Fernando Báez e seus pais. O jovem foi assassinado por jogadores alcoolizados na Argentina.
O jornal argentino “Clarín” publicou hoje um artigo na coluna assinada por Pablo Vaca (https://www.clarin.com/opinion/miopia-tomar-bien-visto_0_ikTYCRsH.html), sobre o uso de bebidas alcoólicas. No dia 18 de janeiro, o jovem Fernando Báez Sosa, de 19 anos, foi vítima de espancamento por jogadores de rugby, alcoolizados, ao sair de um estabelecimento de um balneário, e veio a óbito por traumatismo crânio-encefálico. Onze jogadores estão detidos. Eles o cercaram e golpearam até depois dele estar inconsciente, no chão.
Pablo Vaca informa em sua coluna que os jogadores estavam bêbados. E abre o debate sobre a relação que os argentinos têm com o álcool.
Pablo afirma que a cultura do país incentiva beber. “Basta que alguém diga que não bebe para ser visto como um doente terminal”. É visto como “legal para os homens e feminino para as mulheres”. Um sinal de idade adulta, mas que começa antes dela.
O jornalista levantou diversas informações para a questão do álcool na Argentina, que transcrevo abaixo:
- O chefe de toxicologia do Hospital Fernández, Carlos Damin, recomenda a regulação da publicidade das bebidas alcoólicas.
- Nos Estados Unidos é proibida a venda de bebidas alcoólicas a menores de 21 anos (e não de 18, como na Argentina e no Brasil, agravada a nossa situação com o desrespeito habitual à lei pelos mais diversos pontos de venda, que não pedem identificação de menores).
- Na Austrália, os garçons fazem cursos para servir bebidas e são instruídos a não servir pessoas bêbadas, sendo passíveis de ser multados.
- Na Finlândia, o álcool custa 82% a mais que nos outros países europeus, e seu uso vem baixando.
- Na Rússia, proibiu-se a propaganda de bebidas alcoólicas.
Pablo se queixa do silêncio das autoridades argentinas acerca do acontecido.
Esse tipo de situação já aconteceu no Brasil, e vimos como houve a diminuição da violência nos estádios de futebol com a proibição da venda de álcool, lei que foi desrespeitada por ninguém menos que a FIFA, durante a Copa do Mundo. Os interesses econômicos falaram mais alto.
Nossos hospitais psiquiátricos mantém alas exclusivas para os dependentes de álcool e drogas (lícitas e ilícitas). São casos que envolvem às vezes o sofrimento dos familiares, atingidos não só pelos momentos de perturbação em que seus afetos estão alcoolizados, mas muitas vezes, pela violência, pela erosão da capacidade produtiva e do comprometimento dos vínculos afetivos com os cônjuges e filhos.
Diversos eventos trágicos envolvendo o abuso de álcool (espancamentos e outros atos de violência, ofensas raciais e religiosas, por exemplo) são tratados pela imprensa sem o devido esclarecimento do que teve por fator a alteração da consciência, exceção feita aos acidentes de trânsito envolvendo veículos, mercê das nossas leis de “tolerância zero”, relativamente recentes. Há uma banalização e aceitação das pessoas alcoolizadas em público em nosso país, o que não é permitido em alguns estados norte-americanos.
Por que um blog sobre espiritismo trata desse assunto? Desde há muito os espíritos nos falam dos problemas decorrentes do alcoolismo, e, aos poucos, o tema tem sido deixado de lado, como se fosse apenas uma herança católica da nossa sociedade, uma implicância que deveria ser abandonada com a a mudança de hábitos da contemporaneidade.
Aos poucos, os jovens espíritas param de falar do assunto, em função do uso associado à pertença a seus grupos fora da comunidade espírita, que dão festas com livre acesso ao álcool ainda no ensino médio, por exemplo. Algumas casas espíritas aceitam o comércio de fermentados e até de destilados em seus eventos de finalidade filantrópica ou de obtenção de recursos com fins de manutenção institucional, passando uma mensagem contraditória aos frequentadores e trabalhadores.
Penso que o editorial do jornal argentino, em tempos de Mercosul, devia ser levado a sério em nosso país também. Não esperemos um acontecimento trágico em nosso país para começar esse debate que não deve ser mais ignorado.
A moderna sociedade capitalista confere status a quem consome álcool e tabaco. Isso era muito forte há décadas atrás, e aos poucos, vem diminuindo, felizmente. Condena-se as drogas ilícitas, enquanto que as lícitas, incluindo o tabaco, possuíam (algumas bebidas ainda possuem) espaço livre na mídia. Recomendo a quem aprecia cinema clássico nacional, assistir ao à época censurado "O Despertar da Besta", do polêmico diretor José Mojica Marins. Não se trata de filme de terror, mas de um questionamento sobre entorpecentes. Pelo que aprendi com a Psicologia, o álcool inibe a censura do cérebro, e pessoas violentas, como as do lamentável caso abordado, se sentem mais impelidas a praticarem as torpezas da qual seu cérebro já está cheio. Há quem beba e fique sentimental, outros chatos, e infelizmente, há os violentos. Diminuindo a censura do cérebro, o superego, segundo a Psicologia, afloram os verdadeiros instintos do indivíduo.
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