Rubik, Brooks e Schwartz (2006)
fizeram um estudo para identificar o efeito de Reiki sobre culturas de
bactérias Escherichia coli.
O que é Biocampo e o que é Reiki?
Os autores incluem o Reiki dentro
da categoria das chamadas Terapias de Biocampo, nas quais “manualmente e/ou via
interação pela vontade (intent) com
campos de energia do paciente” o tratamento é feito por praticantes treinados.
Biocampo é uma hipótese, criada a partir de diversos efeitos estudados por
estes praticantes em organismos e células, à distância. O conceito de campo foi criado na física com a
finalidade de identificar áreas de influência de magnetos e outros tipos de
força que se exercem à distância da fonte geradora, sem conexão.
Reiki é uma palavra japonesa que
significa “energia universal da vida” e denomina a técnica criada por Mikao
Usui no Japão. Segundo os autores, consiste de “uma sequência de doze posições
de mãos colocadas no corpo ou a alguns centímetros dele”.
Os autores descrevem inúmeros
ensaios clínicos e experimentos realizados antes deles, mostrando o efeito de
técnicas de biocampo (imposição de mãos e oração por membros da igreja cristã ortodoxa,
por exemplo). Efeitos como aumento de nível de hemoglobina, mudanças em
meridianos de acupuntura, medidos através de teste eletrodérmico, redução dos
mecanismos de estresse, proliferação de culturas de células do cérebro in vitro, assim como de fungos, células
de mamíferos, fermento. Outro efeito foi a proteção das células vermelhas dos
processos de hemólise (destruição).
Em estudos com efeitos
biológicos, com design experimental, os níveis de hemoglobina e hematócritos de
48 sujeitos recebendo treinamento Reiki, comparado com grupo controle mostrou
uma melhora significante.
Os autores fizeram este estudo
para mostrar que a imposição de mãos pode fazer efeito, sem que isso possa ser
explicado por efeito placebo, ou seja, fenômenos psicológicos. Rubik (uma
autora) já havia feito um estudo com membros da Igreja Ortodoxa Cristã,
combinando prece e imposição de mãos, que teve efeito positivo no crescimento
de Salmonella typhimurium.
Neste estudo, se desenhou um
ensaio biológico para avaliar se a imposição de mãos do Reiki pode estimular o
crescimento de cultura de bactérias Escherichia
coli in vitro em condições nas quais o crescimento é impedido. Esperava-se
que o Reiki pudesse estimular este crescimento.
Eles levaram em consideração três
pontos: o local, a relação praticante-paciente e a presença de um paciente com
necessidade de cuidados médicos. Eles consideraram que a medicina alternativa e
complementar é contextual e que o contexto pode afetar essas terapias.
Como a pesquisa foi realizada
Trata-se de estudo com cegamento
dos experimentadores, atribuição aleatória das culturas de bactérias para os
grupos experimental e de controle, controle das amostras de bactérias
correspondentes às amostras de teste em pares (emparelhamento) e processamento
dos pares de amostras em ordem aleatória.
Considerando a preocupação com o
lugar, separou-se um consultório com três praticantes de Reiki. Eram salas
carpetadas, iluminação leve incandescente, paredes com quadros pendurados,
cadeiras confortáveis e uma mesa de massagem. Essas salas tiveram a poluição
eletromagnética medida e foram consideradas de igual intensidade. Possivelmente
isso foi feito considerando a possibilidade das bactérias serem afetadas por
ondas eletromagnéticas.
A cultura de bactérias E. coli K12 foi preparada de forma
triplicada para a criação dos grupos controle. As amostras foram aleatorizadas
e manipuladas aos pares e colocadas em prateleiras plásticas em duas caixas de
cartão idênticas seladas.
Os praticantes de Reiki colocavam
suas mãos a 10 cm das culturas, durante 15 minutos. Ao final eles preenchiam um
formulário sobre seu bem-estar e satisfação (Arizona Integrated Outcomes Scale
– AIOS).
