como personagem, através de outros
médiuns e muitas vezes com narrativa de outros espíritos.
A parte final do livro narra casos pitorescos (como
não poderia faltar a um livro mineiro de memórias), relatos e ensaios,
geralmente escritos póstumos que oradores e escritores espíritas de destaque
fizeram, focalizando partes ou sínteses de sua biografia.
O livro foi bastante enriquecido com fotografias de
época, nas quais se vê Dona Modesta em diversos momentos da vida, as
instituições que ela ajudou a construir e os seus familiares.
Esta é uma primeira iniciativa, ainda superficial.
Cabe às novas gerações dar continuidade ao trabalho de Iracy, resgatando a
contribuição da mediunidade de Dona Modesta ao pensamento espírita, e
aprofundando em sua personalidade e nas suas relações com os atores sociais de
sua época, antes que a poeira do tempo cubra de vez as suas heranças.
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