Resultados
Como se pode inferir da figura
acima, houve diferença significativa entre a contagem de bactérias do
emparelhamento entre a cultura de bactérias tratada ou não por Reiki, apenas no
contexto de tratamento (sala preparada com paciente atendido antes das
bactérias). A estatística F de comparação dos grupos foi de 3,865 e a p <
0,05.
Discussão
Os autores propõem três
resultados em sua pesquisa:
1. “Reiki
tem um efeito de promoção do crescimento de culturas de bactérias in vitro, sob certas condições”
2. “O
contexto de tratamento mostrou um efeito de crescimento estatisticamente
significativo em culturas de bactérias”
3. “O
bem-estar dos praticantes influenciou os efeitos do Reiki no crescimento de
culturas de bactérias.”
Com estes resultados, os autores
entendem que o contexto é importante para o Reiki e que os estudos que não o
consideram, podem não estar medindo “efeitos terapêuticos otimizados naqueles
organismos”. Eles entendem também que a falta de controle da variável contexto
pode explicar alguns estudos que tiveram dificuldades em replicar os efeitos de
tratamento espiritual (healing) em células.
Os autores sugerem que, se este
estudo for replicável, ele pode se tornar um protocolo para a condução de
pesquisa básica, e que novos estudos de organismos simples como a sua
fisiologia, bioquímica e genética podem ser realizados.
Há também os resultados de
bem-estar dos praticantes de Reiki, cujas tabelas não reproduzimos neste texto.
“Se os escores de bem-estar do praticante eram inicialmente altos, então os
efeitos do Reiki na cultura de bactérias foram mais pronunciados. Se eram
inicialmente baixos, então efeitos menores e até negativos nas bactérias foram
observados”. (p. 11) Eles concluem,
portanto, pela importância do bem-estar do praticante para a obtenção de
efeitos positivos maiores.
O estudo mediu sessão a sessão os
resultados no crescimento das bactérias, e os autores entendem que os efeitos
negativos observados poderiam ser resultado de “emissões energéticas negativas
que se opõem, em vez de estimular, o crescimento das bactérias, associado com o
biocampo humano em certos estados psicofisiológicos.” (p. 11) Eles se baseiam
em um estudo de Qigong, onde a doença do mestre desta arte anulou o efeito da
suposta energia em leucócitos.
O estudo põe em questão a ideia
difundida no meio dos praticantes de Reiki que as energias aplicadas são
originárias da “fonte universal de energia”, não sendo afetadas por qualquer
estado de consciência do praticante.
Comentários
O presente estudo está baseado em
uma amostra muito pequena (n = 14) o que exige que se considerem os resultados
obtidos com parcimônia, porque apesar dos testes não paramétricos realizados,
um pequeno número de resultados negativos pode afetar o resultado final da
amostra.
Outra questão importante, não
discutida, é o significado dos números no eixo das ordenadas da figura 1.
Embora haja uma diferença numérica considerada significativa, o que significa a
variação encontrada nas contagens de colônias de E. coli? Há outros estudos com culturas realizadas da mesma forma,
sem a intervenção de terapêuticas espirituais? Qual é o crescimento médio e a
variação das colônias nesses estudos?
Uma vez replicadas e aceitas as
conclusões deste estudo, a prática de passes nos centros espíritas deve
considerar o estado de bem-estar do passista, evitando que pessoas doentes, ou
com mal-estar (mental, emocional, espiritual ou social) em outras áreas não
realizem passes enquanto estiverem assim. Sugere-se replicar este estudo com
bactérias, usando passistas em vez de praticantes de Reiki.
Os resultados deste estudo também
apontam para que os passistas se preparem antes da atividade dos passes, e
sugerem que um ambiente (sala) destinada para este tipo de atividade pode
influenciar na eficácia dos passes.
Rubik, B., Brooks, A., Schwartz, G. In vitro effect of Reiki treatment on
bacterial cultures: role of experimental context and practioner well-being, The journal of alternative and
complementary medicine, v. 12, n. 1, 2006, p. 7-11.
Agradecimentos
A Raphael Vivacqua Carneiro pela revisão desta resenha.
"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/
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